
SONETOS FEITOS EM 13/08/2010
Data 13/08/2010 14:00:11 | Tópico: Sonetos
| 1 Permita-me Senhor além de ouvir Tua palavra feita em pleno amor Abrindo meus ouvidos num louvor Tentando cada frase discernir E crendo ter assim o meu porvir Ousando neste tom libertador Bem mais do que somente redentor Caminho para além do quanto eu vir. Permita-me saber quem em Ti existe A voz de quem supera o instante triste Traçando novos dias que virão E neste fato além de Te escutar Sem tréguas, sem ter nada a duvidar Usar além razão; do coração! 2 Verdade tão somente nos liberta E traça um bom caminho pelo qual A vida se transforma e sem igual Desenho traz palavra sempre certa. Minha alma a cada instante em paz desperta Bem mais que um rito tosco e até banal, Usando a transparência de um cristal De Ti se aproximando, a dor deserta; Somente esta certeza move o passo Aonde o meu futuro agora eu traço Ousando ser feliz por tanto amar. Num ato libertário e sem perguntas Sabendo que somente as almas juntas Conseguem com firmeza o caminhar. 3 Palavra, o vento leva e se perdendo Já não traduz decerto o sentimento, E quando noutra face; a paz eu tento Sem ser tão simplesmente algum remendo. Assim a plenitude em Ti; desvendo Recebo em troca além de algum alento Capacitando em mim discernimento E um novo amanhecer já se tecendo. Não quero me atrelar somente ao sonho, Resgato-me deveras se eu componho Com atos e com gestos; liberdade. E tanto posso além do que imagino Enquanto em Ti me entrego e, cristalino Conheço realmente a divindade. 4 Somente o conhecer-Te libertando Das tantas heresias que este mundo Trazendo a cada instante e sendo imundo Aonde deveria manso e brando. A cada novo dia transformando E neste desenhar tanto profundo Desvendo o meu caminho e em Ti me inundo Deixando para trás meu ar infando. Libertação é feita em pleno amor Além de acreditar vivo o perdão E nele reconheço a redenção Num novo caminhar a se propor Deixando para trás o vão desejo, Um mundo sem igual, agora eu vejo. 5 Já não se faz a vida em vão confronto, Apenas tão somente na verdade E sei quando ela toca e nos invade Deixando o coração tranqüilo e pronto. Amar sem ter promessas, sem desconto, É conhecer inteira a LIBERDADE E nesta perceber a claridade Tocando inteiro o SER em cada ponto. Vencer sem porfiar, enquanto existo No amor que me ensinaste; amigo Cristo E nada além verei senão a glória. A liça que perfaço é com engodos E sei e reconheço em mim, pois todos Pequena criatura sem vanglória. 6 Louvar a persistência de quem Cria E ama cada ser da mesma forma, E quando noutra imagem se transforma Traçando em mansidão soberania. Deixando para trás a alegoria Mantendo em coerência cada norma Aonde a mãe Natura nos informa Do Pai que se desnuda a cada dia No irmão e nas diversas criaturas Aonde em equilíbrios; Asseguras Perfeita sincronia e traz à vida Bem mais do que decerto eu necessito, E sei do quanto em Ti é tão bonito O amor que não conhece uma medida. 7 O universo é menor que qualquer alma, E nela se traduz a divindade Ao desnudar ciência em liberdade Verdade se conhece em cada palma. Vencer o turbilhão, a imensa calma Enquanto noutro lado a voz já brade, Suavidade em Luz enquanto invade O vórtice da insânia logo acalma. Não vejo nas vitórias o ufanismo Somente em coerência tento e cismo Sabendo deste equânime caminho Que leva à redenção; um Magno Amor Bem mais do que promessa e até louvor Se for feito no anseio mais mesquinho. 8 A cólera transforma o ser supremo Na fera mais atroz e insana quando O olhar em fúria torpe se tomando Recende na verdade além do Demo. E quando em ira espúria nada temo Também sou igualmente tão nefando, Permita-me decerto ser mais brando Num equilíbrio sem qualquer extremo. Assim ao perceber a divindade No ser que insanamente e em vão não brade Deixando para trás este ar fanático. O Amor não é somente, pois verbal E deve ser; portanto essencial Jamais ledo e teórico ou temático. 9 Não vejo um heroísmo em quem porfia Ao enfrentar irmãos, é torpe fera, E quando outro delírio também gera Reinando sobre a tosca hipocrisia. É desta forma então que redimia? Matando em nascedouro a primavera A súcia se atocaia e vã quimera Ainda se transcende em galhardia... Irônicos satânicos bufões Expondo a face espúria dos leões Num sanguinário rumo sobre a Terra. A mão se dessedenta assim na morte? Hercúleo na verdade é quem conforte E dentro em si, o Amor claro se encerra. 10 Ao despreza o irmão, também o faz Ao próprio Criador, e não percebe. Depois caminha em faustos pela sebe Qual fosse um ser suave ou mais, audaz? Somente quem lutando pela paz A paz em conseqüência já recebe, Do quanto se oferece é o quanto bebe O todo que se leva é o que se traz. Não podes e tu vês sob teus olhos Cultivar flor e ter em troca abrolhos, Assim como o contrário também é. Ao respeitar inteira a mãe Natura Reflexo deste Pai na criatura É onde se percebe a vera fé. 11 Liberte-me Meu Pai dos meus anseios Desejos que dominam minha mente E fazem do meu passo este inclemente Delírio entre medos, devaneios. Liberte-me, portanto dos receios E trace novo tempo iridescente Trazendo o Amor mais pleno e se apresente Então para os Teus passos, mansos veios. Sabendo quanto o Amor tudo redime Desde que seja claro e enfim sublime Sem ter qualquer medida ou empecilho. Ousando libertário pensamento Sem preconceitos, medo e desalento Assim para os Teus braços, eu palmilho. 12 Permita-me o total discernimento Sem prejulgar ou mesmo sem pensar, Apenas por ouvir e não tentar Sentir esta verdade em provimento Do quanto mais conheço e me alimento A dúvida; estou certo, há de tomar Maior espaço em mim e em tal lugar Não haja tão somente o pensamento. Ao aliar com o quanto hei de sentir Talvez eu me aproxime da verdade, Mas sei o quanto o amor em liberdade Permite o bem estar e o bom porvir, Só sei que honestidade te liberta Quem aja desta forma mais acerta. 