
SONETOS FEITOS EM 02/08/2010
Data 02/08/2010 19:27:50 | Tópico: Sonetos
| 001 Embaís este que deveras sonha E busca algum alento, embora ausente E quando nova queda se pressente A face da mentira é mais bisonha, Enquanto noutra senda esta alma enfronha Apenas ilusão, e prepotente Vacância no teu peito ora se sente Diverso do que o canto em paz se ponha. Agarro-me aos princípios mesmo que O nada após o nada é o que se vê Nesta contraditória vida a dois, Se eu quero e não me queres, tu sonegas, Andando em noite escusa, sempre às cegas Sem ter noção do quanto vem depois. 002 O quanto eu te confesso ser errôneo E ter apenas medo e nada além, Enquanto a vida mesmo não convém Expressa a cada ausência um pandemônio, Gerasse dentro em mim novo demônio Talvez ainda houvesse algum desdém, Mas como da esperança sigo aquém, Lavrando esta ilusão; tolo campônio. Vestindo esta armadura sutilmente, Minha alma tão somente se apresente Sem ter sequer defesas, mas prossigo. Apenas o silêncio; este aliado, Presume os meus enganos do passado, E adverte se inda vejo algum perigo. 003 Às mãos que com sobeja maestria Pudessem transformar com um cinzel A imagem mais sublime em raro céu Aonde a luz intacta se irradia, Vencer com tanta força a hipocrisia E crer ser mais possível seu papel Ousando acreditar num claro véu Enquanto a noite desce mais sombria. Não ser como deveras se apresente Um ser que na verdade vejo ausente, Mas sei quanto se estende ao infinito, Perceba a ingratidão, mas não se cale, Ao não se corromper jamais se embale Na torpe solidez de algum granito. 004 Amar o que se vira noutras eras Bebendo desta safra avinagrada, É como se levar pela passada Inverno procurando as primaveras, Não vejo nem talvez o quanto esperas Na sorte ao quanto fora consagrada, A morte a cada passo desenhada E dela se observando as mesmas feras. Seguir é necessário e conseguinte Momento que virá depois de um velho, E quando a cada dia mais me engelho Preparo para o passo além; seguinte. 005 Desnudas eras torpes dentro em mim E vês o quanto fui e não soubera Viver a provisão em mansa espera Ousando a cada passo e botequim, Vasculho meus pedaços, vodca e gim E vejo retratada esta quimera Aonde a própria vida destempera E traz o apodrecer antes do fim. Escuridões comuns de quem a anseia; E sabe muito além, em senda alheia O quanto imaginável, mas distante. Dos bares e dos sonhos, meu naufrágio, A vida com ser tosco e vão contágio Expressa este cenário degradante. 006 Amante das riquezas e dos cobres, No quanto nada eu tenho; um mero pária A sorte de quem ama é temerária E nesta fantasia não me cobres Enquanto noutros sonhos te recobres E vês em falsos tons a luminária, Não servirei apenas de alimária, Retorno aos meus anseios, meros, pobres; E quando pude crer noutro momento E ter desta visão discernimento Eu percebera em ti a tosca gala, Ausente destas rodas sociais, Meus dias são decerto mais banais E a voz quando o percebe, ora se cala. 007 O meu agosto; eu sinto se esvaindo Levando em névoa e dor, o quanto resta Não deixando antever sequer a fresta De um tempo mais diverso, outrora lindo. Expondo a minha face e me traindo Não tendo outra visão, a que inda gesta O passo noutra escusa, mais funesta Aos poucos me perdendo em sonho findo. Resumos entre gélidas paragens, Assisto à viração destas aragens E os meus caminhos; sei, são derradeiros, Aonde pude outrora crer florada Após o inverno eu sinto não há nada, Eterno estio toma os meus canteiros. 008 Nevando dentro da alma de um poeta Que tanto quis a sorte e não a vira, O tempo se expressando já retira O quanto desta vida não completa E sigo sem saber sequer se há meta A vida se expressando em vã mentira Eu sei que a terra inteira ronda e gira, Realidade pura e mais concreta. Mas tanto quanto pude acreditar Num tempo aonde ao menos o luar Descesse em claridade soberana Tocando a minha face em argentinas Belezas, mas deveras determinas A senda onde esta vida ora se dana. 009 Os pés já tão cansados; descaminhos Os dias não seriam mais felizes E quando se presume e contradizes Os passos são decerto mais daninhos. Errante caminheiro em vagos ninhos, Olhando para trás meros deslizes Acumulando enfim as cicatrizes Tocado por momentos tão mesquinhos, Aberto o peito adentro o quanto possa, Sabendo no final a queda, a fossa, Mas tento e até por isto merecia A sorte bem melhor do que ora vejo, Refém deste delírio em vão desejo, Arcando com a turva fantasia. 010 Reanimar quem tenta após a queda Seguir contra a maré mais furiosa, Enquanto a própria vida se antegoza Deste caminho aonde o passo veda, E pago sem saber, mesma moeda, Na sórdida presença caprichosa Por vezes, não desminto, até dolosa E assim cada passada se depreda Arquétipo imbecil, tola vingança, E quando este cenário vil se alcança Resulto deste a quem inda alimento, Um ser espúrio e digo até dantesco, Perambulando escuso, ora grotesco Num sórdido delírio virulento. 011 O quanto quis lirismo a cada verso E o mundo sonegasse com as brumas, Carcaça dos meus sonhos, tu te esfumas E vagas pelas sendas do universo, E quando neste insólito submerso Esgoto o meu caminho, além tu rumas E bebo as solidões, dores algumas E nelas cada dia meu disperso. Escória, pária, verme o que quiser. Não tendo uma esperança mais, qualquer, Esgoto aonde humana face exponho, Um ledo vagabundo em noite pálida, Esta alma sem destino, tosca e esquálida Num corpo sem proveito, enfim, medonho. 012 Risível caricato eu sigo em hordas E faço destas súcias meu abrigo O quanto de mim mesmo não persigo Espectro sem destino que inda acordas, E vago em tais abismos, ledas bordas, Existência traduz em si perigo E as sombras dos meus erros eu consigo Traçar entre os demônios que ora abordas, Espúrio caricato; garatuja Minha alma imensamente turva e suja, Apêndice de vida, um ser vulgar, Um cão jogado às pedras do abandono, Encontro por consolo e como abono, Os raios magistrais de algum luar. 013 Errático assassino da esperança Não vejo mais futuro e sigo ao fim, O tanto que apodrece dentro em mim, Enquanto a vida ao nada ora me lança, Meu sonho qual fiel desta balança O risco se aproxima e vejo enfim A morte que insolúvel vem a mim E sinto no vazio esta fiança. O rastro derramado pelas ruas E nisto com certeza tu flutuas Galgando a imensidão que nunca fora Sequer alento ao menos para quem, Já sabe do sombrio mar que tem, Esta alma tão banal e sonhadora. 