
SONETOS FEITOS EM 03/08/2010
Data 03/08/2010 07:57:44 | Tópico: Sonetos
| 001 Imerso na pobreza da esperança De quem tentara a sorte e nunca a vira Tocado pela angústia da mentira Que ao fogo todo amor, decerto lança, Enquanto a voz se embarga e na vingança A sorte noutra face já se atira E o tanto que talvez inda prefira Revendo em meu caminho esta mudança; Apenas um estúpido poeta Que tanto procurara e se completa Na insânia e tão somente, nada mais, Aprendo com a dor e dela faço Tomando todo o tempo, todo espaço, E longe dos meus olhos tu me trais. 002 Entrego-me à loucura em sedução E tento discernir alguma luz Aonde na verdade sempre pus Sem ter qualquer limite o coração Numa avidez incrível não virão Sequer os que decerto então me opus E nada do passado em contraluz Reflete o que seria direção. E sorvo desta infausta hipocrisia Meu sonho noutra voz já não teria A retumbante história em tons iguais, O quanto desejei e nada veio, Apenas sigo em passo torpe e alheio Sonhando com momentos divinais... 003 Penetra na janela, nos vitrais O sol que tanto quis e não sabia Dourando imensamente traz ao dia Rendilhas entre brilhos e cristais, O vento traz teu nome e da janela O quanto se percebe em mera ausência O amor se transformando em penitência Aonde a solidão já se revela, Desnudo esta vontade imorredoura E tanto quanto posso tento; em vão, Apenas novamente o mesmo não E a sorte noutro cais o sol não doura, Somente nestas rendas sobre a cama Imagem tremulando te reclama. 004 Embora seja cego busco luzes Aonde com certeza nada havia, Somente a mesma face mais sombria E nela sem saber nada produzes, Aumentam as daninhas, medos, urzes E a sorte se afastando dia a dia, Ao longe uma suave melodia E aqui angústia e neve, ledas cruzes. Resumo o meu caminho no vazio E sei do eterno tempo em rude estio, Marcando a minha vida em cardo e espinho, Quem tanto desejara ser feliz E agora quando a vida contradiz, Persiste em sua senda, e vai sozinho. 005 Da minha pequenez procuro além, Imensa cordilheira imaginando, E sei do meu delírio desde quando Procuro e na verdade nada vem, Somente a solidão e sem ninguém O tanto quanto pude desabando E o medo novamente transtornando Depois de tanto tempo, nada tem Das lágrimas salgando a minha vida A sorte no vazio consumida, E o tanto que te quero. Mas não vens. Olhando para trás logo presumo O quanto deste amor sem ter insumo Traduz os teus sorrisos e desdéns. 006 As horas consumidas entre sonhos E delas não se vendo alguma messe, O quanto do meu mundo já se esquece Em meio aos dissabores mais tristonhos, Os dias se repetem e por isto Não vejo solução aonde um dia Pensara em tão somente poesia E nesta solidão, porquanto insisto Mergulho neste abismo, em tal cratera E nela se percebe o ledo fim O todo que persiste ainda em mim Aos poucos noutra face degenera Raiando em tempestades vejo a tarde Sem nada nem ninguém que inda a resguarde. 007 Um bardo procurando em lira o sonho, E nada se encontrando vida afora, A morte noutra face eu sei se aflora E neste caminhar me decomponho, O quanto do meu mundo é tão medonho E o manto noutro tempo me devora, O amor que se fez tanto e vai embora O risco a cada passo mais bisonho. Espúrio caminheiro do passado, Apenas um alento encontro quando O tempo noutra face se mostrando O corte a cada instante demonstrado, E o fardo se traçando em ritual, A sórdida loucura, a pá de cal. 008 Falando tão baixinho, ninguém ouve A sorte em discordância gera o fim E acende dos meus sonhos o estopim, De tudo o que sonhei nada mais houve, E quando o meu delírio se espalhara Vencendo os meus antigos vãos temores, Seguindo teu caminho sem te opores Quem sabe a redenção noutra seara? Nos prados e nos campos duro estio, A morte não refuga e leda, avança, Aonde poderia uma esperança Apenas o cenário mais sombrio. Tentáculos tocando a minha pele, Somente ao meu final, vida compele. 009 Adormecido sonho de quem tanto Buscara pelo menos lenitivo, E quando da esperança enfim me privo, Meu mundo se transforma em desencanto, E o quanto poderia e não garanto, Apenas tão somente sobrevivo Dos sonhos do passado, este cativo Usando da lembrança, turvo manto, Escondo-me deveras e não vejo Senão a mera sombra de um desejo Redimo meus errôneos passos quando, O dia se anuncia amortalhado E o corte se aproxima sem enfado, E a morte num sorriso me levando. 010 Arranco dentro o mim o que pudera Traçar uma emoção mesmo fugaz. O quanto do vazio já se traz E marca com terror a dura espera O manto noutra face degenera E apenas meu caminho em tom mordaz, Resume a minha vida tão voraz Exposta sem defesa à vã quimera, Restando muito pouco do que um dia Ousara e mesmo até já poderia Viver sem ter no olhar o desalento, E quando tento apenas remissões Os dias entre medos tu compões E bebo sempre à farta o sofrimento. 011 Ardente lucidez rouba a verdade Enveredando os ermos da ilusão E os dias mais sobejos mostrarão O quanto da emoção já nos invade Respiro um ar suave em liberdade E tento no teu corpo a atracação, Vagando sem destino desde então, Do teu olhar roubando a claridade. E sendo desta forma, mais fiel Adentro o Paraíso e qual corcel Galopo imensidões que vejo em ti, Do quanto necessito ser feliz Vivendo todo o sonho onde me fiz A Déia mais sublime, eu conheci. 012 Inerte porto em mim; logo eu desvendo E sinto a tua mansa lucidez Do amor quando demais tanto se fez Deixando para trás o tempo horrendo, E quando no teu corpo me perdendo Encontro a mais sublime insensatez E bebo cada gole em sua vez Num ato mavioso me envolvendo. Realces destes tantos dias claros E neles os amores são tão raros, Diamantino gozo se apresenta Na sede saciada em perfeição, Vivendo e transbordando em emoção, Minha alma na tua alma se alimenta. 