
Os leitores são superiores
Data 26/05/2010 02:51:16 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Muitas vezes o autor pensa e diz “Serei lembrado por isto” e empina o nariz
Mas para que produzir para ser lembrado se o que me importa é ser esquecido? Daí ao invés de empinar o nariz eu empinarei o ouvido!
Ou seja, eu prefiro ser um leitor e no que me enseja, ser um espectador ou ouvinte do que ser um mero autor pedante ...
porque o leitor pode ser muitos e o autor sempre é um só.
Além disso o leitor nunca sofre deste mal que é o orgulho e do sovinismo autoral de querer o entulho da obra trancada num cofre!
Ah, autores, por que são tão orgulhosos? quando de Vossas Excelências também os flatos são mal cheirosos...
Os autores são meros escravos muitas vezes revoltosos que se valem de contatos – muitas vezes os leitores – para se libertar daquilo que lhes vai no íntimo : seus amores, seus horrores ...
Ah, Fernando Pessoa! Tu que fingiste ser muitos e não foste ninguém! Leio toda a tua poesia com carinho. Leio-te o dia inteiro. Mas o que foste tu, por estar sozinho, além de um bruxo punheteiro ?
“E o que serei eu além de um caipira brasileiro que às vezes pira, e pira por inteiro ? ...”
Ah, Fernando Pessoa era um pirado! Também Faulkner o foi! Também Nietzsche o foi! Quem não o foi? Todos os senhores que leio todos os horrores, todo anseio são frutos de uma cultura indócil são lutos de uma literatura fóssil pois estão todos mortos – mortinhos da silva –
Tanto é que eu mais Flávia Recabarren usamos o túmulo de Alphonsus de Guimaraens como poltrona ... Fiz o mesmo no túmulo de Mário Palmério lá em Monte Carmelo, lendo um livro sem tentar ser sério...
Aliás, que seriedade há diante de um livro? Nenhuma.
Eu consigo rir de uma tese e uma dissertação de mestrado não raro me proporciona as mais terríveis risadas.
Uso o túmulo de Alphonsus como poltrona... Quem mo irá proibir ? A polícia? a Igreja? o decoro? Mas por acaso você acha que o gênio de Alphonsus, de Baudelaire de Picasso, de Érico Veríssimo, de toda essa gente que gosta de mulher e que não pensa em ser decente – porque o que diverte é simplesmente provocar – por acaso você acha que se preocupam com a polícia? com a Igreja? com o decoro? – ou com a moral que seja... –
Aposto que qualquer um deles Que não são nada se deitariam na minha sepultura fosse eu alguma coisa... E sobre ela arrotariam, peidariam lendo literatura sem se preocupar com nada... O quê? Nunca ouviste falar que os autores góticos – que são os melhores –
gostavam ... de freqüentar ... cemitério!?
Mas é claro que o contato sempre profícuo com o campo da morte independente da postura, independente do flato, quase sempre dá sorte e inspira a literatura...
Que seriedade há diante de um livro ? Hã? Me diz! Que seriedade além daquela de o autor, em uma poltrona em que se refestela, levantar o nariz?
Essa cambada de orgulhosos tem que acabar! É! Essa cambada de orgulhosos tem que acabar! Todo autor tem que compreender que ele é muito menos que o leitor ou ouvinte e é como se o autor fosse um pedinte, um mendigo à beira da estrada por onde passa um monte de gente rica ou um monte de mulher pelada – a depender da imaginação –
Ah, eu detesto a seriedade e o pedantismo! Eu detesto a responsabilidade, o compromisso! e é por isso que me incorporei ao titiQuismo que me salva de tudo isso!
O autor tem que ter responsabilidade? Por mim, ele fale o que quiser... é exatamente o que fez Faulkner por isso que ele deu certo e é por isso que o livro daquela mulher a obra “E o vento levou” vendeu muito mais que “Absalão, Absalão” porque aquela porcaria qualquer espirro hoje em dia vale mais que um rojão
Felizes são os que conseguem reconhecer no espelho uma imagem no vermelho o sangue uma mensagem e no mangue um vulcão! Assim é Faulkner o autor de “Absalão, Absalão”. Assim foi Sartre, assim foi Borges, assim é Fernando de Heliodora, esses reis sem súditos babacas eruditos camaradas simpáticos meus caros amados – que não são nada não... Ah, que confusão! Os autores são tão importantes mas ao mesmo tempo quando neles se verifica uma ponta, um indício reles de orgulho ou de pretensão como eles ficam feios! como se tornam ridículos! cada qual com os seus meios de chutar milhares de testículos...
Úmero Card'Osso
|
|