
SONETOS FEITOS EM 01/08/2010
Data 01/08/2010 07:08:49 | Tópico: Sonetos
| 001
Esse caminho é tão diverso e posso Mesmo acreditar em discordâncias Aonde se apresentem discrepâncias E nelas imagino o quanto é nosso Errático sinal aonde endosso Com toda virulência as inconstâncias Do encanto que procura por estâncias Se tanto me renego ou mesmo adoço Meu mundo em variante sincronia Talvez já não pudesse ou mai teria Um canto em tom suave ou mesmo atroz Expresso a solidão porquanto pude Vencer com sortilégios magnitude Mantendo mais distante a minha voz.
002
Dos tantos roseirais que este canteiro Traduz em cores raras e espinhentas Assim também a vida que apresentas Num rito tão disperso e costumeiro E quando deste sonho em vão me esgueiro E sigo as mais dispersas e sangrentas Noções por onde tento ou mesmo atentas Singrar além do encanto derradeiro Ausculto algum delírio onde eu tente Vencer o meu tormento inconseqüente Sagrando qualquer canto aonde eu tenha Somente este desejo e nele viva Minha alma na verdade esta cativa Mantém desta esperança a frágil lenha.
003
Augustas flores trago em primavera Embora muitas vezes seja assim A vida se transforma e em meu jardim A morte tão somente o que inda espera Espreito atocaiado; a velha fera E sei que no final; pobre de mim, A sorte desdenhosa chega ao fim E o nada a cada instante destempera Resisto embora saiba inutilmente O quanto do passado ainda mente E trama outra mortalha neste instante, Apenas o final já se garante E bebo deste fel duro inclemente Até que num momento deslumbrante Eu sorva cada gota alucinante.
004
Acantos onde quis lírios e rosa Assim o meu canteiro em formas várias Ao mesmo tempo cores necessárias Traçando uma ilusão mais belicosa,
Num sempiterno lume, esta jocosa Realidade diz das temerárias Loucuras entre dores, luminárias A vida se desnuda caprichosa
E tento desvairada e tenramente Beber cada veneno que apresente Gerando após a curva outra e fatal,
Esparsos dias tento após a queda E sei quando o caminho em vão se enreda Traçando este delírio terminal.
005
Encontro em meu caminho as ânsias todas E nelas ou por elas me entranhara Gerando a cada passo nova escara Ainda que procure loucas bodas
As sombras na verdade quando tramas Expressam delicadas formas turvas E quando a cada passo tu mais curvas Os dedos entre fúrias, fráguas, chamas
Expondo a realidade aonde eu possa Traçar o meu delírio imerso em fogo Não adianta mais penúria ou rogo A dor disto eu sei será só nossa
Repare nesta estrela a veja bem O quanto do vazio a vida tem.
006
Da tua alma bebo cada gole E sei o quanto posso acreditar No todo aonde um dia ao navegar O mar aos poucos toma e tudo engole E sinto quando a vida mesmo bole E transcorrendo assim mais devagar O todo se anuncia e diz do mar Que há tanto se revela e já me assole; Expondo cada face do infinito Aonde na verdade eu necessito Apenas tão somente o ancoradouro Bebendo deste néctar mais conciso O quanto deste eu inda preciso E nele em sol diverso teimo e douro.
007
Aonde na nascente deste rio Encontro os meus anseios mais vorazes E quando teus caminhos; também trazes Condeno-me ao completo desvario
O quanto do desejo desafio E bebo a solidão em várias fazes Porquanto dos meus dias tu desfazes Enfrento a cada passo o que desfio.
E sinto abandonado desde quando Aos poucos noutro tanto me entranhando Esboço reações; as mais diversas
E sei do quão inútil prosseguir Embora ainda creia no porvir Até se noutro rumo tu dispersas.
008
Ao sonho me avizinho quando tento Vencer os mais comuns dos erros quando Esboço reações e sonegando O quanto poderia estar atento
Jogado sem destino encontro o vento E nele em todo passo desolando O rumo que pudera e o destroçando Encontro finalmente o desalento,
Aonde mais pudera acreditar Nas ânsias deste sonho a me levar Por mares tão distantes e sombrios
Os erros cometidos e são tantos E neles no final os desencantos Somente são torturas e desvios.
009
Enquanto em néscio rumo vejo a dita Perdendo a cada passo um razão Meus olhos adentrando este senão Traduzem o que esta alma necessita
Assim ao me entregar, mera desdita O todo se transforma nesta opção Gerando a mesma ausência desde então Traçando a cada passo esta alma aflita
Pudesse acreditar noutro cenário, Mas sei quanto é difícil e temerário Acreditar nos ermos mais complexos
E sendo desta forma o dia a dia, O nada no final se sorveria, Mostrando desta vida os seus reflexos.
010
Pecados tão tacanhos; os cometo E nada mais impede o quanto eu pude Viver em todo engodo a plenitude E neste desenhar eu me arremeto
Tentando discernir num só soneto O quanto a própria vida nos ilude E tendo no final em magnitude Os erros onde tanto me prometo.
Esboços mal traçados de uma lida Dispersa entre os terrores, nesta urdida Loucura contumaz e tão freqüente,
No quanto possa ser bem mais diverso Se tanto no vazio eu já disperso Meu dia mesmo quando a paz se tente.
011
Adentra meu espírito a incerteza De um novo caminhar; aonde eu sinta A força tantas vezes quase extinta E tente contornar a correnteza,
A vida tem em si tal natureza E nela a realidade já se pinta Moldando a fúria expressa e quando minta Perfaz um novo engodo com destreza,
Expresso meu delírio quando tento Vencer com alegria o alheamento Que sei ser tão somente uma constante
Porquanto me defenda desta forma, E quando a realidade me deforma O sonho se apresente ao mesmo instante.
