
SONETOS FEITOS EM 10/08/2010
Data 10/08/2010 10:09:41 | Tópico: Sonetos
| 01 Enquanto se pudesse em tom preciso Sorver desta ilusão superno raio, Por vezes no vazio enfim me traio E bebo sem sentir o prejuízo, Resumo a minha vida em vão aviso Embora em tal cratera às vezes; caio Da mesma forma além decerto eu saio E noutro caminhar eu me matizo, Regenerando cada parte morta Abrindo sem temor, do peito a porta Aporto os mais diversos cais enquanto A vida noutra face se esvaíra E sei do quanto expões numa mentira O amor gerando após; o desencanto. 02 A imagem tantas vezes assistida Embora se mostrasse cristalina Enquanto o meu futuro determina Mudando a direção de minha vida, Presumo a cada instante esta partida E deixo para trás a fonte e a mina Tentando desvendar a dura sina E nela este cenário em avenida. Açodam-me diversos sentimentos E quando os dias foram toscos, lentos Olhando para trás nada haveria, Somente em tons sombrios tais esgares E quando mais de perto tu notares Restando para nós mera agonia. 03 O amor quando se faz bem mais ameno Diverso do que agora em ti eu vejo, Além do mais sublime e mais sobejo Delírio nos transporta e me sereno, O quanto em solidão eu sou pequeno E apenas um alento em paz; almejo Um céu bem mais suave em azulejo Deixando para trás o medo. Pleno. Resumos de outros dias tão iguais, E neles ânsias torpes rituais Expressam o que pude perceber Nesta ansiosa fonte delicada A sorte novamente não diz nada Deixando a minha vida ao bel prazer... 04 Esbarro nestes medos, tantos cães Na noite em destempero se moldando E singro estes temores desde quando A vida sonegara amores, mães. Ainda quando tento outra saída Vencido pelas ânsias costumeiras Espalho dentro em mim fartas roseiras E gero neste sonho uma avenida, E tento caminhar por espinheiros Cerzidos pelos dias inconstantes E mesmo quando além tu me adiantes Os passos serão mesmo os derradeiros. Afasto-me qual fosse a fera exposta À própria imagem tosca e decomposta. 05 Dos pâmpanos a poda em inclemência Não deixa qualquer sombra doravante O sonho aonde eu quis mais abundante Já não teria ao fim a providência E olhar ensimesmado em prepotência Traduz o quanto pude e me adiante O passo aonde o nada se agigante E tome com terror a consciência. Espúria imagem turva de quem tanto Bebera com ternura e se hoje espanto Meu mundo eu não consigo disfarçar Alçando qualquer luz aonde eu possa Erguer com mansidão minha palhoça Apenas no vazio este lugar. 06 O quanto toma em fúria este arrebol Tornando intransitável minha grei A tempestade aonde eu me entranhei Na ausência de qualquer sinal de sol, E gesta outro momento e sigo em prol Do quanto nesta vida desenhei Arisco sonhador eu não terei Sequer após a chuva algum farol. Ostento uma esperança em solilóquio Amor não se permite algum colóquio E morre a cada ausência em tom banal. O sonho muitas vezes costumeiro Traduz dedicação do jardineiro Cuidando deste raro roseiral. 07 A vida vai passando e por um triz Durante minhas noites percorri Cenários tão diversos e daqui Eu pude e na verdade sempre quis Vencer os meus temores num matiz Aonde se pudesse ter em ti O todo que deveras mereci E a vida a cada ausência o contradiz. Meu verso se perdendo no non sense Do amor que mais sonhei nada convence Somente o medo agora, a vida rege. O quanto pude até imaginar Decerto em que momento, em que lugar O tempo não seria atroz e herege. 08 Tentando desvendar o imenso mar E crer na mansidão de calmos prados Os dias entre medos, meus enfados E a noite em expressões raras: luar. O quanto pude até acreditar Em tempos tão diversos, sonegados, E as horas entre medos desenhados Gerando esta ilusão a nos tomar. Acordos se rompendo a cada queda E quanto a vida em vida já se enreda Traçando este novelo em firmes nós As corredeiras logo se agigantam E os sonhos num instante já se espantam Temendo o que virá momento após. 09 Aonde quer deveras que inda fores Verás o quanto em paz eu desejei E tendo esta esperança quase em lei, Os sonhos são decerto os locutores E bebo a cada instante teus albores Adentro o paraíso onde sonhei No amor reinando inteiro em minha grei Vagando muito além dos dissabores. Expresso com ternura e logo vens Trazendo nos teus olhos fartos bens E deste desenhar eu me inebrio, Vestindo a luz que tanto tu me deste O meu delírio agora em tom celeste Vencendo qualquer medo ou desvario. 10 Os dias entre vários ermos coros Transcendem ao que posso imaginar E neste descaminho algum lugar Preserve dos anseios os decoros, E sinto bem mais próxima a verdade Depois de tantas tolas ilusões E neste desenhar tu me propões Bem mais do que deveras inda brade O coração audaz, mas solitário Refém de um bem querer insaciado, Volvendo a cada curva do passado Já não seria mais atroz sectário E sinto o que virá após tempesta Na doce fantasia, amor se gesta. 11 A sorte desejada esta primeira Que tanto poderia ser um porto E agora na verdade quase aborto Expressa muito menos do que eu queira Caminho sem destino, imenso e torto O mundo sonegando esta bandeira A vida não se trama, é traiçoeira Negando ao andarilho algum conforto. Expresso em solidão destino quando Percebo este cenário desabando Qual fosse tempestade sobre mim, E ao ver quanto se fez atroz a cena Minha alma; também ela se apequena E mata qualquer sonho e sela o fim. 12 A sorte renovando em tétrica era Não deixa e na verdade não contém Sequer alguma luz e com desdém Marcando o quanto em mim se degenera O tempo noutro tempo e nada espera Somente do vazio sou refém, Vagando a noite inteira sem ninguém Abrindo a cada passo outra cratera. Esplendoroso sonho do passado, Apenas um detalhe deformado Terrificando o passo de quem tenta Vencer a tempestade com sorrisos E vendo a todo instante os prejuízos Entrega-se ao furor desta tormenta. 