13 O pensamento rege cada passo Por onde te encaminhas vida afora, Embora o sentimento; aonde ancora Tantas vezes ocupa, inteiro o espaço. E quando o meu caminho assim eu traço Nas ânsias onde a fúria me devora, A paz que com certeza vai embora Impede o prosseguir em manso traço. Não me deixe Senhor agir somente Tomado pela angústia onde apresente Qualquer entrave ou mesmo alguma dor. Ousando em ter liberto o pensamento, Terei, tenho a certeza, o olhar atento Mais próximo de Ti, meu Redentor. 14 A paz é uma conquista que verás Dentro de ti somente e nada mais, Nas cercanias tantos vendavais Além deste desejo mais audaz. Perceba a sordidez que a vida traz E os homens em seus ritos ancestrais Deveras com os atos vis, venais Moldando um mundo torpe e até mordaz. Por isto ao procurares dentro da alma Terás a sensação que ora te acalma Podendo; desta forma, superar Os gládios tão comuns de uma existência Bastando; deste fato, a ter ciência A paz irá tomar o seu lugar. 15 Ao atirares pedras, leda fúria As mãos que as arremessam já se ferem E assim quando deveras interferem Agindo com torpeza e com incúria Trazendo a quem desfere a senda inglória Marcando com as chagas mais profundas, E quando em tais calúnias tu te inundas A face que demonstras: merencória. Ao prejulgar deveras és julgado E tens o teu caminho em tom diverso Traçado por um ato vil, perverso, No fundo és; tu mesmo, o apedrejado, Portanto não se perca em aparências Verdade é quem liberta as consciências. 16 O amor, semente clara aonde a vida Permite-se e renova em gerações Os dias desde o gênese. Compões No teu caminho a história resumida. E quando a liberdade em ti, ungida Permite conhecer raros perdões Em meio aos mais diversos turbilhões. Na flor em fruto agora enternecida. O manto consagrado é feito em luz, Diverso do que vês preso na cruz, Pois dele a liberdade se irradia. Invés de tanto pânico e agonia A morte na verdade, raro FAUSTO Traduz o inevitável holocausto. 17 Amar sem cobrar nada nem sequer Pensar nas recompensas passageiras, Somente o bem de outrem; portanto queiras Sem nada nem anseios, se o puder. A mão que atormentando; nega um passo A quem deseja livre caminhar Jamais se traduzindo por amar, Traçando um sentimento mero e escasso. Na força deste Pai, da Mãe Natura A vida noutra vida se refaz E neste caminhar em plena paz A eternidade enfim, já se assegura. Quem ceva com cuidado desde já Decerto melhor sorte colherá. 18 As mãos que acariciam esta fera Domando um sentimento mais agreste, Demonstram o motivo em que vieste A paz na própria vida enfim se gera. Permita-te saber que a primavera Eternamente feita em voz celeste Supera uma estiagem, turva peste Enquanto a história em si se recupera. Não foste, pois criado para ser Além do que mereces. E por crer Em falsas luzes nesta noite escura É que soberbo ser a espécie humana Aos poucos destruindo já profana A esplêndida e perfeita Mãe Natura. 19 Também foste criado para ser Mais uma peça nesta imensidão O mundo novos dias mostrarão E neles um sutil amanhecer; Mas quando vejo a rédea se perder E sinto em desalento aberto o chão, Vislumbro a noite em pleno turbilhão E a vida pouco a pouco esvaecer. Em cada ser está o mesmo Pai E quando esta verdade o mundo trai No fundo preparando uma mortalha. Orando em gestos claros, coerentes Mais próximo deveras tu te sentes Enquanto tanto amor ganhas e espalhas. 20 Pudesse ser além de um sonhador. Mas quando a vida traz em atitude O quanto na verdade se transmude Ao aceitar as tramas de um Amor. E sendo este poder libertador, Quem ama com certeza não se ilude, Pouco importando até se o fato mude O ser amado e trace nova cor. Ao espalhar o pólen em pleno ar, A flor ensina assim o que é o amar, Reproduzindo ao léu esta esperança, Mal importando quem receba a luz Somente neste encanto se produz O passo que decerto além avança. 21 A vida quando feita em tanto não Deixando muito além qualquer promessa No fundo a cada passo se endereça Sem mesmo qualquer rumo ou direção, Os dias são diversos e verão Além do quanto à dita se endereça Traçando com angústia onde tropeça O rústico desenho; imperfeição. Servindo para tal o meu caminho Que é feito em tom atroz, tosco e mesquinho E nele sou talvez um mero traste. Porém sou o resumo de quem és Iguais ao perceber mesmo viés Traduzo o que decerto em vão negaste. 22 Enquanto este silêncio tanto fale Traduzo no vazio o pensamento E quando se percebe ou mesmo tento Viver o quanto resta e me avassale, Minha alma noutro instante não se cale Deixando para trás o sentimento, A voz ao percorrer já solta ao vento Ultrapassando monte, cerro e vale Expressa o meu delírio em liberdade, Na justa providência aonde brade O coração suave e guerrilheiro. Ousando propagar um canto em viço Bem mais do quanto quero ou mais cobiço Cevando com carinho algum canteiro. 23 Não deixe que se entranhe outro ninguém Nesta alma muitas vezes incompleta, A fonte aonde a vida se repleta Deveras quase nada mais contém. Olhando para os lados, sigo aquém Do quanto eu desejava. Noutra meta A vida se perfaz, face concreta Do encanto aonde sou mero refém. Espalho o sentimento e sei que um dia Quem sabe noutro encanto florescia A sorte de tentar e prosseguir Vencendo os meus anseios e vontades, Ainda que deveras tu te enfades, Galgar outra ilusão inda por vir. 24 O pranto se transforma em alegria Nas sendas de um amor correspondido, Mas quando noutro enfado diz olvido Tormenta tão somente se veria. E o fato de viver tal ironia Gerada pela insânia, ao ser cumprido Prenunciando o fim, toma o sentido Do todo que pudesse nalgum dia. Ausenta-se esperança quando tento Vencer com calmaria este tormento Bebido numa angústia incontrolável. Mas quando se aproxima além o brilho Dos sonhos onde em paz tento e palmilho O mundo vai além do imaginável. 