014 Apodrecendo os sonhos que inda trago Abandonado aos cães e nada mais, Somente bebo os fartos vendavais E nesta solidão, enfim me alago, Dos vermes no final, um manso afago, Os dias se repetem, são iguais Meus passos na sarjeta; tão banais Se há sorte; inutilmente ainda indago. Resquício do que fora um ser humano, Agora quando espúrio enfim me dano, Não quero e não preciso mais de alento, Qual fora um animal, velho e sarnento, O olhar sem mais sentido, quase insano Trazendo o abençoado alheamento. 015 Das brumas e das névoas sou parceiro E singro este vazio em noite escusa, O passo pelas sombras se entrecruza E canto com meu sonho corriqueiro O encanto mais venal e verdadeiro De quem em vida sórdida e confusa Encontra em bela Morte sua Musa E foge do rebanho, um bom cordeiro. Nas tramas mais infaustas da mentira, O quanto ainda resta se retira E serve-se em banquete aos deuses vãos Alheio aos vis detalhes desta empresa. Prefiro na verdade ser a presa Do que me esparramar em podres grãos. 016 Alhures vejo ainda um brilho opaco Do quanto desejei e nada vinha, A sorte com certeza mais daninha E o passo sem destino, agora empaco, Meu canto se perdendo mero e fraco, A voz quando se escuta, é vã, mesquinha E quando da mortalha se avizinha Da vida já não levo nem um naco, Apenas a mentira e nela encontro A face desolada em desencontro Apronto os meus caminhos neste errático Delírio aonde possa ainda ver O fim num nauseante apodrecer, Sem ser digo a verdade, nem enfático. 017 Soltar a minha voz e a minha pena Os dedos deslizando no teclado, O quanto desejei e meu legado Ao longe já puído e torpe acena, Enquanto a realidade me envenena, O vento noutra face, desolado, Mergulho nos ditames de um passado Na sórdida ilusão, soberba e plena. Esculpo do meu nada; o novo ser E sinto a cada passo o enternecer De quem se fez poeta e nada mais, À morte brindo em cálices sobejos E quando dos meus sonhos, os desejos Expressam seus caminhos, são venais. 018 Não quero mais falar de amores quando O tempo se aproxima do seu fim, A pútrida verdade no jardim Não deixa qualquer sonho se notando O quanto no passado, cultivando Mortalha que cerzira cabe enfim, Não quero nem demônio ou querubim, Apenas decomposto, transformando. Do mero ao nada ser, resta tão pouco E vago sem guarida, fosse um louco Derramo nas palavras o meu ego A farsa de uma vida entregue ao não E as sórdidas imagens que virão, É tudo o quanto tenho e inda carrego. 019 Eu agradeço a ti a cusparada Meus dias não seriam mais felizes, E quantas vezes bebo as mesmas crises Sabendo no final, não resta nada, Somente a mesma face escancarada E os olhos onde quieta; tu me dizes Das tantas virulências em deslizes Salpicas com espinhos esta estrada, O escárnio num escarro traduzido E tudo faz agora o seu sentido, Não pude ou merecera melhor sorte, E assim sem ter guarida nem promessa Meu passo no vazio já tropeça Restando tão somente o fim, e a morte. 20 Olhando neste espelho vejo a face Já carcomida e podre da esperança E quando no vazio a vida lança Quem tanto na ilusão ainda grasse, Resumo o meu delírio neste impasse, E bebo sem saber furor e lança, Não mais conceberia a contradança Enquanto este cadáver já se enlace. O manto denegrido em fantasia A morte a cada instante mais sorria E nela eu me redimo, estou bem certo Um suicida, um louco, meramente Na degradante face se apresente O mundo que decerto ora deserto. 21 Enquanto tive Lara fui feliz, A luz irradiando cada verso, E nesta claridade um universo Marcado pela força geratriz Do amor que tantas vezes sempre quis E nele cada dia mais imerso, Ao seu caminho em sonho não disperso E bebo a me fartar, querendo o bis. Em Lara com certeza esta ventura De um tempo aonde a sorte fora minha, Felicidade além já se adivinha Nem mesmo esta saudade vã, tortura, Enquanto Lara havia dentro em mim, O sonho parecia não ter fim... 22 Amar e ver estrelas quando passo E tento adivinhar por onde andaste, O sonho com temor, ledo contraste, O caos que reconstruo e já desfaço, Ausência dominando cada espaço Até que ao te sentir, o velho traste Renova-se e deveras mal notaste, Clareias este mundo outrora baço. E vendo a sutileza imensa e rara Imerso nos teus braços, posso crer Na doce fantasia de um prazer Aonde toda a glória se declara, Teu nome é como benção a dizer Somente num sussurro, amada Lara. 23 Quem teve nesta vida o privilégio De ter entres seus braços quem queria, Tornando mais plausível fantasia, Momento entre momentos raro e régio. O amor supera tudo, e sendo egrégio Expressa a cada sonho esta alegria E nela a luz sublime se irradia Matando qualquer medo ou sortilégio. O quanto deste encanto se encontrara Nos olhos delicados, bela Lara, E agora esta lembrança me acalenta Enquanto a vida molda outro cenário, Um mundo bem melhor e imaginário Minha alma a cada passo teu; atenta. 24 Amar e ter certeza de que possa Vencer e ser além de mero sonho O verso aonde o mundo recomponho, Deixando no passado o medo e a fossa, O quanto da ilusão meu canto apossa, E cerzi este momento mais risonho, Vivendo a plenitude onde me ponho Na sorte que bem sei, somente é nossa, E tendo em ti, amada o farto brilho, Nos rastros que deixaste; Lara, eu trilho E tento a cada instante perceber A imensa claridade deste olhar Farol intensamente a dominar Resumo deste insano e bom prazer. 25 Porquanto em Lara tive a maior glória De um tempo mais feliz, e não sabia, Reinando dentro em mim a poesia, Lampejo deslumbrante da memória, A vida se refaz em nova história, Mas guardo ainda viva a fantasia E nela Lara sempre poderia Trazer esta impressão: plena vitória. O mundo muitas vezes é cruel, E quando mais se tenta ver o céu Apenas retornamos ao passado, Aonde num momento, pelo menos Os dias com certeza mais amenos, O passo rumo à vida, iluminado. 