012
Do abismo deste mar aonde um dia Pudesse ainda crer em soluções Devera tantas vezes tu me expões Além do que minha alma poderia,
E crendo nesta infausta fantasia Eu verto em mais dispersas direções E sinto as desejadas erupções Aonde o meu caminho seguiria
Talvez a consonância possa até Salvar ou dirimir por ser quem é Quem tanto pode mesmo me ajudar
Num êxtase complexo se percebe Este delírio intenso e dita a sebe Domando esta inconstância feita em mar.
013
Por sobre as ondas vejo a face humana, E nesta variável forma creio O quanto se permite em devaneio E ao mesmo tempo a vida nos engana,
Porquanto a realidade é tão profana E nela cada passo mesmo anseio Vagando aonde sei e tento alheio Seguir por onde o nada tanto dana.
Esboços variados poderiam Agir da mesma forma onde teriam O sonho como um dito mais audaz,
Ferrenha e desmedida esta ilusão Aonde se programa o mesmo não E nele a fantasia satisfaz.
014
Encontrando o pensamento Onde tanto mais pudera Encontrar a mesma fera Neste vasto sentimento Se por vezes bebo o vento E a tempesta não se espera Outra vida degenera O fatal alheamento, Sem perder a direção Os caminhos danarão E o meu ego já se aflora, Quem procura e sei quando acho Na verdade mero facho De esperança sem ter hora.
015
Coração; tento e liberto Nos meus ermos mais profanos E se tantos fossem danos O caminho estando aberto No final já me desperto E desvendo vários anos Onde beba os desenganos E o silêncio ora por perto, Restaurando o que pudesse Na verdade sei da prece Que desdenha o fim e anseio Tão somente alguma luz Do meu canto sigo alheio Quando o vago reproduz.
016
A brisa que sonega Algum alento a quem buscara Resgatando a dor amara Entre tantos segue cega, E o vazio de uma entrega Resumindo esta seara No passado se escancara Onde o tanto não trafega. Sei medonho o meu futuro E se tento sobre o muro Esta queda a vida rege, O meu peito sem sentido, O meu canto desvalido, O meu verso, quase herege.
017
No fundo dos meus olhos Abrigarei tua alma... E em sonhos viverei este amor Que envolve-me em ternura e calma! Anseio pelos teus carinhos a me arrepiar... Por tuas palavras sussurradas ao ouvido Inflamando a chama deste desejar. Que a nós, só importe o agora Este lindo e mágico momento... Que este sonho de amor e desejo Eternize-se nas asas do tempo!
HELENA GRECCO
O tempo que eterniza O sonho em voz imensa, Quando a vida recompensa Transformando o vento em brisa, Outro encanto aromatiza E tomando em luz intensa O caminho já compensa A quem tanto em paz matiza Um desenho antes grisalho E se a voz além espalho Consonante maravilha Traduzindo em verso e glória Revelando à nossa história O delírio onde se trilha.
018
O meu canto bebe a lua E se encharca em claridade Do luar que agora invade A minha alma até flutua E vagando sobre a rua Sabe inteira esta cidade, No sertão felicidade, Mas aqui também atua E desnuda em céu imenso Quanto mais na lua eu penso Mais compensa a caminhada Nesta noite em luz intensa Coração sempre convença Da alma sempre enluarada.
019
O vento missionário Dos anseios mais vorazes Entoando quando trazes Novo tempo temerário Bebo o canto imaginário E se tento novas fases Entre as tantas que desfazes O caminho este corsário Expressando a realidade Onde o sonho ainda invade Faz das tripas; coração O meu verso se perdendo Num caminho onde remendo Cordas do meu violão.
020
Proponho um dialeto Onde o verso se pudesse Não traria qualquer prece Nem meu canto onde o completo E se tanto me repleto Da vontade onde se tece O meu peito já se esquece Do seu rumo predileto, Beijo o vento e sigo à vida Procurando uma saída Onde sei que não existe, O passado pouco importa A saudade bate à porta E me encontra quieto e triste.
021
Nada mais eu poderia E se tanto inda pudera A vontade destempera E gerando a fantasia Novo tempo não traria Nem sequer a primavera Onde a morte ainda espera Traiçoeira em agonia, Gero após o mesmo não E procuro a direção Onde nada se apresenta A verdade é sempre igual, O caminho virtual O que bebe esta tormenta.
022
O cenário mais macabro A verdade não esconde, Meu caminho eu não sei onde Nem tal porta mais eu abro, E se tento um descalabro A saudade não responde Tanto quanto corresponde Noutra cena ao candelabro Em tais fogos, jogos, medo E no fim inda concedo Qualquer luz mesmo sombria, Quando outrora vi a face Mais temível onde grasse Esquecera a poesia.
023
Nos meus âmagos diversos Nos meus antros mais profundos Vagarei por velhos mundos Ousarei em tantos versos E se os faço mais perversos Ou deveras vagabundos Onde quis bem mais fecundos Os meus dias vãos e imersos. Resistindo ao quanto pude E se tento outra atitude Esta queda não se evita, Onde quis a liberdade Tão somente ainda invade A verdade, esta desdita.
024
Não me deixe no abandono Nem tampouco quero o riso, Na verdade eu me batizo Neste fogo onde me adono, Do passado em desabono E do dia mais preciso, O caminho diz juízo E o meu manto em ledo sono. Aprendendo quando errático O desejo nunca é prático Tão somente caricato, Quantas vezes me perdendo Eu me vejo mais horrendo E deveras me desato.
025
Expressões diversas; tento Quando muito diz do pouco E gritando feito um louco Sigo em pleno alheamento, A verdade diz provento E o terror se faz de mouco O meu canto eu já treslouco E nisto o meu divertimento, O passado diz presente E o que tanto ainda sente Não desmente o que vivi, Se a saudade bate à porta, Na verdade a semimorta Vem falando então de ti.
026
O meu prazo determina O final da minha lida, Tantas vezes presumida E se exima desta mina, Onde o tanto não fascina Precedendo uma saída Outra tanta é construída E deveras mais ladina Expressão já dividida. Restaurando o passo aonde O meu mundo não responde Nem tampouco poderia, A poeira toma tudo E se tanto ainda iludo, Na verdade uma utopia.