25 Disforme criatura; eu sigo alheio Ao quanto poderia ser diverso E tento outro destino e mesmo verso Enquanto me liberto em devaneio. O olhar ensimesmado não receio Tampouco sei do mundo mais perverso E quando sigo aquém, encaro imerso Na angústia mais atroz, buscando um veio. Etereamente a vida traça em nãos Os dias variáveis e malsãos Espúrio caricato, morro aquém Do quanto quis ou mesmo prometia, E a senda aonde o sonho em agonia Derradeiro comparsa, ainda vem... 26 Dilacerando a face desditosa De quem se fez alheio aos temporais E neste desenhar sem ter jamais Vencer esta torrente caprichosa. O olhar entorpecido ora antegoza Os dias derradeiros, funerais E vejo nestes tantos magistrais Anseios numa vida majestosa. Aprendo a me encarar e vendo à frente Somente um ser espúrio e um vão descrente Não tendo outro cenário senão isto, Aos poucos me entregando sem mais luta, A morte redimindo e não reluta, Traduz por que deveras inda existo. 27 Das navalhas penetrantes Cortes tantos noite afora, Incerteza que apavora Traz bem mais do que vi antes Os meus passos; adiantes Rumo ao fim aonde ancora A certeza e nela aflora Esperanças fascinantes. A mortalha ora se empresta, Numa vida; se indigesta Solução. Decerto eu vejo. Muito aquém do velho fato Onde em nada me retrato, Meu derradeiro desejo... 28 Abortando os vis amores Onde um dia quis o brilho Bem diverso de onde eu trilho Lado oposto ao que tu fores, Na verdade sem albores Os meus ritos no empecilho Costumeiro ao andarilho Coletando dissabores. Resto aquém do quanto pude Na mortalha a magnitude Libertária companhia. E o cenário putrefato Onde o sonho enfim resgato Tudo enfim, quanto eu queria. 29 Por saber que não me queres E também ou mesmo assim Vou chegado ao ledo fim Meu banquete sem talheres E se tanto inda quiseres Outro errático estopim Eclodindo dentro em mim Onde ainda, tosca, imperes. Renegar um passo quando O meu sonho se escoando Nos esgotos de minha alma, Nada vejo além do vago E se nele ora me alago, Nem assim a dor se acalma… 30 Destes trapos que carrego Dentro da alma; veja bem O passado nos contém E alimenta só teu ego. Mares turvos, pois navego E percebo o teu desdém A colheita não mais vem E o meu rumo sempre é cego. Vasculhando esta gaveta Nela o nada me arremeta E traçando outro momento Procurara alguma messe Onde a vida já me esquece; Solidão tomando assento... 31 Noutro tempo se eu pudesse Num caminho mais diverso Quando além do sonho eu verso Encontrando esta benesse O meu rumo estabelece Dentro em mim novo universo E se tanto sigo imerso O cenário me entorpece. Régios dias, noites claras E deveras me escancaras A alegria em cada olhar. Depois disso eu me alimento Do suave pensamento Aprendendo em paz, a amar. 32 Se não fosse a solidão Outro tanto poderia Transformar o dia a dia E trazer a redenção, Mas os sonhos moldarão Um sorriso em utopia Na seara mais sombria Vejo enfim algum clarão. Siga em frente e nada tema Quem rompendo a velha algema Sem dilemas abre o peito, Neste encanto onde me entranho, Todo passo um novo ganho Bebo a paz quando me deito. 33 Sendo a vida mesmo ingrata A quem tanto em paz se dera Outro olhar tramando a espera E esta face me retrata A certeza se insensata Já não deixa a primavera Reflorir aonde gera A esperança que resgata Restaurando um passo quando O meu tempo desnudando Novo olhar sobre o futuro, Caminheiro sem destino Quando além me determino, Sei decerto o que eu procuro. 34 Já não posso me calar Nem tampouco isto seria Um momento em rebeldia, Tão somente a desnudar Farsa antiga a se mostrar Onde fiz minha utopia O cenário não traria Sendo incerto o meu lugar. Aprazíveis paisagens Entre tantas abordagens São decerto as mais audazes. Tendo em mim esta incerteza Bebo aquém do quanto é tesa A minha alma em várias fases. 35 No cinzel do pensamento Ao urdir novo cenário Mesmo sendo temporário O meu rumo eu reinvento E se bebo o sentimento De um caminho necessário, Outro tanto temerário Solto alhures pelo vento. Revelando a minha sina Onde o nada determina O bem pouco que virá, Sei da fúria em desabrigo E se tanto inda prossigo O futuro é desde já. 36 Nas vertentes deste rio Outro tanto pude ver E se posso renascer Onde quero já desfio Venço o medo deste estio E talvez amanhecer Nos cenários de um prazer Muito além do desvario. Resultando deste fato O caminho onde resgato A beleza de seguir Rumo ao farto Paraíso E num passo mais preciso Embrenhando no por vir. 37 Tanta luz já poderia Ter em mim após a luta Onde a sorte mais astuta Na verdade rege o dia. Morta a minha fantasia Esta estrada é sempre bruta E o meu passo não reluta Procurando uma alegria. Muito embora eu saiba bem Quando messe já não vem Deixa o sonho para trás. Desvendar cada segredo Onde inteiro eu me concedo, Sendo até bem mais audaz. 38 O reverso da medalha Traz a imagem do que fora Alma tanto sonhadora Onde o nada já se espalha Neste fio da navalha A palavra redentora Noutro rumo; promissora Na verdade dita a falha E seguir sem ter parada Mesmo quando é dura a estrada Perseguindo um velho sonho. Muito embora seja fato O caminho eu não resgato, Mas um novo; enfim, componho. 39 Presumindo o fim da história Esperando alguma chance Onde o passo não avance Nem sequer trague a vitória Reviver farta memória E num derradeiro lance Outra tez, novo nuance Mesma face merencória. Sendo a vida desta forma Cada passo ora deforma O que um dia quis além. Faca tendo enfim dois gumes Para além teimas e rumes No final, nada contém. 40 Sortilégios eu conheço E sei bem da farsa quando Outro tempo se entornando Não revela o meu tropeço; E deveras sei, mereço Este olhar duro e nefando, Mas pudesse ser mais brando; Vem virando-me do avesso. Aprender com as lições E deveras tu me expões Com a faca no pescoço, O meu mundo desarvora Desde quando eu sei agora, Recomeça este alvoroço. 