
SONETOS FEITOS EM 04/08/2010
Data 04/08/2010 06:46:36 | Tópico: Sonetos
| 001 Amor que tantas vezes me maltrata E traça a cada instante novo dia E nele sem temor mergulharia, Sabendo da fortuna mesmo ingrata, Às vezes noutra sorte se resgata Verdade que; no entanto esconderia Arcando com a dor, com a alegria Dicotomia que este ardor retrata, Escondendo o luar dentro de mim, Buscando noutro espaço este jardim Que tanto fora outrora prometido Amar e ser feliz? Tudo o que espero, Mas sei do meu destino duro e fero, Condenando afinal ao ledo olvido. 002 Ao ver se estremecer quem tanto eu quis Vestindo as falsas luzes da promessa E quando a mesma história se endereça Aquém do quanto pude ser feliz, Restauro em sonhos tudo o quanto diz Expresso a solidão e recomeça Em mim a mesma dita que; sem pressa, Gerara no passado, a cicatriz. E resolutamente sigo em vão Tramando outros momentos e trarão Apenas a fatal tranqüilidade, Invernos adentrando dentro da alma, Não levo do passado nenhum trauma, Mas sei quanto o futuro desagrade. 003 Apenas aparece e logo some Quem quando se fez deusa fora minha E agora noutro rumo se encaminha Sem nada que inda impeça ou mesmo tome, O nada se apresenta e com a fome De quem deseja além do que continha Resumo a vida aonde nada vinha Somente este não ser e me consome. Apresentando a voz mais tenebrosa O risco de viver enquanto glosa Realidade espúria faz a festa, No pantanal escondo o meu destino E a queda a cada instante eu determino Em detrimento ao sonho onde se gesta. 004 Com ânsia e num ardor incomparável A vida não se mostra mais suave, O risco de viver até se agrave No fato mais audaz, mesmo intocável, Resumo o verso em algo que intragável Liberte o coração, uma audaz ave E no silêncio escuso tanto trave O passo rumo ao quanto fora arável. Espalho o verso e ganho outro cometa, E neste merecer já se prometa Um porto mais seguro, pelo menos, Os dias quando passam sem se ver A vida neste eterno envelhecer Prediz momentos duros, mas amenos. 005 Falando deste amor que eu alimento Com toda uma vontade e no final Traçando nesta escada outro degrau Esboço nova queda e sofrimento, Resulto deste instante e num momento Pudesse acreditar e bem ou mal Regesse o meu caminho pelo astral, E nisto já não há discernimento. Presumo o quanto ainda resta e sinto A fúria incontrolável, mas desminto O medo costumeiro de quem sonha, Vestindo esta falácia, mesmo incréu Percorro sem sentidos o meu céu Ainda quando a noite é tão medonha. 006 Não é sem fundamento o que eu te falo A sorte não promete outro sentido Aonde o meu delírio resumido Faria do meu sonho outro vassalo, O canto inestimável ora calo E beijo com ternura o meu olvido, Restando deste pouco o presumido No tombo onde decerto eu me avassalo. Apresentando agora tais escusas Enquanto os meus caminhos; entrecruzas As cruzes desta estrada ditam sortes. E bebo cada gota aonde eu possa Ainda penetrar em fenda e fossa, Ao contabilizar as minhas mortes. 007 Aonde ao teu respeito ouvi falar Não pude discernir senão tal fato E nisto com certeza eu não resgato O mundo que cansei de procurar, Vencido pelas ânsias de um lugar Bebendo em sortilégio este regato Penetro o pensamento e se desato Não posso e nem devo me estranhar, Aprazo cada engano, mas no fim O quanto ainda resta vivo em mim Transcende ao próprio ser, perde a razão, Na presunçosa luz em falso brilho, Pedaços do infinito tento e trilho, Mas sei quando os meus dias dizem não. 008 Gabando-me no crer e não sentir O transitar em mim de alguma estrela, No quanto na verdade mal sabê-la Traduz este pedaço que há de vir, Buscando em tua boca este elixir, A morte não consigo mais bebê-la Sequer ainda posso concebê-la No todo ou nesta senda a resumir. Aprendo com os dias e disperso O rumo noutro tanto do universo Galante madrugada em festa e dança; Mas quando a realidade surge e vejo Audaciosamente o meu desejo, No errático desenho alma me lança. 009 Se quando eu quis assim, assim pudesse Gestando o quanto tento e nada vem, Bebendo cada gole deste bem, Procuro no final, uma benesse, Caminho sem juízo a gente esquece Ou tanto faz ou nunca mais convém E quantas vezes; busco outro também Perdendo o quanto a vida me oferece, Ninando cada sonho aonde um dia Apenas tão somente moldaria Ousando em novos tempos mais modernos Expresso em solidão e tento a luz, Porém à nova queda me conduz Os dias que julgara serem ternos. 010 Enquanto me levaste ao Paraíso Eu pude perceber o quanto cismo Galgando num momento céu e abismo Depois de ter somado prejuízo, O passo na verdade mais preciso É quando se prepara o cataclismo, E vendo este cenário em pessimismo O verso noutro tom; quero e matizo. Hermético talvez, mas mesmo assim Do todo que se espera até o fim, Não vejo escapatória nem queria, Apenas este risco de sonhar Deixando cada dor em seu lugar, Regendo o que inda resta em poesia. 011 Apertos e terríveis aflições Repetem-se deveras dia a dia E quanto mais um sonho se queria Maiores os temores e decepções, Assim quando em vazios tu me expões Traçando com total hipocrisia Há muito que meu sonho não traria Sequer outros desejos, soluções. Vergando sob o peso da vergasta O corte na verdade me desgasta E gasto o que inda resta em sonho, pois O mundo mergulhando noutro engodo E o quanto me sobrara leva ao lodo, E deste lodo nada vem depois. 012 Quero agradar, porém eu vejo o fim E nada que inda possa mesmo alçar Senão tal descaminho a desenhar Gerando outro momento atroz em mim, Respaldos, se os procuro, nada enfim Permite a quem deseja o bom sonhar E o medo tudo muda do lugar Luar já não conhece o meu jardim. Expresso noutro intento o quanto quis Vencer e trazer novo e bom matiz, Mas quando me percebo solitário, Jamais agradaria a quem mais quero, E tantas vezes luto e, se sincero, O mundo se trancando num armário. 