027
Por amar mais do que pude Ou talvez acreditar Nas loucuras de um amar Eu perdera a juventude. E se ainda o sonho mude Marca a pele a tatuar Permitindo navegar Neste mar que tanto ilude. Expressões diversas têm Quem procura por alguém E não vê, senão se esvai, A incerteza de outro passo, Quando muito eu me desgraço, Outro instante a vida trai.
028
Esbarrando neste engano Novamente me perdi, E se tento agora e aqui Eu de novo já me dano, Esboçando novo plano O terror; não presumi, Mas deveras eu sorvi O que tanto foi profano, Esquecendo o verso quando O meu mundo se negando Não permite qualquer luz Carregando a vida em mim, Bebo até chegar ao fim O que ainda te propus.
029
Ao falar deste momento Onde nada tenho ou quis O meu sonho em chamariz Bebe logo inteiro o vento, E se tenho algum lamento Reviver o que não fiz Sigo além e se condiz Minha vida em sofrimento, Resgatando qualquer erro Vejo além deste desterro O retrato de quem ama, A certeza toma o prumo E se engano logo assumo, Não fazendo qualquer drama.
30
Ouço a voz do vento quando Meu amor já não veria Nem sequer em fantasia Noutra face se mostrando, A saudade desvairando Quem deveras só queria Um momento de alegria E o caminho se negando, Inda busco algum alento Mesmo sendo tão distante Do caminho que adiante E penetre o pensamento Como fosse uma mortalha, Mas que invade e logo espalha...
031
Não é sem fundamento a vida quando Esbarra na inconstância de quem luta E sabe desta sorte tão astuta Noutra forma num momento desatando Os nós que na verdade desolando Pressentem o furor da força bruta, E o passo quando muito se reluta E tenta novo rumo em contrabando. O peso de viver vergando quem Tentara prosseguir e nada tem Senão as velhas marcas do passado; Errático delírio toma a cena E quando a realidade se faz plena O mundo se transforma; destroçado.
032
Pois foi o meu desejo o caminhar Por entre as tantas dores e temendo O dia após a queda neste horrendo Desenho aonde nada a se encontrar Somente me arremeto ao torpe mar E tento novo dia me prendendo Nos elos mais cruéis e concedendo Caminho sem ter nada em seu lugar; Acerto os meus ponteiros com a morte E sei deste delírio que comporte O passo muito além do quanto pude, Assino o derradeiro e vão contrato Enquanto com certeza ora constato Ausência do que tento e sigo rude.
033
As setas mais suaves de um amor Arrancam sem perguntas, consciência E quando deste fato com ciência A vida não permite mais a flor, E esboço sem saída e sem rancor O quanto do meu canto em afluência Gerando dentro em mim a imprevidência Matando pouco a pouco e vão rancor. Estraçalhando esta alma mais atroz Do quanto poderia haver em foz Meu estuário agora sinto exausto, E o resto que inda possa perceber Tragando a cada instante todo o ser, Prevendo como alento este holocausto.
034
O peito se ferindo enquanto luto E vejo o meu retrato vez em quando Num outro desenhar se desdenhando E bebo cada passo, atroz e bruto, Vestindo esta ilusão até reluto E sei do meu delírio me tornando Ausente do real, um mero infando Ousando num caminho, nada escuto. Ressaltos são comuns e disto eu sei, Assim ao perceber nefasta grei O pranto derramado não condiz Com quem um dia fora mais leal E agora num instante terminal, Percebe ser ainda um aprendiz.
035
Ferindo o velho peito deste a quem A vida trouxe em cãs realidades, E quando noutra face tu me invades Olhando para o espelho, nada vem, Somente este desenho em tal desdém Marcando com furor as ansiedades A vida não teria as qualidades E sigo da esperança muito aquém. Fartando-me do sonho aonde eu possa Traçar qualquer momento a vida endossa Engodo costumeiro de quem tenta Sentir a placidez de um novo dia, Mas bebe tão somente esta heresia Gerada pela tez vaga e sangrenta.
036
Quem ama e não consegue se livrar Do sonho em desventura e mesmo assim Procura algum instante e sabe o fim, Depois de tanto tempo em vão lutar, Aonde se bebesse este luar E nele se trouxesse o carmesim Dos lábios que sonhei e sei enfim Jamais eu poderia imaginar. Resulto deste enorme e vago solo, E quando na ilusão tola me assolo, Escassas noites trazem sonhos, pois O mundo sem sentido nada dita Senão a própria dor e se acredita Na salvadora senda do depois.
037
Tivesse em minhas mãos este poder E dele desenhar um novo fato Aonde com certeza já resgato O tanto que aprendera a conhecer Assim a própria sorte toma o ser E neste caminhar tanto desato Enquanto noutro escasso eu me retrato Um fruto pouco a pouco, apodrecer. Esgoto qualquer chance de mudança E o tempo sem descanso logo avança E marca com as garras mais audazes Adentra e não concebe qualquer luz E quando na verdade ainda opus Meu passo, com terrores nada fazes.
038
Aonde triunfara a sorte imensa De quem se procurou e não soubera A cada novo instante esta quimera Vibrando com provável recompensa E quando a solidão já me convença Do duro caminhar em longa espera A sorte se transforma e não pudera Vencer qualquer temor ou desavença. Respiro quando tento uma saída A vida noutra face sendo urdida Presume qualquer fim e nisto sigo Vagando sem destino e sem proveito A queda se aproxima e se eu a aceito Ao menos no final, um ledo abrigo.
039
Da sua ingratidão já nada levo Senão a mesma face desdenhosa De quem se mostra irônica e já goza De um tempo mais atroz, duro e longevo. O passo quando muito ainda cevo Guardando dentro em mim esta penosa Loucura muitas vezes caprichosa E tanto quanto posso ainda atrevo. Quisera desvendar alguma luz E nela o meu caminho reproduz A mesma falsa e lúdica expressão, Sonego este destino quando tento Vencer em calmaria o forte vento, Bebendo as tempestades que virão.