41 Precedem meu caminho, as tempestades Degenerando o rumo aonde um dia Tentara sem qualquer hipocrisia, Porém a cada ausência mais me enfades E sei quando se mostrem mesmas grades E nelas muito pouco eu poderia Viver aquém do sonho, uma utopia Gerada pelo medo e falsidades. Mergulho no meu âmago e pereço Enquanto sei o quanto em adereço Esqueço qualquer rumo e sigo alheio Ao manto putrefato e sem destino, E quando mesmo olhar; já determino Vagando sem saber em devaneio. 42 Já não me resta mais uma esperança O tempo se escasseia e vejo apenas As velhas duras faces; concatenas E a morte a cada ausência mais avança. Não pude controlar, e da lembrança Jogado pelos cantos, não serenas Uma alma quando a vês logo apequenas Os rumos onde tanto aquém se lança; Eu sei dos sortilégios mais atrozes Também destes cenários onde as fozes Trazendo discordância a cada olhar. Pudesse ter apenas a certeza De ter sob controle a correnteza, Mas nada, tão somente irei buscar. 43 Entorpecido vejo este cenário E nele me entranhara. Imprecisão. Traçando desde o início o vago não No qual e pelo qual desnecessário. Resumo a minha vida neste vário Desenho em total medo e sei que é vão O risco de sonhar, mas mostrarão Os dias outro enfado imaginário Delírios; os conheço até de cor E sei do quanto é fútil meu suor Jogado pelas tramas sem segredos. Apodrecendo em vida tão somente No quanto ainda posso e se apresente Os dias com certeza serão ledos... 44 Já não suporto mais o olhar sombrio E dele me esquivando a cada instante, Mas sei também do quanto é degradante E o nada a cada verso mais desfio, A imensa correnteza deste rio Produz o quanto em vaga se garante O olhar sem ter sequer a mais constante Vontade de vencer tal desafio. Esqueço de mim mesmo e sigo ao fim Resumos destes erros vida afora, Espelho na verdade me apavora E espero não demore a morte e enfim Eu possa descansar e ver a paz Agora tão distante e tão mordaz. 45 Ensimesmado quase sem um norte E sei que no passado quis bem pouco E agora o quanto resta deste louco Desenho onde nada mais comporte, Restauro o meu delírio em leda sorte, E a cada imprecisão eu me treslouco, Também não quero o riso nem tampouco Quem possa num momento e me conforte. Erguendo o meu olhar sem horizontes, Apenas os desníveis tu me apontes E deixes que eu prossiga sem temor. O quanto resta em mim e nada mais Que os dias entre fúrias, funerais Preparo tão somente o meu sol-pôr. 46 Inúteis versos tento quando busco Vencer os meus terríveis temporais E sei dos dias meros, terminais E neles com ternura já me ofusco, O mundo sempre vário em lusco fusco Derrama a cada vez diversos sais E bebo destes últimos venais Um sórdido bufão, mero e velhusco. Ultriz a vida trama a morte e traz Ali a sensação da imensa paz Que um dia procurara inutilmente. Quem sabe após o fim, o recomeço Em outro caminhar já sem tropeço Ao mesmo isto enfim ainda alente. 47 Jazigos perfilados no meu sonho, E bebo esta tragédia a cada instante Tramando o meu delírio em inconstante Desenho onde sou pasmo e medonho. Apenas cada vez me decomponho E sei do quanto espero doravante Morrendo sem sentir o deslumbrante Momento aonde eu tento e não me ponho. Satânica figura em tez atroz, A vida se desmembra e busca a foz Aonde se apascente este demônio. Quem sabe ali em face mais brumosa A cena tantas vezes pedregosa Aplaque o meu temível pandemônio. 48 Esgoto a cada instante esta esperança Escombro do que fora um ser humano, E nesta escória atroz quando me dano, À fúria do vazio a alma se lança, Aonde quis talvez a temperança Puindo em incertezas cada plano, O mundo desdenhoso e quase insano, Porquanto penetrasse em mim tal lança Vencido pela angústia do não ser, Tateio e busco além qualquer prazer E infaustamente a vida me sonega. Quem sabe na mortalha em doce entrega Eu posso pelo menos conhecer O mar onde tranqüilo se navega... 49 Cerzindo cada passo com a dor Numa constante face desmedida, Marcando a ferro e fogo a podre vida Tentando noutro rumo já me pôr. Vencido sem saber sequer da cor Da sorte onde esperança entorpecida Vestira a face escusa e carcomida De um manto feito em tétrico pavor. Escárnio tão somente; eu mal prossigo E vejo a cada passo o desabrigo Gerando novamente outro veneno E quando vejo a face neste espelho Nas cãs já tão profusas me aconselho E ali também deveras me apequeno. 50 Arrasto os meus grilhões e no final Apenas o vazio ainda eu vejo No olhar imerso em dor, horror e pejo A morte se desenha triunfal. Buscasse coerente qualquer nau, Quem sabe pelo menos num lampejo... Mas quando renegando este azulejo Mergulho no meu antro funeral No tumular caminho, o meu esquife Enquanto cada sonho se espatife Gerando o pesadelo de um viver Imerso no negrume da existência O olha impiedoso em inclemência Expõe em podridão, farto prazer... 51 Os restos que laceras do meu eu Traduzem a mortalha que me deste Num tétrico caminho mais agreste O quanto havia em mim já se perdeu, Meu canto noutro instante em apogeu Tocando o mais audaz, quase celeste Desejo e quando à sorte não se empreste Expressa o quanto espúrio ora teceu. Não posso mais sequer ouvir teu nome, A vida pouco a pouco se consome E traça em tempestades, descaminho. Do quanto imaginara; nada resta Senão esta figura assaz funesta Num ermo tão vulgar quanto mesquinho. 52 Disforme face exposta em podridão, Não tendo mais sequer uma alegria Aonde imaginara novo dia, De tantos velhos, vã repetição. Os sonhos com certeza não verão Nem mesmo o quanto esta alma fantasia, E morto em plena vida, não teria Além da própria senda, a redenção. Escassos dias restam a quem tanto Mergulha num imenso desencanto E sorve todo o charco, lodo e lama. A carcomida face decomposta, Encontra no vazio uma resposta E apenas o final, em paz, já trama. 