
Obituário
Data 27/04/2010 16:15:52 | Tópico: Poemas
| Penso que terá sido de anteontem A quinze dias Que acordei às 4 da tarde com a lua À minha cabeceira Mascarada de enfermeira E segurando a página do obituário De um qualquer jornal diário. Estendeu o Seu braço de luar e deu-ma Para que a pudesse ler: “Poeta desconhecido morre em cirurgia De rotina. Durante Uma laparotomia Uma alcateia de láparos fugiu De dentro da sua lura no abdómen De Alexandre Homem Dual Levando consigo o coração do escritor Desconstruído em pequenos pedaços. No lugar do coração, foi encontrada Uma lapa funérea com um poema inscrito Mas ninguém o pôde ler porque o seu autor Morreu antes sequer de o ter escrito.” Sorri e devolvi o jornal à lua. Ela serviu-me Uma chávena de café e perguntou-me O que dizia o poema. “Amanhã Chovi”, respondi-lhe. Ela sorriu-me de volta imediatamente antes De regressar ao céu nocturno. Ainda hoje, nos meus poemas, Lhe trago o sabor da carne – e do café – na ponta dos dedos.
Alexandre Homem Dual
|
|