
SONETOS FEITOS EM 29/07/2010
Data 29/07/2010 06:43:55 | Tópico: Sonetos
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A minha poesia me sustenta No que mais de importância existe em vida No sonho, na beleza construída Apascentando mesmo em violenta Esfera aonde o dia se apresenta, Embora muitas vezes mais sofrida, Ao ver esta palavra consumida Na entranha de minha alma virulenta, Eu sinto a liberdade em minhas mãos Cevando até nos vastos, duros chãos Nubente da ilusão neste himeneu Meu canto em versos feito me liberta E tendo esta certeza, a porta aberta Resgata o quanto em vida se perdeu.
002
Do que mais necessito pra viver O sonho se traduz em base e rumo, Ao mesmo tempo quando eu me consumo, Da dor e da loucura, algum prazer, Tecendo com palavras o meu ser Por vezes numa praia em vão me escumo, Mas logo reanimo e tomo o prumo, No mar que se dá mesmo a conhecer, Seara tão fantástica e superna, Enquanto a poesia for eterna Também o sonho existe e nada o cala, De tantas fantasias, os meus versos Porquanto até nos cantos mais dispersos Permitem com ternura dor e gala.
003
Quando busco dessa água, alma se entrega E ri como se fosse algum infante, O quanto da palavra é radiante Durante a caminhada, mesmo cega, O rumo aonde o sonho ora navega Mudando a cada frase, num instante, O pouco que a verdade me garante Enquanto a fantasia além trafega, Ousar e criar asas, no infinito, E assim até no nada eu acredito Tentando recriar o já criado, Lacaio da ilusão, nada acorrenta A vida de quem foge da tormenta E singra no futuro o seu passado.
004
Sacia sua sede inesgotável Quem ousa imaginar novo cenário, Além do costumeiro itinerário Um passo no infinito, no intocável, O canto se mostrando mais arável E nele o meu delírio, este corsário Saqueia um inimigo imaginário E passa noutro instante a ser amável, Expresso com palavras o que eu sinto E minto ao proteger o semi extinto Desejo de uma nova vida em mim, E quando a liberdade toma a cena, A vida se envenena, mas serena Acende imponderável estopim.
005
Na fonte maviosa e cristalina Que a vida muitas vezes se encarrega De ter ou não fazer a farta entrega No quanto se permite e determina, Uma alma quase mesmo feminina, Tangenciando a dor onde carrega A sorte desdenhosa e quase cega, Mas assim dolorida se ilumina. Arcar com meus desejos mais atrozes Ouvir destas entranhas firmes vozes Cercando com palavras dia a dia, Usando da cadência destes versos Ousando em momentos mais diversos Cevando a cada instante a poesia.
006
Que só na poesia surge agora A solução aonde procurada E tantas vezes dita o mesmo nada No qual a fonte seca e o vão devora O quanto do não ser já me apavora, Regendo com firmeza a leda estrada, O dia se transforma em alvorada A noite em lua clara se decora, Mas quando apresentando nas brumosas Manhãs as horas turvas, também gozas Diversidade traz a cada passo, E assim (asas abertas) sigo em frente E o canto me permite que eu freqüente Além do mero e escasso, vago espaço.
007
Quanto mais vou faminto, mais preciso, E tento a cada instante outro caminho, Porquanto em mais nenhum ali me aninho A vida se acumula em prejuízo, Mas sei do passo além e se conciso Enfrenta com a paz o mar daninho, E sente na pureza de um espinho O quanto na defesa me matizo. Acrescentar ao sonho esta crisálida Porquanto a sorte às vezes quase esquálida Inválida semente? Nunca. O sonho É mais do que eu anseio e se vislumbra, Luzeiro sem igual toma a penumbra, E um novo e radiante sol; componho.
008
Desse maravilhoso, bel repasto, Ousando a cada fato ou mesmo crença Não tendo quem deveras me convença Do mundo mais alheio ou mesmo gasto, O quanto da verdade eu já me afasto E tento imaginar seara imensa E nela cada passo em recompensa Por vezes mais profano e noutras casto Escandalizo ou mesmo sou banal No verso o meu destino desigual Pintando em multicores a minha alma, Espelho d’água toma cada verso E nele o meu reflexo segue imerso E a fúria provocada ora me acalma.
009
É pão, e deste tanto como e até Procuro novamente aonde eu possa Ousar além da queda e mera fossa Tentando caminhar desnudo a fé, E quando me aproximo sigo a pé Esparso caminheiro já se apossa Da plena solidão quando me endossa Tal qual da cordilheira o seu sopé. Esplêndido cenário se observando Num mundo desabando desde quando O sonho não sacia quem se dá E sinto o meu caminho desde já Noutro cenário às vezes mais cruel, Gerando e percorrendo o imenso véu.
010
Afastando o temor procuro um canto Aonde descansar após o gládio E sei da pequenez de cada estádio Gerado pela dor e desencanto. O sonho na medida enquanto invade-o Produz o que deveras não garanto E quando se anuncia a dor e o pranto É como se inda ouvisse o velho rádio, E dele discernisse voz confusa Enquanto o dia a dia se entrecruza E nega o quanto o julgo paralelo, E assim ao me mostrar inteiramente Assusto, mas também já se pressente Além do que deveras te revelo.
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De sentir, madrugada afora a luz Que emanas quando em sonhos mais audazes E assim ao perceber quanto me trazes Imagem noutra imagem reproduz, A velha ansiedade em contraluz Os passos mais felizes, belas frases, E o risco de viver entre os mordazes Delírios quando a sorte dita a cruz. Renasço nos teus braços e me vejo Além de meramente algum desejo Um prisioneiro em pleno paraíso, E assim das tantas fontes e holofotes Aonde com ternura tu denotes No mesmo claro instante eu me matizo.