040
O quanto inda forjei de uma ilusão Tentando acreditar ainda em vida, A morte tantas vezes presumida Transforma a cada passo a direção, E bebo deste imenso e intenso não A messe noutra face resumida A parte que me cabe destruída E o risco se apresenta desde então, Nefasta face afasto dos meus dias E quando mais procuro calmos ritos, Os dias se transformam em malditos Diversos dos que tanto em paz querias.
041
Jamais procuraria alguma fonte Aonde se pudesse novamente Voltar ao que passei; tanto inclemente Delírio e nele o nada já se aponte, O quanto desdenhosa a velha ponte E todo este temor que esta alma sente Jogado pelos cantos, na aparente Loucura e nela ausente um horizonte, Aprendo com a queda e nada além Do mesmo caminhar e nele vem O tempo desairoso em mocidade, Prefiro o agrisalhar dos meus cabelos, Ainda que isto molde os pesadelos E este terror intenso que me invade.
042
O fim da minha pena se aproxima E o manto em luto feito se desnuda, A sorte tantas vezes tão miúda Medonha e caricata toma o clima, E nada que em verdade me redima, Tampouco necessito desta ajuda, A morte me conforte e já me acuda E nela com certeza uma obra-prima. Deixando para trás sequer um rastro Há tanto navegando sem o lastro As âncoras perdidas, o astrolábio Já tanto se tornara quase inútil. Perfaço o descaminho e, mesmo fútil Da estúpida quimera sinto o lábio.
043
Na mesma proporção que a vida dita A sorte desairosa e mais cruel, Eu bebo em tua boca o farto fel Além do que minha alma necessita, Aonde se tentara e não palpita Senão a própria vida em seu papel, Adentro com temor, ledo tropel Aonde se presume uma desdita. Acenos tão diversos; rude passo E nele cada dia eu me desfaço Errático e medonho ser vazio, O quanto poderia acreditar E ter em minhas mãos mesmo o luar, Condeno-me ao terror e ao desvario.
044
Enquanto crescem loucos os prazeres A manta se desnuda em tez sombria O quanto do meu canto poderia E nele tantas vezes teus quereres, Mas quando me percebe e sinto teres Nos olhos expressão de uma agonia, A face se espelhando, mais vazia Explode no vazio de tais seres. Repare cada estrela e veja bem Apenas o passado me contém E dele não me livro, leva à morte. O quanto inda pudera ser feliz, E o nada na verdade contradiz, Negando qualquer sonho que o suporte.
045
A minha aflição reinando sobre o fato E tanto quis apenas um caminho, Mas quando me percebo mais sozinho, Apenas a mortalha enfim constato, E bebo do vazio onde resgato O quanto imaginara ser um ninho, Meu passo para o nada, tão mesquinho, O risco de sonhar, ledo retrato, E tento acreditar na fantasia E nisto se percebe o que podia Talvez me redimir, mas me sonegas, E sigo desairoso sem destino, Vagando pelo céu e determino O passo sem caminho sempre às cegas.
046
O mesmo amor que tanto em paz quisera Agora não se mostra em evidência A vida se transforma; imprevidência Gerando a cada passo a dura espera, O meu delírio apressa o salto e a fera Não tendo nem sequer qualquer clemência Bebendo com terrível virulência A sorte de quem tanto degenera. O medo é meu parceiro e até me criva Permite que deveras sobreviva Às tantas intempéries do viver, Pudesse acreditar, ah se eu pudesse, Mas como se é tardia esta benesse Matando em galhardia o meu querer.
047
Enchendo de prazer e de alegria O sonho mais audaz que tanto quis O risco de viver, a cicatriz O tempo na verdade não adia A morte consonante com sangria O olhar deste fantoche, um aprendiz, O quanto da esperança contradiz E a sorte com certeza eu não veria. Viceja dentro em mim algo diverso E quando para o nada ainda verso Complexos os meus danos, meus engodos, Presumo tão somente esta mortalha Aonde a ventania ora se espalha Trazendo para mim os mangues, lodos.
048
Cobrindo de profunda e imensa chaga Já nada mais comporta quem delira, A vida se expressando em tal mentira O tempo na verdade dita a adaga, E o quanto do caminho já se traga E nele cada passo que interfira Gerando outro demônio, ora retira O passo de seu rumo, e em dor alaga. O medo de sonhar é costumeiro Assim como aridez no meu canteiro As urzes e o meu canto mais atroz, Urdindo dentro em mim uma esperança A vida na verdade ao nada lança Calando desde sempre a minha voz.
049
Atroz melancolia toma o sonho De quem se fez ausente da esperança E quando o coração ao nada lança O mundo na incerteza o decomponho, E o risco se tornando mais medonho, No olhar de quem desejo, fúria e lança Apenas percebendo tal mudança As rotas mais atrozes eu enfronho. Acordo solitário e sendo assim O dia persistindo até o fim Sem nada que se possa acreditar, Somente a mesma espúria realidade E nela este terror agora invade Não deixa quem anseia, caminhar.
050
Unindo e procurando então ficar Após as variantes desta vida, Ao ver nos teus olhares a saída Encontro dentro em mim algum lugar, O amor quando se vendo em patamar Transforma a sorte outrora mal urdida E vejo nova história construída Nas tramas delicadas de um sonhar. Mas tudo com certeza é sempre em vão Ouvindo novamente este senão Sedento caminheiro do vazio, Aprendo com ternura e já me adono Do mundo que inda vira em abandono E o sonho, se inda existe, o desafio.
051
O meu peito violeiro Não se esquece de quem tanto Desejara e por enquanto Mostra o risco verdadeiro De quem tanto diz canteiro E cevando o desencanto Gera aquém a dor e o pranto, Meu caminho derradeiro Infortúnios desta lida Onde a face destruída Da verdade se deforma, Caminhante do vazio Vou vivendo em pleno estio, Coração; vive em reforma.