13 O quanto se fizera em triste adeus E nada deixaria satisfeito Tomando com rancor todo o meu leito Momentos que deveras foram meus, E quando se presumem apogeus A queda transportando fere o peito E sei que na verdade eu não aceito Angústias feitas nestes fartos breus. Explodem dentro em mim outros sinais E vejo os meus caminhos tão banais Vencidos pelos traumas que eu carrego, No passo rumo ao quanto pude e nada Trouxesse nova senda desenhada Nas ânsias inconstantes do meu ego. 14 Revejo a cada instante o que sobrou Da vida imaginada, bela e clara, O amor quando demais não se declara Apenas num instante nos tomou. E o todo que decerto ainda sou Espalha a luz intensa na seara Marcando com ternura o quanto ampara A vida que deveras desnudou. Ecléticos caminhos; pude quando O tempo noutra face se mostrando Trouxera a tempestade após os sóis, E assim também percebo a nossa vida Enquanto dizes sonhos; na partida Os dias que virão logo destróis. 15 Além deste sopé de uma montanha Meus sonhos ao seu topo agora eu sigo E neste desenhar em desabrigo A vida não permite a nova sanha, Enquanto na verdade perdes, ganha A sorte que pudesse estar contigo Depois de tanto medo em vão perigo A dor aos poucos doma e já te entranha. Vacância aonde um dia houvera tanto E quando num espelho olho e me espanto Fortunas tomam todo este cenário E bebo a cada ausência o temerário Desenho feito em dor e disto tudo Apenas num não ser me desiludo. 16 A vida em sua tez cotidiana Transforma em quase iguais os nossos dias E quando novos rumos tu querias A messe se faz vã; provinciana E tento imaginar como seria A luz sem ter mais nada que a impedisse E vendo a cada instante esta mesmice Condeno o meu desejo à fantasia. Temores? Eu entendo. São normais, E quando se pudesse ser feliz Realidade volve e contradiz Quebrando sem ternura estes cristais E quando o peito à luz imensa eu abro Sem velas nem mais chamas, candelabro. 17 O sonho libertário ganhando asas Adentra além dos meus ermos canteiros Cenários entre claros, bons luzeiros E assim também decerto ali te abrasas, E na verdade sinto quando atrasas E sei dos teus motivos, corriqueiros, Mas busco inutilmente os altaneiros Desenhos sobre os quais agora embasas. Estimulando o passo sigo em frente E cada novo dia onde se tente Os vórtices; vencer sem ser ultriz No quanto posso em ti já deslindar A sóbria maravilha de um luar Acalentando o sonho onde a mais quis. 18 Aonde quer que a vida inda se inteira Vacâncias são comuns, eu sei bem disto E quantas vezes; teimo e não desisto Tendo esperança firme qual bandeira Por mais que a dor se mostre corriqueira Vencer os meus temores, eu insisto E à dura derrocada agora assisto Tentando alçar em mim tal cordilheira A voz anunciando novo dia Expressa o que deveras poderia Não fosse este silêncio onde se ancora Desdita numa face mais sutil, E assim além do quanto se previu O amor já não tem tréguas na penhora. 19 A sorte tantas vezes desejada Invade o coração; toca meu eu E quanto tempo nisto se embebeu Da tétrica ilusão que assim degrada Depois de certo tempo, resta o nada E o quanto pude agora pereceu Bem antes do momento em apogeu Num perigeu em face desnudada. Vencer os meus anseios e seguir Após a tempestade e num porvir Acreditar sabendo ser um sonho. Esboço reações; procuro a paz, Mas sei que no final somente traz O mesmo mergulhar tosco e medonho. 20 Apenas carregando em mim o luto Aonde se pudesse num sentido Diverso novo rumo presumido, Enquanto na verdade inda reluto, Reinando sobre o sonho este absoluto Momento desvairado em ledo olvido Transcorre no revel de uma libido E deixa no passado um ar mais bruto, Esgarces são comuns a cada engodo E toco com terror o charco e o lodo Servidos como fosse algum banquete Ainda que deveras; já promete Um tempo mais suave em nada creio Eu sei ser tão somente um devaneio. 21 A vida em suas tramas mais supremas Expressa tanta dor e desvario E quando o dia a dia eu desafio Rompendo do passado tais dilemas Invés das emoções que ainda algemas O canto noutro ritmo ora recrio E bebo o privilégio onde porfio Trazendo a limpidez de meus emblemas, Não pude concernir dor e temores Nem mesmo se deveras tu te opores Meus passos retroagem, sigo alheio Ao quanto poderia se não fosse Tal messe com certeza uma agridoce Figura de retórica em anseio. 22 Num mundo doloroso, enfastiado Cansaços destas fúteis ilusões E quando novos dias tu dispões As mesmas decepções de outro passado Não quero carregar este legado Nem mesmo me perder em direções Diversas às que eu busco; soluções Dispersas dos meus cantos neste enfado. Respiro tão somente por saber Que a vida não costuma se perder Nas ânsias mais banais e inconseqüentes, Ainda que deveras sempre sigas Em tramas tão atrozes quão antigas E nelas nada mais tu me apresentes. 23 Já não suporto mais tolas blasfêmias E nem sequer pudesse imaginar O quanto se perdera algum luar Em almas que julgasses serem gêmeas Cadenciando o passo rumo ao nada, Depois de tanta messe concedida Assim se perde o sumo de uma vida Há tanto e sem defesas, condenada. Restando muito pouco de quem tanto Quisera ser diversa, mas sei bem Que apenas o vazio inda contém E neste caminhar enfim me espanto Dos sortilégios todos; mortas luzes Somente ao tenebroso vão; conduzes. 24 Minha alma de tua alma se apieda E segue o seu destino sem defesas Enquanto os dias teus são meras presas Propensas ao tropeço e à dura queda. O quanto do passado hoje se enreda E muda com terror as correntezas Deixando para trás tais sobremesas Aonde a própria vida às vezes seda. Resumo o meu cantar em cada verso E neste delirar eu me disperso Vagando muito além de qualquer passo E quando meu caminho em paz eu traço Vislumbro a maravilha que virá E sei: o meu destino mora lá. 25 O mundo em sua face viperina Entranha seu veneno a cada não, E quando se perdendo a direção Ao quê a vida traça e se destina? Na luz onde meu passo determina Certeza de outros tempos que virão Trazendo novamente a negação E nela e extermina paz e mina. A vida poderia ser diversa Se tanto caminhar não desconversa Gerando novo tempo em claridade, Mas quando se percebe a solitária Invés da necessária e solidária Aos poucos o cenário se degrade. 