013 Depois de vir somente em raio imenso Tomando este cenário e no horizonte Beleza incomparável já se aponte Enquanto neste encanto bebo e penso, O amor quando se faz e sei do intenso Caminho onde se gera a doce fonte, Permite cada sol que ora desponte, E nele com certeza recompenso Os dias do passado mais sombrios, Marcados pelos medos, por estios Eclodem neste amor primaveril, A senda se florindo em multicor Gerando a cada passo o grande amor Igual? Eu tanto sei; nunca se viu! 014 Sim quero poder viver em ti Cada momento audaz e fabuloso, E sendo o meu caminho caprichoso Ao te encontrar deveras me perdi, E sinto que meu mundo estando aqui Presume este delírio majestoso, E bebo em fartos goles, cada gozo A dor quando existira, eu me esqueci. Respaldos encontrando em todo verso E sigo neste encanto sempre imerso Raiando com intensa claridade, Vertendo em mim verões em luzes fartas, Bem antes meu amor que vás e partas O teu luzeiro imenso vem e invade. 015 Esparso entre os diversos elementos, O amor em fúria sorve a tempestade Incendiando tudo já me invade E traz a maravilha aos quatro ventos, Na flâmula infinita meus proventos Inundação diversa, ansiedade E a terra testemunha esta vontade E nela meus sobejos alimentos, Erguendo o meu olhar eu vejo além O quanto do infinito já contém O encanto sem igual amor eterno, E singro os oceanos sem temores, Vibrando em meu jardim as raras flores No quanto deste aroma agora interno. 016 Embalsamando a vida em teu aroma Tu trazes para mim a primavera, Depois de tantos anos, longa espera Minha alma insaciável já se doma, O todo se transforma e nesta soma O quanto mais se quer maior se gera. E bebo em maravilha o que tempera Rompendo do passado esta redoma. Vibrando em consonância com teu sonho, Além da própria vida eu te proponho Eternizar em nós tal sentimento, E nele me envolvendo sem temor, Raiando neste céu em multicor, Nas ânsias deste amor, eu já me alento. 017 Sonhar e acreditar no além da vida E ter esta certeza junto a nós Dos rios que se tocam nesta foz, Há tanto desde sempre sendo urdida, Vencer as intempéries e, querida Por mais que a vida seja dura e atroz Mais fortes com certeza vejo os nós E neles nossa história presumida. Restando deste encanto a eternidade, E nela quanto mais alto se brade A voz se torna mansa e até macia O amor quando se mostra em perfeição, Não tendo neste mundo outro senão, À própria morte enfim já desafia. 018 Adejando este sonho no infinito Ganhando a eternidade de um momento, E quanto mais se tem tal sentimento Mais dele com certeza eu necessito, O sonho se moldando e neste grito Adentra e já domina o pensamento E quando uma saída, inútil, tento Retorno ao nosso amor, claro e bonito. Minha alma na tua alma já vislumbra O fim do que se fora em vã penumbra E deslumbradamente eu bebo a sorte, Enquanto nos teus braços, sinto o amparo O amor em todo verso eu te declaro Gerando aos descaminhos um suporte. 019 Numa oração superna e divinal, O amor adentra em nós e nos redime, O quanto é mais suave e tão sublime Um sentimento puro e sem igual, Reinando sobre todo o sideral Espaço, sem limites tanto estime A benção que o temor ora suprime E gera um novo tempo magistral. Melífero delírio em cada toque, Nudez outra emoção já nos provoque E reina sobre todos os sentidos, Amar e se entregar, pois sem limites, E quando neste sonho te permites Meus dias nos teus dias reunidos. 020 Qual vela desbravando este oceano Imersa nas procelas, sigo em ti, E tanto quanto posso consegui Vivendo sem saber de desengano, Caminho tão sagrado quão profano, Delírio aonde farto eu me embebi, Raiando um sol imenso desde aqui, Desejo se transborda quase insano. Respaldos em caminhos mais diversos, E bebo em ti os raros universos E neste delirar eu me entranhara Vibrando em harmonia, mutuamente O quanto deste encanto se apresente Tomando num delírio esta seara. 021 A mesma solidão que me acompanha E não me deixa mais sequer em paz, O quanto deste amor queria audaz, Mas sinto tão distante este montanha, Esconde o meu passado a amarga sanha E nada neste intento satisfaz Quem sabe noutra vida, ou tanto faz, O campo se abandona e não mais ganha, Acordo e a solidão batendo à porta Apenas esta face agora morta De quem se fez amada e não seria No todo ou no vazio a vida expressa O manto determina e vou sem pressa Envolto nesta tênue nuvem fria. 022 O sonho num momento mais feliz Gerando esta esperança onde; sedento Adentro uma ilusão, meu peito ao vento, Porém realidade o contradiz, Carrego viva em mim a cicatriz E nela este vital alheamento Sorvendo do cruel pressentimento A morte numa espreita já me quis. Cenário entorpecente e mesmo assim, Ditame resultando neste fim Inglório e tão somente tosco e ingrato, No nada me apresento e me consumo, O mundo sem saber de norte ou rumo Expressa a face aonde eu me retrato. 023 Aroma feminino invade a casa E toma; já de assalto quarto e sala Delírio que um perfume agora exala E neste caminhar meu peito abrasa, O tanto que pudera e a vida apraza Traçando esta emoção enquanto cala A dor desta alma gélida e vassala E outro cenário a vida agora embasa. Resumos de passados doloridos, Ao perceber tocando os meus sentidos Este ansioso olor que ora me encanta, A vida traça então novo destino, E quanto mais me entrego e me fascino, Minha alma em esplendores se agiganta. 