052
Aprendendo ou mais tentando Vou seguindo sem descanso E se tento e não alcanço O caminho desde quando Outro tanto destroçando Onde quis qualquer remanso Na verdade já me canso, Mas prossigo e vou lutando. Entre dores e sorrisos Os momentos indecisos A saudade dita a regra, Mas aos poucos eu sei bem O que resta, e pouco tem, Com o tempo desintegra.
053
Ao sentir o vento em mim Na verdade, um vendaval Antes fosse tão igual Ao delírio que sem fim Escumando eu sinto enfim Um medonho e irracional Desenhar em tom venal O mergulho de onde vim, Esgarçando em verso a voz De quem tanto foi atroz E hoje morre sem sentido, Meus demônios apascento, Mas o mundo virulento Não permite um só gemido.
054
Ecológica vereda Onde entranho o pensamento E se tanto ainda tento Sem ter nada que conceda O meu mundo quis em seda, Mas em pleno alheamento Novo passo ainda invento Onde a sorte não proceda Resumindo o caso em si O que tenho e já perdi Traduzisse bem diverso Caminhar por entre pedras E se tanto agora medras O meu passo ainda verso.
055
Lua nova condizente Com o sonho que renovo, E se tanto ainda aprovo Meu delírio se apresente Onde quer nada consente O desejo quando o provo Quando agora me renovo Ou me mostro indiferente, Caminhar enquanto pude Sendo sempre tolo e rude, Ilusões acumulando, A mortalha se resume No meu passo rumo ao cume, Avalanche me tomando.
056
Acredito ser talvez O que tanto quis um dia, Mas a dor, leda agonia Noutra face contrafez O caminho aonde vês E reinando uma utopia O meu passo se esvazia Numa tola insensatez, Resultado disto tudo, O delírio onde transmudo O fascínio me amortalha Mansamente ainda tento Mesmo quando contra o vento Já perdida esta batalha.
057
Quando caprichosamente A verdade se fez farta O caminho já se aparta Do que busco, um indigente Noutro passo se apresente A saudade me descarta E se tanto se reparta O que enfim a gente sente, No final seguindo só Dos meus dias, nem o pó Após quedas costumeiras, Entre os dias mais cruéis Vejo além em carrosséis Destruídas, tais bandeiras.
058
Acredito embora seja O meu canto mais audaz No vazio que se faz Quando esta alma é malfazeja E se tanto se verdeja Quem procura pela paz, O meu canto morre atrás Do caminho que deseja. Nada tenho nem pudera Extraindo em mim a fera O que sobra? Indiferença; Na verdade sendo assim, O meu canto chega ao fim, Sem sequer quem o convença.
059
Apresento estas desculpas E no fundo que se dane Sentimento vive em pane Mesmo quando ainda esculpas Noutras faces tantas culpas E refaça o que profane O meu canto não ufane Até quando tu me culpas, Sem escusas nem recuos Percebendo velhos duos Outros tantos; pude então, Na verdade o que interessa E se tenho tanta pressa Meus caminhos não virão.
060
Aproveito então a dica E não deixo sem respostas Quando as sortes são expostas E ninguém ainda explica O meu passo contra-indica E se gostas ou não gostas Vou perdendo tais apostas, A minha alma se complica, No final já tanto faz Sigo sempre o tempo atrás Do que o tempo poderia, Mas gastando o meu latim, Se inda resto dentro em mim, Eu sou mera fantasia.
061
Fui concebido para tão somente Acreditar nos ermos de minha alma Verdade que gerando dor e trauma Também das alegrias a semente, No quanto a minha vida se apresente E nela qualquer fúria não se acalma, O risco de sonhar adentra a palma E o tempo se mostrara impertinente, Recebo em discordância a voz de quem Há tanto desejara e nunca vem, Aquém do que pudesse em tal ventura, Meus dias entre tantas tempestades E quando com terror também degrades A sorte noutro instante se procura.
062
Tentando olhar, sentir alguma luz Aonde se pudesse desvendar Beleza sem igual, raro luar E nele novo fato reproduz O quanto me entranhara em leda cruz, Ousando na esperança algum altar Depois de tanto tempo procurar, Apenas a verdade me conduz, Não quero nem saber de qualquer farsa No quanto este cenário em vão disfarça Dispersa qualquer messe que viria, E tendo às minhas mãos a claridade Somente este tormento agora invade, A vida sem defesa atroz e fria.
063
Entranho no deserto sentimento E nele qualquer fonte poderia Trazer alguma luz, mesmo alegria Quem sabe no final, qualquer alento, E quando novo rumo em mim fomento Bebendo a me fartar desta sangria No corte a mais dorida hemorragia No olhar apenas medo e sofrimento, Resplandecente sonho já não vira E o medo se aproxima da mentira Sedento navegante em tom sombrio, O quanto resta em mim de um tempo aonde O mundo na verdade não responde E a sorte tão somente já se adia.
064
A vida em cada rude caminhar Expressa a solidão e nela eu vejo Reflexos desdenhosos do desejo E enfrento sem saber o imenso mar, Quem dera nos teus braços naufragar Seria um fim suave e benfazejo, Mas quando mais distante deste ensejo Só resta esta ironia a me tomar, Esgoto cm meus versos o que pude E vendo a tua face em atitude Voraz já não concebo outra saída, E a morte se aproxima sorrateira, Ainda que deveras não a queira Domina e toma toda a tênue vida.
065
Eu procuro através da noite insana Um porto aonde possa estar seguro, E quanto mais distante em vão perduro, A vida noutra face já se dana. Mergulho nesta luta vã, profana E tento novo dia, mas eu juro O fim se aproximando, em tom escuro, O risco de viver já não me traz Sequer algum momento em plena paz, Mortalhas tão diversas; minha herança E tento, mesmo inválido cometa Aonde cada passo se prometa E a vida sem sentido ao fim se lança.