013 O canto se é real traduz a dor, Mas logo me arrependo e me disfarço, Assim a cada passo onde me esgarço Permito um novo rumo. O sonhador. Aonde se pudesse sou esparso E viro até do avesso o que não for, Transcendo ao meu delírio e sem rancor, Fechando o coração, águas de março. Outono terminando vejo inverno, Depois do inverno apenas eu me interno Num ermo se inda existe algum após. Calando o sentimento busco então Apenas um momento, embarcação, Mas sei quanto apertados velhos nós. 014 O quanto disto apronto e nada vejo Sentindo e já desponta além o sol, Vestindo de beleza este arrebol, Mas logo não se vendo em raro ensejo Apenas dentro em mim inda trovejo Vagando na procura de um farol Enquanto me ensimesmo, caracol O peso do passado não desejo. Representando assim até que possa Vencer a madrugada outrora nossa E agora sem juízo e sempre ao léu, Olhando para estrela, nada sei Escurecendo a sorte noutra grei, Vislumbro alguma luz no imenso céu. 015 Ansioso caminhar por entre as trevas E neste meu delírio vez em quando O novo se aproxima desarmando Deixando para trás e nada levas, Aonde com firmeza gelas, nevas E o medo noutro medo se entornando O corte se aproxima e traz nefando Desenho quando outrora quis as cevas. Servis os meus anseios, são iguais, E neles velhos dias em fatais Angústias se repetem e me trazes No olhar; a ambiciosa e dura senda, E sem ter nada mesmo que se entenda A vida ultrapassando suas fases. 016 O que é posteridade para quem Procura alguma luz em seu passado? O vento novamente dá recado E expresse este não ser que me convém, Caminho procurando aonde o bem Esconde seu destino e deserdado Restauro cada passo sempre ao lado Daquela que desejo, mas não vem... O risco de sonhar causando infausto Amar não se traduz em holocausto? Esqueço qualquer trama aonde eu possa Vencer os meus afoitos descaminhos E risco deste mapa meus espinhos, E nem uma esperança enfim me adoça. 017 Não trate de agradar quem desagrade Do tanto quanto posso ou mesmo tento, Resgato o meu olhar em provimento Do amor que não conheço, na verdade, Restando tão somente esta saudade E nela o meu passado mais sangrento Enquanto outro caminho, o pensamento Resume nalgum verso e a dor invade. Preparo para a queda, mas sei quando O dia noutro fato se mostrando Rescaldos acumulo do que um dia Vivera e sendo escombro, noutro passo, O tempo novamente eu não refaço E morro com total desarmonia. 018 Ao ermo de um louvor ainda alheio Esquivo coração faz sua prece, E nada do que tanto tenta ou tece Presume outro caminho, em nada creio E vivo tão somente por receio Ao quanto do vazio já me esquece, A morte noutra face me apetece, Mas vejo além do cais outro recreio. Aprazo o dia e nele tento enfim Resgates de uma vida que por fim Jamais seria assim, mera e tranquila, Vacância dentro da alma, e o pó da estrada Trazendo para mim o mesmo nada E nele este soneto se desfila. 019 A gente mal se vê, mas mesmo assim Eu quero estar contigo o tempo inteiro E quando amor é tolo e verdadeiro O risco se aproxima e gera o fim. Quisera cada beijo carmesim E ter no teu olhar o derradeiro Anseio de um delírio costumeiro, Marcando com ternura o que há em mim. Resvalo no infinito quando eu penso No todo mais sublime e digo imenso Do amor que se tempera em esperança, Mas quando te revejo, me amordaço E sinto estar faltando algum pedaço, Trapaça aonde o passo já me lança. 020 Ainda com folgança e festa eu tento Vencer ou mesmo até desafiar Arisco e desdenhoso algum lugar Tocado pelas mãos do esquecimento, E neste caminhar o sentimento Jamais encontraria onde ancorar O porto não se deixa navegar Nem mesmo quando traz pressentimento. Alimentando em paz o coração Os dias com certeza não verão O amanhecer fantástico de um sonho, Se tudo traduzisse uma promessa, O corte noutro tanto se endereça Num novo caminhar, ora me exponho. 021 Fartando esta vontade de te ter Reinando sobre os ermos da paixão Os dias mais doridos moldarão Depois de certo tempo algum prazer, Poético momento eu posso ver E neles o meu sonho, este alazão Galgando num segundo esta amplidão Desenha o que deveras pode crer Sentir esta absoluta fantasia Reinando sobre o tanto que eu queria Apenas teu amor e nada além Mergulho no infinito e sem defesas Levado pelas tantas incertezas Que o sonho, por ser sonho sempre tem. 22 Entre ausência e presença de um desejo Não tenho sequer dúvidas e enfrento A dura tempestade e sorvo o vento Tramando tudo o quanto mais almejo, Eu sei que amor talvez seja um lampejo E disto tenho tal discernimento, Mas quando neste encanto eu já me assento Vagando sem destino tudo vejo. Alçar este momento indefinível Do amor quando se mostra indestrutível Razão para viver e neste encanto Não tenho mais perguntas, sigo assim Tentando no teu corpo ter enfim O que procuro e em ti eu quero tanto... 23 Pudesse te agradar, tudo eu faria Até quem sabe mesmo um novo mundo O coração deveras vagabundo Sorvendo em teu olhar a poesia, Singrando este oceano dia a dia, No tanto quanto quero e em ti me inundo, O verso se mostrando num segundo Gerando muito além da fantasia. Escalo as cordilheiras da emoção E sei que desde agora os dias são Melhores para quem tenta encontrar Depois da tempestade esta bonança Que olhar ao te buscar decerto alcança Qual fosse imenso e raro, bel luar. 24 Quem deseja com toda esta vontade Merece pelo menos uma chance Aonde o coração amor alcance Certeza de outro dia agora invade, E o tanto que meu peito busque e brade Rasgando este oceano e já se lance Nas tramas mais audazes de um romance Deixando para trás qualquer saudade Vencer os meus deslizes e sorver Da vida o seu enorme e grã prazer Sem medos e sequer sem nada além Da força incontrolável que virá E sinto esta presença desde já Falando deste amor enquanto vem. 25 Nos gostos desta turba mais atroz O encanto se perdendo sem mais nexo O amor quando não vê qualquer reflexo Desnuda e não se estende logo após, A morte apresentando em alta voz O risco de sonhar que é tão complexo, O canto me deixando mais perplexo Por ser ao mesmo tempo bom e atroz, Assim ao me entregar sem mais defesa Do todo sendo mera e mansa presa Embalde me assentara neste fato, Mas quando noutra face amor destróis Tornando sem sentido estes faróis Ainda mesmo assim, não me resgato. 