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Poesia-banquete há tantos anos Vencendo os preconceitos mais banais Gerando estes momentos triunfais E mesmo quando puem fartos panos, Os dias sobrepujam aos vis danos E seguem mesmo após os vendavais Já tanto preparam funerais E a poesia em ares soberanos. Uma iguaria rara e se presume Além da magnitude de algum cume, Fazendo da palavra o seu cinzel, Poeta ousa mesmo em tecer telas E nelas os delírios que revelas Transcendem ao superno e etéreo céu.
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Ar que respiro, base para a vida, O sonho não se cala e nem consente Ainda que deveras já se tente Realidade nele vê saída, E quando a face escusa é sempre urdida E o passo se tornara inconseqüente No vasto deste campo a vida sente E bebe sem pensar em despedida, Atravessar fronteiras, tempo/espaço E assim o novo em mim decerto eu traço Lavrando com cuidado, este campônio Audaz e ao mesmo tempo frágil, pois Tentando adivinhar o que há depois Matando a cada verso outro demônio.
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Sem ela; a poesia, eu me sufoco E tento imaginar a solução Seguindo meu caminho desde então Ousando mergulhar até in loco, E sei do quanto posso e me provoco Gerando após o verso a precisão De tempos que inda mesmo não virão E até neste vazio eu me desloco, Esgarço e renascendo após a queda O passo no futuro o tempo seda E gerencio enfim o que jamais Pudera imaginar ou mesmo ter A poesia emana este poder De gerar calmaria em temporais.
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Força mantenedora da esperança O sonho é necessário e dele eu bebo Porquanto mesmo sendo algum placebo Permite cada passo onde se avança E gera após a queda a confiança E tanta luz assim sorvo e recebo E quanto mais liberto eu me percebo Neste apogeu a vida em aliança; Maturidade enquanto traz o outono A vida em tons diversos se matiza E a poesia assim já pereniza E tenta ultrapassar ao próprio abono E gesta o meu inverno em mansidão Ou mesmo renascendo outro verão.
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Nos meus versos, amores e carícias E ao mesmo tempo dores, perdição, A vida vê na vida a solução E sabe das diversas vãs notícias E quando muitas vezes em sevícias Os ares se transformam, ilusão. Os cantos se aproximam e trarão Diversas magnitudes em delícias. Assim ao me entregar ao sonho eu creio No quanto dos meus medos siga alheio Sobejamente o tempo se anuncia, Acalentando a messe aonde um dia O tempo se mostrara mais instável Na poesia o sonho é sustentável.
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Eu pergunto-te então, como seria, A vida de quem tenta acreditar Sem ter onde deveras se apoiar Perdendo a correnteza dia a dia, E tantas vezes vendo esta sombria Loucura noutro fato a se moldar Gestando dentro em mim um raro altar Enquanto se prepara em heresia, A sórdida presença, a redenção Os dias mais doridos que virão E esta bonança em sonhos delicados, Se eu sou ou não feliz, já pouco importa, O verso abre o caminho e sem a porta Os dias bem mais plenos desnudados.
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Se não houvesse enfim o sonho, a vida Seria de tal forma insuportável Jamais algum terreno então arável A dor sem direção nem mais saída. Uma alma mais venal embrutecida Também deseja o belo, e mais notável Caminho entre tanto imaginável Seara pelo encanto; percebida, As deusas e os cometas, meus parceiros Em versos ou nos sonhos costumeiros Preparam novas asas e me dão Além num quixotesco, mas liberto Delírio a própria vida ora deserto E atinjo num segundo esta amplidão.
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Vieste, em favor divino Para quem tanto te quis Coração já por um triz Nas entranhas do destino, Mas agora esmeraldino Caminhar em raro bis, O delírio tanto diz Do que agora mal domino, E talvez melhor assim, Entranhar o bom em mim Desvendando cada passo, Onde o mundo se alimente Deste sonho onde envolvente Nova cena além eu traço.
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Para um velho sonhador, Que se fez além de tudo No caminho onde transmudo Passo feito em raro amor, O meu canto trama a flor E se tanto não me iludo, Na verdade enfim me mudo Para além da própria dor. Esboçar um novo dia Onde tanto poderia E talvez já não quisesse, Mas amor tanto redime E decreta a mais sublime Devoção sobeja em prece.
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Na fumaça do cigarro Jogo além minha esperança E se quando a vida alcança O cenário onde me agarro, Da saudade tiro um sarro E ao vazio o passo lança Ao traçar esta aliança Nela todo dia esbarro, E o meu canto mais tranqüilo Nele o sonho; em paz, desfilo Desenhando com firmeza Cada cena representa O final desta tormenta Aplacando a correnteza.
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Tanto quanto a vida tece Em palavras, gestos medos Entre vários arremedos Outro passo se obedece E gerando o quanto esquece Noutros dias quase ledos Enveredo por enredos Onde a vida busca a messe, E não fosse desta forma O caminho nos transforma E redime qualquer queda, Antevejo o fim da história Bebo a sorte merencória Quando o sonho além se veda.
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Quando o rumo não se vendo Noutra estrada em afluência, A maior clarividência Gera apenas este emendo, O meu tanto percebendo Claramente esta anuência O temor de uma impotência Gera o medo mais horrendo. Revitalizar o sonho, Na verdade o que proponho E desvendo em todo engodo, Movediço solo aonde O meu mundo agora esconde E transpassa então tal lodo.
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Das ausentes claridades Onde o mundo quis bem mais, Outra sorte onde jamais Com certeza ainda invades, No final as qualidades Expressões fenomenais Entre tantas, tão normais Jorram frágeis claridades, Libertário sonhador O poeta diz da flor Com essência bem diversa Da que a vida traça quando Outra vida ali gerando Num etéreo passo versa.
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Apresento a cada instante O que tanto aprendi quando O meu canto resvalando No caminho aonde encante Com ternura um provocante Delirar ora tomando Quem deseja novo bando Ou mergulha em diamante; Resumindo o fato assim, Abissais encontro em mim E desvendo o meu segredo Quando à lua sem defesas Envolvido em tais clarezas Noite em paz, eu me concedo.