26 O tempo se desenha em irrisão E molda a cada passo outro deboche E sei que meu caminho; um vão fantoche Explode sem sentido em negação, Depois de tantos anos percebendo O quanto deste sonho fora vago O tempo aonde morro e já me alago Explode num martírio em tal remendo. E bebo e me extasio enquanto luto E sinto a cada verso outro demônio E neste caminhar em pandemônio O passo na verdade mais astuto Presume a própria vida em tom atroz Negando uma esperança; mansa foz. 27 Efêmeros caminhos percebidos Nos dias mais atrozes e diversos, E quando procurando com meus versos Não vejo nada além, mortos sentidos E trago desdenhadas as libidos Mortalhas entre tantos universos Bebendo dos momentos mais perversos Restando pouca coisa além de olvidos Arrasto-me deveras pela vida E sei que já percebo em vão, perdida Qualquer luz após uma esperança E sinto o quanto nada valeria O sonho feito em paz e poesia Enquanto a tempestade reina e avança. 28 Meus dias se expiando a cada instante E sei do quanto pude e não soubera Conter a solidão, rude pantera Que a cada novo passo se agigante, E nada mais teria doravante Quem mata dentro em si a primavera E o manto desfiado degenera Marcando cada passo degradante. Mesquinharias trago desde quando O mundo noutro rumo se tornando Vagando sem sentido ou provimento. Mas quando me percebo noutra face Ainda que deveras tudo passe Outro momento após ainda tento. 29 De todas as mulheres, a bendita Aquela cuja vida dera à vida A sorte desejada e presumida Aonde toda a glória se acredita E nesta maravilha necessita A paz a cada instante sendo urdida Vencendo sem temor a despedida Lapida sem perguntas a pepita. Diamantina messe se apodera E deixa para trás tola quimera Moldando a claridade inexorável E o risco de viver já não procede, Assim ao quanto amor a vida cede Traçando outro caminho ora imutável. 30 O quanto desta vida é percebido Nas ânsias mais atrozes ou felizes E quando o dia a dia tu desdizes Marcando com terror cada sentido O tempo noutro tempo presumido Resume a minha história em fartas crises E bebo os meus delírios, torpes, grises Traçando o dia morto ou esquecido. Um barco sem destino perde o cais E apenas devorando temporais O risco se assumindo em solidão, Esgoto minha voz e nada escutas As horas entre dores, ledas, brutas Apenas as tristezas moldarão... 31 Marcando a minha voz em turvas sendas Esgoto o meu caminho e nada levo O amor quando se fez terrível, sevo As horas entre tantas não estendas E morrem esperanças, meras lendas Diversas da alegria aonde eu cevo Um sonho que pudesse e não me atrevo Sabendo desde quando não atendas. Esboço algum sorriso, cabisbaixo E tento caminhar, mas logo abaixo O olhar sem horizontes nem futuro, E quantas vezes tal felicidade Agora noutro rumo adentra e invade E o nada simplesmente eu asseguro. 32 Aonde poderia ver as chamas Diversas de um anseio e nada pude, A morte desta espúria juventude Exposta aos vãos delírios onde tramas As horas mais doridas, velhos dramas, E neles o meu canto desilude Ainda que pudesse outra atitude Cenário sem igual logo reclamas Expresso o meu desejo em poucas frases, Mas sei dos dissabores quando os trazes Marcando a ferro e fogo o dia a dia, Depois de tantos anos procurando Apenas o desenho mais nefando Aos olhos de quem ama se veria. 33 Já nada mais valia a minha voz Depois de tanto tempo em tons audazes E quando imaginara mansas pazes O rumo se mostrara mais atroz Sedento caminhante busca a foz E os rios entre pedras, mais mordazes Morrendo a cada curva quando trazes Apenas discordância em frouxos nós. Resumo cada verso em solidão E bebo a me fartar e sei então Dos erros costumeiros de quem sonha, E a noite que pudera ser feliz Mudando num instante este matiz Expressa esta faceta mais medonha. 34 Apenas ao sonhar me permitira Vencer os meus fantasmas, mas agora A sorte noutro porto eu sei que ancora Deixando para trás lenda e mentira. A frágua se tornando mera pira O vento noutro tempo nos devora E a dita sem destino me apavora Enquanto a solidão acerta a mira. Vencido e sem saber sequer destino, Aos poucos meu caminho eu determino Vagando pelas noites temerárias, As horas se perdendo em noite vaga Adentra o coração espúria plaga E as mansas alegrias? Procelárias... 35 A porta se fechando atrás de mim Deixando para trás o que buscara Marcando com terror esta seara Uma esperança morre em camarim, Vasculho o que restara e sei do fim E nele nada mais a alma declara Somente a solidão cruel e amara Vacância dominando tudo assim; Esboço reações, mas nada disso Permite qualquer luz aonde eu viço O passo após a queda costumeira E mesmo que pudesse nada tenho Ainda sigo e vago e sou ferrenho Quer ou mesmo nunca queira. 36 Escassos caminhares noite afora O verso não produz sinceridade A furiosa senda se degrade E o medo de sonhar tanto apavora, O risco de viver já não tem hora E o manto se traduz na ansiedade Marcando com terror felicidade Meu barco sem o cais jamais se ancora. O rústico desenho de um alento Enquanto ainda tenho e busco e tento Não vale mais a pena; tolo e vago E quando em ilusões bebo o futuro, Meu passo noutro passo eu asseguro E destas dores fartas já me alago. 37 Felicidade apenas a heresia De um sonho amortecido pela vida Aonde se pensara dividida No fundo nem a sombra restaria A morte dominando a poesia A porta já cerrada esconde a urdida Vontade muitas vezes distraída E dela; nada mais, a alma veria. Espúrios caminheiros; nada temos Há tanto que perdemos rumo e remos Sem porto nem chegada, apenas risco, E quando penetrara em raro sonho O canto em paz desejo e até proponho, Mas sei deste futuro e vão confisco. 38 A vida não percebe a curva quando A sorte pode ser quase nublada E nesta velha e turva caminhada O mundo noutro tanto desabando A face com ternura demarcando O quanto poderia haver em nada, E o sonho ganha assim esta alvorada E nela a cada instante se entranhando. A paz domina a face de quem ama, Mantendo a mansidão da intensa chama Tramando novo dia após a messe E sei que também posso ser feliz, A sorte se mostrando aonde a quis Ao dia mais suave ora obedece. 