024 Os versos bem mais rudes que a verdade, O sonho não se faz aonde um dia O canto noutro tom ecoaria E a morte a cada ausência forte brade, E sinto a solidão que adentra e invade E nela tão somente esta heresia, Bebesse de outra sorte e então teria Meu rumo em vital felicidade, Mas sinto em solidão; ermos diversos E assim nesta crueza dos meus versos Retrato tão somente o que desvendo, Especular imagem distorcida, Traçando em cada ruga a minha vida Num quadro sem igual, infando e horrendo. 025 Teus beijos traduzindo o que há de bom Na vida de um eterno navegante E quando esta loucura se garante Transcende ao que pudesse em raro tom, Amar é na verdade quase um dom, E sei que tanto a quero e doravante Meu sonho te tocando a cada instante Ecoa no meu peito, incrível som De arcanjos, querubins, seres astrais Desejo se entornando e quero mais, Sedento deste amor em farto sonho E quando mais ardente em emoção Tomando um rumo certo; a embarcação No norte que em teus braços ora ponho. 026 À sombra deste encanto que sem par Vislumbro nos teus olhos e me entrego, Assim ao perceber do rumo cego Um belo e novo rumo a caminhar, E pude neste instante te encontrar Depois de tanto tempo, e não te nego O amor quando demais dominando o ego Não deixa nem sequer enfim, pensar. Alheio às mais cruéis vicissitudes Ainda que deveras tu transmudes O passo noutro encanto, eu serei teu. Tu tens a radiante maravilha Aonde o meu delírio hoje palmilha Caminho aonde o sonho se escondeu. 027 Adentro os vendavais buscando quem Durante a minha vida fora mais Que simplesmente um porto, ou mesmo um cais E toda esta beleza em si contém, Do amor apenas sou ledo refém E sei que mesmo imerso em temporais Eu quero e te desejo em magistrais Delírios onde o todo nos convém, Seguindo pareados; vida afora O quanto te ilumina e me decora O brilho insofismável da paixão, Resumo em versos tolos esta vida, E encontro em ti a sorte presumida Bem mais que alguma chuva de verão. 028 O mundo do teu lado, um Paraíso Edênico delírio em multicor Assim ao me entregar ao pleno amor, Das tuas próprias cores me matizo, E sei do quanto perco o meu juízo E bebo mesmo ausente o teu calor, Seguindo cada passo aonde for, Pois disto para a vida hoje eu preciso. Estar junto contigo e ter certeza Do quanto é muito forte a correnteza, Jamais eu negaria o quanto a quero, E sinto este momento em mais sublime Caminho aonde a dor já se redime Num passo mais sobejo e tão sincero. 029 Vagando pelas eras mais distantes, Encontro-me deveras ao teu lado, O quanto nós vivemos no passado Permite este futuro em radiantes Desejos lapidando os diamantes, Assim como se fosse algum legado De tanto que eu sonhei; mesmo acordado Ao menos serás minha por instantes, Depois de tantas dores, desventuras, E nestes meus delírios, se hoje curas Não sabes quanto é bom poder estar Ao lado de quem tanto desejara A fonte mais sublime enquanto rara E nela sem temores, mergulhar. 030 Minha alma te persegue, mas não notas E quantas vezes; busco ouvir a voz Adentro este caminho e tento em nós Vencer as minhas mágoas e derrotas Enquanto vais alheia, abro as compotas E o rio sem limites, ganha a foz, Num mar imenso o sinto mais veloz Ultrapassando assim todas as cotas. Pudesse ter comigo num momento Quem tanto desejara e agora tento Ao menos um segundo de atenção, Amando e não sabendo se tu queres, A déia mais sublime entre as mulheres, Reinando sobre os dias que virão. 031 Não importa pra onde vás, o meu coração sempre será teu ... (Olhos de Boneca) É teu o meu amor, bem sabes disto E mesmo quando a vida me levar Aonde e se houver algum lugar Neste querer imenso a ti, persisto. E sei quando o luar ao longe; avisto Reflete em cada raio, o teu olhar Sublime natureza a nos rondar, Traçando amor ao qual jamais resisto, E sendo tão somente assim, o amor Perfeita sintonia a se compor Num único caminho, claro e terno, Vagando neste instante onde o fascínio Expande dentro em mim o seu domínio Bem mais do que infinito, além: eterno! 32 Ao rebramar em mim esta lembrança De tempos quando eu fora mais feliz, Meu canto neste instante apenas quis Tentar tocar o sonho onde se lança, E volto a desenhar em temperança Traçando muito além do quanto fiz Tomando tenramente este matiz E dele bebo a vida em confiança. Regendo cada passo aonde eu tente Sabendo quanto a quero plenamente Recordações revivem drama e luz, E quanto mais envolto neste tanto A vida trama além do mero encanto E a própria eternidade se produz. 33 Galopa o pensamento qual corcel E invade muito além do imenso espaço Assim a cada instante um novo eu traço Ultrapassando além do imenso céu, Mergulho no oceano e; outrora incréu Um novo Paraíso em nós eu faço, Edênico caminho onde trespasso Estrelas seguem atrás, louco tropel. Numa expressão de luz e eternidade Enlanguescente déia em brilho farto. E quando dos teus olhos não me aparto Bebendo desta incrível claridade, Percebo ser feliz e num segundo Nos ermos do infinito me aprofundo. 34 Galgando muito mais do que eu pensara Alçando a magnitude em teus braços, Os dias tormentosos, duros, lassos A sorte neste encanto já se ampara, E quando se imagina em tez tão rara Superna fantasia dita os traços E ganho muito além tantos espaços E um novo sol ao longe se escancara, Razões para viver e até sonhar, Depois de tanto tempo pude achar Algum alento aonde nada havia, E sinto o renascer de uma ilusão Tramando nos momentos que virão A farta imensidão de um novo dia. 035 Um sentimento audaz, louco e revel Jamais se contentando busca além Do quanto poderia ou mesmo tem, Levando o pensamento sempre ao léu, Enquanto tento ao menos meu papel, A vida se aproxima e com desdém Fazendo do meu canto seu refém Espalha o desencanto em tom cruel. Estrelas salpicadas dentro da alma, Momentos que o passado me trouxera E agora tão somente resta a espera E nada na verdade ainda acalma O insano coração de quem anseia A lua eternamente bela e cheia. 