26 Enquanto Lara fosse quem gerasse Em mim toda a beleza em plenitude, O canto que deveras nos ilude Mostrando com ternura nova face, Ainda que a saudade nunca passe, Atinge com o tempo a magnitude E nisto todo dia se transmude E aumenta sem sentir o forte enlace. E amei e fui amado. Isto me basta. A vida entre loucuras, erma e gasta Agora ao seu final, tenta e bendiz, Embora devorado pelas cãs As horas que eu vivera; nunca vãs, Com Lara, pelo menos fui feliz. 27 A sombra deste amor que me acompanha E gera mais amor, embora ausente No quanto de teu corpo se apresente, Acima de qualquer grande montanha, Persiste viva em mim a antiga sanha, E o coração se torna mais contente Ao perceber que ainda mesmo sente Vontade sem igual, tanta e tamanha. Viver a plenitude deste instante Aonde o que desejo se adiante E molde com ternuras muito além Do quanto ainda vivo em Lara, morta, O vento sorrateiro em minha porta Avisa que ela um dia ainda vem. 28 Jamais pude esquecer quem tanta vez Tomando minhas mãos e o pensamento Trouxera na verdade mais que alento O todo quanto existo e nisto vês Presença desta insana lucidez Gerando a cada dia um sentimento Diverso do que fora o sofrimento, Que aos poucos dia a dia, se desfez. E tê-la viva em mim é o quanto basta, Purificada imagem ora casta De quem se fez tão louca quão profana, O amor não mais calando a voz declara Enquanto o coração jamais se engana E volta a te clamar, sonhada Lara. 29 Dos erros cometidos nesta vida, Engodos onde tanto me perdi, Voltando num momento chego a ti E ali eu encontrara esta saída, A sorte muitas vezes aturdida, O tempo na verdade conheci Depois na dura ausência, viva aqui De quem se fez em glória, rara e ungida Amar é simplesmente eternizar Gerando do vazio algum altar E nele entronizado um ser diverso, E quando penso em Lara, a minha história Revela finalmente a imensa glória Sobejo caminhar por onde verso. 30 E Lara ainda existe, disto eu sei. O quanto me perdera e consegui Vencer os meus temores e eis-me aqui Vagando sem sentindo em sua grei, O quanto deste instante desejei E dele cada gota enfim sorvi, O amor que desejara e o mereci Expressa tudo aquilo que eu busquei, A morte me redime, com certeza E nela ao seguir a correnteza, Com Lara novamente do meu lado, O sonho noutro sonho determina A eterna sensação da incrível mina Aonde o amor se faz sedimentado. 31 Porquanto em tantos claustros a minha alma Esboça ao menos mera reação E sinto a cada passo a indecisão Que gera novamente medo e trauma, Pudesse algum momento em plena calma, Mas sei que novos dias não virão Trazendo com ternura a solução E nela a maciez que tanto acalma, Vagando sem saber se existe um porto, Apenas este ser que semimorto Aborta as esperanças, cada vez Que a vida se transcorre em agonia, E o pânico deveras regeria O infausto desenhar que agora lês 32 Enquanto tento ao menos amurar As velas onde o mar se faz insano, Encontro a cada ausência o desengano, Não tendo nem sequer onde ancorar, Imensidão tomando este lugar E nele em todo engodo enfim me dano Um dia me pensara soberano, Porém a morte chega devagar E bebe cada gota deste que Pensara resistir, mas nada vê Somente este naufrágio e nele tento Seguir a minha história calmamente, No quanto do vazio se apresente Apenas bebo o sal do desalento. 33 Despregam-se do olhar as mais diversas Belezas onde um dia acreditara Pudesse ter somente em tal seara As horas mais felizes. Desconversas. E quando noutras tantas vejo imersas A vida sem sentido se prepara E o corte na verdade, o sonho apara, E nele sem saber ainda versas. E resolutamente encontro o fim, Marcando a ferro e fogo o que há em mim, Deixando para trás qualquer momento Aonde possa até acreditar Nas tantas maravilhas deste amar, Porém agora singro o esquecimento. 34 Entranhas que aprofundas quando sonhas Expressam o vazio de teu ser, O quanto pude mesmo esmorecer E ver as faces turvas e medonhas, Enquanto a cada passo mais te oponhas E vivas sem sentir o que é prazer, Ao longe num dorido entorpecer Encontro as dores toscas e bisonhas, E sinto apenas isto, este vazio, E nele cada verso desafio Tentando acreditar noutro segundo Aonde poderia ter à frente O sonho e nele mesmo ainda tente Cerzir com esperança um novo mundo. 35 Com toda frialdade de quem vem E bebe desta gélida loucura, O tanto que minha alma se amargura Sabendo no final, venal desdém, O nada quando em nada se convém Resume o meu caminho e na tortura O medo de seguir, diz sepultura E o corte se aprofunda e sigo aquém. Ocaso desta vida em dores feita, Minha alma este final, logo rejeita E sabe muito bem do quanto pude, Viceja dentro em mim alguma messe, Mas sei que no final tanto padece Quem mata eternamente a juventude. 36 Floresces as sementes que este Cristo Deixara por legado, mas agora A própria criatura que o devora Traduz este vazio aonde existo, E quando a tal loucura inda resisto, O barco noutro cais em dor se ancora E sinto a solidão, nada se aflora Somente este terror, mas não desisto Um canto libertário que aprendi No amor quando demais, existe em ti A divindade plena e não discuto. Mas sei do quanto pode em inclemência Exposto à mais satânica ingerência O manso se tornar atroz e bruto. 37 Não creio em santidade feita em ritos Aonde são diversas as facetas, No passo se desenham as falsetas E geram seres torpes e infinitos Aonde se produzem mais aflitos No quanto tantas coisas tu prometas As sortes variadas são cometas Gerando do vazio os tolos mitos, Resumo o meu caminho em tal descrença E sei que na verdade ainda pensa Quem ama numa luz imaginária, Mas sei do meu silêncio após a morte, E nada necessito que conforte Tampouco esta imprecisa luminária. 