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Digo a todos em bom dia O que o coração lamenta A verdade me alimenta Somente ela livraria Quem da mansa poesia Enfrenta a violenta Decisão onde se tenta Revelar o que podia Coração em ledo sonho Mesmo quando mais risonho Não tem mais juízo algum, E se tanto quero além No final o que inda vem, Traduzindo por nenhum.
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Caminhando sem patrão Sem paragem vida afora O luar quando decora Trago em mim esta emoção E tomando a direção Desta vida vou embora Na incerteza que devora Outros tempos não virão, Esquecido nalgum canto Bebo a sorte em desencanto E procuro algum sinal Do que tanto desejava, Mas a vida em tanta trava Nada deixa no final.
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O meu peito esta mobília Da emoção envolta em luz, Quantas vezes eu me pus Nos delírios de família, A verdade não traduz O que esta alma maltrapilha Por vontade já não trilha O desejo é que a conduz, Sendo assim o mais distante Apresento neste instante Onde a vida se faz tanta, E o meu passo se adiante E mostrando galopante A canção que esta alma canta.
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Há tanto que aqui cheguei Na procura de quem quero O meu canto mais sincero Transformando o sonho em lei, E se o rumo; agora errei Na vontade o quanto espero De quem teimo enquanto gero O desejo onde eu criei, Venço os medos e percorro Sem um verso por socorro As veredas de um amor, Onde a vida não traduz E sequer sabe da luz Noutra luz a se propor.
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A cidade, a capital O meu canto de um roceiro Coração aventureiro Busca ali amor igual, Na verdade é sempre igual Já não tendo mais canteiro O meu sonho derradeiro Não percebe o meu final, Venço os medos, mas sozinho Cantoria vira espinho Madrugada à bala e medo, O luar já se escondeu E o que um dia fora meu Noutro rumo não procedo.
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O meu canto em serenata No sertão da minha terra, A vontade logo encerra O que o coração maltrata, No sorriso desta ingrata A verdade se desterra, Olho além e vejo a serra Inda cheia em plena mata, Lua vendo esta beleza Derramando uma clareza Onde havia escuridão, Mas calado resta o peito De quem ama deste jeito Só restando o violão.
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Já não vou nem me gabar Das histórias que inda trago De outros tempos, pois afago Dentro em mim qualquer luar, E sem ter sequer lugar Onde o sonho doce e mago Procurando um manso lago Pra mineiro fosse o mar, Esbarrando na aridez Do meu canto onde se fez Solitário sabiá, O meu dia se perdendo, O meu peito agora horrendo Sei que nunca cantará.
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O meu canto verdadeiro Trovador e repentista Quando o sonho mais assista Acordando o violeiro Enfrentando o mundo inteiro Com certeza não desista Mesmo quando não se avista O luar deste canteiro. Vestimenta de poeta No luar já se completa E traduz a claridade, Mas sozinho sem ninguém A minha alma nunca tem Nem sequer quem mais a agrade.
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Do sertão lá das Gerais Onde um dia quis a sorte Do carinho que conforte E não tive nunca mais, O meu canto em temporais No meu peito bate forte A saudade não suporte Quem procura os seus cristais, Em verdade eu reconheço Cada passo outro tropeço E a viola se calando, Meu amor é mais que tudo E se assim eu não me iludo Não pergunto aonde e quando.
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Quando falo em minha terra O meu peito enche em luz E o meu passo reproduz O que o coração descerra, Novamente o peito encerra O cenário que o produz, E cansado desta cruz A saudade volta e berra, Cantador sem esperança A minha alma já se cansa De querer sem ser amada, E vagando a noite fria Sem saber da cantoria Volta sempre abandonada.
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Aonde toa a viola E se faz felicidade O meu sonho logo invade E a saudade já me assola, Pensamento enfim decola E procura na cidade Um sinal, tranqüilidade Libertado da gaiola O meu peito passarinho Já não quer ser mais sozinho E se aninha aonde quer, Nos olhares mais bonitos Percorrendo os infinitos Dos anseios da mulher.
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Já não vejo nascer dia Onde quis antigamente Um caminho mais contente Feito em luz e em alegria, O meu canto não sabia Coração decerto mente E se planta esta semente Rega sempre em fantasia, Pois senão a vida leva E trazendo então a treva Solidão tomando tudo, Mas meu peito não se cansa E procura uma esperança Onde quero e enfim me iludo.
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O gemido mais chorado E quem tanto quis amor E sem ter o seu calor No final foi derrotado, O meu canto desolado No canteiro sem a flor, E sem ter aonde pôr Sigo assim velho e cansado, Resumindo o canto em sonho, O meu mundo eu já proponho A quem tanto eu quero bem, No final a noite volta, Coração traz a revolta De quem sabe ninguém vem.
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A nascente deste rio Fonte sempre cristalina Traz no olhar desta menina O que tanto desafio, O meu canto acerta o fio E a vontade determina O calor que nos domina E um lugar em paz eu crio. Sinto a voz mais empolgada De quem sabe a madrugada Na viola de quem ama, O luar deitando o claro O meu sonho em paz; declaro Seu olhar acende a chama.
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Da semente cultivada Com amor e com carinho Nasce a flor e nasce espinho, Outra vida revelada, Ao buscar na madrugada Nos teus braços o meu ninho, Quem se fez sempre sozinho, Encontrando a sua estrada, O luar dentro do peito Quando ali, contigo deito Claridade toma o quarto, De manhã o sol imenso, No teu corpo ainda penso, Deste amor jamais me farto.