26 Olhando do auditório vejo a peça Que a vida me prepara a cada instante, E quando um novo quadro se adiante O risco noutra queda vã tropeça, E assim ao menos tento e me interessa Viver esta emoção e doravante Vibrando com delírio mais constante Enquanto novo tempo em paz se peça; Ressalto a voz em sombras desditosas E quando no passado ainda gozas Desnudas os meus antros mais profanos E sinto novamente o vento em fúria, Depois desta borrasca a vil penúria Promove dentro em mim diversos danos. 27 O sonho este protótipo da vida Há de reinar enquanto houver um brilho E neste delirar por vezes trilho Buscando sem sentido uma saída, Amar e ter no olhar a despedida E o coração procura outro estribilho E quando me aproximo maltrapilho, Apenas ilusão já sendo urdida. Esqueço o meu delírio e me aprofundo Tentando vasculhar inteiro o mundo Bebendo desta fonte cristalina, Mas quando acordo e vejo a solitária Manhã entre terror e procelária Vazio dentro da alma a determina. 28 Quem dera eu desse rédeas ao sonhar Vagando sem destino e sem espera Sorvendo o que decerto em paz tempera A sorte de quem busca o seu lugar, Corcel das esperanças ao luar O medo não traduz a primavera, Olhando para trás, fortuna fera Assenta noutro canto a divagar; Restando dentro em pouco o Paraíso Nos braços de quem tento e mais preciso Expresso esta ilusão em verso e tento Depois de certo tempo nada resta, A lua penetrando a fina fresta O coração entregue esparso ao vento... 29 Afetos e paixões, momentos onde A sorte poderia ser diversa, Mas quando no vazio o tempo versa O manto na verdade em vão se esconde, Resumo o meu caminho e tento a fronde Aonde esta ilusão mesmo perversa Girando noutro tanto desconversa Esta alma sem ninguém que inda a responde. O amor tem paladar mais agradável E deve ser deveras palatável, Porém na solidão se faz amaro, E quantas vezes canto; ninguém ouve, O todo se mostrando onde não houve Nem mesmo a fantasia que eu declaro. 30 Aduba a extravagância um riso a mais, E gera num cultivo mais escasso O rumo aonde o mundo em vão eu traço Tramado entre dispersos rituais, Quisera desvendar os vendavais, Porém o meu delírio eu já desfaço E sigo a solidão a cada passo, E deste desenhar ledos finais. Aproximando a ti eu vejo a luz E nela o que deveras reproduz Cenário inebriante, pois diverso. E quanto mais te quero e te pressinto Amor quando o julgara quase extinto Revive e me assaltando a cada verso. 031 Muita ação deveria haver na prece Aonde se desenha amores fartos E quanto mais se pensem salas quartos Maiores os desejos. E alvorece. Mas quando esta saudade dita regras E dela sorvo em cálices venais Não quero nem os sonhos e nem o cais, Sabendo que o caminho; desintegras, Restando alguma voz e nada escuto, No quanto sou atroz, audaz e bruto A queda deste abismo diz do fim. Jamais eu sentiria, mesmo medo, Deveras sem defesas me concedo, E o tempo transformando tudo em mim. 32 Querem somente ver a face oculta De quem já se desnuda plenamente, E quando novo tempo ainda invente A sorte na verdade me sepulta, A voz diversa e tosca, mesmo inculta Exporta o quanto audaz se mostra a mente E nada do que quero se apresente A morte se fazendo em ágio e multa. Perceba o quanto resta de quem fora Além da força torpe e propulsora O manto mais puído da verdade, Não quero mais falar de sentimentos E deixo os meus caminhos mais atentos Enquanto a solidão, decerto invade. 33 Fluindo em persistência mais atroz O gozo do sofrer já não se cala, O manto se deforma e toda a sala Escuta o sofrimento em dura voz, O corte mais terrível diz do algoz Enquanto este perfume uma alma exala, E tanto quanto posso a vida escala O nada que inda vejo vivo em nós. Resplandecente sol; ora não vejo E tento preservar o sonho andejo, Mas andarilho um dia também cansa, E morta a fantasia o que me resta? Sequer esta presença mais funesta Daquela que se diz uma esperança. 34 A curiosa luz tanto abundante Não deixa enquanto ofusca ver além Do quanto o coração procura e vem Negando qualquer fato doravante, E sendo o meu passado mais constante O risco de sonhar, mero desdém, Resume esta promessa e quando tem Colheita noutra face se adiante. Recolho os molhos mortos de florais E sei que a primavera é nunca mais, Ausência presumida desde quando O tempo não perdoa e nem sossega, A solidão deveras dura e cega Aos poucos nos cabelos vai nevando. 35 O quanto fujo mesmo desta moda E tento esta velhusca hipocrisia, O nada noutro nada não faria Talvez na solidão meu mundo roda, E sei do quando imerso a morte açoda E trilha onde jamais se pensaria, Não devo persistir nesta utopia, A sorte tanto mata quanto engoda. Aprendo com retalhos e remendo, O vasto desejar e se inda estendo O olhar noutro caminho ou horizonte, Não tendo mais a lua em referência Minha alma se embebendo em inclemência Ao nada com certeza sempre aponte. 36 A corja em tanta orgástica loucura Bacantes entre tantas heresias, E nesta lucidez tu me querias No farto desenhar que inda perdura, O corte procurando quem traz cura E nesta fantasia não verias As mortes entre tantas agonias Somente vasculhando o quanto dura Acórdãos são desfeitos quando a gente Prevendo outro momento ainda tente Reparos onde nada mais me cabe. Esteio da esperança, deu cupim, Ainda preservando vivo em mim O sonho antes que tudo em vão desabe. 37 Cada qual tem um gosto bem diverso E sei dos meus anseios imbecis Enquanto meu passado já não quis Beber a sintonia de outro verso, E quando me aproximo, desconverso Traçado desenhado à pedra e giz, Aplaco o meu caminho, este infeliz, Num ato tão banal quanto perverso, Estendes tuas mãos a quem precisa? No fundo esta verdade nega a brisa Ainda mais a dura tempestade, Restando do que tanto desejava A sorte noutra fúria dita a lava Que queima enquanto marca, e já degrade. 