39 Jamais eu poderia acreditar Nas lendas de um caminho aonde um dia A sorte noutra face mostraria Marcando cada passo a divagar, Ainda que se possa imaginar O canto numa voz tola e sombria O manto noutro tom se mostraria Deixando liberdade pra sonhar. Resumos de momentos entre tantos E neles entremeiam desencantos, Porém no fim o riso prevalece, E assim a sensação se faz mais plena Da vida que deveras me serena Trazendo este poder de viva prece. 40 De repente meu mundo se transforma E bebe a fantasia mais sutil E dela novo tempo se previu Gestando dentro em mim superna forma, E o quanto do passado ainda informa Embora com seu traço mais senil Presume o que o futuro já não viu Bebendo do carinho em rara norma, Vagando pelo amor mais delicado Aonde se pensara num enfado A sorte se deslinda maviosa, E o canto prenuncia a liberdade E nela cada sonho onde se invade Canteiro em plenitude imerso em rosa... 41 A vida se esboçando num punhal Enquanto noutra face me intrigais Vendendo como messe os temporais Num gesto desumano em ritual, Pudesse adivinhar o quão venal Caminho aonde a sorte derramais Vencendo os dias turvos tão iguais E neles outro fardo em pás de cal, Resumos de uma vida em turbulência Aonde só percebo a prepotência De quem se imaginara além da vida, E o peso imenso fardo que inda levo Num ato desumano turvo e sevo Não deixa que se veja uma saída. 42 A morte na ternura não se banha E bebe cada gole entorpecente Do quanto no vazio se pressente E nada se presume e não se ganha Mortalha tece em pútrida barganha O canto quando entoas; já se ausente E marca com terror o prepotente Caminho além de mares e montanha Seara tão diversa onde palmilhas E sei dos teus delírios tantas milhas Neste oceano feito em turvas águas E quanto mais eu quis tranqüilidade A voz se mostra em tal iniqüidade Gerando novamente medos, mágoas. 43 O tempo se mostrando assim gelado Num invernal caminho já sem volta O canto quando o posso se revolta E traça os mesmos erros do passado, Vestindo o manto há tanto abandonado A solidão fazendo turva escolta A mão que me segura e não mais solta Traduz o quanto resta deste Fado. Medonha e caricata; se afigura A vida além do cais, amarga e escura Ao entranhar em mim tudo transtorna E ardente uma ilusão que imaginara Agora ao penetrar leda seara Desnuda nova face, triste e morna. 44 O sonho se desnuda em lividez E vejo este cenário aonde um dia Pudesse imaginar e bem queria O amor quando a verdade enfim desfez Penetro outro caminho e nada vês Fortuna num instante é mais sombria E o canto que pensara em harmonia Agora noutro tom, estupidez. Vencer os meus anseios e poder Saber aonde esconde algum prazer A vida sem sentido, nem razão, A queda se anuncia a cada passo, E o tanto que pudera não mais faço Meus olhos a alegria, não verão. 45 A noite se mostrando sempre fria Não tendo outra saída busco a rua E bebo cada raio desta lua Imensa que se mostra e moldaria Cenário aonde outrora; mais sombria A tez neste momento em paz cultua Beleza sem igual além flutua Numa esperança clara trama um dia. Mas logo se percebe nova bruma E a lua se escondendo além se esfuma E nada do que tanto imaginara Ainda sobrevive em noite vã, Percebo a solidão noutra manhã, Por um instante apenas vi-a clara. 46 O quanto se aquecera e não concentro Meu canto neste gêiser num momento Aonde novo tempo; ainda eu tento E solidão atroz; penetro e adentro. O sol já dominando toma o centro E traz ao meu caminho o aquecimento Que muitas vezes quis exposto ao vento, Porém me vendo a nu me desconcentro E sigo os meus destinos mais atrozes Deixando para trás sublimes vozes E tento caminhar em meio às sombras, Porquanto quaisquer luzes que inda trazes De tanto que eu vivera em tons mordazes Deveras sem sentir logo me assombras. 47 Num tremular constante a voz se esvai E morre num instante aonde eu pude Tomar com mais firmeza uma atitude E sei no final a vida trai, Enquanto a solidão ainda atrai Quem tanto quis sonhar e desilude O passo noutro rumo não se mude E a chuva dentro da alma sempre cai, Espelho o que sentira e ainda vivo Dos sonhos mais felizes, um cativo Cansado de lutar inutilmente, Vestindo a fantasia de bufão Os dias trazem sempre o mesmo não Por mais que novo rumo ainda tente. 48 No teu olhar percebo indiferença Ainda que lutasse, nada veio Somente o meu caminho em devaneio E nada quando muito me convença A vida sem poder ser tão intensa Encontra no vazio frágil veio E morre num cenário sempre alheio Ao quanto se deseja quer e pensa. Negar esta vontade e prosseguir Talvez redima a sorte no porvir, Porém uma mentira não traduz O quanto é necessário ter além Do pouco que decerto ora contém Quem busca sem sucesso a imensa luz. 49 O sol que tantas vezes quis ardente Agora se escondendo em tez brumosa A vida quando atroz e caprichosa Mutante caminheira onde se tente Vencer este delírio mais freqüente Enquanto a realidade tudo glosa A morte neste instante; já antegoza O olhar mais doloroso e impertinente. Um indigente busca algum apoio, Este árido caminho mata o arroio E o barco não consegue navegar, Assim de todo o sonho mais audaz A vida num momento apenas traz Vontade de morrer ou se matar... 50 O quanto pude outrora acreditar Nas doces ilusões, hoje calado Não vejo a menor sombra do passado As brumas escondendo algum luar, Procuro novamente outro lugar O peito em turbilhões já degradado O canto no vazio derrotado A porta se fechando devagar, Os dias não trarão, tenho a certeza Sequer qualquer momento de surpresa E a correnteza arrasta em inclemência De tudo o que buscara nada tendo Somente este futuro duro e horrendo, Aguardando da morte, a interferência. 