066
Consolo entre os afetos; poderia Trazer ao meu olhar quer ou não queira Além da mera face onde a poeira Espreita e me domina dia a dia, Alheio ao quanto pude em fantasia A morte se aproxima, mais ligeira E o salto leva à fria corredeira Na tez tão desolada quão sombria Esparso caminhante do vazio, O quanto a cada risco desafio Gerando dentro em mim tal tempestade, Neste enlutado passo rumo ao fim, O mundo se transforma e sei que assim Apenas o terror, temor, me invade.
067
Os olhos que se fecham quando há dor Não merecendo ao fim um horizonte, O quanto do meu mundo desaponte E mostre esta inconstância em frio albor, Pudesse adivinhar com tal pudor O riso mesmo até traçando a fonte E nela todo o canto que desponte Tramando um novo dia em bel favor, Ao enfrentar a fúria da tempesta O pouco do meu sonho que inda resta Não deixa qualquer marca no futuro, E assim ao me entranhar na solidão, Bebendo esta terrível emulsão A cada novo gole, eu me amarguro.
068
Quedando quase inútil quando posso Vencer os meus fantasmas com o sonho, E quando a vida além eu recomponho Tentando restaurar mero destroço, O todo noutra face não endosso E vejo o meu olhar tosco e medonho E quantas vezes pude e até me oponho Ao quanto imaginara ser só nosso O dia mais feliz que nunca veio, A sorte sem ter base nem esteio Derruba qualquer messe desde quando, Neste infernal caminho me percebo E ali sem fantasias eu me embebo Do tétrico delírio desabando.
069
Talvez dentro do ser possa sentir Alívios entre dores tão nefastas E quando dos meus dias tu te afastas Permites qualquer sonho no porvir, O mundo sem saber mais discernir As horas entre tantas, loucas, gastas E gestações dispersas quando emplastas Trazendo a quem sonhara um presumir, Ao denegrir errôneo caminhante, O quanto se apresenta e me garante Expondo o que inda resta em verso e luz, Espalho a minha voz aos quatro ventos, Tentando dirimir os sofrimentos Que a própria desventura reproduz.
070
Jamais algum soluço aonde um dia Pudesse acreditar em nova face De um mundo tão cruel por onde passe Além da mera dor e hipocrisia, O tempo com certeza não seria O mesmo quando a vida em tal impasse Ao transcorrer dolosa ainda grasse Marcando com terror esta ironia, O manto se desnuda e mostra quem Talvez ainda um dia venha e trague Um mar onde esperança enfim deságüe Depois da tempestade que inda vem, Assim ao merecer pleno castigo, O verso se desanda e em vão prossigo.
071
Caminhos tão diversos quando os vejo E tento alguma chance pelo menos, De dias mais suaves e serenos E nada se aproxima deste ensejo, O quanto do meu mundo não se dera Senão em tanto medo, em agonia, Presumo com ternura o que viria E neste desenhar, mato a quimera, Aonde o coração teimando esconde No fundo a vida passa mais confusa, O olhar inebriante da Medusa E o mundo sem saber sequer nem onde, Apresentando o fim a cada perca, O mundo se transforma em fria cerca.
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Diversos roseirais aonde um dia Tentara tão somente algum momento E quando a voz se torna em sacramento Maior do que decerto eu poderia O marco se transforma e a poesia Morrendo sem saber de algum alento Um verso mais tranqüilo eu teimo e tento; Mas tudo quanto enfrento é sofrimento, Repare no vazio deste fosso E vendo o meu caminho em mero esboço Restauro com terror o que pudesse, E sei que no final não restará Sequer onde meu passo tocará Deixando no passado uma benesse.
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As folhas outonais caindo ao chão, Expressam a mais dura realidade E a cada novo dia mais degrade O mundo que julgara e sei que não. Apenas outros tantos me trarão O corte aonde o mundo ainda invade E morto sem saber felicidade, O corpo se apresenta em podridão, Uma alma tresloucada investe em medo E tanto quanto pude não concedo Sequer um novo alento a quem porfia, Inverno se aproxima rigoroso, Meu mundo na verdade este andrajoso Delírio se perdendo a cada dia.
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Amigos? Leda voz que não se escuta E a vida não promete solução Meu passo segue alheio e sempre em vão, Quem sabe possa até nesta cicuta O privilégio em morte aonde a bruta Realidade nega a provisão, Meus dias se perdendo desde então, Caminho e já não quero mais a luta, Escombros de outros tempos, gládio farto Do quanto fora outrora enfim me aparto E bebo este veneno em grandes goles, E quando me percebes desolado, Apenas ironia segue ao lado, Também ao ver-me assim, logo me engoles.
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Por tantas vezes tento outra saída E nada mais do todo que pensara Apenas o vazio na seara E o olhar se entregue à rude despedida, Arcando com o corte, outra ferida, O manto se puindo me escancara A face tão escusa e se declara A morte mesmo quando em tênue vida. Resgato os meus cantares derradeiros E bebo virulentos e certeiros Caminhos entre pedras, farto espinho. Depois de ter no olhar esta certeza, Do quanto mais queria, mera presa, Persisto e sei que eu sou tolo e daninho.
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Nas aflições diversas, tanta vez Olhando para antanho percebi O olhar que na verdade estava aqui E nele o quanto agora tu já vês, O manto da esperança se desfez E dele cada corte eu conheci, Vagando sem destino rumo a ti, E o passo se perdendo, insensatez, Apenas a mortalha inda me resta, A mão que na verdade ao mal se empresta Esgarça com firmeza o quanto deve, E sei desta agonia doravante, E nela cada passo se adiante, Mas sei também que a morte virá breve.
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O quanto não salvaste quem tentara Seguir um novo rumo mais tranqüilo E quando entre as mortalhas eu desfilo, A sorte se desnuda mais amara, O corte a cada passo aprofundara A morte me permite e assim destilo O forte caminheiro, num vacilo Penetra este vazio e nada ampara. O marco desdenhoso diz do quando O mundo noutro tanto deformando Gerando esta medonha dor em mim, O todo se aproxima do tão pouco Um velho quase esquálido eu treslouco E bebo a sordidez do amargo fim.