38 O quanto se prefere quando tento Vencer os meus enganos dia a dia, O todo transformando não diria Sequer da direção de um velho vento, Sorvendo cada gota, sofrimento, Marcando a minha face em voz sombria O marco se transborda na ironia De quem se fez além do alheamento. Expresso a minha sorte desta forma, E quando a realidade já me informa Do sonho audacioso do passado, O beijo da mulher muda o sabor, Tentando novamente te propor O quanto fora outrora o meu legado. 39 Receita de agradar a quem me engana? Jogando a minha sorte da janela O quanto do vazio se revela Na voz abençoada, mas profana, Quem dera novo dia, outra semana E toda a solução expressa em vela No mar onde o caminho sem procela Pudesse traduzir e nada emana. O mérito de ser apenas isto, O canto aonde o medo inda conquisto E existo sem saber algo exitoso, Apenas por sentir em ti o sonho, Um verso novamente recomponho, Mas sei o quanto amor é caprichoso. 40 Armar de tantas peças a verdade Quebra cabeças vários encontrei, E sei do quanto diz a velha lei No todo quando pode esta saudade E nada do passado ainda agrade Quem tanto no presente procurei, Vergando ao mesmo peso, eu me entranhei Nas sendas desta vã felicidade. Resumo em solidária companhia Aquilo a quem amor já se diria Não fosse este detalhe mais atroz, O quanto sou sozinho e tu não és Ditando para mim duro revés Calando o coração em torpe voz. 041 Caminho que se logra em desamor Pudesse ser diverso deste quando A rota noutra face se mostrando Destoa do meu sonho em seu sabor, O tanto quanto busco num sol-pôr O risco de vagar em céu nefando E quando vejo a chuva se entornando Aonde se quisesse multicor Revisto os meus anseios de outra forma A vida quando tolhe e nos deforma Expressa a verdadeira magnitude Do sonho sem a sorte nem o brilho E tento desviar, volto e palmilho Cenário tão cruel enquanto ilude. 42 Há comédias diversas nesta vida Envolta em tanto drama, dia a dia, Marcando cada passo em ironia A história no vazio é resumida. O tanto quanto posso e se duvida O canto noutra voz se escutaria? Resumo da mortalha onde agonia A parte que me cabe, destruída. Esbarro nos incautos caminhares E quando presumires ou notares Verás os olhos baços, sem destino, Assim ao me entranhar a cada instante No fardo que carrego doravante, Escasso desenhar, mas me fascino. 43 Armado enquanto o demo faz a festa Beirando ao suicídio cada vez Que a luta onde o passado se refez Não deixa qualquer luz onde se empresta. O manto destroçado, o que ora resta A quem se tenta mesmo em lucidez Vagar pelos caminhos do talvez E ver a nova vida em velha fresta. Acreditar na sorte desenhada Sombria e sem destino a tola estrada Destarte não me trouxe nem alento, O marco mais atroz já desdenhado O corte noutro instante aprofundado E entregue o coração no intenso vento. 44 Compactuando a tola iniqüidade Vasculho dentro da alma algum sinal E sei do desvario bem ou mal Enquanto vejo viva a tempestade, Marcando o meu caminho em tal saudade Cerzida dentro em mim num ritual Aonde se mostrar tal e qual O todo que decerto em vão degrade. Ressuscitando o morto desamor, Apresentando como algo novel, Expresso a solidão e solto ao léu O canto mais propício num sol-pôr Expondo desta forma a minha tez, O tanto que desejo se desfez. 45 Um velho ramalhete sobre o chão Mostrando desta vida o seu por que E sem ter qualquer chance, este buquê Transporta os velhos dias que virão, E quando prometera a floração Somente algum espinho, o sonho vê Sem nada que pudesse ainda crê Na morte como tal libertação. Espreito atocaiado e dou meu bote No tanto quanto possa e não me note Exporto o meu delírio noutro verso, Rescaldos ditam velha e tola escória O amor quando se perde da memória Aonde se encontrar neste universo? 46 Se a crítica quisesse aqui voltar E ler outro soneto até quem sabe O manto noutro tanto já não cabe Nem mesmo procurando algum lugar, Representando o sonho a navegar Bem antes que meu mundo ora desabe Sem ter sequer do quanto inda me gabe Mergulho neste imenso e fundo mar. Ou quase, na verdade apenas cismo E bebo deste velho reumatismo Enquanto procura outro verão. Resumos de uma espúria noite em vão Traçada pelos goles da aguardente E noutro sonho a vida se incremente. 047 As flores uma a uma eu despetalo E tento noutro teto outra promessa A sorte com certeza não confessa O amor que na verdade diz de estalo, O sonho me transforma em seu vassalo Enquanto a voz ao nada se endereça E tanto pude crer no quanto expressa O risco de verter onde me calo. Respaldos procurando em ramalhetes E neles outros tantos que cometes Prometes e jamais irás cumprir, Depois de certo tempo eu me acostumo E bebo da esperança o supra-sumo E tento noutro canto o meu porvir. 048 Ignóbil o mister de ser poeta, Não deixa qualquer coisa mesmo em paz, Ousando da palavra o que se faz No todo ou num pedaço se repleta, O manto esta figura mais discreta Concretizando a voz dura e tenaz De quem vendeu sua alma à Satanás Depois noutro missal já se deleta. Espero qualquer curva e a queda após, Ninguém mais me veria, ledo algoz Do sonho mais perfeito em primavera, Que faço se deveras apodreço? Do amor já nem mais sei seu endereço, Alimentando apenas a quimera... 049 Artistas entre tantos artesãos E os olhos no horizonte, mas o dia Jamais tanto com força voltaria Cevando os velhos torpes, medos vãos, E nestes desenhares os cristãos Entoam a partir da sacristia A face mais arguta em fantasia Plantando sobre o solo falsos grãos, Num desvairado canto sem sentido, Já não seria mais sequer ouvido Não falasse de amor e de amizade. Eu deixo para trás o quanto quis E seja tão somente por um triz, Mas não suportaria qualquer grade. 50 O quanto faço o verso em aldrabice Tentando até decerto me enganar Pudesse ter apenas num olhar O que sei na verdade se desdisse Não quero e não suporto esta mesmice A vida num eterno permutar Tramando cada vez outro lugar E quando se percebe, uma tolice. Reparto cada porto de chegada E vejo novamente a velha escada Degrau após degrau até que ao fim Inverta este papel e num mergulho Encontre meu lugar em torpe entulho Voltando de onde um dia, outrora, vim. 51 Comprar gato por lebre a cada dia E crer num grande amor onde não há Sequer a menor sombra e desde já Felicidade ao longe não se via. Restando muito pouco, eu poderia Tentar acreditar, mas sei que lá Aonde este horizonte não dará Esconde a realidade amarga e fria. Participar da peça, ser bufão, Um tosco e divertido e desde então Ao chafurdar nas lamas do passado Reparo cada cena como outrora O texto novamente se decora, Porém este cenário é desolado... 