51 Desabrochando flores no jardim Desta esperança tola e iridescente O quanto na verdade se pressente Traduz o que inda resta para o fim, O sonho se espraiando além de mim O risco de sonhar, torpe e inclemente Minha alma neste instante ainda sente A falta de algum porto e ausenta enfim Deixando para trás quem tanto um dia Imerso nos meus sonhos, poderia Trazer a plenitude, mas sei bem Do quanto me esvazio a cada sonho E apenas ao sentir já decomponho A vida rumo ao nada me contém. 52 Ouvindo esta esperança mais distante Tentando caminhar e contra o vento Tocado pelo imenso desalento Aonde cada passo se adiante E mostre noutro enfado doravante Apenas no final o alheamento Marcando com terrível sofrimento O norte que traçara noutro instante. Vencido pelas ânsias e temores Seguindo bem diverso de onde fores Riscando outro horizonte já sem lua, Minha alma sem saber qualquer delícia Exposta à insensatez prova a sevícia E aquém de qualquer messe continua... 53 Meu verso se mostrando agora inteiro Sem medos ou censuras, traz o quanto Da vida se mostrara em desencanto Matando por completo este canteiro. O riso noutros sonhos, verdadeiro Agora se transborda em medo e pranto E a cada novo tempo eu não garanto Nem mesmo algum caminho, o derradeiro. Mortalhas de um passado; ainda vivo E sei do meu caminho qual cativo Buscando uma alforria que não há. Meu canto se perdendo sem sentido O mundo noutro encanto resumido A sorte me abandona desde já. 54 Um gole de café, outro cigarro, A vida se repete e nada faço Senão seguir o velho e torto passo Qual craca neste casco enfim me agarro, E sinto a solidão e desamarro Os sonhos deste tanto onde não traço Sequer outro caminho e sem compasso Meu canto terminal recende ao barro E volto a ser deveras a matéria Somente sem juízo e na miséria De um tempo mais atroz, um pária apenas Bebendo cada gota do abandono Enquanto do vazio ora me adono, A cada negação tua, envenenas. 55 Jogado contra as fúrias destas ondas Bravias em penhascos e penedos, Os dias modificam desenredos Aonde no vazio correspondas, E sei desta ilusão aonde escondas Os dias mais suaves, teus segredos Deixando para mim apenas ledos E nada do que quero me respondas Vestindo a alegoria de quem tanto Buscara ao fim da vida algum encanto E nada percebendo segue alheio, Apenas rapineira companhia Do corvo aonde o sonho moldaria Além de qualquer luz que inda rodeio. 56 Já não me bastaria acreditar Nas falsas ilusões, tolas promessas E quando novamente recomeças Meu tempo sem destino nem lugar Cansado inutilmente de buscar As horas mais audazes dizem pressas E neste emaranhado me endereças Ao mais distante rumo no além-mar. Vasculho esta gaveta e nem um rastro Do quanto poderia ter em lastro E crer noutro amanhã bem mais seguro, Ausente da esperança mais banal, Não resta para morte outro degrau, E encontro a paz que tanto hoje eu procuro. 57 Cenários tão diversos, mesma cena A vida se repete e é sempre assim Princípio desenhando cedo o fim Apenas a mortalha me serena, O risco de viver não concatena E a sorte desairosa toma em mim O todo que pensara ter enfim A paz de uma esperança mais serena Cigano coração já sem paragem O sonho transbordando outra miragem, E o tempo se esvaindo em ledo outono, O canto sem promessas diz rancores E mata com tal frio; várias flores, E a cada novo não me desabono. 58 Versando sobre o sonho, o pesadelo, Marcando a minha pele em tatuagem Percebo no final a mesma aragem E o rumo já não posso mais sabê-lo A vida se perdendo busca um zelo E o corpo sem abrigo ou estalagem Perdendo o que restara de coragem Apenas veste as roupas do desvelo. Ascendo em pensamento, mas a queda Anunciada logo ora se enreda E deixa para trás uma esperança, Quem tanto quis funâmbulo se vê Na vida sem destino e sem por que E desta altura imensa enfim se lança. 59 Não posso e não consigo acreditar Em quem tem tanto medo de viver, A vida se entorpece num prazer Sem tempo, sem motivo e sem lugar, Apenas no vazio imaginar O corpo noutro tanto a se perder, Assim ao se entregar para outro ser A vida não se mostra a desnudar. E sinto nos teus olhos solidão E bebo deste estio desde então Sabendo viva em ti sobeja fonte, Mas quando novo tempo se percebe A vida renascendo nesta sebe Noutro caminho apenas; pois me aponte. 60 Um verso dessedenta esta vontade De ter além dos olhos a luz intensa E nela toda a sorte se convença Ganhando o que eu anseio em liberdade, A vida não suporta algema e grade E quando a fúria traça a messe imensa Não tendo mais sequer, mesmo que tensa Quem possa segurar; mais alto brade. E assim ao penetrar neste horizonte Aonde quer que a vida ainda apronte Gaiolas; já não quero e assim me afasto, O tempo de viver por mais que ledo Não pode ser deveras em degredo Nem mesmo noutra face exposto e gasto. 61 Perdendo os nortes sigo vida afora Tentando pelo menos redimir E ver se existe chance de porvir Aonde a solidão toma e apavora E nada do que resta traz agora A sombra de um momento a presumir A benção de tentar e conseguir O cais onde o meu mundo em paz ancora. Evanescente tarde em dor e tédio Atroz vazio adentra em duro assédio E o vago caminheiro ora sem rumo Apenas bebe o resto do que um dia Pudera redimir e me traria O lastro aonde em paz quem sabe, aprumo... 62 Ousando acreditar numa promessa Aonde nada havia nem ao menos Momentos mais suaves ou amenos E a vida noutro fardo recomeça O tanto que pudera e se confessa Diverso dos meus dias mansos, plenos E bebo desvairado; os teus venenos E a vida sem destino segue em pressa Apreços pelos sonhos? Já nenhum, A dor se torna então item comum De quem buscara apenas calma e paz, Mas quando se percebe noutra face O quanto ainda mesmo interessasse Somente o desatino afinal traz. 63 Aprendo com a vida, bela mestra E sei das minhas álgicas loucuras E quando novos tempos amarguras A sorte se fazendo mais canhestra, O velho coração já não se adestra E morre sem saber sequer das curas, Ainda que; buscando vãs ternuras O rumo noutra face defenestra. Assim ao perguntar à própria vida Se ainda existe além uma saída Respostas em terríveis negações, Um sonhador apenas, andarilho Durante a vida inteira o vão palmilho E nele as mais fatais exposições. 