Já tenho o corpo, a alma e o espírito marcados. Meu peito ao menos jaz a certeza de algo que me traz o alívio de noites e dias escarnados. Estou na Avenida Rio Branco aos uivos e lágrimas por estenderem meu corpo nu, num crucifixo deitado. Policiais homossexuais e juizes ditadores agarram-me com unhas de quimeras e leões e chupam de minhas chagas todas as malditas dores. Me coroam como um índio-branco sem sermões me recordando de que na vida não tive muitos amores.
Os pregos. Ah, os pregos... pregos... Três ao menos? Enferrujados... Como pode? Olhem a bandeira brasileira! Ele aguenta? Será? Como? Os pregos!!! Ah... ... Invadiram minha carne ressecada onde outro escravo da teia do sistema deferiu sem piedade as marteladas. Chorei com um olho só. Chorei pelos pombos-sem-pena que vagaram trôpegos a observar meu julgo. Então, ergueram minha cruz na Praça Cinelândia com uma singela placa: "Aqui jaz um coitado!" Aplaudiram um novo programa amental televisivo, enquanto eu morria onde não era a Disneylândia. Num poste da "Light"* crucificado com um tênis sem marca corrosivo! Rio de Janeiro, 15 de abril de 2002. 
*Light - empresa de energia elétrica fornecedora do estado do Rio de Janeiro.
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