
dor de r.
Data 22/08/2010 21:15:55 | Tópico: Textos
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tens razão r. a morfina não chega. é o corpo um sarcófago de memórias. hoje mesmo, quando te esperava, uma voz chamava o teu nome de dentro da minha boca, outra voz pequena chorava no meu ouvido. todas estas vozes agora se levantam. dizem adeus. queria ir com elas r. para longe, onde as memórias não me encontrassem. há uma boca que fica, passa-me os lábios na pele, diz-me bom dia. só queria um pouco mais de paz aos meus ouvidos. tens razão r. amanhã parto. mais cedo não pude que os olhos não deixavam e o coração nunca soube, o coração nunca soube que as pernas queriam ir por onde o corpo não ia. tudo isto te digo como se chorasse. eu choro como as nuvens chovem. talvez as mãos por dentro da pele procurem por carinho. talvez. até lá saberei onde esperar com os braços ao pescoço. este mundo, estas pessoas, isto, não me pertencem. nada disto. vivo como se o não soubesse. quando tive a corda a árvore fugiu. quando dei com a árvore não sabia da corda. até sempre, digo-te. hoje mesmo grito que amanhã não me chega. hei-de espernear até as pernas me caírem. dir-te-ei que gosto de ti. esta noite, r., está fora. não é outra noite como as outras. se ao menos estas vozes me deixassem, se a corda e a árvore aqui estivessem, se a boca me dissesse bom dia, se eu, se tu, se nos encontrássemos.
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