52 Sarcasmo: velho artífice de um sonho E sei já decorada a mesma história O amor se traduzindo por vanglória Pressente este final, mero e bisonho, E quando neste palco enfim me enfronho, O texto eu já conheço de memória O tanto que pudesse ser vitória No fim desta comédia eu me reponho. Representando assim a vida em cena O quanto da verdade não serena Nem mesmo nas coxias da esperança. O medo não traduz a velha frase E quando este espetáculo se atrase Platéia noutra cena já se lança. 53 Procuro quem esmere o sonho quando Espalho a minha voz aos quatro ventos, Mas quando me percebo em desalentos O tempo na verdade está mudando Cenário noutro palco iluminando O risco de sonhar em sofrimentos Um histrião repara seus lamentos Ousando noutro fato até nefando. E desvairadamente perco o rumo, O tanto que pudesse e agora esfumo Resume o meu delírio, ser poeta. O vandalismo esboça a farsa à toa, A voz deste palhaço ainda ecoa E a vida noutra vida? Não completa... 54 As achas da esperança eu já não vejo E se achas muito bom o ser assim Perceba os meus retalhos e do fim O corte se aproxima e me apedrejo. O verso noutra forma, novo ensejo, Maltrata enquanto acende este estopim, Vasculho cada canto e de onde vim Apenas um momento em tal lampejo. Segredos? Não mais quero nem detenho, O marco se mostrando mais ferrenho Traduz num velho espelho a face horrenda, Esgarço a cada dia mais um pouco Até que no final se me treslouco O olhar sobre a platéia já se estenda 55 Apuros que enfrentei sem ter por que Não servem de argumento, pois a vida É desta mesma forma presumida E nela a multiface já se vê O risco de sonhar; busco e cadê? Sem ter sequer a chance de saída Mergulho noutra forma e resumida A sorte não valia o que se crê Pecado acreditar num sonho apenas E ver onde decerto me envenenas Num bote anunciado, serpe espúria. Depois não adianta reclamar, Fortuna nunca muda de lugar Restando ao sonhador, medo e penúria. 56 Aborrido com toda a imprecisão Da vida quando dita novamente O quanto se declara e sempre mente Marcando em carne viva; outro verão Os dias lamentáveis mostrarão O corte quando o faz profundamente, E bebo da sofrível aguardente Tentando novamente a provisão. A carcomida idéia de futuro Aonde nada quero ou asseguro Somente uma promessa vez em quando, Mas tudo não passando de fantoche Do quanto a própria história já deboche O risco a cada dia se aumentando. 57 Do lauto e mais fantástico festim Entregue às tão famintas, vis bactérias Assim ao destroçar velhas matérias Trazendo o meu início de onde vim, O crânio se esfacela em rum e gim, Apenas vou tirar eternas férias E nelas outras tantas menos sérias Servindo para ausência e etéreo fim. Não vejo mais sinal de vida alguma E quando a minha sorte se acostuma O olhar tão negligente diz bem pouco, E cada vez que posso traduzindo O todo noutro pouco mesmo findo Fingindo pela vida ser um mouco. 58 Fazendo do meu sonho esta Babel E nela me confundo totalmente, Enquanto nova voz a vida tente Permutas me levando ao ledo céu, Repare como a vida em tom cruel Esboça alguma luz mesmo clemente E quando o meu final já se pressente O pendular delírio dita o fel. Alheio ao que virá insisto ainda E bebo cada gota onde se finda A minha merencória e tola luta O quanto caminha não se anuncia A sorte com terrível ironia, Fingindo-se de mouca, nada escuta. 59 Venha aqui, veja logo o que se passa E saiba muito bem o quanto existe Num velho coração amargo e triste Exposto sem saber, leda fumaça, A poesia vira uma cachaça Dizia outro poeta e quando assiste Traduz novo cenário, e o velho em riste Resiste quando a vida diz trapaça; Pudesse acreditar na sorte em festa E ver o quanto a vida dita e atesta Num ácido momento quando em vez. Pressentimento diz da alma cigana, Mas quando a realidade tudo dana, O quanto pude crer, já se desfez. 60 Matando o tempo assim, açodo a vida E beijo cada boca mais atroz. Negando ao caminhante qualquer foz A carne na verdade carcomida O peso do sonhar, ninguém duvida Derrama desatando velhos nós E sei do quanto pude ser o algoz Enquanto uma esperança eu vi perdida Relatos anotados num bilhete, São erros que ao passado já comete Quem tenta no futuro outra vertente, Mas quando se aproxima e vê de perto O sonho se inda resta, eu já deserto Enquanto o fim da festa se pressente. 61 Curiosos, quando muito, são meus dias Envoltos na penumbra da esperança E quando se presume uma mudança Medonhas tempestades me anuncias, E vejo desta forma as fantasias E nelas nada além dita a fiança À morte o desengano já me lança E nela desvendando as poesias; Amortecendo a queda pelo menos, Os dias pós mortalha são serenos E os medos não resistem ao funéreo Jazigo perambula em noites vãs Fazendo das esperas as manhãs E nelas o passeio segue etéreo... 62 Atrizes entre tantas que eu conheço Traduzem os meus dias num só ato, E quando esta verdade enfim constato O amor já não repara este endereço, E vejo o contra-senso e me enlouqueço Enquanto a fantasia não resgato, Apenas tão somente eu me debato Tentando caminhar sem o adereço. Espezinhando a vida aonde pude Matar o que sobrara em juventude, Marcando a ferro e fogo o desencanto, Espúrio cantador além da sorte Não tendo qualquer luz que inda comporte O medo noutro rumo eu agiganto. 