
Ode Numenalista
Data 28/04/2010 17:20:31 | Tópico: Poemas
| Um beijo intenso Entre antigos amigos Que rasga o freio da língua É útil.
Um suicídio violento Dum banal desconhecido Cujo corpo nunca descobrem É útil.
Uma farofa com banana Um jogo que termina em empate Um verso perfeito pensado e esquecido sem ser escrito São bem úteis.
Um suspense que termina mau Uma sopa desprezada na geladeira Um ventilador ligado no quarto mofado São úteis.
Uma deusa Que ele jamais tocaria Nem mesmo em seus sonhos Era muito útil Muito útil à poesia.
Biscoitos duros demais Ou muchos demais pra serem comidos Máquinas de escrever analógicas Posando de itens decorativos abstratos Adstringências Coloquialidades Um pigarro desgraçado Marretas construindo prédios Tudo isto era bastante útil.
Armários cheios de tralha Que ninguém nunca abria Músicas que vinham à mente Como falantes que soassem reais Pequenas estripulias Uma criança com o dedo atolado no nariz Eram boas coisas Boas pra boa poesia.
Ciências Mitologias Vícios Tramas Fadigas Subornos Mártires Cadelas Tudo útil.
Paneladas de macarrão Grandes baseados bem verdes Televisões desligadas Corrupções bem modeladas Dentes batendo de frio Ou de doideira na anfetamina Banhos de mar Bundas gostosas Eram coisas úteis Demasiado úteis.
Risos histéricos de solidão Um pão com manteiga no tostex Uma barraca armada no quintal Alucinações tenebrosas e suculentas Bramidos Gemidos Filosofias orientais Catapultas Sonolências Estalar os dedos Cantar no chuveiro Estas coisas ajudavam Ajudavam um bom bocado à poesia.
Um abajur vermelho Quadros mal acabados Improvisos nunca repetidos Um hotdog prensado gorfado Eram ótimos.
Mesmo uma dor na lombar Ou insetos insolentes Uma moeda perdida num bueiro Até um mero cadarço Todos eram enfim cruciais.
Tão essenciais Quanto os começos e os fins Tudo de mais estúpido E mais inerte As melhores coisas Vinham com voz própria Faziam-se sentidas.
As boas coisas Pra poesia Eram as que glosavam sabor Travalínguas do amor.
|
|