036 Minha alma segue estreita em dor e trevas E tenta pelo menos respirar, Houvesse com brandura algum lugar Diverso deste enquanto queimas, nevas. Os dias não permitem novas cevas E vejo este desdém a desenhar A face em ousadia e sem notar Tormentas que alimentas são longevas. Aromas delicados de florais E o tempo me responde que jamais Eu poderei tocar a primavera. Não deixo de sonhar, louco poeta E quando sem destino se completa A sorte desenhando outra quimera. 037 Jamais seria alguém, tenho a certeza, E o quanto nada sou já me permite Caminhos muito além de algum limite Vencendo ou mais tentando, a correnteza, Enquanto da esperança eu fora presa O corte na raiz, pois delimite O tanto quanto pude e não se evite Marcando com ternura esta rudeza, Vestir o quanto ser se ainda um dia Pudesse e nada disso me traria A sólida impressão de algum futuro, Mas sei que desde então ao nada ser Eu tento desta forma soerguer E nada conseguindo, eu me torturo. 038 Entre os gigantescos imortais, A pequenez domina o meu caminho, E quando do vazio me avizinho Percebo quão são frágeis os cristais, Procuro desta sorte alguns sinais Distante do absoluto eu me avizinho Apenas do rasteiro e do mesquinho, E neles bebo à farta e quero mais. Não vivo por pensar em excelência E agradecendo ao Pai, sou excrescência, Mas diligente eu traço o meu não ser. Perguntas sem respostas? Quase todas, Heróis em pés de barro? Não te engodas São deles as “verdades” e o poder! 039 Elejo dentro em mim o que inda presta, Resulto deste nada e já me farto Sozinho eu me defendo no meu quarto E sei da realidade mais funesta, Abrindo o coração, permito a fresta Embora na verdade negue a festa E quando diz bom dia, logo parto, O pouco que não tenho, isto eu reparto É desta forma em vão que a vida gesta. Brindando com as minhas aguardentes Espero com certeza que inda tentes Saber da imensidão e; na amplidão A lua, o sol, a bruma, a chuva e o frio, Motivos pelos quais eu me inebrio Porquanto por não ter, eu sou cristão. 040 Sou louco, ou pelo menos finjo bem. Não quero mais favores nem promessa A vida noutra vida recomeça? Procuro e se em verdade ainda tem No quanto ou quando sou mero e ninguém, O passo com firmeza se endereça E logo sem saber se tenho pressa Confesso o quanto quero e nada vem. Tomando os meus pileques, poesia, Eu quase me imagino diferente, Banguela, diabético ainda tente Vencer o pesadelo e ver um dia Além do que já vira ou mesmo sonho. Espelho? Para que? Eu sou medonho... 041 Nada mais importa agora, nosso Amor acabou ... Pra sempre ... (Olhos de Boneca) Fazer um epitáfio eu poderia Falando deste caso que se finda, Mas quando a realidade dita ainda Num sonho a delicada poesia, Bebendo deste tanto eu não queria Nem mesmo outro momento onde deslinda A face mais sublime, rara e linda De quem hoje não diz sequer bom dia. Catando os meus pedaços, num remendo Retalhos e farrapos, tão somente Ainda que pareça um indigente Das tramas de um amor eu não entendo, Resumo no que sonho e levo assim, A vida a tropeçar começo ao fim. 42 Uma estrela dourada toma o céu E rondo com meus sonhos cada rastro Enquanto nos teus braços eu me alastro Vagando pelo espaço, sonho e mel, Concentro o pensamento e sigo ao léu Do tanto que pudera, sem um lastro Vasculho cada instante e do alabastro Ousando com meu verso qual cinzel, Apreciando assim a formosura Aonde a poesia em paz perdura, Numa órbita insensata vou bem mais Que um dia imaginara ou poderia Da noite se traçando imenso dia Tropel de raros astros, siderais. 43 A tua claridade nada ofusca E reina sobre os sonhos de quem ama, Maior do que em verdade a intensa chama Domando a sensação deveras brusca De quem se tanto quer e busca além Gestando dentro em si farta ilusão Os dias no futuro tramarão Bem mais do que decerto o amor contém, Adentro junto a ti num só segundo Diversos universos em conjunto E quando passo a passo eu tento e junto Cabendo dentro em nós além do mundo, Atento a cada instante onde consigo Viver bem mais que amor, sempre contigo. 44 Um radiante e raro, cristalino Desenho em flóreas tramas, somos isto. No quanto por te ter somente existo O amor dentro incomparável não domino E volto num segundo e sou menino E quando estou em ti e não desisto, Presumo a maravilha aonde avisto Traçando em consonância este destino. Apresentando em ti eternamente O todo que deveras se apresente Gestando enfim o alento que procuro, Depois de tantos anos, solidão, Meus olhos com certeza hoje terão Bem mais do que se mostre atroz e escuro. 45 O sol que te acompanha passo a passo Expressa o quanto quero e já presumo Do amor quando se bebe todo o sumo Diverso caminhar anseio e traço, E quando se percebe toma o espaço E gera com certeza um calmo rumo, E toda a sensação que agora assumo Transcende ao meu caminho amargo e lasso. De tanto que pudera acreditar Vagando sem destino a procurar Um novo amanhecer, estou contigo. Vestindo esta emoção rara e sublime No quanto o meu anseio determine Bem mais do que eu desejo e até consigo. 