
O Sonho do Zézito
Data 24/08/2007 21:01:37 | Tópico: Textos -> Esperança
| Zézito é um robusto rapazinho Orfão e de tenra idade Vive com o seu padrinho Sózinho e sem carinho E sem o bem da liberdade
Vive numa pequena aldeia Rodeada por serras e montes Vive numa terra feia Que de cansaço está cheia Onde não cabem os horizontes
Zézito levanta-se com o nascer do dia E começa logo a trabalhar Nunca lhe faltando a energia Vivendo na esperança de que um dia Outras terras o virão chamar
Levando debaixo do braço pão e mel Na serra o rebanho vai guardar Escoltado pelo seu cão fiel Nunca pára de sonhar
Sonha com o outro lado da serra Mundo novo que ele há-de pisar Espaço aberto que encerra Toda a verdade da terra Que um dia será o seu lar
O seu padrinho vê nele o herdeiro E Zézito que não quer ser grosseiro Guarda para si o seu único sonho De lutar por um futuro mais risonho
Com os seus calções remendados E a sua camisita desbotada Vai andando pelos prados Olhando tudo e não vendo nada...
E, de repente, fica parado - É um lobo e dos grandes! Exclama apavorado Mas o seu amigo atento e leal Já corre em direcção do animal
Farrusco, em luta raivosa Acaba por sair vencedor E abanando a cauda vaidosa Olha o seu dono com amor
Chegada a hora da janta Zézito e o seu fiel cão Levam o rebanho de volta ao povoado E na mesa despida de carne e pão Mastiga a escassa refeição De um prato de caldo migado
Sem dar contas ao padrinho Vai ao pomar do vizinho Come fruta sem parar Até ficar consolado Não é que ele goste de a tirar Mas fazer aquilo é tão engraçado...
De seguida e sem parança Vai à loja dar comida aos animais À vaca grande que é sua herança Aos coelhos que são todos iguais Aos porcos assustados e barulhentos E aos pintos que são aos centos...
Mas ao sair do galinheiro Com expressão fatigante Pensa que leva o ano inteiro Nesta azáfama constante
Os anos passaram...
Zézito é hoje um rapazinho Os seus sonhos não mudaram O que enfada o seu padrinho
Vai de quando em vez à cidade Com o seu fato domingueiro Disfrutar da pouca liberdade Onde gasta um pouco do seu escasso dinheiro Continua a sonhar que um dia Outra vida irá ter Outras terras há-de conhecer Quer falar estrangeiro E será um bom engenheiro!
Mergulha horas e horas Seguidas na leitura De bons livros ensinadores Ele sabe que daquela vida dura Também nascem bons doutores...
Nesta lida costumeira Alguns meses foram passados E um dia a sorte o bafejou Entre afazeres e recados Numa tarde de muito calor Zézito é chamado ao povoado Estava na aldeia um senhor Que era tido como rico E muito bem educado
Veio à procura de alguém Forte, sadio e inteligente Vive sózinho sem ninguém E já se vai sentindo doente...
Do afilhado do Manuel Logo se lembrou o taberneiro O rapaz tinha os requisitos E era forte como o castanheiro
Zézito, sujo e suado Mas de coração esperançado Vê no sorriso daquele senhor O futuro com o qual havia sempre sonhado Despede-se do furioso padrinho Com alguma pena e saudade Enfim...encontrou o seu caminho E com uma expressão de carinho Leva nos olhos a felicidade O seu fiel amigo pela mão E grande fé no coração!
Manuela Fonseca
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