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O meu peito prometia Novo sol em lua cheia A vontade me rodeia E trazendo esta alegria Bebo cada fantasia Onde a sorte não se anseia Vou tecendo então a teia Nela enfim me prenderia, Venço os dias mais doídos E meus cantos esquecidos Nas promessas mais sutis, Onde tanto amor eu quis No final a solidão Tange as cordas, coração.
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Quando o amor ainda crê Neste sonho mais feliz, O meu mundo nada quis Minha vida sem por que No casebre de sapê Onde o canto em paz eu fiz Não ouvindo por um triz O meu peito não mais vê Quem se fez a inspiração Do plangente violão E do peito enamorado, Minha noite sem luar Como é duro caminhar Sem ninguém sempre ao meu lado.
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Já não faz conta das horas Quem no coração se esquece Deste amor que é feito em prece E no sonho me decoras, Sem saber das tais demoras Nem do sonho onde se tece Minha vida se enlouquece Quando perde assim escoras. E no fundo do meu peito Solidão quando eu me deito Derramando numa enchente Tanta mágoa do passado, Deste dia desolado Novo dia se apresente.
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Ao pensar nesta incerteza Do meu sonho em lua e sol, Busco em ti o meu farol, Dos teus sonhos sou a presa Coração com tal destreza Toma este arrebol, E o meu canto, um girassol Procurando esta beleza Feita em luz e claridade, Que decerto quando invade Entornando em mim a glória No riacho da saudade Água farta em qualidade, Não me larga na memória.
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Um caboclo sonhador Não se cansa de tentar Encontrar quem tanto amar Já não trague medo e dor, Num caminho sem se opor Bebe tanto a se fartar Das belezas do lugar, Canta o peito trovador, Mas se chega uma saudade E o meu passo se degrade, O meu rumo eu já perdi, Tudo aquilo que eu procuro, Mesmo tendo o céu escuro Encontrei amor em ti.
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Muito pelo contrário eu quero a sorte Que tantas vezes teima em não fulgir E quando vejo o tempo a dividir Meu canto na verdade sem suporte, Não vejo e nem decerto verei norte Vagando sem saber deste elixir Do amor que tanto quero e ao te pedir Não posso em solidão, ser nobre e forte, Resumos de promessas onde um dia Deitando dentro em mim esta alegria Gerara tão somente a solidão, Do todo que decerto eu poderia O medo se apresenta e não traria Senão caminho tosco, rude e vão.
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Supunha indiferente quem um dia Vestida de ilusões não mais viera, E o tempo se perdendo a cada espera O nada na verdade mostraria O quanto se deseja em fantasia E o caminhar desvenda ali a fera Atocaiada e brusca, destempera Marcando o meu caminho com sangria, A voz de uma sofrível emoção Perdendo novos rumos que trarão Ao velho caminhante, apenas paz, Meu canto se transforma em tal tristeza E a vida acompanhando a correnteza A cada nova curva é mais voraz.
48
Adentra o coração de um sonhador A pálida promessa de outra vida, E quando a sorte a vejo aquém urdida O que resta somente é dissabor Semente sonegando qualquer flor, A manta há tanto tempo destruída, O corte se aprofunda e a despedida Aos poucos noutro rumo a se compor, Deste estuário torpe, solitário, O canto tão sutil de algum canário Já não se escuta mais, somente ecoa A voz de quem sofrendo diz lamento E assim neste terror não me apascento O barco se adernando, inútil proa.
49
O quanto se é decente o amor enquanto Traduz felicidade e confiança A vida neste instante ali se lança E mata qualquer dor, temor quebranto O passo noutro rumo eu adianto E bebo com ternura esta esperança De um dia mais feliz em temperança Tramando em tal brandura novo canto, Espreito cada passo aonde eu possa Pensar na vida imensa sendo nossa E nada mais cerzindo senão isto O cálice que o tempo traduzisse Além desta tortura em vã mesmice Razões para sonhar, e assim resisto.
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Pintando com severas cores vejo O sonho desolado de um poeta, Aonde a solidão não diz da meta Nem mesmo traduzisse algum desejo, E quando se percebe noutro ensejo A vida que na vida se repleta O todo se apresenta e desta seta O amor entranha além do que prevejo. Revelo com ternura este desenho E quantas vezes; tento e mesmo venho Atrás da imaginária fantasia, Que há tanto anunciada não continha A sorte sendo ausente e jamais minha A morte com certeza não se adia.
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Parece-me impossível caminhar Sem ter a mesma força que se vira Além do que desenha uma mentira Quem sabe algum nuance do sonhar. Encontro a cada passo este lugar Aonde o caminho já se atira E bebe da certeza onde prefira O canto se mostrando a divagar, Vencer as intempéries costumeiras E crer que na verdade tu me queiras E tenha a cada passo esta certeza, Da vida noutra vida resumindo Um tempo abençoado, calmo e lindo Seguindo com ternura a correnteza.
52
Se a vida consentisse novo rumo A quem se fez ausente da esperança O passo noutro tanto agora avança E sei quanto deveras me acostumo E neste navegar acerto o prumo, Vencendo a mais dorida e fria lança Com toda esta ternura e com pujança Ao longe do vazio não me esfumo, Escuto a voz do mar e nisto eu vejo Além da imensidão, raro azulejo O tanto que a Natura se oferece, E traz a redenção de quem procura Das dores e temores mansa cura É como a louvação em bela prece.
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Só peço não me ocultes este passo Aonde a vida trama nova senda, E quando a realidade já se estenda Além deste caminho duro e baço, Resumo o meu sonhar a cada espaço E nele com certeza além desvenda O manto que o caminho traz por prenda Depois de tanto tempo em vão cansaço, Resulto deste encanto quando tento Beber a claridade e num alento Vestir a fantasia de quem ama, Mantendo com ternura esta emoção Os dias mais felizes mostrarão O quanto se eterniza em nós a chama.
