
BA(DA)LADA DO TEMPO
Data 12/07/2010 20:31:35 | Tópico: Poemas
| Ao soar a meia-noite Esguicha o sangue das horas Nos espelhos que se quebram Ao toque frio das esporas
Braceletes de fumo baço Estendem-se para lá do poente Num tempo que já não é passado E que ainda não é presente
Ao soar a meia-noite Demónios saem do abismo Trazem injectadas nos olhos Marcas brancas de sonambulismo
O tempo entra em colapso E se afunda num charco de lodo Lamento apunhalado da presa A estrebuchar nos braços do engodo
Ao soar a meia-noite Sussurra o vento nas janelas E as sombras tatuadas do medo Andam descalças nas vielas
Não é tarde nem é cedo No fundo do poço dormente Fronteira entre o que foi passado E o que aspira ser presente
Ao soar a meia-noite Levanta-se o véu da rotina Mãos erguidas acima dos punhos Em densas espirais de nicotina
Doze pancadas na porta Selam um segredo clandestino Grito rouco que se acende No orgasmo pálido do destino
Ao soar a meia-noite Ardem as horas no lume E a penúria vaga dos ponteiros Deposita raízes no estrume
No ventre prenhe da madrugada Cresce o corpo embuçado Do tempo que ainda não é presente E nunca será passado
Ao soar a meia-noite Tombam anjos no labirinto Pétalas murchas que fenecem Em turvos jardins de absinto
Nos relógios sem freio Cavalga a silhueta vazia Do tempo que não pode esperar mais E ameaça rasgar o dia
Ao soar a meia-noite Não há passado nem presente
|
|