
Leituras 2 - José Ilídio Torres
Data 03/06/2010 12:17:17 | Tópico: Textos
| José Ilídio Torres é um autor que só posso definir como um criador para-realista, isto é: traz para dentro do corpo textual um pedaço do real, mas polemicando outro assunto, não o que se desenrola perante o nosso olhar.
Fá-lo como se nos desvendasse o que é um teatro de sombras, dizendo-nos da luz e dos corpos em movimento, mas apresentando-nos somente o que na tela se vislumbra.
Para lê-lo e, de facto, usufruir o que nos oferta, há que estar atento aos sinais, bastantes, aliás, que nos vai dando, como se de um rasgo na tela se tratasse e este deslizasse constantemente.
Esta amostragem denota um olhar atento ao que é criar, visto que é mais relevante o que alude do que o que diz, deixando portanto aberto ao leitor um espaço onde este pode, também, criar.
No entanto, sob a ironia e, por muitas vezes, o sarcasmo com que tece os seus textos, sejam estes poemas ou não, em mim revelam um autor que chora, uma certa tristeza que assim é como que transvestida.
Uma nota à margem: alguns dos textos deste autor têm gerado polémica, no pior sentido desta palavra, que é, talvez, a palavra que melhor pode representar e justificar a nossa presença no Mundo, a nossa acção no Mundo (bom!, mas isto é outra conversa).
Esta polémica denota, sobretudo, impreparação de quem o lê, isto é: quem se movimenta num local de escrita, antes de escrever, tem de descobrir o local de leitura. A leitura é que funda a escrita e não o reverso. Há portanto, antes de se atirar a pedra, saber o que é a pedra e, também, a que alvo se vai atirar.
|
|