54
Nada do que te disse a vida em guerras Traduz o meu anseio mais audaz, O amor quando no amor em luz se faz Desvenda a maravilha onde descerras Sobejas ilusões tomando as terras, O canto se mostrara pertinaz, Enquanto a realidade se desfaz E o pranto noutro intento logo enterras. Vasculho cada ponto e te anuncio O quanto deste amor em desafio Permite novamente ao velho, o dia. E aonde se pensara em duro inverno Encanto sem igual, suave e terno, De novo neste tanto se veria.
55
Ouvindo da senhora a voz suave E disto me fazendo tão somente Aquele que se mostra plenamente E nega qualquer dor que ainda entrave, O manto consagrado diz desta ave Vagando pelos céus, incontinente E a cada novo fato se apresente Brandura neste dia outrora grave. Resisto aos dissabores e ciúmes E quando além dos mares, também rumes Navego pareado junto a ti, Cerzindo muito além deste horizonte O sol quando sobejo nos aponte O quanto em tais raios percebi.
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Sinceramente a digo neste verso Das tão supernas noites onde eu pude Reacender em paz a juventude Aonde cada dia não disperso Nos antros mais suaves vou imerso E bebo assim enfim a magnitude Não deixo qualquer luz que em vão ilude Vagando a cada instante este universo. Ecléticos momentos do passado Um sonho tão somente desejado O risco de um naufrágio a cada instante, E o marco traduzindo em tanta messe Do amargo desvario a vida tece Um dia sem igual, tão fascinante
57
Enquanto tu não amas o que trago Demarco com angústias os meus cantos E gero novamente os ledos prantos Na busca insaciável por afago, Retiro o meu caminho e se me alago Os ermos na verdade são quebrantos E os dias onde a quis, se foram tantos Prenunciando um raro canto, mago. Expresso em poesia o quanto a vida Transcende à dor atroz tanto temida, Numa expressão aonde se esperança E sinto a cada dia bem mais forte, E quando a confiança diz aporte O olhar antes calado traz pujança.
58
Tanto estima o perigo quem se dá Sem nada mais sentir além da espera E a vida noutro fato não tempera O sol que na verdade não virá, E sinto este temor e desde já Marcando a cada passo esta quimera, O manto se denigre aonde a fera Decerto num momento saltará, Restando do meu sonho, quase nada, O fátuo caminhar marcando a estada Prediz ausência quando mais queria Seguir em força e fúria o dia a dia, Gerando dentro em nós esta alvorada Que além do próprio sol nos tomaria.
59
Se na tua alma vejo refletida Especular imagem desta que Ao menos te encontrando sabe e vê A sorte tantas vezes esquecida, Reinando sem temores sobre a vida, O marco demonstrando onde se crê No amor quando a verdade, pois revê A paz que um dia vira vã, perdida. Alvoroçando assim o dia quando O tempo noutro rumo se tomando, Pudesse saciar cada vontade, A força geratriz de quem mais sonha Permite uma alegria onde risonha A messe de viver tomando invade.
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Sentira estes sinais aonde há tanto Meu barco poderia imaginar Um cais bem mais tranqüilo e se ancorar Nas ânsias deste sonho em raro canto, Bebendo cada gole já me encanto E brindo à raridade deste mar, Imenso e num sobejo azulejar Deitado sob o céu, um claro manto. E vejo na amplidão que agora sinto O amor como se fosse além do instinto Iridescente senda a nos tocar, Eflúvios delicados da emoção Permitem antever que inda virão Momentos sem igual, vida em par.
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O mundo por preceito dita as leis E quando se mostrassem mais cruéis Vagando sem destino carrosséis Gerando o que deveras não vereis, O quanto percebeste e sabereis Percorre o pensamento quais tropéis E neles os meus dias em seus papéis Redimem o que tanto não tereis. Expressos entre noites solitárias Vagões, locomotiva, escuridão, O marco se transforma em solução Imerso em tantas horas temerárias E quando se aproxima o novo dia, A velha norma o tempo esqueceria.
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O quanto corresponde ao tanto eu quis Cerzir com a palavra em tais momentos E neles bebo enfim os meus alentos Regendo um caminhante mais feliz, O passo noutro rumo outrora gris Trouxera tão somente sofrimentos E quando realçando os pensamentos Um novo amanhecer em paz eu fiz, Resulto deste fato e não sonego A vida se aproxima e num nó cego Transgride o que pudera ser vital, O velho timoneiro encontra um cais Das brumas e dos medos virtuais Encontra o que procura no final.
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Que bom se houve decerto um belo dia Após as tempestades de uma vida Há tanto noutra face destruída E agora tão somente ressurgia Gerando dentro em nós a poesia Por vezes desejada e consumida No quanto se percebe sendo urdida Numa expressão suave em calmaria, Verdugos do passado, nunca mais, Os dias entre tantos divinais Expressam realidades mais felizes, E nelas entranhando cada verso Espalho minha voz quando disperso Tomando em claridade estes matizes.
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Ambos são dignos deste sonho além De um mero caminhar por sobre espinhos E quando os dias fossem mais daninhos A poesia em paz imensa vem, E nada com certeza; ali detém O passo rumo aos novos belos ninhos Após os dias tétricos, mesquinhos A vida nova face agora tem, E o canto se tornando quase um hino E nele a sorte em mim; já determino Galgando a cordilheira da esperança E o passo sem sequer ter um percalço Enquanto esta emoção imensa eu alço Meu rumo para o teu em paz se avança.
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Do sangue mais fiel onde eu pudera Erguer um raro brinde à fantasia, O tanto quanto ilude ou mais queria Gestando dentro em nós a imensa fera Depois do desafeto, destempera A vida noutra imensa alegoria E o quanto mais tentara em alegria Marcando com fineza esta quimera, Aprazo-me ao sentir em ti a messe Do sonho quando em sonho; sonho tece E transcendendo à noite, neste albor Iridescente toma este arrebol, E gera muito além do próprio sol Na clara providência de um amor.