63 Trabalho pelo amor à poesia E nada mais conforta quando alguém Ainda mesmo ultraje, mas já vem Tramando com sarcasmo ou ironia. O tempo de viver já não se adia, E o canto no final dita o desdém, Vencido caminheiro sabe bem Do quanto a cada sol capotaria. Espalho o meu cantar e quem quiser Ouvir a minha voz, seja qualquer Canteiro aonde reste alguma flor, Apenas jardineiro da palavra, No quanto o coração mais nada lavra Não tenho mais sequer onde me pôr. 64 Não quero mais quiméricas loucuras, No cinzelar dorido; a voz se escuta E na delícia feita da cicuta Destino mais suave me asseguras, Acordos desolados, vãs e escuras As noites onde tento uma permuta, Eu sei quanto a saudade é mais astuta E dela bebo em goles e farturas. Antigas partituras, melodias E quando na verdade me dizias Dos sons onde irradia o coração, As cordas de um singelo violão Fazendo da esperança o seu ponteio, Dizendo com razão que sigo alheio. 65 Encharcas com teus nãos os meus anseios, E tanto pude crer no quanto fora A sorte muitas vezes tentadora, Porém são meramente devaneios, E sigo afinal por velhos veios Palavra com certeza é sonhadora, A morte minha grã progenitora Amamentando em belos, fartos seios. O tanto quanto posso e inda me iludo No olhar sem horizonte, mais sisudo Dizendo deste tempo atroz, severo, Mas quando qualquer luz já se anuncia Um tresloucado insano busca o dia, E como fosse bênção eu o espero. 66 Motivos para tal; louco ufanar Em glórias na real, falsificadas Gerando novamente vãs escadas Até que possa enfim já mergulhar, Não tendo mais certeza nem lugar As honras compartilho e sonegadas Palavras traduzindo e me degradas Matando qualquer brilho de um luar. Esgoto meu delírio em tua foz, E sei do quanto dói pensar em nós Depois de tantos anos, desafeto. E singro este oceano em ilusões E logo a realidade tu me expões, Mas mesmo assim o sonho eu não deleto. 67 Pudesse algum Mecenas, ou até Um bêbado, quem sabe um velho pária Mudando desta sorte a luminária Rompesse com a fúria esta galé Da sorte nada vejo nem sopé E tento novamente a procelária Ousando em poesia, quando é vária A forma de expressar carinho e fé. Não vejo, sendo um velho decadente O quanto do passado ainda alente O fim em tragicômica loucura Apuros? Reconheço, são demais, Aonde se pudesse e nunca mais O risco de sonhar nada assegura. 68 Metade deste palco nada diz Enquanto outra metade diz tampouco, O risco de sonhar é ficar louco E mesmo assim seria mais feliz, Reparo no passado e o chamariz Estanca a minha voz, e quase rouco Bebera na verdade muito pouco Do quanto poderia pedir bis. Assino a minha tétrica alforria E gero com terror o que teria Apenas um alento e nada além, Esgares caricatos num espelho, Em frente ao tal cenário eu me ajoelho, E espero o que decerto nunca vem. 69 Já se anuncia o fim da velha peça E nada mais eu quero nem aplauso O tempo sem juízo nunca pauso Nem mesmo qualquer queda ora se impeça; Recuso imitações, e sigo assim Sem eira nem ter beira, mesmo quando O peso noutra cena me envergando Traduz este espetáculo chinfrim. Ao rebuscar palavras dentro em nós Melhor seria mesmo não dizer, O gozo se anuncia em desprazer E o paraíso vem louco e veloz Os velhos camaradas do passado, O riso na verdade ora invernado. 70 A vida se embaralha e nega a carta Dos ases e coringas, nem sinal, O rito se mostrara sempre igual Enquanto a fantasia me descarta, No todo que deveras se reparta Eu bebo do começo até final Arisco caminheiro original O corte na verdade se comparta. Na presumível luz, não tendo sorte Sem ter sequer um cais aonde aporte Saveiro da esperança naufragara, E quando me percebo Crusoé O risco de sonhar diz bem quem é Patético senhor desta seara. 71 Ao pregustar a vida noutro instante Desejos misturando dor e gozo, Caminho tantas vezes tortuoso Aonde este vazio se garante, Pudesse ser talvez bem mais galante Gerando outro delírio generoso, Mas quando se mostrasse caprichoso Cenário nada diz, nada adiante. Se quando fui mesquinho também foste, O tanto que perdera não arroste Nem mesmo se transforme num troféu Resisto o quanto posso, mas sei bem Que após a tempestade nova vem Eternizando a bruma no meu céu. 72 A noite que irei ter já me traduz O nada aonde imirjo o sentimento E quanto se apresenta e ainda tento Buscar qualquer caminho e sem luz O risco na verdade reproduz O tanto que bebera em desalento Arisco companheiro deste invento Revelo ao coração audácia e pus. Esgaratujo a face desdenhosa De quem se diz feliz e nada goza Somente bebe até fartar e dorme, Aprendo quanto custa o sonho quando O tempo noutro encanto desando Demonstra um caricato e vil disforme. 73 No seio farto e nu de quem se ama A fonte inesgotável de ilusões E quando esta beleza tu me expões Renova ao mesmo instante a antiga chama, Assim eu me percebo e volto à trama Aonde já pensara em previsões E nada do que tanto recompões Transcende à velha poda desta rama. Eletrizante mundo e nele enfrento Tentando ser deveras quase o centro. Porém neste beiral eu me avizinho A queda não se evita, é costumeira E quanto mais um sonho já se queira Maior o tombo e o mundo é vão, mesquinho. 74 A pífia realidade diz do vago Delírio e nele tento nova fonte E quando com certeza nada aponte Enfrento o vendaval e já me alago, Arisco desenhar de um sonho mago E nele o terminal fica defronte Resulto no final da velha ponte E o peso que carrego diz afago. Alheio ao quanto vir; sou aliado Do todo enquanto perco meu passado Vislumbro outra figura assemelhada De tanto procurar e nada ter, Vasculho qualquer luz e sem prazer A vida resumindo nesta estrada. 75 Valha-me Deus se eu posso ainda ter A sorte que buscara e nunca vinha A luz quando encontrei se fez daninha O mundo semeando o desprazer, Agora se apresenta o amanhecer E gesta com ternura nova vinha, Marcando a messe em senda onde se aninha O gozo merecido do querer. Apresentando ali outra ilusão Deveras perco rumo e direção O cais se embaralhando à minha frente Ainda que pudesse ser assim, O tempo não traduz e dita o fim Aonde o meu delírio me apascente. 76 Se agradar ainda posso e mesmo tento O riso em discordância da platéia Não dando para mim menor idéia Expressa a realidade em sofrimento, E quando me examino mais atento Escombro do que um dia fora déia Esta alma não se vendo tão plebéia Entrega o coração ao torpe vento. Imaginários dias do futuro Apenas no vazio e; te asseguro, São como imagens torpes retorcidas, Escória tão somente o que inda sobra A morte penetrando em cada dobra Deixando para trás as despedidas. 