46 Levando para frente o quanto eu quis Durante alguns instantes, ou até A própria persistência gera a fé E sei quanto a sorte é dura e ultriz. Carrego do passado este infeliz A marca mais sangrenta e sei quem é Tomando a minha vida do sopé Destrói qualquer delírio onde me fiz. Gestando esta ilusão, nela alimento O sonho mesmo quando mais sedento Do corpo delicado de quem ama, A vida não se traça num instante E todo o desenhar já se garante Determinando em si a nossa trama. 47 Se eu jamais me cansaria De buscar quem mais pudesse Tendo a vida onde se tece A razão de um novo dia, Tanto bem eu mais queria E teria mesmo em prece O calor que se oferece Quando o sol claro irradia, Merecendo ou não, tentando Outro dia mesmo quando Este sonho reina em nós, Amar sendo tão diverso Do que tento, busco e verso Traduzindo a vida em foz. 48 Na verdade o sonhador Quando tenta nova trama, Diz da fúria, bebe a chama E não sente medo ou dor, O meu canto, um lavrador Tantas vezes busca a rama E se agora já se inflama Nos teus braços, meu calor, Indigente sou, e o pária Tendo a lua em luminária Nada teme segue assim, Da nefasta realidade Quando afasta, a claridade Determina tudo em mim. 49 Se poeta ainda tento Na verdade não sou mais, Ouso imerso em dias tais Do passado, o meu provento. Reluzindo à luz do intento Tramo os dias em cristais, Novos sonhos tu tragais Ou bebeste em incremento. Resumindo o verso em gozo Num caminho caprichoso Curvas vejo aonde um dia Quis bem mais do quanto tenho E se tento e sou ferrenho, Mergulhar em poesia. 50 Boa sorte! Tu disseste E bem sei que não a tenho, Mas se tanto busco o empenho O meu canto urgindo agreste, Sou deveras o que deste E traduzo de onde venho Quando muito não contenho Nem o pouco se me geste. Resultando nisto eu vejo Meu olhar no teu desejo E desenho outros iguais, Traiçoeira a vida trama A verdade em cada rama Frondes frágeis quais cristais. 51 Ao cruzar assim teus braços Quando vês miséria e fome A tua alma se consome E não deixa nem mais traços O vazio dos espaços Onde tudo traz e dome Coração jamais se dome Nem em sonhos tolos, lassos, Resumindo a voz em paz E no amor quando se audaz Liberdade trama além, E no Pai em perfeição Muitos dias se verão Quanto mais amor se tem. 52 Entre os brilhos estrelares Tantas vezes navegamos, E sem termos donos, amos Noutro espaço, teus altares, Mas sem nunca proclamares, Quando ainda nos domamos, E decerto assim reinamos Sobre os tolos que encontrares. Seduzidos por poder E gananciosamente Novo tempo se apresente Quando em volta apodrecer, A crisálida traduz Um amor imerso em LUZ. 53 A alegria rege o sonho De quem ama e se faz tanto, Mas na queda se eu me espanto Com terror, sigo tristonho No vazio não me enfronho Já cansei de desencanto No passado eu me adianto Sem futuro eu recomponho, Mas brindemos à saudade, É mortalha que me invade Com frescor raro e atual, Porém bebo o envelhecido Inebrio-me e duvido Que inda encontre um novo igual 54 Como fossem grãos de areia Nesta imensidão, somente Os caminhos que apresente Tanta luz a vida anseia, Nos encantos da sereia Ou à chama da aguardente Sou decerto impertinente Quando a voz já não clareia, Bem pudera ser diverso, Mas se tanto sigo inverso Ao que posso ou mesmo tento Libertário caminhante Onde o nada se garante Levo ali meu pensamento. 55 Esperando algum sossego Onde gero a tempestade, Incerteza desagrade E não tenho mais apego Ao que tanto se morcego Bebo o sangue em liberdade E a torpeza não degrade Quando de surpresa pego. Altamente incoerente Quando atento já se tente Outro tanto aonde nada, Na partilha o que me resta Não se vendo qualquer festa Vale mais do quanto é dada. 56 Quando outrora fora assim Igualzinho ao que hoje sinto Como fosse mero instinto Insistindo até o fim, Bebo a boca carmesim E deveras já pressinto Ressurgindo o que era extinto Noutra face até ruim, Mas se tenho contra a fúria O prazer em tal penúria Que se traz somente pena Cada olhar noutro horizonte Quando muito não aponte Pelo menos me serena. 57 Dormitando ou até quase Faço em mim um sonho ou tento E procuro contra o vento Quando muito já se atrase Procurando alguma base E se a tenho em desalento, Caminhando desatento Encontrando nova fase. Sendo audaciosamente Quando audaciosa, mente Esta vida sem medida, Levo em sorte sobre a mesa Carta dizem da incerteza, Mas quem sabe não duvida. 58 Quando sinto; noite vindo Posto a tarde num poema, E a saudade se me algema O caminho agora findo, Traduzira por infindo, Mas bem sei ser um problema Quando amor ditoso tema Na incerteza me traindo. Ouço a voz de quem pudera Mato o gozo desta fera Saciando a sua fome, E se bebo com fartura Já me entrego e me tortura Este amor que me consome. 59 Quando nada importaria A quem pouco sabe a porta Na verdade tudo aborta E não deixa novo dia, O meu canto não podia A saudade não importa E se tenho e se comporta De outra forma, hipocrisia, Crises dizem crescimento E felizes dias tento Junto a quem aquém me quis, Vou seguindo a minha sina Quando o passo determina, Neste quadro escrito a giz. 60 Dia após a posse e o poço Meu caminho nada faz, Ou se eu fosse mais audaz Causaria este alvoroço, Mas pulando no pescoço Vampiresco e até mordaz, Outro passo não se traz Quando um dia fora moço. Restaurando o meu domínio Entregando-me ao fascínio Sensual desta morena, O final ora pressinto, Vou vencido pelo instinto, Doce canto da sirena... 61 Aonde o coração faz arruaça A vida não tem jeito, perde o rumo, E quanto mais eu quero e me acostumo À minha solidão e o tempo passa, Olhando para os lados, a fumaça Avisa quando em sonho eu já me esfumo, E bebo deste tanto e deste sumo Brindando à própria vida em rara taça. Depois, acordo e vejo a mesma cena Uma emoção diversa me condena, E o gesto ritual vida repete Aonde se pensara num confete Apenas a tristeza da saudade De um velho carnaval, teimoso, invade. 