64 Jazigo da alegria a voz em fúria De quem se fez amante e agora parte Meu sentimento alheio e destarte Ausente do que possa ser incúria E sabe muito bem da vã penúria E nela a solidão não mais reparte Andando sem destino, ao sonegar-te Trarias tão somente outra lamúria. O risco de sonhar é necessário Ainda mesmo um peito vão corsário Vagando pelos mares sem o leme, Não tendo nesta vida quem o algeme Percorre insanamente e sem um cais Vencendo estas tormentas usais. 65 Amor; já não conheço a sua face Em céus e sais e sóis, apenas isto E quando ao longe cismo ou mesmo avisto O passo noutro rumo se afastasse, E tanto poderia sem impasse Vencer um ledo anseio; tão benquisto, Mas logo noutro ponto já desisto E o corte novamente aprofundasse. Espaço os dias busco no horizonte Quem possa demonstrar e ainda aponte A lua que jamais de novo vira E quando se percebe a claridade, Apenas o neon à noite invade E o sonho não passando de mentira. 66 Meu canto em dissonância com a vida Não deixa mais sonhar, apenas tento Vencer com alegria este tormento Na face desdenhada e mal urdida De quem já não conhece a concebida Vontade muito além de mero intento Tomando com furor inteiro o vento Rasgando sem pensar esta avenida; Nos tantos bulevares vida afora A sorte se percebe e dando o fora Não deixa para trás sequer resquícios E o quanto imaginara em solução Deveras mostra sempre o mesmo não Traçando tão somente os precipícios. 67 Ao longe ainda escuto a voz de quem Um dia fora minha e agora é morta, A solidão deveras toma a porta E nada nem a sombra; ainda vem, O quanto necessito deste alguém, Mas logo uma esperança já se aborta O sonho noutra face agora exorta, Porém deste momento vou aquém. Olhando para os lados, nada vejo, Somente a mera sombra de um desejo E nela não sacio os dias quando O mundo se transborda em tentação E apenas os vazios se verão Enquanto este horizonte está nublando. 68 Apresentando agora estas escusas Por erros costumeiros de quem ama, Tentando persistir na imensa flama Embora estas palavras; são confusas E quando os rumos vários; entrecruzas Traçando com ternura a mesma trama, Depois em pouco tempo, gera o drama E as noites tão vazias ou obtusas. Vencer os teus segredos, primavera Neste outonal caminho regenera Uma alma envelhecida antes do tempo, Cansado de lutar, eu me abandono, Mas quando deste sonho sou o dono Suporto qualquer queda ou contratempo. 69 Erguendo um brinde à vida por poder Ter dado em meus caminhos derradeiros O renovar festivo dos canteiros E neste emaranhado ver prazer. O quanto me sentia apodrecer Em dias tão terríveis, costumeiros Das ânsias os meus sonhos, mensageiros O tempo sem destino a se perder, Mas quando tu vieste e num instante O mundo se tornando radiante Renasce o quanto fui e já soubera Vazio desde quando agrisalhado O tempo noutra face desenhado Matara dentro em mim a primavera. 70 Esqueço os meus grisalhos quando a vejo E sei que posso até saber da luz Aonde na verdade eu já me pus Distante de qualquer crença ou desejo. O sonho mesmo sendo algum lampejo Efeito positivo ora produz E o quanto se perdera não faz jus Ao todo que imagino e sempre almejo; Renovam-se esperanças e, sei bem O que isto representa para mim, Na temporã florada de um jardim Dourada maravilha em paz contém, Eu sei que eternidade eu persigo, Mas quero intensamente estar contigo. 71 Existem várias faces da grandeza E delas se transformam discordâncias Enquanto por um lado em elegâncias Por outro demonstrando uma fraqueza Na face mais tranquila, a sutileza Permite novas fase ou instâncias, Mas quando em tais terríveis militâncias Em superioridade ou mais, riqueza. Assisto à queda destes gigantescos E olhando estes cadáveres dantescos Igual ao mero pária algum degrade, Mas quando esgarce em fogo crematório, Existe sim um ponto divisório: Não terá mais qualquer utilidade. 72 Ao crer que este ato espúrio traduzisse Além do contumaz rico porvir A imagem desdenhosa de um subir Embora base feita em canalhice, Assim ao se mostrar o quanto eu visse Num ato sempre pútrido e seguir Buscando a qualquer preço este emergir Traçando com terror farta tolice, Bisonho e caricato obeso ser Que em vida já começa a apodrecer Deixando qual legado um corpo inerme Da vida em lautos raros deslumbrantes Agora tão somente em vãos instantes Banquete para espúrio e torpe verme. 73 Traçando a prepotência em fartos músculos Percebo quanto é fútil, ser humano Enquanto se vendendo num engano Interna; o que ora estende em tons maiúsculos Ao fim no anoitecer, meros crepúsculos O mesmo caminhar ledo e profano Causando inexorável torpe dano Ao denegrir de células, corpúsculos. Assim de tais gigantes, miosina Ao mesmo fim destina: este degrade Regendo toda a vasta humanidade, Enquanto o que propaga a mielina Não tendo tempo nem sequer idade Propaga-se ao futuro: eternidade! 74 A vida se esparrama pelos cantos E nela percebendo a imensidão Traduz os dias tantos que virão Ou mesmo os mais doridos desencantos, Heréticos caminhos dizem prantos Enquanto novos sonhos de um verão Encontram; na beleza a tradução E assim superam erros e quebrantos, Vestindo esta fantástica certeza Quem tanto se espalhando em correnteza Atinge o coração e o pensamento Enquanto quem se mostra mais venal, Ao fim no esgoto histórico e banal Terá o seu melhor acolhimento. 75 Os dias muitas vezes sendo grandes Não deixam nem talvez algum descanso E quando noutra face ao nada lanço E neste desenhar também desandes Fastios entre tantos e demandes Bem mais do que deveras eu alcanço, E tento transformar nalgum remanso A imensidade insana: nossos Andes. E sinto qual condor em liberdade Voando pelas ânsias da cidade Tentando discernir imagens várias Moldando cada verso desta forma No ser que tantas vezes se transforma, A força geratriz das procelárias! 