66
No ilustre caminhar por onde o sonho Adentra e nos conquista passo a passo O quanto do destino assim enlaço E tramo novo dia aonde o ponho E sei do meu caminho e não me oponho Mesmo quando se vê no olhar cansaço A vida ocupa em paz o imenso espaço De um dia tão cruel quanto enfadonho, E gera noutro encanto esta promessa Do amor que na verdade se confessa No olhar extasiado, em voz serena, E quando nada aquieta o coração Bebendo destas sortes que virão A vida se desnuda, agora é plena.
67
Olhos quaisquer nos fazem sonhadores Se neles há reflexos de momentos Aonde se bebendo calmos ventos Prenunciando o dia enquanto fores, Cevando com carinho tantas flores E delas os diversos, bons alentos O mundo anunciado em sofrimentos Transcende aos mais doridos dissabores, Restauro com candura este cenário E nele vejo em paz raro estuário Procuro a cada instante desvendar Belezas onde outrora houvera trevas E assim ao paraíso tu me levas Nas asas deste belo e bom sonhar.
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As ínclitas belezas deste olhar Domando o que jamais se domaria Trazendo à própria vida a fantasia Tomando pouco a pouco o seu lugar Vestindo em alegria o caminhar Por vezes se espalhando à cercania Invade com mais força o dia a dia E traz a imensa luz, rara e solar, Trazendo com ternura esta vontade Que tanto nos aclara quando invade E molda uma esperança mais tenaz, Assim ao me envolver a cada passo, O rumo no teu rumo agora grasso E bebo inconfundível, rara paz.
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Dos claros ascendentes da ilusão Aos mais supernos brilhos percebendo A vida como um raro dividendo Traduz nos novos dias que virão, E sinto desta imensa provisão O manto novamente se tecendo E quando no passado houve remendo Agora a sorte trama a solução. Agindo com firmeza e com ternura O quanto deste encanto já perdura E traz a quem deseja este caminho, Vagando sem destino bebo à sorte E tendo amor que tanto me conforte, Eu sei; já não serei tão mais sozinho.
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O aspecto deste sonho aonde eu pude Vencer os meus rancores onde outrora A sorte sem remédio desancora E mata o quanto resta em juventude, Bem antes quando a vida tudo mude O parto se aproxima e sem demora O todo imaginário desde agora Promete a mais sensata magnitude. O amor por ser amor e nada além Enquanto a divindade em si contém Expressa a mais sublime sensação Vestir esta insensata maravilha Aonde esta emoção gera e palmilha Do todo mais feliz, a tradução.
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Deixo a doce morada aonde um dia Pudesse ser feliz e mesmo assim O mundo desviando trouxe ao fim A dor de uma terrível agonia, O quanto deste sonho geraria Um novo amanhecer em meu jardim, Vibrando de emoção encontro enfim O todo que decerto mais queria, Revivo esta vivenda do passado E tendo junto a mim o ser amado, Já nada mais impede o meu sorriso, E quando me perdera, rumo e meta, A vida noutro tom, pois se completa, Vislumbro agora em ti, meu paraíso.
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Na dorida incerteza de um futuro Aonde tantas vezes procurara A sorte noutro rumo, outra seara O canto em guerra e medo eu asseguro, Mas quando encontraria o que procuro O amor quando em verdade se escancara E o passo com firmeza então ampara Adentro a fantasia, invado o muro. E resto em paz ainda que ilusória Ao renascer em mim a vaga história De quem na juventude tanto quis, Ao menos neste inverno, por instantes, Ainda que deveras não garantes Eu posso até dizer que sou feliz.
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Verdes aonde outrora fora gris Apresentando o sonho em novos tons Os dias com certeza têm os dons De transcender ao tanto quanto eu quis, E sendo assim decerto mais feliz, Momentos desenhados, ora bons Ouvindo da emoção sobejos sons, Do encanto insofismável quero bis. Ascendo num instante ao mais sublime E o canto doravante me redime Dos antros dolorosos do passado, O vento na janela traz teu nome, E o quanto do medonho em mim se dome Permite um novo dia, abençoado.
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À Musa se entregando o coração Transforma a vida e gera noutro fato Um canto mais suave onde resgato A vida que perdera a direção, E tendo deste encanto a provisão, No manto delicado me retrato E bebo sem saber qualquer maltrato Os dias que decerto mudarão O rumo em discordância, tão venal, Ousando apresentar novo degrau E nele se estendendo ao infinito, Da sórdida figura em amargor À plena consciência de um amor, Que tanto quanto quero, necessito.
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Tornando a aparecer em sonhos vis Angustiadamente vejo a cena Da sorte que deveras se envenena E o canto se perdendo aonde o quis, Expresso com terror este infeliz Momento aonde a vida não acena Tampouco outro caminho me serena E roubo do vazio o seu matiz. Escancarando a vida noutro rosto, Do todo imaginário este desgosto Expondo a mais cruel caricatura Da vida em turbulência e tão somente O vago do meu sonho se apresente E negue o que minha alma mais procura.
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Começa dos meus ócios o sofrer Estende-se ao ingrato dia a dia, E o quanto noutro tom já poderia Ao menos paz em mim enfim tecer O amor necessitando o merecer Regendo com ternura ou agonia O passo que decerto a vida cria E nele se adivinha o amanhecer, Encontro em ti o quanto mais quisera E bebo da alegria sem espera Gerando outro caminho após a queda; Porém um novo engodo e tão somente Assim a minha vida se apresente E o meu destino aos poucos tudo veda.
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A dura experiência de uma vida Exposta aos mais diversos dissabores Trazendo mais espinhos que estas flores Há tanto sem saber qualquer saída, A imagem que ora vejo distorcida Esconde dentro da alma os refletores E neles se percebem multicores Desenhos noutra face mais ungida, O mergulhar insano sem respostas Enquanto estas veredas são expostas Transcendem ao que tanto desejara, O amor quando se entranha e nos domina Gerando com certeza a rara mina Clareia em magnitude esta seara.