38 O campo se fizera santo quando Pisado por quem sabe lá quem era Enquanto no final, a torpe fera Cordeiros todos mansos, devorando. O olhar de quem morreu sacrificando Durante a mais dorida e triste espera, Ao ver quanto é tenaz quem se tempera No caos quando em verdade o vê gerando. Floresce dentro em mim outra verdade E nela a mais possível santidade É feita com ternura e compaixão, Se milagrosamente existe a vida, Outro milagre a mais? A alma lapida Gerando tão somente a corrupção. 39 Glorificar a vida é simples quando O amor se mostra claro e sem tormentos, Mas quando vejo em mim tais sofrimentos E o mundo num instante desabando, Os sonhos se perdendo em tosco bando, A terra revoltosa em elementos E neles os meus dias, excrementos Quem sabe noutro infausto mergulhando. À morte um brinde eu faço e até por isto No quanto ainda tento e em vão persisto, Distante desta paz que alento em vida, Redime cada passo num tropeço, E traz no cadafalso o que eu mereço, Benesse desejada e já pedida. 40 A tumular presença de quem sonha E bebe dos seus féretros benditos, Enquanto se imaginam infinitos A face após a morte; eu sei medonha. Por mais que em fantasias eu me oponha E trace em ilusões diversos mitos, Inúteis na verdade, medos, gritos Aflito caminheiro o nada enfronha. Ascendo ao mais sublime que inda existe A morte se apontando agora em riste Esvai a cada ausência esta esperança, Fugacidade em forma de excrescência Do fim eu tenho viva a consciência À pútrida verdade a vida lança. 41 Se pensas que és cristão somente quando Tu cumpres teus deveres sociais Nos dízimos, igrejas, rituais Ou mesmo quando tentas, perdoando, Se pensas só nos prêmios, és nefando E nisto teus destinos, infernais, Derramas sobre todos os venais Enquanto ensimesmado estás louvando. O ser cristão é crer na libertária Cotidianamente e ainda ver O podre ser humano e o bem querer, Sabendo que a rapina procelária Não vale nem sequer alguma prece, Porém a alma liberta se oferece. 42 Não compro o meu perdão e nem o vendo, Apenas perdoar por perdoar Sem nada a dever nem a pagar, Jamais acreditar em dividendo. O quanto de algum ser, tosco remendo Esboça sem sentir o quanto amar, E tenta desta forma se livrar Deste futuro amargo, vil e horrendo, Não quero ser deveras deste jeito E tento imaginar enquanto deito Um mundo mais tranqüilo onde a verdade Supere quaisquer medos e desvios, Meus sonhos são deveras desvarios Enquanto a falsa crença nos degrade. 43 Apresentar a Ti novo rebanho? Espúria forma mesmo de Te amar, O quanto é necessário libertar Para se ter na vida imenso ganho, E quando a realidade; em Ti entranho Aprendo com certeza a consolar E vejo em cada ser um Teu altar E sinto em minhas costas cada lanho. Quem crê noutro momento aonde possa Erguer da mais dorida e escusa fossa Quem nela se adentrara, evangeliza, Rebanho? Na verdade isto é venal, Tratar o tão diverso como igual É misturar tempesta com a brisa. 44 Tu podes muito bem negar o fato Enquanto pensas ser melhor, porém O quanto do demônio te contém É mais do que talvez o teu retrato, E quando no vazio eu não resgato E sigo da verdade muito aquém, Tentando acreditar que faço o bem Enquanto com certeza eu já maltrato, A sórdida e terrível negação Da liberdade viva de um cristão Impede que se chegue ao carpinteiro, Nefasta imagem tosca em pastoreio O lobo em falsa luz quando o rodeio Exponho sem defesas, o cordeiro. 45 À juventude morta estes meus versos, Uma homenagem póstuma a quem tanto Achara ser sublime o desencanto Gerando sem sentidos, universos, São trôpegos tropéis, tanto dispersos E neles afigura-se o quebranto E quanto mais em bando mais me espanto Do quão são mais capazes, tais perversos, Brindando à mocidade entorpecida E tanto quanto atroz já desvalida Jogada pelas ruas, ébrios passos, Falsários sonhadores? Mero esgoto, Desenho de um canalha torpe e roto Nos olhos sorridentes, porém baços. 46 Às vezes vejo o sol, e até permito Um sonho que inda possa ter à frente No quanto do vazio se apresente Gerando a cada passo um novo mito, Simbólico fantoche, no infinito O olhar sem mais sentido, qual demente No fundo se transforma e meramente Transcorro neste torpe mar, aflito. Esbarro nos meus erros costumeiros E tento nos demônios, meus luzeiros. Satânica presença que eu carrego, Nublosa noite eu vejo após a queda E quando a minha vida em vão se enreda Eu agradeceria então ser cego. 47 A chuva se transborda dentro da alma E o quanto em nebulosas tardes vejo, A morte insofismável de um desejo Aonde nem o medo mais me acalma Revejo o meu caminho e tento em calma Aproveitando assim a cada ensejo Fugir deste terror, mas relampejo E a vida se refaz em turvo trauma. Medonha face exposta aonde um dia Bebera a mais fantástica alegria E nada mais voltara a ser igual, Mas quando me preparo, esta alma voa Retorno ao mesmo nada e sigo à toa Num erro costumeiro e até venal. 48 Minhas idéias; vejo-as tão confusas E sinto que se esvai a realidade, No outono este invernal terror invade Enquanto sem sentires entrecruzas Os passos entre as pernas e conduzas À queda inevitável que degrade, Matando desde então felicidade Em faces tão banais, turvas e obtusas. Expresso em verso e som o que pudera Talvez apascentar ainda a fera Atocaiada em mim desde que humano. Na sordidez de um mundo em desafeto, O quanto sou apenas um inseto E vago sem sentido e enfim me dano. 49 Emprego a minha voz ao quanto pude Tentar aliviar a minha eterna Loucura quando aquém de uma lanterna Esboço a invalidez em atitude, Atinjo sem sentir a plenitude Da morte que deveras já se interna E bebe cada gota da cisterna Enquanto vez por outra ainda ilude. Esparsa cena vivo a cada dia, E nela novo tempo não teria Senão a mesma espúria insensatez, Cardápio em iguarias tão nefastas Das pútridas verdades tu te afastas, Mal sabes que refletes o que vês. 50 Inundações enquanto eu quis a paz, O risco que se assume quando tenta Vencer em calmaria esta tormenta, Inevitavelmente o mundo a traz. Deixando esta semente para trás O quanto do passado me alimenta, E bebo desta face virulenta Num átimo, um sorriso quase audaz, Edênico caminho? Eu não mais quero, Prefiro o delirar e mesmo fero Arcar com meus engodos; sendo assim O precipício aberto sob os pés O olhar já desmedido e de viés Traduz o que inda resta dentro em mim. 51 Todos os rumores que ainda poderia Ouvir em plenas tardes de abandono, E quando da verdade não me adono, A sorte se transforma mais sombria, O tempo transcorrendo em heresia O risco a cada passo e desabono Enquanto a solidão impede o sono Nefasta realidade se veria, E quanto mais servil pudesse ser Expresso em tons sutis à meia luz E sei que no vazio se produz Apenas tão somente o desprazer. Mergulho neste hermético delírio E sorvo a cada infausto, outro martírio. 