
Além dos limites do eu
Data 06/10/2010 09:59:59 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Há flores num espaço aberto Molho com a minha saliva, as pétalas roxas Cubro com os meus lábios, os caules já avermelhados
Há um lugar ermo, amparo de um sonho distante Ergo os braços ao encontro de um punho fechado Há um pensamento abstracto a roçar no sobrado onde me deito
Bajulação de um momento E eu...figura desenhada nas tábuas polidas pelo tempo
Há nas memórias a antemanhã que me diz - Sim ! Um amontoado de células vivas, amarrotadas no sótão dos afectos Que me diz - Não !
A dor contrai-se perante o som agudo, onde o existir é um puro manifesto Mas há um corpo deitado na acalmia da terra, coalhando o sereno da noite
Sobre o dorso um caminho estreito Na longitude dos braços, um carreiro oblíquo Nas pernas, a fortaleza a caminhar para o vazio ainda virgem No peito, um batimento incerto como um relógio a emendar o tempo No rosto, as rugas escancarando a única certeza das estátuas caídas Nos olhos, dois sinais que indicam um olhar a perder-se no escuro
Ali se propaga e se desmembra por todos os quadrantes do seu universo Ali se entrega ao submundo e se cruza com os fogos que o consomem
E eu, atendendo à nova teoria do pensamento Escondo-me Rendo-me aos contrários Sustento o manto que me cobre a alma
Há no topo da montanha, um sem-fim de terra Ponto de passagem a um corpo que balança sob as nortadas baixas Encontros que espelham a dor Desencontros ameaçadores das fugas por entre dentes Uma boca que reluz no escuro
(Um quilate de ouro a mais na dentição genuína e demolida na boca do mundo)
Há um sonho que acorda a madrugada E eu... póstuma constelação à espera de outra marca do tempo: - Que me conte os ossos e me endireite o corpo - Que me remende a sorte, para eu caminhar a Norte - Que me reconte as sobras que ficaram perdidas nos bolsos e me refaça o meu inverso
E o mar... Sempre o mar a galgar sobre a terra orvalhada Sem resistir ao mundo que o fez mar salgado
Tempero dos que falham no ponto Onde o lusco-fusco se fez vida Alem dos limites do eu...
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