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Corpo entregue aos cães onde pudesse Haver apenas sonho e nada mais, Os dias se preparam tão iguais Sonegam a quem tenta uma benesse, A vida tendo o fim que ora merece E gera dentro em si seus funerais, Resíduos dos diversos vendavais História natural, pois se obedece. Resisto o mais que posso, mas bem sei Da dura e tão sofrida mera lei E nela não discuto e só lamento, O risco que eu assumo a cada dia, Transborda no final e não traria Senão este terror, ledo alimento.
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Viu; das emoções diversas faces E ao perceber a dor numa constância Aonde imaginara a calma estância Somente este delírio e nele grasses Vagando sem descanso, logo traces Os rumos mais cruéis até que; trance-a, A vida com total vil discrepância Trazendo a quem sonhara tais impasses, E nada do que tento ou mesmo quis, Quem viu este momento poderia Acreditar num dia mais feliz, E neste mergulhar insanamente, Ao ver já desvairada a fantasia O todo que inda resta, volta e mente.
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Seres imaginários tomam tudo E bebem cada gota desde quando O dia noutro caos anunciando O medo; aonde imerso, eu não me iludo, A sorte se transcende, mas, contudo O peso novamente me envergando Trazendo este ar sofrível e nefando E neste ser cruel eu me transmudo, A fera que entre feras se transforma E injeta na sua alma a fria forma, Expressa o pandemônio mais temido, Assaz já caricata face exposta No quanto a própria vida nos desgosta Legando às ilusões o torpe olvido.
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Outrora tu me enchias de ilusões E nelas outras tantas desenhadas Gerando no final em mim estradas Aonde com ternura me compões, Porém por vários rumos, direções As sortes noutras faces desdenhadas Abortam sensações imaginadas E deixam sem sentido os meus verões, O pântano que invade movediço Negando este caminho onde cobiço A sorte sem igual de quem delira, O amor imaginado apenas traça A leda fantasia e a fria traça Transforma todo o sonho em vã mentira.
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Ignoro algum destino aonde um dia O mar que existe em mim inda pudera Traçar além da dura e vã quimera O quanto ainda resta em fantasia, O mundo a cada passo discernia O rústico ventar onde esta fera Sonega cada passo e destempera A vida numa forma de heresia, Mas quando a noite chega e traz além Do quanto a realidade em si contém Mergulho no oceano feito em luz, E um novo amanhecer, mesmo distante A sorte neste sonho enfim garante Delírio onde meu barco agora eu pus.
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Como não tem sequer igual caminho Quem tenta adivinhar o seu futuro, Apenas o meu sonho, eu te asseguro E nele com certeza eu já me alinho Cerzindo cada passo com carinho Encontro a mansidão que inda procuro E sei do quanto além do sonho escuro O amor gerando em nós flor entre espinho. Escassas luzes; vejo à minha frente, Mas quanto mais audaz eu me apresente Eu tenho alguma chance de encontrar Em meio às tantas brumas desta vida, A sorte imaginada e merecida Bebendo um raio imenso do luar.
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Aonde ateia o sonho em fogo e fúria, O velho coração não se apascenta E bebe com fervor esta tormenta Embora no final reste a penúria, O quanto do viver gestasse a incúria E o medo de volver já se apresenta E quando o sonho apenas aposenta Resulta no final, triste lamúria, Enquanto enfim sonhar estarei vivo De toda esta beleza não me privo E crivo-me de tantas ilusões O barco mesmo alheio a qualquer porto Aonde imaginara semimorto Revolve e bebe em gozo mil tufões.
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Dos transes padecera quem sonhara Com toda a insensatez de um raro brilho E quando sem destino me polvilho Tomando imensamente esta seara, O olhar em tanta luz hoje declara O canto aonde tento; cismo e trilho Ousando na emoção, doce estribilho Tornando a minha vida bem mais clara, O quanto imaginasse e não podia Cerzindo esta ilusão, a fantasia Esboça alabastrina e imaginária Beleza aonde a sorte solidária Transcende à própria luz e num segundo Produz este oceano onde eu me inundo.
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Meus olhos visionários tentam ver Os ermos de minha alma mais sombria E quando muitas vezes poderia Apenas revelar um torpe ser, Encontram nos teus olhos o saber Do raro e mais perfeito em sincronia Gerando novamente esta alegria E nela vejo o mundo amanhecer Apenas ilusão? Não sei, mas tento Enquanto bebo o farto e raro alento Vestindo o meu olhar em tal clareza, Deslumbro nos teus dias os meus cantos E envolto pelas luzes dos encantos Entrego-me à sonhada correnteza.
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Enquanto houver torturas dentro da alma De quem se entrega mesmo sem sentir Qualquer realidade num porvir Envolto pelo medo de outro trauma, Seara imaginada, sempre calma Transcende ao que pudesse mais pedir E traz com tanta luz este elixir E nele o meu caminho em paz se acalma, Resisto aos mais incríveis sonhos, mas Eu sei que a maravilha já se faz Apenas por saber desta existência, Meu canto se apercebe da sutil Beleza aonde o nada se previu, E nisto segue em paz, sem penitência.
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Separado de um cais por mar imenso, Revolto em tais procelas costumeiras, Aonde na verdade não mais queiras Deveras noutro instante teimo e penso, E quanto mais do amor bebo e convenço Enfrento com ternura estas ladeiras As sortes de outras tantas mensageiras Traduzem um cenário claro e intenso, Esboço de um provável Paraíso, Edênico caminho mais preciso, Vagando por teus braços, doce encanto, E quando mais além eu me fascino, O mundo que buscara cristalino, Ao próprio caminhar ora adianto.