52 Em frívolos desenhos vejo a vida E nesta face escusa da verdade O tanto que deveras já degrade Demonstra a mesma fúria carcomida Resvalo no vazio e a sorte acida Gerando o que pudesse em tempestade, Ausente deste olhar, felicidade, A morte a cada passo sendo urdida. Regando com meu sangue este plantio, A cada novo dia eu desafio A própria insanidade e me tomo, Num átimo vagando em desatino, E quando em solilóquio determino O medo incontrolável; nada domo. 53 Quisera conhecer minhas ermidas E nisto desvendar os meus entalhes E quando os meus demônios já detalhes Expressas sem sentir as quantas vidas Ainda restariam, despedidas Em farsas onde arrisco em vãos encalhes E a cada nova queda mais retalhes As sortes enjauladas e feridas. Esgoto o meu delírio a cada verso E tento enquanto posso ou desconverso, Complexo caminheiro do meu tempo, Assaz insatisfeito, pois hedônico, O quanto deste mundo desarmônico Traduz ou contratempo ou passatempo. 54 Qual fora Madalena em sua senda A sorte desairosa de um perdão Expressa noutro impasse a negação Aonde cada passo não se estenda, A mão que apedrejando não desvenda Nem mesmo se entendendo esta lição Ainda se propondo, algum sermão, Enquanto na verdade não se atenda. A morte não redime seus pecados, Tampouco os dias seguem sendo herdados Renovação é feita e o novo Cristo Do amor sem ter medidas, libertário, Invés do velho algoz, frio corsário Do qual há tanto tempo já desisto. 55 Passando pela estúpida canalha As mãos atadas; vejo apenas isto E quanto mais alheio ainda insisto No vento sem limites que se espalha Qual fosse fogaréu em plena palha A mão que me condena, também Cristo Sentira com terror, e não desisto, Minha alma aprisionada inda batalha. No quanto quero apenas a verdade E nisto se traduz em liberdade, Meu pensamento alcança além do cais, Mas morto em plena vida, se me calas Jamais estas palavras são vassalas Nem mesmo os meus destinos são boçais. 56 Do quanto em desventura se provasse Talvez já redimisse cada engano, A vida se revela em novo plano Mostrando com terror a dura face, E quando se vencendo algum impasse, O medo se transforma e já me dano, Negando a solidão eu me profano Na farsa sem medida que inda grasse. Desgraço-me ao sentir a salvação Que é feita muito além de algum perdão, E traz sem ter medidas o meu sonho, A podridão humana, eu reconheço, E sei deste satânico adereço Num ar torpe, sacrílego e medonho. 57 Buscar após a minha sepultura A vida que jamais mereceria, O tanto quanto fora em heresia A sorte sem remédio, busca a cura. E tanto se perdendo, inda procura Além a mais nefasta parceria E o quanto disto tudo mostraria A face mais atroz de uma loucura, Ao menos poderia ser diverso Se o mundo ao desnudar enquanto o verso Trouxesse pelo menos o perdão, Mas vejo inconfundível Satanás Na ausência do caminho em plena paz. E sei das tempestades que virão. 58 Não quero a redenção somente por Saber que existiria alguma messe A quem na própria vida, o fim já tece E traça o seu caminho em desamor. Não quero nem tampouco este louvor Ao exaurir em mim oração, prece E quando o meu anseio ora se esquece Fazendo deste irmão, ledo senhor. Rompendo com algemas tão banais, Em vestes ricas, belas, sociais Cerzindo em seus altares ouro e prata A fúria desdenhosa de quem rege E vende a santidade, torpe herege, Enquanto a quem se louva, já maltrata. 59 A piedade move a pedra escusa E traz mesmo ao Granito a mansidão E quando se entregar de coração, A vida não será jamais confusa, A divindade em ti conhece e abusa Ousando até na dura tentação, Sabendo dos momentos que virão Aonde em desafeto se entrecruza. A pútrida versão dos sacerdotes Pensando na certeza em ricos dotes, Esgota o que pudesse haver de Cristo, E sendo mais vendida a própria cruz, À liberdade em vida não faz jus Quando em dourada veste eu me revisto. 60 Esposar com amor a redenção De quem se fez bem mais que mera cruz, Ao ver já vivo em mim, caro Jesus, Entendo em ti a grã libertação Esboço feito em luz; dita o perdão, Amor extasiando e nisto eu pus O sonho mais sublime feito em luz, Bem mais do que qualquer prece e oração, A cada novo dia se trazendo No amor sem procurar um dividendo Assim é que concebo a glória em Ti, Diverso do que tanto me ensinaram, Aqueles que de Ti se apoderaram Matando o que em verdade conheci. 61 Banhasse em tantas dores o meu rumo E nada mais pudesse além do caos, Os dias na verdade seguem maus, E os meus momentos toscos, eu resumo, E como se pudesse em frágil fumo Ou mesmo me elevar, ledos degraus Vagando sem destino nestas naus Aonde com terror perdera o prumo. Esparso caminheiro do vazio E neste passo além inda porfio Ousando contra a fúria das marés E sei que em discordância sigo alheio E quando a solidão, eu devaneio Encontro com certeza por quem és. 62 Um sepulcral silêncio me atordoa E sinto a solidão de quem buscara Apenas mansidão nesta seara E vaga sem destino, segue à toa, A voz em solilóquio não ressoa E o canto semeando a velha escara O tempo na verdade não prepara Minha alma sem sentido, não revoa. Esculpo alabastrina imagem tua, E quando me percebo em plena rua Assisto à derrocada terminal, Dos sonhos onde pus minha esperança E quando no insensato a vida avança Encontro tão somente o funeral. 