
MARRAQUEXE E O DESERTO
Data 07/09/2010 11:17:39 | Tópico: Poemas
| “Voulez-vous des aphrodisiaques, madame?” Ouvi e estremeci, enleada pela volúpia dos odores Que belo corpo másculo, vestido com um djellaba De cor castanho terra, como as muralhas dos Kasbahs.
Na Medina o bulício é como uma colmeia Numa incessante azáfama laboriosa de vida, Mas também muita gente cruzando à deriva, Rostos do imaginário das mil e uma noites.
Os souks são variados, cada um com o seu mister Com cheiros penetrantes, como o acre dos couros A música das palavras que eu não consigo entender E os ferreiros com a incessante sinfonia dos martelos.
Mais empolgante que ruínas, palácios e museus, É vaguear na palpitante e esotérica Medina, Beber um chá de menta, olhando o minarete E apreciar aquele mundo, tão vivo e perene
Praça Djema el-Fnaa, mestiça, africana e oriental, Com a algazarra galvanizando toda a minha atenção Um palco, abraçado pelos actores de uma peça Em que o guião é escrito pelo fremir da vida.
Estranhas ciências, tantas artes inclassificáveis, Racionalidades refractárias e insondáveis desígnios Sentidos telúricos e caleidoscópicas fumaradas Que invadem todo o espaço que fica em sfumato Tambores e cornetas repetem as lenga-lengas Serpentes dançam ao som das flautas berberinas. Contadores de histórias, videntes e astrólogos Curandeiros das mordidas de tarântulas e escorpiões.
O crepúsculo está agora no coração dos souks A luz incendeia as variadas cores das especiarias, Faísca nos desenhos geométricos dos tapetes Com as suas histórias épicas ancestrais e eternas.
No imenso emaranhado das ruelas sombrias Sinto o envolvimento da intimidade do abraço. Um formigueiro de gente colorida fluiu apressada. Vultos de um mistério que eu nunca irei conhecer,
Com eles sentei-me à mesa para o jantar ritual A jovem de olhos negros sensuais, trouxe sorrindo A água e o sabão na bacia martelada de metal Depois com a toalha secou-me as mãos com leveza
Antes da comida alguém disse «Bismillah» E no fim todos disseram «All hamdu Lillah» Depois os tambores rufaram incendiados E os corpos se deram frenéticos às danças
Fiquei deitada em almofadas fruindo um fuminho Estonteada com o saraquitar das ancas e dos seios Os homens chispando virilidade e desejo latente Eles e elas expelindo a alegria do prazer ofegante
Foi de grande densidade e exotismo o choque cultural Uma experiência única cheia de mistérios por desvendar Depois para sul, passando o Rif e o Muluya - Tiznit, Eis o Sarah e a verdadeira alma africana do Magreb
Aí ficamos contemplando a imensidão sem limites As dunas arenosas sucessivas ondulando ao vento Na aridez desmedida o nosso encontro foi rutilante E deixou-me em lágrimas de pleno contentamento
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