76 Quem dera se me desses francas luzes E delas produzindo uma lanterna Minha alma neste ponto a vida interna E bebe dos desenhos que produzes E mesmo quando emerges sobre as urzes E neste caminhar a sorte externa A dor onde pudera ser mais terna Ali também decerto me conduzes. Nos ermos de minha alma pária e insana O quando da verdade me profana Presume no final a garatuja Exposta em alguns versos sem sentido, E condenado à incúria de um olvido, Esta alma se amortalha podre e suja. 77 Meu verso em seu formato até velhusco Tentando traduzir para o papel O quanto absorvendo em vago léu Durante certo tempo teimo e busco, E sei quando mais sou intenso e brusco Liberto o pensamento qual tropel E tendo a sutileza por troféu O meu eu neste intento sempre ofusco, E sei o quanto posso e meu limite, Além do que deveras se permite A liberdade em tons tão magistrais, Na incoerência vejo o resultado Do sentimento vário e eternizado, Porém com frágeis tons, meros cristais. 78 Ao nada se condenam os heróis E neles outros tantos indigentes Assim como deveras seres crentes São deles, dos ateus, os mesmos sóis E quando noutra face tu destróis E nisto em atos frios e inclementes Deveras outros rumos, pois atentes Desfazes; os alheios, bons faróis E assim nefastamente eu vejo em ti O quanto do mais podre, eu concebi No ousado predador astucioso, Destarte destroçando o que inda resta Figura tão terrível; indigesta Traduz; apocalíptico o teu gozo. 79 Em eras tão diversas, mesmo tom, A vida se eterniza no banal, Politeísta ser irracional O ser humano ainda quer ser bom, E quando destrutivo traz o dom De um tétrico fantoche mais venal, Resume o seu olhar em turvo e mau Mantendo frágeis lumes de neon; Espúrio verme exposto sobre a Terra A pútrida carniça em si encerra E gera novos tais com mesma fúria, Tramando a eternidade de alguma alma Se apenas o cadáver se acalma E cessa sobre os outros; farta incúria? 80 A cada passo vejo novos gládios E neles outros tantos invisíveis Assim ao se espalhar por tantos níveis Ultrapassado até velhos estádios No quanto somos todos imbecis Vermiculares formas tão venais E quando desejamos mais e mais Ultrapassado até a mais ultriz No fundo somos todos intragáveis E desta serventia da mortalha Apenas o que eu sinto ora se espalha Depois de tantos anos imprestáveis Minha alma tendo a face do eremita Agora nem em mim mais acredita. 81 Funéreos os desenhos derradeiros Desta rapina dita raça humana E nela a galhardia soberana Permite desta gralha os corriqueiros Delírios entre tantos, costumeiros E crê-se num eterno aonde dana A vida noutra forma e desengana Servindo qual adubo aos tais canteiros. Assim já se renova a vida quando O ser impiedoso se deformando, Gerando a informe face mais pastosa, E deste desenhar em carne e osso Apenas restará o imenso fosso E nele a criatura majestosa. 82 Descrevo cada passo com terror De quem se fez soberbo sobre a Terra E quando no final a senda encerra Gerando outro demônio ao decompor. Anunciando assim o despudor Da velha criatura que se enterra E ali em solilóquio não mais berra Num ato mais servil e redentor, Vagara sobre os outros animais E deles entre cenas mais venais Pensando num reinado como herdade No fundo se fazendo em lauta festa Até quem sabe mesmo uma indigesta Iguaria vulgar que se degrade. 83 Já não concebo mais o ser divino Que onisciente rege cada passo, E toma as decisões em ledo espaço E nele o meu caminho eu determino Um ser onipotente e cristalino Ou mesmo noutra face um velho traço E quando me imagino tão escasso Um pútrido fantoche pequenino, Não posso acreditar que tal deidade A força geratriz deste universo Preocupe-se com ser turvo e disperso E ainda presenteie co’eternidade A sórdida figura caricata Que a cada sortilégio o desacata. 84 Ainda quando vivo tento ver E discernir as sendas onde tantos Perdendo ou recriando turvos mantos Buscando tão somente algum prazer E neste desejar todo o poder Gerado pela angústia e por quebrantos Espalhando-se em vão em vários cantos Trazendo em cada instante o esvaecer; E vejo o caricato se tornando De todos; o pior, mero e nefando Tomando sob as rédeas o planeta E aonde quer que toque já destrua Deixando a imensa Terra quase nua Depois para onde mais, pois se arremeta? 85 Cadenciando o passo rumo ao farto Desenho dentre tantos nesta vida, A morte muitas vezes sendo ungida É nela com certeza que eu reparto E quando para o nada enfim já parto Traduzo num banquete a despedida E sinto a criação por mim ferida Num gozo aonde enfim; posso e comparto. Transcendo neste instante ao que é mortal, Pois sendo muito mais que um comensal É neste raro instante em tanto fausto A face mais real da eternidade No ser apodrecido agora invade O território nobre do holocausto. 86 O amor quando demais já não comporta O coração festivo em gozo e festa E assim ao penetrar por toda fresta Abrindo de uma vez do sonho a porta, A velha sensação atroz e morta Deveras noutra mor agora gesta E o meu caminho ao sonho ora se empresta E ao mais sublime passo em paz exorta. Vagando pelas ruas, sou até A cândida pureza aonde se é Etéreo e assim; portanto, divinal No amor somente nele e nada mais Eu vejo instantes nobres magistrais E creio num fantástico eternal. 87 Pudesse acreditar em quem um dia Traçando com sorrisos o caminho Aonde a cada queda em paz me aninho E nele este pendor dito alegria, Mas quando a sorte muda e a fantasia Tomando com terror o manso ninho Percebo quanto eu sou mero e sozinho E o sonho para sempre a vida adia. Vacante sensação de ser tão frágil Enquanto me pensara bem mais ágil Gerando a cada instante a salvação Desta alma agora em tons, tristes sombrios Vertendo sobre mim os desvarios De um mundo sempre torpe, tosco e vão. 88 Já não comporto mais aquela luz Aonde poderia acreditar Num dia mais bonito a se moldar Depois de tanto tempo em medo e cruz, Gerando novamente o que seduz Bebendo o privilégio de um luar Deitando cada raio a me tocar Enquanto pela vida me conduz, Mas quantas vezes; tive esta impressão E no final de tudo só virão As velhas rapineiras, solitárias Assim a minha vida se esvaindo E neste caminhar o encanto findo Permite a cada instante as procelárias. 