53 Penetram dentro da alma as vis adagas Dilacerando o resto que inda existe De um ermo caminheiro amargo e triste Expondo a cada dia as fundas chagas. E embora algum alento; ainda tragas A inexistência assoma e aqui persiste Aponta o meu destino torpe em riste E as horas que inda restam, toscas, vagas... Escória tão somente e nada mais, Aguardo a redenção nos funerais Brumosa vida em paz se encontraria. Na noite nevoenta, o fim precoce Quem sabe finalmente ali me aposse Do que me sonegara o claro dia. 54 Aborto os meus caminhos rumo ao tanto E sei quando se perde o nexo e o rumo, Reflexo dos erros que ora assumo E neste desenhar eu me quebranto. Mergulho neste esgoto e ali garanto A pútrida verdade, e sei do sumo Aonde a cada dia me consumo A morte me abraçando; escuso manto... Vestindo o meu olhar em trevas vejo Bem mais do que o delírio num sobejo Caminho aonde tudo em paz termina, A morte redimindo meus engodos, Voltando a me entranhar nestes vis lodos Ao menos de outra vida, serei mina. 55 O quanto não me queres, sei-o bem. E até pudesse em vão ter outro olhar, Mas quando me percebo a relutar Apenas o vazio me provém. E quantas noites vagas sempre vêm E nelas não se tendo outro lugar Aonde pelo menos ancorar, A marca se desenha em tal desdém. Afasto-me da vida e bebo a morte, Assim quem sabe enfim eu me conforte Depois de tantos anos, solidão... Marcando a cada instante a cicatriz Expondo o que esta vida já me diz Alerta para os outros que a verão. 56 Nos trapos, meus farrapos dentro da alma A virulência toma cada passo, E quando noutro tanto eu me desfaço Somente a morte após tudo traz calma. Vestígios de esperança? Mais nenhum, O herético caminho se tecendo Deixando-se antever tosco remendo Jogado nas sarjetas. Sou mais um... E sinto se esgarçando a todo instante O quanto imaginara redimisse E vendo a cada passo esta mesmice Apenas o vazio me agigante. Retaliações da vida em farto gozo, Gerando este caminho tenebroso. 57 Naufrago a cada instante, ledo barco Jogado entre as procelas sem timão, As horas mais atrozes tomarão O quanto já se mostra agora parco, E quando nalgum sonho vão embarco Apenas no vazio a direção Gerada pelas tramas deste não E a morte com prazer imenso abarco. Esgoto minhas forças; nada tenho Senão este temor duro e ferrenho Da vida e tão somente, nada mais. A glória redentora se aproxima Brumoso, mas suave sinto o clima Propício para os ritos funerais... 58 Entregue aos vermes, carne apodrecida Bendita esta hora enfim chegando agora Enquanto a própria vida me devora O que fazer senão a despedida? A leda caminhada em dor urdida, O risco de viver já me apavora, E sinto a poesia que se aflora Da vida renovada noutra vida. Escória, mero escombro, mas no fim, Redimo em holocausto o quanto rude Desenho desta trama, mais que pude Vicejo após a morte num jardim, E assim ao me mostrar em serventia, Quem sabe a alma afinal se salvaria? 59 Só peço que me deixe agora em paz, Já não comporta em mim a fantasia Sequer esta ilusão me tomaria No quanto nada mais me satisfaz. Por vezes me imagino mais tenaz, Mas logo vejo ser a hipocrisia Do instinto aonde em luta tentaria Vencer o que a verdade enfim me traz. Apresentando a face espúria e vaga Uma esperança espúria agora alaga Esta alma em cicatrizes tatuada. E mesmo que após isto não exista Sequer de outro caminho, a menor pista, É bem melhor até não haver nada... 60 Ao menos pude em vida acreditar Num ato mais tranqüilo feito em glória, Carrego algum resquício na memória De um templo onde um dia quis amar. Embora tão longínquo tal lugar, Ali não fui apenas mera escória A vida se mostrando merencória Aos poucos destruíra o vago altar. Restando esta lembrança em preto e branco E agora no final, sendo mais franco Esta única paisagem valeu tanto Mantendo mesmo frágil, leda chama No instante aonde o fim decerto trama, Algum momento em paz; assim garanto... 61 Amor entre senzalas, facas riscos Olhando de soslaio ainda creio No quanto além do mero devaneio Embora eu sinta os passos mais ariscos. A vida se tramando em vãos confiscos Esbarra noutro rumo, perde o veio E quando me percebo além e alheio Exposto às tempestades e chuviscos. Esgarço esta esperança e pouco resta A face mais atroz, mesmo indigesta Ditame de uma vida em dor e mágoa. E quando qualquer luz; percebo aonde Apenas solidão inda responde Meu sonho no vazio enfim deságua... 62 Arcando com as quedas costumeiras Já não consigo mais viver em paz E quando a noite chega apenas traz Imensidão em torpes cordilheiras E as quedas podem ser as derradeiras De quem se fez outrora mais audaz, E agora ao fim da vida se desfaz Em ânsias doloridas, carpideiras. Nefasto olhar encontra este horizonte Aonde em nevoenta tarde eu vejo Anoitecendo em morte o meu desejo Sem ter uma esperança que me aponte Senão este vazio dentro em mim Traçando em mansidão, pois o meu fim... 63 Os rios nas vazantes de um estio Traduzem os meus dias fielmente E quando o fim decerto se apresente Olhando para trás nada recrio, Vestindo a mesma face em tom sombrio, Apenas trago o enredo onde lamente O canto quando fora impertinente E o fato de sonhar em desvario. Sedento de esperança. Que tolice! É como se o passado permitisse A luz aonde a treva reina eterna. O amor que poderia ser talvez No quanto a vida outrora se desfez, Jamais seria enfim uma lanterna. 