
Nós (Sebastião da Gama)
Data 27/10/2010 20:36:00 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Quem não quer vir, que não venha. que o dó me faz perdoar e persistir na campanha. Talvez, quando eu já for percebido, se arrependam, e a troça então se lhes mude num sorriso constrangido.
Não venham, que eu vou por eles e gritam por minha boca suas bocas, fechadas, ou por vergonha, ou por orgulho, ou por falta de aquela fé que me arrasta.
Descansem!.... Se eu lá chegar, faz de conta que quem chegou foram eles; e faço da multidão a capa para os meus ombros; e Deus, que não me distingue (eu com todos me pareço), pra não deixar-me sem prémio há-de dar a cada qual que eu só mereço.
Se eu lá chegar.... Mas eu chego!... Nem que de aqui a três passos se me cansassem os braços e as pernas se me partissem e a vida se me acabasse, ali, na terra, caído, eu já teria chegado: tanto vale minha Esperança, que o Céu começa onde quer que eu solte a última voz; e a Mão que as feridas me afague, no gesto de as afagar, deixou as portas do Céu abertas de par em par.
Onde eu morrer, já cheguei. As portas hão-de se abrir, por Prémio que Deus me deu. E eu vou entrar, arrastado por todos vós, meus Irmãos, tão convosco embaralhado que ao ver-me dentro do Céu não posso já precisar qual de nós é que sou eu.
Sebastião da Gama.
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