62 Não deixo me levar por tal caminho, Mas quando eu mal percebo e novamente A mesma face escusa do demente Audacioso amor tomando o ninho, Eu sei que na verdade eu sou mesquinho, A vida neste outono não mais mente, E quando ainda um sonho em vão freqüente Das tramas da loucura eu me avizinho. Bastando para tanto acreditar Num raio mais sobejo do luar E ver nele teus olhos. Nada disto. Jogado nalgum canto desta sala, Minha alma num instante já se cala, Mas velho coração, jamais desisto. 63 Vieste ao fim da tarde em minha vida, Não sei se ainda posso ver a lua, Quem sabe, na verdade a alma flutua Procura de outra forma uma saída, E nada se percebe aonde a lida Expressa a fantasia, mas cultua Beleza incomparável; como a tua, E o farto desejar domina a mente. Apenas um momento? No envolvente Delírio deste velho navegante O canto mais suave se permite, E quando a tarde dita algum limite, Eu volto ao sol nascente num instante. 64 Arcar com meus enganos tão daninhos E ver além do quanto ainda pude, Mergulho numa senda mesmo rude E bebo degustando os raros vinhos, Acordo e na impressão de novos ninhos Eu sei o quanto a vida nos ilude, Mas tento renovar a juventude Embora meus cabelos já branquinhos. Desculpe por te amar, isto eu te peço, E quando novo verso eu recomeço Teu nome extrapolando à realidade, O quanto sou assim mutante ser, Vivendo novamente um bem querer Talvez mostre sutil senilidade... 65 Amanhecendo em mim nova esperança Depois de certo tempo em solidão, Os novos caminhares desde então Traçando esta ilusão que me balança, Voltar a ser deveras a criança Medrosa e me esconder de algum papão Enquanto a realidade me diz não O coração ao todo logo avança. Abrindo a persiana deste quarto Além deste infinito eu sonho e parto Vagando entre as estrelas, um gigante. Porém maior o sonho onde se seda Deveras é também maior a queda E nela ledo fim, pois se garante. 66 Sentir o quanto pude e não saber Se ainda persistira alguma chance A vida se repete em tal nuance E trama novamente o bem querer, O quanto disto tudo me faz crer Aonde o caminho em vão se lance, O todo com certeza não se alcance Nem mesmo com clareza o posso ver. Certezas; nesta vida? Nada disso. Apenas um caminho mais diverso E nele se meu canto em vão disperso, Eu sei o quanto o amor é movediço, Partilhas são complexas, nesta altura Um sonho sem juízo não tem cura. 67 De um pacificador agora eu trago O olhar mais atrevido e a cada dia O tanto quanto posso ou julgaria Traduz em novo tombo, ou velho estrago, A moça onde deveras eu me alago Reinando sem saber a poesia Domando cada verso poderia Ao menos no velhinho, algum afago. Mas logo me percebo e quando o espelho Ditando esta verdade eu me aconselho E volto à realidade e bebo tédios, Também o que fazer se o que me resta Aquém de qualquer dança, riso ou festa A caixa lotadinha de remédios... 68 Espalho o meu delírio aos quatro ventos, Questão de internação, eu te garanto A cada novo passo o desencanto Trazendo a realidade em vãos proventos. Audazes para mim tais sentimentos, E quando os vejo sinto e já me espanto, Depois de ter morrido, novo pranto Tramando com terror os sofrimentos. Velhusco, arcaico e ledo caminhante Presume e na verdade se adiante E beba deste inverno tão precoce, Ainda que outro dia além eu vejo, A juventude dita o meu desejo, Porém senilidade já me acosse. 69 Um tanto quanto fero o gosto quando Falando bem baixinho, dito o nome Do amor tanto tardio que consome E novamente vejo me inflamando, O bêbado num tanto se tornando O corte traduzindo e nunca some, O prazo determina que eu me dome, Tornado sem juízo se entornando, Vulcânica explosão ao fim da tarde? Decerto nada disto mais se aguarde Apenas o que resta e não se fala A quem se fez audaz a vida inteira, Agora no final tem por bandeira, Somente esta firmeza, na bengala. 70 Um dia, destes dias que talvez Eu leve para além da própria vida A cena há tanto tempo presumida Em nova fantasia se refez, O sonho de um poeta, insensatez Transcende ao que deveras se duvida E tenta noutro intento uma saída Ainda que jocosa face vês; Repare neste olhar apalermado E veja o quanto traz do seu passado O torpe caminheiro em tom mais gris, Depois de tantas lutas com a sorte, Brigando a cada dia contra a morte, Um novo amor ainda o peito quis? 71 Eu gosto de você. Pois que se dane Juízo ou qualquer forma de censura Eu sei quando deveras me tortura O amor este danado, ainda em pane. Por mais que a realidade tudo empane Encontro em seu abraço esta ternura E milagrosamente espero a cura, Ainda que decerto enfim me engane. Amar é como crer na própria vida, Embora se perceba a dolorida Imagem refletida num espelho E quando me entornando novamente O sol em nova face se apresente Perante a tal Cupido, eu me ajoelho. 72 Um gole a mais e a vida já se entorna Num cálice ou na face mais sombria De quem há tanto tempo mais queria E bebe quando ao sonho ele retorna, O coração danado me transtorna E joga a gente sempre numa fria, O término da noite em claro dia Depois da tarde escura, e mesmo morna. Agora ao fim da festa é que me vejo Nas mãos bem mais vorazes de um desejo, Enquanto a realidade não mais causa Sequer medo a quem tenta ser feliz, Porém a consciência já me diz, É coisa bem comum nesta andropausa. 