63 Apenas pretendia um tempo aonde A sorte em concordância com o brilho Trouxesse esta alegria em estribilho, Mas nada na verdade corresponde E o tempo sem sentido não responde A quem pudesse crer, este andarilho Vagando em solidão, porquanto eu trilho Nefasto desenhar onde se esconde Minha alma em tal feroz tenacidade E quando apenas sinto o quanto agrade À morte esta inconstância e nela eu cevo O templo em sordidez, melancolia, A solidão deveras reinaria Tornando o sofrimento mais longevo. 64 Potência entre as potências, este amor Clamando pela imensa liberdade E traz no seu caminho a claridade Difícil discernir em tal torpor, Não vejo apenas isto, um bom Senhor E nele tão somente a majestade, Enquanto bem mais alto ainda brade Tramando um canto claro em riso e dor. Somente uma verdade nos transforma, E quando a realidade toma a forma Da qual ninguém consegue mais conter, O amor imensurável; passo a ver E nele a redenção tanto querida, Transcende com certeza à própria vida. 65 A causa original, etérea essência A força geratriz deste universo Se nele o pensamento agora eu verso Não vejo tão somente onipotência Bem mais do que decerto uma clemência Ou mesmo um caminhar até disperso, O quanto além do além maior, diverso Gerando mais que mera coincidência O que sempre já foi e assim será No quanto posso crer e estará lá Após o próprio fim da humanidade, Eterno e desta forma mais mutável Perene enquanto traça um formidável Caminho aonde nada inda o degrade. 66 A miseranda face deste que Pensara ser superno enquanto eu sei, Apenas um espectro em larga grei Menor do que deveras já se vê, O ser em plenitude que ora crê E tenta ser senhor da própria lei No quanto em pequenez eu não verei, Somente em prepotência se revê. Alheio ao quanto vale o ser humano, Propaga sobre a Terra inteira um dano Do qual já não consegue controlar, Um histrião bisonho um mero e escasso Caminho sobre a face mais gentil, Aonde sem tal mérito se viu Deixando demarcado o turvo passo. 67 Justiça? Não conheço e nem percebo Apenas a vingança a cada olhar, O mérito em demérito a moldar O amor como se fosse algum placebo, E quando do vazio eu já me embebo Sorvendo sem destino nem lugar O quanto poderia mergulhar Devolvo da maneira que recebo. Um egoísta e mero caricato Na dor que agora causo eu já resgato Esta ínfima figura, um mero entalhe, E tento acreditar nalgum poder, Enquanto na verdade posso ver A mão que em plena fúria ora retalhe. 68 Errôneo contumaz, farta penúria Exposta a cada dia e sem clemência Aonde se pintara em indulgência Gestando a toda lei a mesma injúria. O corpo desenhado em tal incúria Ainda se presume com potência Gestando sem sentido a incoerência Pagando o alheamento com vil fúria. Esgarça a carne podre que consome, E nisto mata sempre a sua fome, Gerando outro cadáver com fartura, E tenta amenizar em culto ou missa Esta alma sem valia e sempre omissa A geratriz terrível que amargura. 69 Como se um Deus fosse; esta canalha Vagando sobre a Terra traz no olhar A fúria que não pode controlar E a cada novo instante mais batalha, Na fome que deveras gera e espalha A morte como fosse o seu altar, Ainda a própria história a renegar No fio mais temido da navalha, Agora este rebanho em tom cruel Aspira qualquer coisa como um Céu E mata sem perdão e sem amor. Escravizando assim quem já se opõe No quanto ao próprio Deus, pois decompõe Fazendo deste escárnio o seu louvor. 70 Um ser tão descuidado e até medonho, Num átimo mergulha em tez sombria, E mata o criador, soberba cria Aonde a cada ausência o decomponho, E sei do quanto sou triste e bisonho Tentando me integrar em senhoria Marcando com a férrea hipocrisia Enquanto à santidade agora enfronho. Um mero e traiçoeiro lobo brilha Teimando em ser o chefe da matilha, Saqueio enquanto estupro roubo e mato Depois peço perdão pelos meus erros, Cerzindo com terror os vãos desterros A cada louvação; um desacato. 71 Aumentando o tormento quando vejo O sonho se esvaindo sem saber O quanto deste encanto pude ter E sei ser mais disperso a cada ensejo Do amor apenas sinto este lampejo E mergulhando em vão nada a prever Somente este vazio a entorpecer Gerando a solidão, temor e pejo. Ainda pude até imaginar Um canto aonde eu possa desenhar O dia desejado e nunca visto, E tendo tão distante dos meus dias, A dor que agora teimas e desfias Aonde a solidão eu mal despisto. 72 Falando agora em ti eu tento além Do quanto nada resta e mesmo assim Procuro algum sinal dentro de mim E sei que na verdade nada vem, Meu sonho desvairado segue aquém Do todo procurado e sei que enfim Apenas o vazio diz do fim Encanto imaginário, e nada tem. Somente o medo e nele se apresenta A vida tão sofrida em tez sangrenta Esparso caminhar pela sombria Noctívaga loucura que me entranha, Prossigo desta forma a minha sanha, Buscando o quanto sonho e nada havia. 73 Murmuro tão somente o quanto amor Pudera acalentar e nada disto Persiste enquanto o sonho; ainda avisto Gerando a cada ausência o dissabor. Pudesse acreditar e sem me opor, Mas quanto mais eu luto enfim desisto Sabendo que deveras quando insisto Jardim já se perdera em triste cor. Poética manhã de um ledo sonho Enquanto na verdade ainda ponho Meu barco no oceano em turbulência, Do tanto que pudera e nada fiz, O sonho se transforma em cicatriz E amor, apenas mera e tosca ausência. 74 Perfume de teus lábios? Nada resta, Somente a solidão e esta mortalha Que aos poucos neste céu, domando espalha O quanto do passado fora em festa E agora esta figura vã, funesta Aonde a podridão dita a batalha Cerzindo com terror esta navalha E o odor deste vazio um ar empesta. Restando do que eu fora, meramente Um torpe caminhar que se apresente E denegrindo aos poucos minha vida, Persisto tão somente por saber Que após a tempestade possa haver Bonança, mas bem sei não há saída. 75 A flor que em palidez perdera o viço Deixando a primavera em invernal Caminho diz do meu ledo final Num sonho mais temido e movediço, O quanto da esperança inda cobiço E vago sem saber do meu final, Tropeço neste rito terminal E sei do meu delírio em ar mortiço. Apenas coletando cada folha Da estúpida verdade que se colha No olhar de quem buscara um horizonte Sem nada nos meus dias, desalento, Ainda na esperança eu me alimento Embora saiba ausência que se aponte. 