64 Olhando levemente para trás Eu sigo estas pegadas e percebo O quanto deste sonho foi placebo Enquanto o meu vazio a vida traz. Esgoto o pensamento noutro audaz E morro; aonde estendo e não concebo O canto em sordidez enquanto embebo Minha alma desta incúria contumaz. Meu barco se estraçalha sobre as rocas E quando alguma luz tu me provocas A fátua fantasia se esvaíra Jogado feito um trapo nalgum canto, A paz que na mortalha enfim garanto, Ao menos permitindo leve pira. 65 Loucuras entre tanta hipocrisia Cenários divergentes, mas talvez Eu possa mergulhar aonde vês Apenas esta face mais sombria, Das trevas e do nada, a fantasia Perdida em ar atroz e sordidez Enquanto o meu caminho se desfez Somente esta lembrança eu levaria. O risco se aproxima de seu fim, E o quanto inda persiste vivo em mim Aguarda finalmente algum alento. E sito meu desejo neste ocaso, Andando pelas ruas ao acaso, Da minha insanidade eu me alimento. 66 As mãos procuram mãos e nada sinto, Os vãos caminhos traçam meu futuro, E neste desenhar tão inseguro O quanto de esperança eu vejo extinto. Arisco sonhador onde me tinto Nas tramas mais venais, mas não perduro Agora já cansado eu me enclausuro E sobrevivo apenas por instinto. Um verme caminhando sobre o nada A imagem tão somente destroçada Impede qualquer luz onde não há Sequer alguma chama, e deste pouco Desenho o delirar espúrio louco Traçando o que jamais encontrará... 67 O quanto deste fel adentra o senso E bebo e me sacio neste amaro Caminho aonde tanto desamparo Traduz toda a verdade e me compenso. A cada novo dia mais convenço E nisto o meu desejo eu escancaro Sabendo quanto amor se fez tão raro Deixando este vazio, agora imenso... Respaldos; nunca os tive, e sei tão bem Sevícia a cada instante sempre vem E desnudando esta alma em dor e tédio, Apenas meu cansaço traduzindo O quanto imaginara ser infindo E a morte se transforma em bom remédio... 68 Há quanto que procuro e nada vindo Somente o mesmo passo rumo ao caos, Procuro e até tentando outros degraus Qualquer momento em paz será bem-vindo. Mas sei deste tormento quase infindo E nele as esperanças ledas naus Encontram em variáveis tons e graus Apenas o não ser que ora deslindo. Acossa-me a vontade de lutar, Mas sei que independente do lugar A queda inevitável se faria, E neste delirar, encontro apenas Os olhos onde tanto me envenenas Matando qualquer sonho ou fantasia... 69 Adentro rios, fozes, oceanos E morro a cada instante sem um cais, Aonde desejara muito mais Somente conhecera perdas, danos... E os riscos aumentando desenganos Refaço o meu caminho e sei, jamais Eu poderia crer nestes cristais Jogados entre engodos desumanos. Profana realidade toma a cena, Enquanto uma esperança me condena O risco de sonhar me atordoando, Irônico demônio eu trago em mim, E bebo deste infausto e de onde vim Já trago o meu olhar, perdido, infando... 70 Olhando para baixo estes penhascos Traduzem um abrigo ao suicida, A sorte já selada e percebida No quanto caminhar traduz mais ascos, Os dias meramente vis fiascos Enquanto a própria luz ora trucida A senda noutra face resumida Moldando alma pequena em frágeis frascos. Escassos sonhos ditam o meu passo E quando noutro enredo eu me desfaço Apenas mergulhando neste enfado, O risco de viver; não mais suporto E a cada novo instante eu me reporto Ao velho e ledo canto. Desolado... 71 Deserto magistral adentrando ora E nele não vislumbro mais oásis A vida se permite nestas fases E quando a seca chega e se demora, O sonho sem proveito se apavora E neste desenhar também desfazes Em fúrias tão venais e contumazes Enquanto a própria vida me devora. Esbarro nos meus erros e desvendo O quanto de minha alma neste horrendo Desenho se mostrara inteira e nua Nas teias entre os ermos, mera súcia A morte com terror, ardor e astúcia Aos poucos se enredando enfim atua... 72 Há quanto sepultara esta criança Que um dia imaginara renascida, A sorte noutra face sendo urdida À fúria do vazio ora me lança. Não resta nem sequer uma lembrança Memória se desnuda e apodrecida Traçando a mesma imagem carcomida Enquanto ao cadafalso o passo avança; Já nada mais resiste neste peito E quando solitário em vão eu deito Mergulho neste lodo, charqueada. A face se desnuda e nela vejo Apenas o degrade de um desejo Que ao fim não me traria mesmo nada... 73 Olor adocicado em podridão Adentrando as narinas da esperança E quando no vazio a vida trança Os passos onde os dias morrerão, Talvez se anunciando a solução Seria alguma forma de vingança Gerando dentro em mim esta mudança Na face mais sutil: putrefação. Cadáveres já trago vida afora E apenas esta angústia ainda ancora O barco neste espúrio cais nefasto. E quando me percebo, torpe estorvo Entrego-me à rapina deste corvo E aos poucos desta vida enfim me afasto. 74 Preparo o funeral como previsse O fim da dura etapa necessária E nesta insensatez que é temporária Apenas entranhara tal mesmice. O quanto do vazio se predisse Na imagem desta torpe procelária Já não vislumbro além a luminária Meu verso se resume em tal tolice. Apodrecido em vida e tão somente Entregue ao tenebroso mar que sente Rondando em treva e bruma cada dia. Enquanto a morte tece a rara teia Minha alma, sem sentido devaneia E a solução final, já não se adia. 75 Emanam-se diversos ares onde O fétido caminho se prepara, Amaldiçôo então leda seara E nela o meu delírio em vão se esconde. Apenas o vazio inda responde À voz que o peito amargo ora escancara E quanto mais com tédio a vida arara O solo com certeza o corresponde. Sem pontes, horizontes, fontes. Nada... Imagem percebida é desolada E o fato de existir não alimenta Somente este vazio se anuncia E a cada ausência bebo esta agonia Na face mais atroz, turva e sangrenta. 76 As lágrimas redimem? Ledo engano. A vida não permite alguma paz A quem deseja mais do que é capaz E sente já puindo cada pano. E quando pouco a pouco enfim me dano O olhar que poderia mais audaz, Agora tão somente gera o antraz E o passo para além se faz profano. Acreditar no quanto ainda pude Vencer o meu caminho atroz e rude, Tolice tão somente e nada mais. Depois da derrocada em ar sombrio Apenas o meu mundo ora desfio Ditames tão comuns quanto boçais. 