73 Eu te pareço enfim um lobo mau? Não sei se na verdade és chapeuzinho, O quanto te desejo e te adivinho Permite um novo sonho, um ritual Que há tanto não sabia de outro igual, Depois de caminhar sempre sozinho, Voltando acompanhado para o ninho, Qual fosse um novo tempo magistral? Agora vens com essa de papai? O olhar mais penetrante já te trai, Porém hoje não posso nem sonhar, O mundo rodopia e num segundo, Da velha mocidade ora me inundo E volto a ser menino? Nem pensar... 74 Das praias e do sol, sequer saudade. Apenas do que um dia em madrugada Andando sem destino na calçada Escura da mais dura e vil cidade. O risco se produz aonde invade O sonho nesta face desolada, E bebo novamente a tão sonhada Mesmo sendo sutil, felicidade; Num copo de cerveja um novo gole, Passado num momento ora me engole E tento desvairado mergulhar Nas ondas deste ausente e torpe mar, Porém o que me resta é só montanha Vontade de pular, o peito assanha... 75 Um dia fui herói e vencedor, Já tive meus dezoito, meu amigo Agora se de novo isto persigo, Futuro é; com certeza, enganador Aonde quer e mesmo se eu não for O telefone toque e lá me abrigo, Num verso mais feroz enquanto antigo Dançando a noite inteira em sonho e festa, A moça já velhusca não me empresta Sequer algum sorriso nem recorda Daquela bela noite em discoteca O amor perdeu seu tempo e na hipoteca O sonho sem juízo inda dá corda... 76 Os dias mais sutis pudessem vir E transcender ao tempo este farsante, Mas nada do que venha me garante Apenas reviver ou presumir, Vontade tenho mesmo é de sumir, E sei o que me espera doravante A morte com seu belo e vão semblante Velhota caricata a me trair. Idade traduzindo o que sem hora Não tento e nem pudesse, pois demora O riso se aproxima do meu verso, Aonde quis o risco, agora arisco Quem sabe na verdade no Petisco A Vila me trouxesse outro universo? 77 O tempo corre mais do que eu pensava Eu tento segurar, mas não tem jeito Depois de certos dias, quando deito A coisa se apresenta bem mais brava, O quanto do meu pouco inda restava Traduz o meu olhar insatisfeito, Calar a voz estúpida do peito, Aonde um diamante eu lapidava? Chegando à conclusão triste e sombria Percebo que de nada mais valia O sonho se a verdade diz contrário, Guardar alguma fonte de esperança E ver o quanto o tempo corre e avança Deixando a fantasia num armário... 78 Bebendo em fartos goles o que tanto Desejo ainda após a queda e sei O verso se transborda e nesta lei O nada após o nada, o que eu garanto. Resumo o meu caminho em desencanto E bebo muito mais e beberei Vazio após vazio, nesta grei Restando tão somente medo e pranto. Acordo quatro e meia da manhã Olhando para trás, a vida é vã E o quase se tornou meu estribilho Pilhado de pijamas nesta rua O velho toma um banho e bebe a lua Enquanto meu passado inda palmilho. 79 Jocosa face exposta num jogral, É necessária; eu sei, a dentadura, Porém faltando o siso, nada cura, E sei quanto é dorido em mim tal mal. Já tive até demais cara-de-pau Agora na verdade o que perdura, Chuteira sonhadora se pendura A ventarola doma o vendaval. Depois de naufragados, os meus barcos, Juízo é necessário, ouviu, “seu” Marcos, A idade já chegou e não tem tempo, Apenas qualquer voz que se discorde Minha alma de outra forma ainda aborde, E se der certo, amigo, é contratempo... 80 Já nada mais carrego do que um dia Pudesse adivinhar este futuro, Olhando para mim, o que procuro Decerto não se encontra nem veria, O risco de sonhar, vira heresia, O gosto da saudade é mesmo impuro, O tempo não dá tréguas e eu te juro Pulasse desta tola escadaria... Tropeço após tropeço, sigo em frente E quando me percebo e ainda tente Vencer os meus grisalhos; nada disso. Ainda esta morena, ora cobiço Mas sei que na verdade eu sou remendo; Pior. Se ela topar. Saio correndo... 81 Ao me encontrar neste espelhar tormento Já não consigo imaginar a face Mais verdadeira e por ela passe Além do quanto caberia ao vento E nego o rumo e se pudesse atento Talvez vencesse este cruel impasse, Mas nada sinto e quando a vida trace Jamais verá o que em saudades tento. Risonhamente o meu caminho em dor Traduz o agora e se deveras for A cada lance se verá tropeço, Vivendo além do quanto mesmo eu posso, O meu reflexo num fatal destroço Explicará o que afinal, mereço. 82 Como não tem igual delírio tanto E procurando enfim algum lugar Aonde eu possa no final sonhar Sabendo agora o inevitável pranto, Do todo imenso quando ao mar garanto A morte entranha e deverá tomar O que inda resta e neste vago andar Mergulho enfim neste total quebranto. Os dias traçam finalmente a treva E mesmo quando na verdade neva Sonhando fúteis dias claros vejo O passo atroz de um caminhante atroz E ninguém sabe ou ouvirá tal voz Representando o meu maior desejo. 83 Não tem competidor que me permita Traçar outro caminho aonde um dia O sonho sem pensar me levaria E neste delirar a alma palpita, Quem dera ao menos lapidar pepita Sabendo sempre que jamais teria No meu olhar senão tal heresia Aonde o nada o delirar repita. Esboço em versos o não ser e sou Somente assim, e neste não eu vou Trilhando escasso e fascinante espaço E quanto mais eu me procure em vão Os olhos se perdendo na amplidão Traduzirão somente o que não faço. 84 Enquanto houver alguma luz aonde O mundo não soubera responder Se ainda nas entranhas do querer Reflexo de razão inda responde Ao quanto em desamor já corresponde Quem tenta novamente se perder E neste radiante amanhecer Um mar em si o coração esconde. Jamais teria o que procuro então E o verso dita o mergulhar no vão Delírio e nele me desnudo inteiro Atrocidades são comuns à vida Porquanto a sorte eu encontrei vencida Amor que sonegaste, o derradeiro. 