76 Sentindo quanto há vivo no meu sonho Eu tento discernir a realidade, Porém a cada instante mais degrade Gerando dentro em mim um ar medonho, E quando um novo dia eu me proponho Apenas encontrando a tempestade Nefastas ilusões, porquanto brade E o canto se perdendo em tom bisonho, Audaciosamente acreditara Na paz e nada vendo em tal seara Escória simplesmente e nada mais, A mera solidão, amiga entranha Nesta alma tantas vezes tão estranha Em erros costumeiros, viscerais. 77 Num delirante gozo em noite escusa, Bacante melodia e nada existe, Apenas o vazio inda persiste, Enquanto a solidão, ainda abusa, Meu passo numa senda mais confusa O olhar apodrecido, mero e triste, Meu canto sem sentido inda resiste A morte redimindo, bela Musa. O gesto incoerente de quem ama, E bebe do tenaz, terrível drama, Retalha com firmeza a pele e abrasa O quanto ainda resta de esperança Ao nada e sem sentido enfim se lança Em cera construíra frágil asa. 78 Delíquios desairosos quando eu tento Seguir os passos desta a quem dedico Meu verso e na verdade exemplifico O amor como se fosse mais atento, E quando num fremir, o pensamento Detalha cada passo mal explico Atinge num segundo, o cume e o pico Nos sonhos firmo meu acampamento. Vislumbro etereamente um mar imenso E quando mergulhando me convenço Das praias e sirenas que imagino, Porém tão movediço o meu destino E sinto quanto frágil possa ser Os ritos inconstantes do prazer. 79 No fogo inesperado da paixão, Ardências entre tantas mil loucuras E quando explicações teimas, procuras, Somente esta resposta em negação, Os dias mais sombrios que virão E neles as terríveis amarguras, Enquanto em vão proponho-te ternuras Meu cais já não comporta a embarcação. Mesquinhos dias noites solitárias, As dores dos amores, procelárias Invadem e destroçam qual tornado E o tempo se esvaindo entre meus dedos, Erráticos cometas morrem ledos, São sombras do que eu fora no passado. 80 Em álgicos tormentos, biliares Humores discrepância: sonho/vida Aonde a minha sorte fora urdida, Deveras tu nem mesmo amor notares, E quando vi somente vãos altares, A história se percebe consumida Na angústia tantas vezes presumida, Errático eu vagueio pelos bares, E na aguardente encontro o teu olhar Risonho este delírio a me tocar, E bêbado entranhando no infinito, Estrelas consumindo num absinto E o beijo; desenhando, agora o sinto E mesmo inexistindo inda acredito. 81 São tantas estas mágoas que carrego De tempos onde a vida não teria Sequer a menor sombra em fantasia Marcando com terror onde trafego E busco no meu eu, adentrando ego E sinto a mesma imagem mais sombria Do amor que tantas vezes poderia, Porém já tão cansado agora eu nego. Vencido pelas ânsias de quem sonha E sabe a vida atroz, tola e bisonha Aonde se entranhara inutilmente, Cerzindo esta mortalha dentro em mim, Sentindo o meu caminho hoje no fim, Apenas a saudade me alimente. 82 No mundo um passageiro da ilusão Galgando as amplidões e nada tendo, O olhar se apresentando qual remendo Traduz as noites frias que virão, O medo se tornando desde então Apenas um tormento a mais e horrendo O quanto do vazio em mim desvendo Negando qualquer sorte em provisão. Esparso caminheiro, a fantasia Gerindo cada passo, não mais guia E leva para o fim quem tanto quis, Um andarilho em busca de algum porto, A vida sem saber de amor, conforto, Gestando e ora gerando a cicatriz. 83 A voz de um ser deveras torturado Gemidos espalhando noite afora, A dor que me atormenta e me devora O dia novamente mais nublado, O risco de sonhar, desalentado, O medo que destarte desancora E o corpo sem descanso, não demora A morte um raro bem tão desejado. Essencialmente quis alguma luz, E o manto em tal negrume se produz Enlutando minha alma sem guarida, Aos poucos me perdendo do horizonte Apenas o vazio além desponte, Marcando em virulência a tosca vida. 84 Quem dera se pudesse inda senti-la, O amor já me condena e nada tendo, Apenas o caminho se detendo Aonde a solidão, leda, desfila, Minha alma em fel e mágoa hoje destila O quanto poderia em estupendo Desenho, hoje perfaz mero remendo O sonho, este demônio agora grila. Restando do passado uma promessa, Mas quando na verdade se tropeça E a queda prenuncia o fim e a morte, Ao menos isto quando acontecer Trará na remissão, algum prazer, Que enfim depois de tanto me conforte. 85 A dor que me alimenta seja apenas Sinal de outro momento em tal bonança, Mas quanto mais o tempo ledo avança As horas não se vêm sequer amenas, E quando a cada ausência me apequenas O sonho num vazio já se lança Aonde poderia em temperança Tu vens e com terrores me envenenas. Mordazes dias trazem leda noite E a solidão deveras mais açoite Esta alma em frialdade e em negação, As mágoas são constantes nos meus dias E delas outras tantas criarias Sem permitir nos sonhos mutação. 86 As sombras que acompanham cada passo Deste imbecil que tanto quis amar, E o vento novamente a me tomar, Gerando a cada instante o descompasso, E quando alguma luz, buscando; eu traço Pudesse crer além nalgum luar, E sei que nada vem e no vagar A cada movimento eu me desfaço, Disfarço vez em quando e até sorrio, Assim se demonstrando um desafio Enquanto alma sombria nada diz, Somente se percebe o lacrimejo No encanto quando além ainda vejo Dos sonhos esta espúria cicatriz. 87 Sonhar com liberdade que não veio, Andar sobre estas ondas e poder Sentir deste desejo o bem querer, Olhando para os lados, sigo alheio. E quanto mais mergulho em devaneio A queda dominando todo o ser, E assim a cada passo me perder Na ausência de esperança e sem esteio. Na queda anunciada há tantos anos Somente coletando os desenganos Entoam dentro em mim tristes acordes, E quando do passado não recordes Expressas num sorriso esta ironia, Matando qualquer luz que inda teria. 