77 Fantasmas de esperanças torpes, mortas Adentram cada parte desta casa, Enquanto a morte vem e já se atrasa Aos riscos mais mordazes tu me exortas. Não posso resumir em frágeis portas O quanto do vazio em mim abrasa E o passo noutro enredo se defasa Enquanto qualquer sorte em paz abortas. Agônico fantoche ora se esvai E o passo a todo instante teima e trai Gerando tão somente outro tropeço. E sei que errôneo caos em vida apenas, No quanto tu me enredas e envenenas Trazendo o que em verdade eu sei, mereço. 78 Presença anunciada de quem tanto Pudera acreditar ser mais que o vago Martírio aonde o mundo inteiro eu trago E a cada novo instante mais me espanto. Por vezes me ensandeço enquanto canto E em ânsias dolorosas já me alago, Procuro qualquer cais, ou mero afago E nada percebendo em vão me espanto. Restauro vez em quando qualquer brio E mesmo num cenário tão sombrio Sarcástico eu sorrio, e nada faço Em solilóquio vago pelas sendas Diversas onde as farpas tu estendas Tomando dentro em mim qualquer espaço. 79 Em sortilégios tantos vi a vida Marcada a ferro e fogo, fúria e medo E quando alguma luz; teimo e concedo A história já de há muito está perdida. Ultriz rapina bebe a apodrecida Carcaça que se mostra desde cedo E neste desenhar escasso enredo Transcende ao que pudesse despedida. Um Prometeu no nada acorrentado, Destino insofismável, pois traçado Nos ermos de uma história sem sentido. Só peço no final, em testamento Que ainda imerso em tétrico tormento Eu seja em tom atroz, ora esquecido. 80 Já não comporto mais uma ilusão Nem mesmo poderia visto que O quanto da mortalha já se vê Traçando sem sentido a direção, E sei dos dias turvos e verão Corbelha como fosse algum buquê E neste fátuo mundo em nada crê Quem sabe discernir sonho e razão. Ao esgarçar meu verso em tom venal Eu subo para a morte outro degrau E sei quanto deveras me redime, Um ato derradeiro em ar sutil, Além do que decerto se previu, Num paradoxo o vejo mais sublime. 81 Ausente dos meus sonhos na verdade, Não vejo qualquer luz após a treva E quando este caminho ao nada leva Já não terei qualquer posteridade Apenas a visão do que degrade Aonde desde já deveras neva, Meu corpo dessedenta então a ceva Na decomposição; realidade. Matéria organizada e até pensante Mutável toma a forma degradante E gera ou alimenta outras diversas. No renascer eterno sob a terra, A história com certeza não se encerra, Somente noutras tantas sempre versas. 82 Já não me importa além do quanto tive E neste pouco ou nada eu me resumo, Esvaecendo em leve bruma ou fumo, Além do quanto fora eu não contive. O nome por um tempo sobrevive Depois desaparece e ao fim, pois rumo Neste zero absoluto enfim o prumo E nada mais restando, não revive. Esqueço qualquer messe e se aprofundo Nos ermos solitários deste mundo, Isso já não traria sofrimento. Somente algum ser cativo dos anseios Ousando vez em quando em devaneios, Nos quais eu me sacio ou mais me alento. 83 Não posso me furtar ao dia a dia Imerso nos meus erros costumeiros E quando tento além dos corriqueiros Caminhos; nada resta ou fantasia. O pouco ou quase nada onde teria Cevado esta esperança em pés ligeiros Adentra por instantes derradeiros O quanto se perdera em agonia. Já não comporto mais uma esperança E enquanto no vazio o sonho trança Gerando outro vazio dentro em mim, Redemoinho farto aonde eu sinto O olhar outrora atento agora extinto, Trazendo em recompensa além; o fim... 84 Fartar-me enquanto vivo de um prazer Que possa me alentar após a queda E o passo aonde em nada ele se enreda Condena-se afinal a se perder. Esboço reações e adentro o ser Cujo caminho a vida mesmo veda E tento reverter o que degreda Meu sonho num etéreo esvaecer. Quem dera se eu pudesse, mas eu vejo Que a cada novo intento, um vago ensejo Neste mutável ser inconseqüente, E ao fim do descaminho onde me entrego Apenas alimento um frágil ego Enquanto uma saída não mais tente. 85 Tivesse qualquer nova alternativa Pudesse ser diverso da real Fatalidade em ar torrencial Ainda quando um pouco sobreviva; Arcando com cenário onde se priva Procuro ser talvez mais racional, E sigo a pressentir um desigual Caminho aonde a sorte não cativa. Esbarro nos meus erros e presumo Ao fim de certo tempo o ledo fumo Do qual e pelo qual sou oriundo. E vago sem destino, leda imagem Um barco sem caminho ou ancoragem, Inerme ser atroz e vagabundo... 86 Jamais faria em verso que agradasse Somente por sobeja simpatia, O mundo não sonega a poesia Nem esta nega ao mundo a sua face. E assim porquanto ao nada ainda grasse Enquanto o meu caminho se desvia E bebo o sortilégio da agonia, Meu ser a cada instante ora se trace. Um verme perambula entre os engodos E os erros; reconheço; tenho-os todos Somente me desnudo e nada mais. Fatídico futuro me rondando Num ar tempestuoso e até nefando, Dos sonhos não restaram nem sinais. 87 Não sou mero protótipo de um sonho Nem mesmo quero aqui acalentar, A vida é tão complexa e me inventar É necessário quando recomponho. Mas traduzindo em verso não me oponho Ao quanto pude até não assentar, Mas verso sobre o quanto hei de enfrentar Porquanto cada passo é mais medonho. Afasto-me deveras deste ser Imerso nos desmandos do prazer E tento a redenção, mas caricato Somente em face escusa me desnude E quando me imagino menos rude, Demônio que ocultara; enfim resgato. 88 A turba vai sedenta em fúria e fogo E quando se aproxima deste vão Adentra sem pudor a escuridão Não adianta mais pedido ou rogo, Espúria súcia segue cada passo Num vórtice venal e costumeiro, O quanto se desnuda em acre cheiro Ao mesmo tempo eu sinto e me desfaço Entregue ao linchamento, apodrecido Mergulho nesta insânia coletiva Minha alma aos poucos foge e já se priva E o resto ora não faz qualquer sentido. Esfacelado em vida, simplesmente, Rapina saciada enfim contente... 