
SEGUNDA-FEIRA
Data 23/08/2010 20:20:14 | Tópico: Poemas
| Lavo a cara com o primeiro café da manhã que derrete a remela no fundo cego dos meus olhos e me ajuda a suportar o choque oblíquo dos raios solares que se riem, por detrás da colina, do meu rosto desbotado. Acendo uma nuvem de fumo denso e sufocante que me guia na orla convulsa da rebentação e caminho encostado à cal efervescente dos muros, com a mágoa de quem vai recomeçar tudo de novo e uma vontade moribunda, presa por gastos arames.
Sirenes de chumbo rasgam o orvalho preguiçoso e vêm pousar as garras nos meus ombros curvados que arrastam o passo nas alamedas da madrugada por entre o rumor azedo de roldanas cariadas e o grito estéril do cristal vacilante das manhãs.
Acendendo o rastilho das horas que me vão devorar, alumiadas pelo pasmo renitente das gambiarras do vento, escondo o corpo nas prateleiras enferrujadas do armário junto com a roupa que penduro em cabides de plástico, e é já só minha sombra quem trespassa o vítreo portal mergulhando a pique nas ravinas viciadas da semana.
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