77 Pudesse por o cérebro em sossego Depois de tanto infausto; vida afora Amor que dentre amores inda aflora Gerando na verdade um desapego, O riso se anuncia e sendo pego Num templo aonde o tempo tem sua hora Esta alma desditosa ainda implora, Porém o pensamento é qual pelego. Arrasto estas correntes pela casa A vida noutra face já se atrasa E a morte bate à porta novamente. Aonde quis sorriso, nada disto Apenas ao final, ainda assisto, E o quanto ainda resta o sonho mente. 78 Contando em cheio quem pudera Saber desta falácia costumeira Ainda quando a sorte assim não queira Apenas vejo além esta quimera, O vento noutro tempo nunca impera E morre sem saber desta bandeira, Mas quando esta mortalha é mais ligeira Sorrindo num sarcasmo a sorte, fera. Esparso caminhando sobre o nada E esgarço cada fase desta estada Prenunciando o fim em ironia, E quanto mais veloz se contradisse O tempo com certeza sem mesmice A sorte noutro tom demonstraria. 79 Vendo o poeta alheio ao sentimento Não vejo qualquer luz nem poesia, Aonde o imaginário se irradia Expressa o que deveras sempre tento E quando não existe ainda invento E bebo desta mesma hipocrisia E nela em consonância refaria O passo rumo ao velho pensamento. Açodo o paraíso quando busco Um tempo mais tranqüilo; jamais brusco, Restauro com cinzel mais delicado O verso que procuro e assim acalma Tomando ora de assalto o corpo e esta alma Desenho muita vez mal acabado. 80 Um êxtase supremo, embasbacado Barragens do passado eu não suporto E quando o meu caminho ali aborto Expresso da emoção qualquer recado, Findando a poesia sigo ao lado E quanto mais audaz, mais me recorto E tento novamente e assim reporto Ao todo que imagino desolado. Representado em mim ato final, O tísico demônio sempre igual Traduz o quanto encontro em tal Mefisto, E sei que tão somente sou estorvo No aplauso remissivo deste corvo, Porém ainda atento o nada avisto. 81 Enquanto por quem és tu me deixaste Numa cruel e vã condenação Meus olhos, outros dias não verão Tamanho fora estrago, vil desgaste E o quanto em minha vida transformaste Deixando para trás esta estação Aprendo a cada tempo um novo não, E assim a queda faz sem ter nem haste Vasculho e na verdade nada encontro, Do amor que imaginei, o desencontro Presume a solidão e então me calo, Depois de mais um tempo tentaria Ao menos conhecer a fantasia Já que do sentimento eu sou vassalo. 82 Para ajudar quem tanto bem quisera Expresso novamente em verso e canto E nada encontrarei, temo e garanto, A solidão vagando à minha espera, O tempo na verdade degenera Meu passo se transforma e sem encanto O todo imaginado, outrora tanto Agora revelando a fria fera Esboço de um momento em alegria Enquanto com certeza nada havia Somente a fantasia, tola esperança Nesta totalidade mais cruel A vida desconhece luz e céu E ao mais escuro em mim enfim avança. 83 Ao desancar o mundo em riso e gozo O temporal deveras agressivo Permite a solidão e já me privo De um dia mais tranqüilo e prazeroso E quando noutro tempo pedregoso Meu sonho se perdendo no nada eu crivo A voz neste temor tão doloroso. Erguendo o meu olhar sem horizonte Aonde esta incerteza ainda aponte É lá que eu deveria ter a messe, No tanto que me perco dia a dia, E morta dentro em mim a fantasia Apenas vendaval meu mundo tece. 84 Queria que esta voz não se calasse E o vivo sentimento já tanto rude Porquanto a própria vida desilude E muda num momento tez e face, Ainda que decerto o nada eu grasse Matando em nascedouro a juventude, Não posso permitir outra atitude Senão a solidão, meu ermo impasse. Restauro cada engodo quando tento Vencer os dissabores; sofrimento E arisco sonho escapa pelas mãos, Os dias mais felizes? Mera sombra Do nada que deveras tanto assombra Deixando em aridez os dias vãos. 85 Nos foros naturais eu tento a sorte De quem já poderia acreditar Fortuna se entregando sem lutar, Porém o meu caminho não suporte. E vejo aonde houvera atrás um norte Apenas o vazio a se formar, E quando perambulo devagar O rio se secando sem aporte. A liberdade alheia ao verso e o canto, Provoca tão somente e assim a espanto Cativo da ilusão e da esperança. Risível camarada do sombrio, Enquanto o meu delírio aqui desfio, A vida no vazio ora me lança. 86 Servindo os meus afetos de bandeja O tanto que pudera ter nas mãos Refém dos dias turvos, artesãos Da dor em tempestade onde troveja. O todo se perdendo e me apedreja Matando em nascedouro novos grãos, Reparo no passado e sei dos chãos; Tendo alma sem juízo e mais andeja. Atravessar ao fim esta avenida A quem se denomina messe ou vida Não vale mesmo a pena, mas eu tento, Resisto o quanto posso e a queda vem, Depois de certo tempo sem alguém Morrendo sem sequer algum fomento. 87 Com que prazer subjugo esta vontade? Insaciavelmente busco a paz, E o quanto do passado isto me traz Mostrando além da queda nova grade, Espalho pelos cantos tempestade E bebo o sortimento mais mordaz, Mas quando em descaminho a vida faz O tanto que busquei tranqüilidade. Sou néscio e necessito pelo menos De dias mais suaves ou amenos Venenos espalhados pelos ares. E quando novamente vejo a fresta Somente percebendo outra tempesta Aonde sem proveito desfilares 88 Buscasse uma harmonia onde eu creio Apenas no tumulto dentro em mim, A farsa se aproxima do seu fim E o canto se mostrando sem rodeio, Vagando sem juízo em devaneio Bebendo insaciado deste gim, O corte se apresenta e sei que enfim Mortalha se mostrando e sem receio. Marcando em dissonância cada passo O tanto quanto eu posso tento e faço, Mas nada se traduz no quanto espero, E arisco sentimento, amor não vem E quando deste encanto sigo aquém O mundo se apresenta mais severo. 