88 A quem se disse tudo e na verdade Jamais alguma voz escutaria, A noite se apresenta imensa e fria, Olhando para trás, o medo invade, E o risco de sonhar; ansiedade Que o tempo por si mesmo levaria, A morte na verdade redimia Quem tanto conhecera a frialdade, Esboço mal traçado e maltrapilho Enquanto no vazio inda palmilho Permito-me sonhar e isto me basta, Minha alma em penitência e sofrimento, Ainda qualquer luz teimando invento, Porém realidade é vã; nefasta. 89 Ousar na inspiração de amor sincero Enquanto na verdade nada vinha Somente a solidão, e sei que é minha E nela o meu caminho eu destempero O rumo onde o nada ainda gero A sorte tantas vezes mais daninha, O corte se aprofunda e jamais tinha Senão este sentido doloso e fero, Apresentando ainda o quanto é rude E tento caminhar, mas tanto ilude O passo de quem faz um verso assim, Profética loucura me tomando O dia que julgara ameno ou brando Satânico chegando a um triste fim. 90 Pudesse reunir num verso apenas O tanto que sofrera e nada tenho, Apresento este medo e o mais ferrenho Caminho e se tu calas; já condenas. Expresso o delirar e não serenas A cada novo dia mais desdenho A sorte aonde outrora em ledo empenho Trouxeste estas palavras mais amenas. Resido no que há tanto já não há O sonho se escondera e desde lá O manto discernira em férrea senda, Só peço que deveras tu me esqueças E assim novo futuro; em paz, já teças Apoio? Só a morte a mão estenda... 91 Andando pelo mundo sem saber Aonde possa ainda ter um porto, Apenas um retalho, um vago aborto Vestindo a turva face em desprazer, Emirjo do vazio e nada tenho Senão a solidão por companheira E quanto mais a sorte não me queira, Maior o meu delírio, e mais ferrenho, Audaciosamente procurara Durante tanto tempo a solução Ouvindo a vida inteira o mesmo não, Somente a gelidez nesta seara, E o quanto deste encanto inda matizo, A vida traduzira por granizo. 92 O sonho de quem ama e quer a paz Envolto pelas sombras do passado, Aonde no desenho imaginado O traço na verdade nada traz Senão a mesma espúria e tão mordaz E caricata cena, o meu legado, Ao tanto do que tenho desvendando No fundo tão somente um passo audaz. E sinto a desmedida solidão Num ermo que caminho desde então Sem ter um norte aonde possa enfim, Depois de tantos anos, sem ninguém Cansado do não ser e nada vem Somente este delírio vivo em mim. 93 Crucificar o sonho será justo? Não posso acreditar em tal falácia E tento, na verdade com audácia A vida a qualquer preço, a qualquer custo. O risco de sonhar ainda alenta A quem se fez poeta e merecia Apenas ter no olhar a fantasia, Embora a sorte seja tão sangrenta, Expresso esta temida noite em vão E sorvo cada bruma que inda enfrento, Entregue sem defesas, forte vento, A sorte se transforma em solidão, Aprendo desde cedo este sentido, O amor apenas mero ou presumido. 94 A tênue sombra diz do que passamos, E sinto meramente a frágua morta E quando esta saudade vem à porta Os dias matam frondes, secam ramos, E tantas vezes quando imaginamos Presença da esperança já se aborta E enquanto o vento frio toma e corta Diversos mares; juntos, desolamos. E sei que na verdade nada existe Somente um coração e se ele é triste Palpita em solitária decadência, O quanto deste amor fora gentil, Um elo neste instante se partiu, E a voz já não possui mais eloqüência. 95 Destino em amargura e dor somente, Não vejo outra saída embora eu creia Que a vida noutra face mais alheia Produza qualquer grão, nova semente, E quando a realidade não desmente A lua que julgara enorme e cheia Apenas no vazio ora rodeia E o coração se torna vão, demente. Espúrias noites; tento ainda ver No olhar de quem amei o amanhecer, E sinto que distante está de mim, O corte na raiz, o amor disfarça E o tempo desnudando a antiga farsa Matando em aridez, ledo jardim. 96 O quanto brutalmente a vida diz E nega qualquer messe, mesmo quando O sonho noutro tom se revelando Deixando para trás a cicatriz, No fundo nada faço; um infeliz Morrendo ao mesmo tempo em que negando A vida noutra face desnudando O sonho, um tosco e torpe chamariz, Extraio dos meus dias esta ausência E nem sequer presumo uma sequência Aonde poderia haver qualquer Caminho que trouxesse remissão Enfronho este deserto e neste não, Procuro qualquer sombra que tiver. 97 Uma alma se enlutando a cada dia, Mortalhas costumeiras a quem ama, E quando a realidade dita o drama, Jamais outro momento em paz viria, Apenas o que resta, hipocrisia, E sinto novamente a velha chama Ardência tão dolosa quando clama Em brasas desenhando esta heresia, Resgato dentro em mim algum alento E quantas vezes teimo e me alimento Do nada que se faz onde pudera Haver qualquer momento em lucidez, A vida noutra face se desfez Deixando como herança a fúria e a fera. 98 Um solitário apenas, o eremita Que tanto quis a sorte e nada veio, Do mundo neste instante sigo alheio Minha alma nem nas luzes acredita, O quanto poderia ser bonita A vida, muito embora em devaneio, Perdendo esta esperança, meu esteio Meu passo, a fantasia delimita. E escassamente tento alguma messe, Somente a solidão a vida tece E traz esta artesã, somente o medo, E quando ainda tento ser feliz, O amor que num momento tanto eu quis Condena o sonhador ao vão degredo. 99 Pressinto em meu caminho algum nuance Diverso deste rude e vão matiz, Aonde poderia por um triz E nada na verdade ainda alcance O mundo se perdendo não avance E morto a cada passo, um aprendiz Do quanto imaginei e nada fiz Nem mesmo nalgum sonho a alma descanse. Acendo outro cigarro e, suicida Percebo se esvaindo a minha vida E tento algum refúgio no tabaco, Meu passo desdenhado e sem traquejo Somente este final ora prevejo, E cada vez me sinto bem mais fraco. 100 Não tenho mais sequer mera lembrança De um tempo aonde fora mais audaz, A voz se cala e nada agora traz Somente no vazio ora se lança, A tempestade gesta uma mudança E o olhar que me rodeia, mais mordaz, O tanto quanto fora tão tenaz Agora nem sequer mera fiança. Esbarro nos meus erros e presumo, O quanto da verdade é mero fumo E segue sem destino rumo ao céu, Mendigo algum afeto, simples pária, A vida se espalhando em procelária E o velho timoneiro agora ao léu.
MARCOS LOURES FILHO
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