
Descem os montes sobre os meus pés
Data 03/08/2007 19:28:58 | Tópico: Poemas
| No vazio da tarde descem os montes sobre os meus pés. Não se caminham, calcorreados ao peso vertical do Universo. No avesso, em desassossego, dos umbigos dos bosques, refulgem ramos sanguinários ateados nos abraços que não demos. Perfuram relinchando o ar, em agulhas preenchidas com filamentos tenros de saudade.
Reencontro o teu vulto, em contornos gastos. Percorre o tempo em cornucópias de labaredas e descansa nas papoilas mais serôdias da planície despida de pudor. Na planície subjugada por relâmpagos e trovões.
O silêncio póstumo ressoa agora nos trocos ocos das árvores em versos crus, em rostos rançosos, nos ecos sorumbáticos de um teatro inanimado.
A noite exala o dia, clama por ti no canto da cotovia.
Nos lábios desencontrados das sereias, nos seus corpos pelágicos, marinheiros perdidos em rotundas de delírios, marginam em espumas sombras permanentemente mudas.
No reino da imensidade, sob o tecto pálido do sol, no vazio da tarde descem-te sobre os olhos chuvas em profusão.
E aqui e mais além, a solidão…
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