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Vingará no futuro a queda aonde O tempo não mais deixa quem quisesse E mesmo quando o sonho se obedece A sorte noutro rumo já se esconde, O amor quando ao terror se corresponde Impede qualquer força, nega a prece E a queda insofismável vem e tece Tampouco alguma voz, mansa responde, E sinto este outonal caminho em fúria, Bebendo sem saber a forte incúria E nela se encerrando a minha história Minando cada passo rumo ao quanto Apenas o final que inda garanto Traçando a face escusa desta escória.
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A dura empresa faz com que se tente Vencer o descaminho costumeiro E sei o quanto posso em derradeiro Delírio aonde o mundo se apresente, Ainda que pudesse incontinente Cerzir com mais denodo o verdadeiro Cenário e se deveras eu me inteiro No canto se mostrando impertinente. E resolutamente nada tenho Somente o medo atroz, duro e ferrenho, Num átimo o viver se torna rude E assim o meu caminho em dor e treva Apenas ao vazio o canto leva, E a sombra da ilusão tanto me ilude.
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Quero agradar a quem também me queira, Mas nada se permite além do sonho, O meu olhar atroz, quase bisonho Encontra a solidão tão corriqueira E quando entre as entranhas já se esgueira E neste caminhar eu não me oponho, Sedento navegante eu te proponho Erguendo da esperança esta bandeira. O marco mais audaz de minha vida, Expressa a cada passo a dividida História entre totais dicotomias, E cevo com terror o quanto pude E mesmo a solidão ainda ilude Quem tenta quanto mais tu desafias.
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O sonho se é real tanto me alenta E gera novo sonho mais suave E quando a própria vida ora se agrave Gestando dentro em si leda tormenta, Sonhar tão meramente me apascenta E impede que este passo a vida entrave E o quanto em liberdade como uma ave A vida se mostrasse em paz, sedenta. Restando a quem deseja um pouco mais Que os dias consonantes e banais Alçando a libertária fantasia, E o tanto que se possa ou se mereça A sorte dominando esta cabeça Um novo amanhecer em luzes cria.
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E eu vivo deste raro provimento E nele saciando qualquer medo, Ainda quando além teimo e concedo O todo dentro em mim eu alimento, Exposto o coração ganhando o vento Na face mais feliz, sem ter segredo Desenho o meu porvir em claro enredo E tomo com ternura o sentimento, Invisto enquanto insisto na verdade E marco com brandura o quanto agrade A quem se faz comparsa e companheira, Numa avidez sobeja me alegrando, Embora se perceba desde quando A vida noutra vida não se inteira.
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Apronta-se o cenário e vendo a peça Olhando das coxias, o que tento Seguir sem ter sequer alheamento Nem mesmo outro caminho que isto impeça A vida noutra vida recomeça E o beijo se traçando solto ao vento Permite que se tenha num momento O rumo aonde a glória se obedeça O tempo não discute, apenas passa, E o quanto da esperança é vã fumaça Embota o meu olhar, sem horizonte Não tendo mais a sorte que procuro, O dia na verdade é tão escuro, E nele nem a vida em paz se apronte.
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O tempo em discordância gera infausto E nele cada engodo prolifera E sinto bem mais viva esta quimera, E o corpo não tem forças, segue exausto, O amor não mais seria um holocausto Tampouco qualquer curva dita a espera E quando no final se destempera O sonho, mero sonho, vira um fausto. Rescaldos de momentos mais ferozes, E deles ouço ainda as várias vozes Nesta confusa e sórdida loucura, O medo de seguir regendo o passo, E assim quando do nada um nada faço Simples presença amarga me tortura.
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No seu lugar vazio, na platéia, O ritmo alucinante desta vida Produz outro cenário e na partida O olhar se torna apenas vaga idéia, O quanto de minha alma fora atéia E o tempo se transforma e sem saída A morte a cada passo sendo urdida, Como se fosse assim, a panacéia. Reparo os meus enganos e no fundo, O coração em mágoas eu inundo Deságuo neste tétrico caminho, E sórdido fantoche, meramente A sorte na verdade não desmente E sigo sempre alheio e mais sozinho.
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Ansioso pela festa que não vem, O coração esboça algum sorriso E quanta fantasia foi preciso No fundo me percebo sem ninguém, A morte precedendo com desdém O quanto se procura em Paraíso, E sei do meu caminho e o prejuízo Que a própria persistência tanto tem, Negar algum momento em alegria É mesmo que matar a fantasia Deixando apodrecida a velha imagem De quem se fez audaz, e agora em nada, Presume a farsa logo demonstrada Tentando converter em nova aragem.
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Repimpa-se a alegria quando vê O olhar tanto feliz quando sobejo, Porém noutro sentido nada vejo Na vida sem saber sequer por que, O tanto que pudera e nada crê Sequer na fantasia em um lampejo, O mar que tanto quis em azulejo Nem mesmo ardente praia o amor revê. Escuto a voz em tons diversos quando O mundo noutro instante desabando Formando esta figura caricata Amante sem destino, meu passado Expondo o ser deveras maltratado Que ainda sem paragem, desacata.
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Arqueio as sobrancelhas quando vejo O olhar de quem buscara e nunca veio Meu canto se presume e neste alheio Delírio morre aquém de um mero ensejo, E quando noutra face já dardejo E busco cada estrela que rodeio, O manto em temido devaneio O corte se aprofunda em tons de pejo. Escombro de um escombro um mero pária A sorte tantas vezes necessária Resume em verso e dor o quanto trago, E sei que na verdade eu já me esfumo, E quando procurara enfim o prumo, Apenas vislumbrando um mero estrago.