89 Meu verso pode enfim trazer um mundo Ao peito sempre aberto e sem censuras E neles entre medos e amarguras Além destas torturas me aprofundo, E variando o sonho num segundo Encontro o quanto posso e não mais juras Traçando com terrores e ternuras O pensamento eterno vagabundo. Gestando dentro em mim um universo E nele tão somente agora eu verso Regendo os meus caminhos num instante Assim por ser poeta e acreditar No quanto posso até modificar O mundo noutro espaço doravante. 90 Aprendo com a dor eu sei e tento Vencer os meus demônios naturais E quando se percebem vêm bem mais Num turvo caminhar em desalento E tanto poderia estar atento Sorvendo estes momentos desiguais E neste ser mutante; outros venais Tomando sem censura o pensamento Um tresloucado apenas; reconheço Se já nem mais eu sei meu endereço Procuro qualquer porto aonde eu possa Traçar o ancoradouro imaginário E sei que enfim sonhar é necessário, E neste caminhar em glória e fossa. 91 A cada novo dia o imenso sol Dourando cada espaço da esperança E quando minha vida a sorte alcança Espalha a fantasia em arrebol, Vestindo esta beleza, um girassol Prepara a todo instante uma mudança E quanto mais adentro a temperança A vida se presume agora em prol. Desenhos tão diversos; verso em sonho E a todo nova messe eu me proponho Além de vagamente ser só teu, O mundo em cordas mansas num ponteio Traçando cada passo de onde veio Permite a maravilha em apogeu, 92 A sorte não permite novo rumo A quem se fez poeta e tenta além Do quanto na verdade a vida tem E nesta sensação adentro o sumo E bebo enquanto aos poucos se me esfumo O risco de sonhar sempre que vem Transcende à fantasia e sinto o bem Dourando com delírios manso aprumo. Vestindo esta alegria nada tento Senão meu caminhar e enfrento o vento Atento ao que pudesse e sei tão nosso, A vida traduzindo noutra vida Expressa a realidade percebida No verso em fantasia aonde endosso. 93 De tanto procurar alguma paz Depois de tantos dias, solidão, O olhar perdendo enfim sua expressão Traduz o quanto pude ser capaz, E a boca desejosa, mais audaz Transcende ao mesmo tempo a decisão Dourando os dias fartos que virão Jorrando a cada verso aonde faz A voz sem mais temores e impoluta, Enfrento a tempestade e esta alma luta Vestindo a fantasia mais atroz, Embora muitas vezes solitário O rumo noutro encanto é necessário Transborda num instante rumo e foz, 94 As noites solitárias, sem ternura Expressam fim de caso, ocaso em nós E a vida se presume em tom atroz Marcando com terror; leda procura, E quando o dia a dia me assegura Do quanto fui ou não mesmo feroz, Desfaço num instante nossos nós E assim a minha sorte se afigura Reinando sobre todo o medo e o tédio, De todos os tormentos o remédio Expressa em plenitude o raro amor, E nele desenhando em mansidão Bebendo as luzes tantas que virão Um novo paraíso recompor. 95 Já não mais quero apenas esta luz Falena na procura quase insana E quando noutra face já se dana Apenas o vazio reproduz, Mortalha desvendada e faço jus Ao quanto poderia e agora engana Uma alma dentre tantas soberana Ousando a conhecer inteira a cruz. Não deixo para trás o sentimento E dele a cada ausência eu me alimento No canto libertário, pois cristão, Vestindo esta promessa em paz e glória O amor traduz as sendas da vitória Não basta romaria ou procissão. 96 Amar sem ter medidas nem cobrança Alçando a cada instante um Deus perfeito E quando em plena paz enfim me deito Ao éter no infinito o sonho avança E gera novamente esta criança Ainda revivida no meu peito E nela outro desejo satisfeito Causando tão somente a temperança; Marcando cada verso com cadência E tendo em meu olhar farta inocência Expresso o que aprendi em cristandade Não mais suporto a farsa, e a hipocrisia Que a cada novo tempo poluía O quanto eu aprendi, clara verdade. 97 Não posso mais vencer tanta saudade De um tempo tão disperso e vivo em mim, Depois de presumir um mero fim A luz de uma esperança ainda invade Reinando sobre o sonho e a claridade Deixando para trás tempo ruim Abrindo dos meus dias camarim Aonde este espetáculo se brade O tempo gesta o tempo em nova face E ainda que deveras maltratasse O verso redimindo cada queda, A sorte noutro tom se traz inteira E desta fantasia quer não queira A vida noutra vida em paz se enreda. 98 Já não posso conter sequer a chama Que tanto incendiara o pensamento E quando no final ainda tento A voz em mansidão tenta e reclama, Ainda quando a vida teima e trama Traçando novo tom em raro alento Meu beijo na expressão de um sentimento Acende ou mesmo mata o velho drama. Reflexos de nós dois num só caminho E neste raro encanto agora aninho E bebo com ternura a imensidão, Sabendo dos meus dias mais felizes E mesmo assim se contradizes Jamais impedirás algum verão. 99 Expresso em verso o quando pude além Do quanto na verdade não contenho E o dia mais atroz duro e ferrenho Traduz o que decerto já não tem Assim eu te desejo e sempre bem Tornando mais suave o turvo cenho, Resumo de meu mundo em novo empenho Vagando pelas tramas deste alguém Reinando a cada verso em fantasia E o manto que deveras nos cobria Expressa muito mais que algum verso Tornando costumeiro o sonho quando O mundo que desejo transbordando Tomando já de assalto este universo. 100 Cenários luminosos, festas, risos Orquestram maravilhas entre nós E o mundo se traçando em mesma voz Pressente os mais sublimes paraísos, Vencer os meus temores e imprecisos Caminho procurando ausente foz Unindo esta emoção e logo após Saber destes caminhos mais concisos. E resolutamente estou contigo E nada além do sonho ora persigo Prossigo num delírio sem igual Viceja dentro em nós a primavera E o tempo noutro instante regenera Num ato tão superno e magistral... MARCOS LOURES FILHO
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