89 Absorvo deste mundo as dores onde Meu canto não consegue a libertária Vontade que se fez em luminária E nada se inda busco me responde, Medonha face exposta corresponde Ao quanto consegui em tez tão vária E nisto não serei uma alimária Há tanto que perdi desejo e bonde. Marcada em tatuagem minha pele Ao tanto quanto posso me compele Confere nova face e mesmo assim, O nada reassume o tom venal E o quanto imaginar outro degrau Apenas de um inferno este estopim. 90 Expandindo depois de tantos anos Os erros mais comuns que cometera Acendo este pavio e sei da cera E nela outros delírios, desenganos, Arrisco a caminhar por entre os danos E tanto quanto pude me esquecera Da vida aonde a sorte se escondera Deixando tão somente trapos, panos. Escusas não resolvem o problema Ainda tanto luto e a vida algema Quem fora no princípio; um sonhador. Depois de tantas pedras no caminho Percorro o quanto resta e vou sozinho Do espinho imaginando a bela flor. 91 A vida indiferente a cada engodo De quem se fez além de meramente E tanto quanto busca já pressente Futuro entremeando charco e lodo, O passo se mostrara quase todo E nisto outro delírio mais freqüente Pudera caminhar e; impunemente, Trazendo a mesma face sem denodo. Reassumindo os erros eu prossigo E sinto mais distante algum abrigo, Viceja dentro em mim apenas isso, O rumo se perdera e sem sentido O corte noutro instante resumido Num velho desenhar, vão, movediço. 92 Torcendo no tear o quanto pude Viver em alegria no passado Agora este cenário desolado Transforma qualquer passo ou atitude E quando a vida toma e desilude Não tendo outro caminho já traçado Mergulho no vazio e alvoroçado O canto noutro fardo se transmude. Assino esta alforria e o pensamento Exposto sem defesa ao forte vento Vagando em liberdade enfim se cansa, Amordaçada voz de quem cantara A vida semeando outra seara Deixando alguma messe na lembrança. 93 Aonde esta discorde sorte alcance A vida não teria um só momento De paz, porquanto ainda busco e tento Sabendo qualquer coisa num relance, E tanto quanto possa já se canse Quem vive farta dor, num sofrimento Aonde poderia alheamento E toda a sordidez ao fim me lance. A cena se repete em novo tempo, Assumo cada engano em contratempo E vago sem saber qualquer um porto, Quem tanto quis a luz, agora é cego E quando no vazio enfim navego, O meu caminho sempre semimorto. 94 Enquanto se embatendo sonho e vida A ausência dita as cores do cenário, E o passo sendo sempre temerário A dura realidade então se acida. E a morte noutro instante sendo urdida Explode como um mal, mas necessário E o risco de vencer um adversário Aonde se apresenta a despedida. Nefasta luz ditando o pessimismo, E quando no vazio ainda cismo Tentando vislumbrar a solução Meus pés agora inchados, doloridos Os dias entre as sortes esquecidos, Apenas os rancores se verão. 95 O quanto da fieira diz do sonho Aonde meu caminho se desfez Gerando tão somente a insensatez Enquanto ao novo tempo eu me proponho, E assim ao me mostrar bem mais tristonho A face desolada que ora vês Traduz o que restou da lucidez Deixando o dia a dia enfim medonho. Legado de outras eras, priscas eras; E delas novos dias degeneras E trafegando em vão nada acrescenta Senão a minha tez dorida e frágil Esconde esta vontade de ser mais ágil E poder enfrentar qualquer tormenta. 96 Vivificando a escara mais profunda A vida não permite uma ilusão E sei que novamente se farão As dores onde o nada ora se inunda, Uma alma seresteira e vagabunda Vagando noite inteira na amplidão Condena-se decerto à servidão Na prece aonde o morte se oriunda. Esbarro nos esgotos, na sarjeta E quanto mais querendo se cometa Errático fantasma que eu carrego, Espalho pelos cantos ventania E o resto do meu tempo não veria Sequer o amanhecer, ausente e cego. 97 Tantos seres diversos num só ser Assim dicotomias usuais Presumem erros vários e fatais Aonde quis somente algum prazer Não tendo mais sequer tempo a perder Adentro sem defesa os vendavais E bebo destes vinhos magistrais Moldando pelas ânsias do poder, Mas sei o quanto disto é muito falso, Apenas despistando o cadafalso Mergulho nesta imensa fossa aonde A queda prenuncia a morte certa, Vontade de viver quando deserta Nem mesmo uma esperança nos responde. 97 Unindo num convívio improvável Os erros e os acertos de quem ama, Eu tento manter viva e acesa a chama Num canto aonde o vira interminável Desejo se mostrando em insondável Delírio tantas vezes nos inflama, Depois ao renascer o velho drama, O tempo se mostrara inconsolável. Estendo os meus destinos onde pude E sei da morta algoz, a juventude, E desta ansiedade tão fugaz, O quanto pude crer e não sabia Da dor e da temível rebeldia Que a vida a cada instante teima e traz. 98 Transforme em tempestades; as paixões E deixe para trás qualquer pegada Aonde novamente vislumbrada A sorte não se esconde nem a expões, Resumo ao me envolver nestes verões A dita num delírio revelada, E o tanto que não fora desta alçada Tomando sem sentido as direções. Resulto deste insano caminhar E busco qualquer tempo outro lugar E nele me esquivando do que outrora Ainda percebera vivo em mim, Chegando num instante ao ledo fim Minha alma no vazio já se ancora. 99 Ao acender os sóis dentro de mim Não percebeste a dor e o prejuízo Aonde caminhar era preciso Apenas o delírio resta enfim, E sendo desta forma chego ao fim E bebo a sorte enquanto me matizo Grisalho companheiro sem juízo, O amor também espera e diz seu sim, Medonha falsa imagem, garatuja E nisto algum errático se suja Fazendo do andarilho outro poeta, A morte não consola quem porfia E luta sem sabe da hipocrisia Gerada pelo mal que a corresponde. 100 No caminho da amada solidão Os ermos que apresento vez em quando Descendem do vazio e moldando A morte de outra vaga sensação Não posso mais negar a divisão E neste delirar me desdenhando, O corte se aproxima e me mostrando Apenas a fatal indecisão. Luzeiros, luminárias; nada vejo Somente a mesma face do desejo Jogado sobre as pedras, desalento, E quando novo tempo ainda invento O tanto que pudesse ser sobejo, Não resta dentro em mim um só momento. MARCOS LOURES FILHO
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