85 Nas rebeldes e atrevidas Persistentes caminhadas Entre ruas e calçadas Alamedas e avenidas, Procurando e não duvidas As certezas desdenhadas Entre as fúrias demarcadas Onde as sortes; nunca olvidas; Esperando qualquer luz E somente reproduz O silêncio invés do canto Na verdade sendo assim, Do princípio bebo o fim, E a mortalha eu me garanto. 86 Os abortos que tu temas Nada são senão verdades E se tanto já degrades Os teus olhos em problemas Corações ditando lemas Transformados em saudades Se; portanto, ainda brades Não verás as piracemas De esperanças mais felizes Quando o risco; contradizes E mergulhas no vazio, Aprendendo a cada instante O final já se garante Atravessa, inteiro, o rio. 87 Ao partires tu levaste O que resta enfim de quem Na procura sempre tem Demarcado algum desgaste No final, mero contraste Da verdade, sigo aquém E não tendo o que provém Queda farta em frágil haste, Resumindo o fato nisto Na verdade não assisto Ao tropeço terminal, Venço o medo ou compartilho, Procurando qualquer brilho De uma estrela matinal. 88 Tantas vezes conseguisse Repartir o que não tens, E se vejo teus desdéns Ao mostrar esta mesmice Encontrar o quanto disse Na procura de outros bens No final, meros vinténs, Mas farturas em tolice. Já não sinto qualquer luz E se tem não me conduz Levo a vida desta forma, O presente repetindo O passado que eu quis findo E de novo me deforma. 89 Já não quero bem ou mal Quem se fez cruel de fato, Quando a vida enfim resgato Procurando noutra nau, Um momento capital E se nele eu me retrato Não me importa mais maltrato Ou conversa tão banal. Resumindo a minha história Apagando da memória O que um dia me disseste, Caminhar em solo agreste E tentar colheita aonde Puro estio corresponde? 90 Se eu saísse deste jeito Nada mais eu poderia, Tendo o olhar em ironia Quando além ainda deito, No final ao ser desfeito O meu riso morreria Noutra cena, noutro dia, Rumo antigo, ainda aceito. A mortalha me apetece E o passado ainda tece As rendilhas do futuro Entre firmes cordoalhas, Se decerto tu batalhas, Nada encontro nem procuro. 91 Ordenando desde então Cada passo que eu tentei O teu sonho regra a lei Desintegra o coração, E se tanto sou e vão Noutro encanto eu mergulhei E procuro nesta grei Outro rumo e direção, Vagamente sei da sorte Onde tudo se comporte Da maneira mais comum, Dos meus sonhos, nada levo E o caminho onde me atrevo Com certeza traz nenhum. 92 Quando apenas acabado O que um dia começara Na procura desta rara Delirante e disfarçado No desejo perolado Esbarrando em tanto amara Madrugada se escancara, Mal disfarço o meu passado. Vislumbrando qualquer tombo, Outro dia mesmo eu zombo E marcando com sinais Marmorizo esta emoção E caminho neste não Onde estrelas; entornais. 93 Nos palácios e castelos Onde o sonho fora audaz O caminho se desfaz Entre foices e rastelos, Dias calmos, leves, belos O momento tanto faz, Na verdade quero a paz Expressando nossos elos. Quantas vezes precisar Vou tentar outro lugar E deveras encontrando, Deixo tudo para quem Sabe quanto o nada tem; Só não sabe como e quando. 94 Resultado que procuro Depois desta queda quando O meu canto se formando Num cenário mais escuro, Na verdade se amarguro Rumo torpe transtornando O delírio em farto bando Noutro tanto me asseguro, Riscos vários e enfrentava Onda atroz, perene e brava Neste mar sem compaixão Arco mesmo com enganos E somando tantos danos Nem delírios sobrarão. 95 Nada julgo nem; portanto Poderia acreditar No poder de me entornar No vazio e no quebranto Ao vestir da sorte o manto E beber inteiro o mar, Coração; quero salgar E se posso; não me espanto. Versejando sobre o fato Onde tanto me retrato Resgatando alguma voz Quando sensibilizasse Sem ter medo deste impasse Nada trago senão nós. 96 Deixará de qualquer jeito O meu mundo após a queda E pagar nesta moeda, Na verdade eu não aceito, Dando-me por satisfeito Quando a sorte já se enreda Deslumbradamente seda O caminho ora desfeito. Resumindo este universo Onde tento e desconverso Sendo inverso ao quanto quis, Num complexo delirar Muito tenho que apanhar Para ser, enfim, feliz. 97 Ao cumprir qualquer vontade De quem tanto quero o bem, No final nada convém A quem morre de saudade Para ter felicidade É preciso de outro alguém Que conhece e quando vem Sem saber o quanto invade Reina sobre o pensamento E se ainda teimo e tento Tomo tento e nada falo, Na verdade se te quero Este sentimento esmero Com esta alma de vassalo. 98 Nem metade da alegria Onde um dia quis inteira A verdade já se esgueira Deixando esta noite fria A minha alma saberia Outro espinho, outra roseira Se em verdade ainda queira Mesmo a vida mais sombria, Restaurando o passo quando O jardim; vou cultivando Com ternura e com denodo, Desta forma pouco importa O que existe atrás da porta, Ouro, prata, bronze ou lodo... 99 A fortuna diz que não, Mas teimando busco o sim Vou levando sempre assim Procurando a direção Dos momentos que serão Na incerteza quando vim A florada de um jardim, Primavera em coração. Mas inverno desta forma E se tanto se deforma Quem promete novo dia, O meu canto não se faz Onde procurara a paz E o delírio encontraria. 100 Tudo neste instante muda O cenário é mesmo igual, Mas diverso ritual A minha alma não se acuda, Segue pálida e até muda Procurando um magistral Caminhar fenomenal, Onde nada mais a ajuda. O cuidado que se tem Quando amor diz deste alguém Que jamais pudesse minha, No calor desta batalha Fogaréu na palha espalha, Mas juízo não continha. MARCOS LOURES FILHO
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