89 Ainda que buscasse noutros passos Caminho para além do quanto pude Vencida há tanto tempo a juventude Deixando os pensamentos turvos, lassos. Os olhos se os percebo então mais baços, O coração aos poucos desilude E quando me percebo em amiúde Delírio eu volto aos velhos, tolos traços. E esbarro numa eterna insegurança, A vida na verdade me afiança Do fim e tão somente. Nada mais, Enquanto me convenço deste engodo Chafurdo o sentimento neste lodo Envolto pelos mesmos lamaçais. 90 Aonde quis a glória e nada vinha Somente a mesma face em tez boçal, O mundo num eterno ritual Traduz uma alma torpe e mais sozinha. O quanto imaginei que fosse minha, Num fosso se transforma e como tal Reflete uma alma turva e a pá de cal Recende ao meu futuro em tez daninha. Augúrios tão diversos; dita a sorte E quando se percebe e já comporte Apenas o silêncio e a calmaria Da turbulenta noite solitária, Ainda que pareça procelária A morte em paz é tudo o que eu queria... 91 Já não resistiria ao sonho quando A vida noutra face esgarça o canto E neste desenhar mal me garanto Morrendo no vazio e o desejando. Esperas tão sofridas e rondando O meu martírio a diva em desencanto Restara muito pouco além do pranto No olhar a cada instante desenhando. Desdéns entre loucuras e terrores, Seguindo cada passo e sem te opores Vislumbro solitária noite e enfim Esboço reações? Mas, nada tendo Somente este final atroz e horrendo, Aos poucos acendendo este estopim... 92 Desejo se perdera sem um nexo Sequer e a vida ultrapassando cercas Enquanto dos meus passos tu te percas O meu olhar não tem qualquer reflexo. Destino desenhado pelas Parcas As sortes se vislumbram turbulentas E quando qualquer luz; inda apresentas Com meus anseios tantos já não arcas. Esdrúxulos delírios de um poeta? Somente retratando aqui meu eu Que há tanto sem destino se perdeu A morte neste instante me completa. Angustiadamente eu me converto No quanto pode a vida em desconcerto. 93 Há tanto o canto espera uma resposta E ao fim já se percebe inutilmente Ainda que outro sonho se freqüente A morte noutra face sendo exposta A vida a cada instante vem e aposta Na farsa me tomando plenamente E a queda quando o olhar mal a pressente Prenunciando a cada nova encosta. Qual mar bravio eu quebro nestas rocas E mais em turbulências tu provocas Ao vértice das dores, o apogeu. Um náufrago sem tábua em salvação O mundo de meu eu repetição Ao canto ninguém mesmo, o respondeu... 94 A voz ao invadir o quarto traz Somente amortalhada realidade Traduz o quanto viva esta saudade Ainda latejante e mais tenaz. Espúrio navegante eu busco a paz, Meu todo por sutil tranqüilidade, Mas quanto mais o tempo em vão degrade O sonho se transforma. É mais mordaz. Amordaçando esta alma aonde um dia Pudesse acreditar onde haveria Apenas mero cais e nada além. Aos poucos consumido pela incúria Esta alma embrenha as sendas da penúria Rapinas derradeiras logo vêm... 95 Dominas todo o sonho e no final Escapa-me das mãos, leda paisagem Esfuma-se e decerto em tal viagem Meu passo se perdendo, sempre igual. Ainda pude além do tão banal Martírio, mas vazia esta bagagem Trazia do passado uma ancoragem Às pressas dos anseios; leda nau. À parte do que possa ainda ter Mergulho nas entranhas do meu ser E bebo a contragosto este amargor. Fatídicas imagens degradantes E nelas tão somente ainda espantes O que pudesse um dia, redentor... 96 Pudesse simplesmente navegar Sem ter estas borrascas onde danas As sortes mais sutis, cotidianas E nada resta em paz no seu lugar. Ausente dos meus olhos, teu olhar E mesmo assim imagens soberanas Desenham caricatas e profanas Vontades de partir, de não ficar. Esgoto-me à medida onde componho Meu mundo deste imundo e vão cenário. Embora saiba até ser temporário. E quando me percebo e sou medonho, Apenas tão somente algum esboço, A vida preparando em paz, meu fosso. 97 Escondo dentro da alma a cicatriz Medonha tatuada em carne viva E quanto mais da vida o passo priva Maior o desencontro onde me fiz. E tanto aprendo e sei ser por um triz A sorte noutra face mais cativa, Esboça a realidade e já me criva Em novos cortes fundos, cena gris. Arcar com os enganos de quem tanto Buscara qualquer paz, mas não garanto Sequer um dia a mais nesta existência Marcada pela angústia e desalento, E quando alguma luz escassa eu tento, Apenas vagos tons; fosforescência... 98 Recolho no caminho os espinheiros E os guardo quais relíquias dentro da alma, A sorte se desmancha e nada acalma Quem sabe dos seus dias derradeiros. E quanto mais procuro nada vejo Somente a mesma face em farta incúria A dita sem mais nada enfim; depure-a Talvez ainda trace o benfazejo. Mas sei quanto é disperso o passo quando O mundo noutro tanto se transborda Vivendo neste abismo sempre à borda, A queda a cada instante desenhando. Restaurasse os anseios juvenis, Talvez pudesse ser algo feliz. 99 Arremessando o passo rumo ao nada Esgoto a sorte e vejo em tez sombria O quanto na verdade não se adia Imagem pela vida degradada... Resulto deste vão e nesta estrada Apenas a mortalha caberia A quem se fez suave em frágil dia E agora morre aquém desta alvorada. Não mais me cabe então qualquer sonhar, Ao fim desta viagem, um lugar Aonde eu possa ao menos ter a paz. Depois de tantos anos, despedida, A sorte traiçoeira e desmedida Traduz o quanto a vida ora desfaz... 100 Refaço com os sonhos a aliança E tento renovar meu canto quando O mundo mesmo aos poucos sonegando Meu passo claramente ainda avança. Um ser sujeito à guerra ou temperança Ao mesmo tempo amargo enquanto brando Espalha-se e decerto transmudando Jamais busca um refúgio e em paz descansa. Mutante e variável me desnudo Por vezes mais suave, ou tão agudo Bebendo em discordância mel e fel, Alento-me no verso em desabafo Ou quando as minhas luzes eu abafo Transcrevo-me ou renego no papel. MARCOS LOURES FILHO
|
|