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Tendenciosamente a vida traz Momentos discordantes e por isto, A cada nova queda não insisto E sigo o meu caminho vão, mordaz, O amor quando demais, ausente a paz, O corte se aproxima e quando visto Revela o mais dorido, mas persisto E tento outra vertente e sou capaz, Marcando em virulência cada verso, Assim vagando à toa no universo Criado pelo sonho em fantasias, E nesta dor que trago dentro em mim, A vida se aproxima já do fim, E nada do que levo me darias.
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Embasbacado vejo a minha face Especular reflexo da alma fria E neste pouco espaço colheria O quanto do vazio me desgrace, A sorte noutro rumo ainda grasse E gere tão somente a hipocrisia, Aonde quis um dia a poesia E nada mais se mostre, mero impasse, Resulto desta frágil noite em vão E sei dos meus tormentos e virão Apenas as manhãs em tais neblinas, Vitrais já se embaçando dentro em mim, Fechadas persianas ditam fim E neste delirar, tudo exterminas.
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Quisesse como fosse a luz do dia O amor que tantas vezes sonegaste Perdendo do viver a frágil haste O manto se desnuda em tez sombria, O quanto deste sonho eu poderia Enquanto num momento me alentaste. Mas quando a solidão, cruel contraste Transforma o meu caminho e me agonia, Amena noite suave e constelar Jamais eu poderia imaginar Se apenas o vazio ainda ronda, Quem tenta acreditar e nada vendo O mundo se transcorre e mais horrendo, O mar já me sonega qualquer onda.
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Invoco então teu nome, mas sequer Um som ainda ouvindo diz do quando O amor em nova face se mostrando Talvez ainda trague o que se quer, O rústico delírio diz qualquer E nega outro caminho o deformando, O beijo tão nefasto me arranhando Ausente dos meus braços a mulher Que tanto desejei e nunca veio, Seguindo sem destino, em devaneio, Apenas mergulhando neste mórbido Delírio aonde um dia se fez sórdido E quando se aproxima o fim da vida, Não resta dentro em mim uma guarida.
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O céu em sombras tantas nada traz Senão a velha face em tal desvelo, E bebo a cada sonho o pesadelo, E um risco se mostrara mais tenaz, Além do quanto quis; ausente paz, Momento de alegria? Jamais vê-lo E o canto se perdendo sem contê-lo, Na frágil fantasia, o som mordaz, O suicídio é sim, o meu remédio, E quando o fim tocando em doce assédio A força geratriz deste infinito Após leda mortalha, o que me resta Abrindo deste espaço a mera fresta É tudo o que deveras necessito.
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Minha alma se exaltando tanto chama Quem foi e jamais volta. Desalento. E quando alguma sorte; ainda tento O velho caminhar reflete o drama, A morte com certeza, nobre dama, Expondo quem vivera em vão relento Ao mais suave encanto; alheamento De tudo o que deveras inda clama; Restando muito pouco sei que nisto Existe esta esperança e agora avisto A face mais atroz em luto e treva, O medo de seguir? Não mais contendo, O manto da alegria, mero remendo, Em solidão minha alma apenas neva.
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O tempo me levando para além Dos sonhos onde pude; incerto dia Acreditar no quanto não viria, Sabendo que o vazio me contém, Restando muito pouco para alguém Que tantas vezes sorte merecia, Mas sabe desta dura hipocrisia E nela se adentrando sem desdém, Refém do passo enquanto nada tenho, Somente da ilusão mero desenho E vasto o meu temor, porquanto existe Ainda algum resquício de esperança Aonde o derradeiro verso lança O coração embalde amargo e triste.
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Tu foste para mim a estrela guia, E agora em tantas nuvens te perdi, Procuro e sei que nada existe aqui Somente a noite em trevas, dura e fria, Pudesse ainda crer nesta ardentia Que um dia infelizmente eu conheci, E quando em desvario eu percebi O quanto na verdade não valia, Mesquinho caminhante no abandono, Da morte a cada dia mais me adono E sei que no final, tal sortilégio A sombra de quem vive, para mim, Traçando o meu destino em manso fim, Será somente enfim, um privilégio.
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Tu eras na verdade a poesia Que um dia acreditei ser mais plausível, Mas quando o som do amor se fez terrível O tempo novamente não traria Sequer a mais temida melodia, E o vento num terror quase invencível Gerara dentro em mim a dor incrível Marcando com a fúria, esta agonia. Apresentando agora o quanto pude Viver embora saiba ser tão rude O mundo que me assiste em ledo fim, Ascendo ao mais sofrível pesadelo, E tanto regozijo por contê-lo, Resquício de uma vida ainda, em mim.
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Jamais pude igualar meu canto ao teu E sei do quanto fora quase insano O verso aonde eu sinto que me dano, E o mundo no vazio se perdeu, Apenas este risco, agora meu Traduz a imensidão de um louco plano, E o verso mais atroz, mesmo mundano, No quanto de meu mundo pereceu, Amargo esta saudade; mas sei bem Que nada na verdade ainda tem Quem ama e se entregando sabe disto. E quanto mais reluto; mais me entrego Apenas maltratando e em passo cego, Durante a tempestade, não desisto.
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O teu contentamento me atordoa, E sinto em teu sorriso esta ironia Gerando dentro em mim o que agonia Minha alma segue alheia e quase à toa, Meu canto sem respostas inda ecoa, E bebe da terrível fantasia Sabendo que deveras poderia Morrer; felicidade onde se escoa O mar que na verdade desconheço, E a cada caminhada outro tropeço, Resvalo no vazio de meu ser Ascendo ao mais dorido dentro em mim, E bebo cada gota até o fim E sei que no final; melhor morrer...
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Pudesse me envolver neste momento Nos laços bem mais firmes deste anseio E quando a tempestade; em mim rodeio Persisto o caminhar em desalento E solto a minha voz imerso em vento Traçando com terror o quanto alheio Ao mundo sem defesa e sem esteio Ainda algum sorriso, mero, eu tento. Prenunciando a queda no horizonte De quem se transformara e já desponte Tal como uma temida tempestade, A furiosa noite me tocando, O vento incontrolável desde quando A sorte noutra face se degrade.
MARCOS LOURES
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