
Mudança
Data 02/09/2010 14:24:43 | Tópico: Poemas
| Ofereci-te minhas tristezas Aceitaste-as Agora como vivo sem elas? O que coloco no espaço vazio que ficou? Não posso queixar-me Afinal, fui eu que em medo de não as aceitares as ofereci Não fui capaz de prever o vazio que ia ficar Não as peço de volta Recebeste-as com um sorriso nos lábios como o de uma criança que recebe uma prenda fora de época Agora só tenho este espaço enorme que não sei como hei de preencher Como minha casa sem mobílias nem gosto para mobilar Minha barba feita e cabelo cortado mostram um rosto no espelho que já não conheço E sobrada apenas as roupa que tinha no corpo sinto que já não as posso vestir Saio do meu antigo palácio Hoje sem gloria Envergonhado pelos olhos dos outros entro na primeira loja que encontro Não sei o que escolher A funcionária que devia ajudar-me não se aproxima até que eu diga três vezes se faz favor Preciso roupas novas – digo Ajuda-me – penso Olha-me de alto a baixo como quem duvida da minha capacidade de pagar Não sei se temos o que procura – diz Cabra – Penso Olho a minha volta e tudo é tão estranho Sei que não são as roupas que vão preencher o meu vazio Apetece-me fugir Não sei o que procuro, quero apenas uma roupa discreta para esta estação – Digo Não liga muito a moda, certo? Afinal ela não é tão parva assim – penso Não - respondo aliviado como quem acaba de ser compreendido. A rapariga escolhe-me algo Visto-me e acho-me ainda mais estranho ao espelho do que achava a poucas horas Coloco as roupas velhas num saco Pago Vou-me embora Olho o que agora para mim é lixo pela última vez antes de abandonar Sinto que parte de mim morreu Para parte de mim poder crescer
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