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Aborto eu já não temo quando vejo O amor enaltecendo cada passo, E aonde percebera o meu cansaço A sorte se aproxima em raro ensejo, E bebo cada gole do desejo Sabendo quanto posso e não desfaço Meu mundo ocupa em paz imenso espaço Porquanto no passado fora andejo, E agora ao mergulhar sem mais defesas Encontro mesmo em grandes profundezas Belezas onde a dita me levara E incrível que pareça em tal abismo, Do amor ao respirar, tranqüilo eu cismo E sorvo cada imagem bela e rara.
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Remindo com teus dons a minha vida, O quanto no passado nada tinha, A sorte na verdade jamais minha A morte a cada instante sendo urdida, O tempo se perdendo e sem saída O manto a cada esgarce desalinha E o vento traz apenas a daninha Aonde a messe nunca é presumida, Assim durante a vida fora até O amor saber deveras por quem é E tendo esta visão maravilhosa, O tanto que mergulho neste encanto E sinto pulular em cada canto Traçando nova estrada majestosa.
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Que me disseste ó vida sobre o amor? A cada tentativa um novo não E acordas outra vez o coração Depois de tanta queda e dissabor? Espero novamente e nada a pôr Somente a mesma velha solidão E tantas noites turvas se verão Neste verão espúrio e sem calor. O quanto acreditar no imponderável Presume o nada além e inadiável A morte se aproxima e vejo o fim. Do amor que imaginara sequer sombra, Imagem fantasmal ainda assombra E o túmulo florindo em meu jardim.
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Temo esta novidade mesmo enquanto O manto se tecendo deixa ver As marcas indiscretas do querer E neste caminhar delírio tanto, Ainda mesmo assim nada garanto, Somente as velhas tramas e a tecer No todo imaginário um novo ser, Mas sei quando ao final o velho espanto; Resulto desta louca incoerência E tento um ar de mansa transparência, Porém a turbulência não permite, Herético desenho profanado E nele o meu delírio e; desolado, O tempo vai chegando ao seu limite.
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Minha alma turbulenta nada sente Senão a mesma angústia contumaz, E quando à realidade o mundo traz A dor se apresentando plenamente, O pouco quando resta tão somente Levando para alhures minha paz, O corte na verdade satisfaz Embora alma se mostre vã, demente. Restando quase nada desta vida Minando a cada passo ou despedida, Resumo os meus temores neste fato Aonde sem saída nada vejo Senão a mera sombra de um desejo E nela o meu caminho em vão, retrato.
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Metade do caminho em dor e pranto Resumos de uma vida intolerável, Aonde qualquer sonho imaginável Embrenha nas torturas, desencanto. E quanta vez eu pude vejo o manto Puído pelas mãos do incontrolável Delírio enquanto quis um tempo afável Marcando com as garras tal quebranto. Assiduamente busco a paz em mim, E sinto que afinal, chegando ao fim Outra metade traça o mesmo rumo, E o quanto inda pudesse acreditar No sol além sobejo a desfilar, Decerto e sem saída eu me acostumo.
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Conheço a já perdida sensação De um novo amanhecer em mansa luz, A cada turbulência se produz A mesma face escusa: negação. O tempo diz das dores que virão E nelas o meu canto em contraluz Gerando a cada ausência o medo e o pus Os sonhos em dorida arribação. Nefastos dias trazem novamente O quanto da verdade se apresente Nas curvas do caminho que há por vir. E quando capotando sem defesa Levado pela incúria, a correnteza Imagem do não ser, reproduzir.
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A face da fortuna eu desconheço, Apenas a diversa e vã quimera, A vida noutro esgar se destempera O sonho, meramente um adereço, Revejo cada queda e a sei, mereço O marco entranha como fria fera E doma o meu caminho e nada espera Sequer imaginável recomeço. Esgoto as minhas forças nesta luta E quando ainda tento e já reluta Meus trilhos trazem medo e nada além. Enquanto desejava pelo menos Momentos terminais bem mais amenos Somente este vazio me contém.
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Mudando num momento a minha sorte, Galgando qualquer monte aonde eu veja Ainda que talvez não benfazeja A imagem de uma luz que me conforte. Cansado de lutar, buscar um norte O corte a cada passo se preveja E a morte muito embora inda não seja O rumo preferido; entoa forte. E traz a negação de qualquer sonho, E ao nada quando muito eu me proponho, Residualmente apenas o vazio. Durante a minha vida tanta vez O canto noutro canto se desfez Cada segundo além, eu desafio.
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Presságios entre medos mais constantes Os dias não se tornam solução, Os medos tomam toda a direção E nada além dos ermos me garantes. Pudesse acreditar em diamantes Aonde vejo o fim desta estação, Negando a tão sonhada provisão Erráticos demônios degradantes. Estúpido fantoche e nada mais, Escuto na distância este eco quando A voz num novo tom se derramando, Reflete sem sentir meus vendavais.
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O meu abatimento é costumeiro Sinal deste outonal envelhecer, O quanto pude mesmo até não ver E neste pouco ou nada não me inteiro, O risco de sonhar, cevar canteiro Sem nada que pudesse oferecer Senão este esgarçar de um torpe ser Num canto talvez mesmo o derradeiro. Augúrios entre quedas e tormentas Assim a cada passo me alimentas E domas o que resta de um sombrio Destroço aonde uma alma perambula O tempo sem limites, pois ondula E nele tão somente me desfio.
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Encontro com terror a face escusa De quem se acreditara muito além Do quanto na verdade não contém Enquanto a própria vida se entrecruza E gera noutra face mais confusa O mesmo caminhar em tal desdém, Meu passo prosseguindo muito aquém Porquanto a fantasia já me abduza Levando para aonde poderia Singrar o canto em paz, farta alegria, Edênico caminho desenhado Nas ânsias e louvores. Nada resta, Nem mesmo a menor, mínima fresta A morte em solidão é meu legado.
MARCOS LOURES FILHO
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