
VIAGENS II
Data 11/04/2010 13:10:15 | Tópico: Poemas
| Corro ansioso e veloz, entre alamedas douradas, numa estrada feita de cores de carvalhos e latadas.
O Sol esse vaidoso vai p'la frente, que emoção, nesta terra de conquistas, já me bate o coração.
Romana terra, Alentejo de conquistas, bravo guerreiro meu Alentejo, de mouras ruínas, rica poeira. Meu Alentejo romano, magnas assembleias, conceituosas orgias, distintos manjares, nutritivos petiscos, bebidas que entontecem, duplicam a visão das coisas alteram imagens, alucinação, pecado, ludibriam o viajante, que muito simplesmente as rejeita.
O pão, esse manjar divinal, que da espiga de trigo ou de centeio se forma, lhe dão fôrma, dá prazer, força, vitalidade. Trigo moído, amassado, cozido, se fôrma, lhe dão forma, para que possa ser o alimento desejado, de quem se sinta libertado, p'ra ser então proclamado, anunciado, como fruto preferido, e lhe seja dado o dom, de ser codea p'ra ricos, e o miolo dos pobres.
Paragem forçada, apetecida…
Cinco minutos de paz, no campo doirado, entrincheirado, por alvas rochas, o Sol a pino, o murmúrio da brisa, que desliza, traz a lembrança do mar revolto, ternas carícias, bem vindas recordações que se esvaem, metro a metro, quilómetro a quilómetro… Trezentos segundos de silêncio, contemplação, qual repouso eterno, relaxamento. panóplia de cores e odores, sensações edílicas de um solo de romanas formas de sensitivas partículas de que somos feitos.
Chão sentido.
De repente sinto-me elevado no ar, delirante rodopiar de sentidos, repletos de meiguice qual traquinice de miúdos sedentos de felicidade…
Uma árvore corcunda e errante estica os seus braços de verde escuro que me envolvem, puxam-me vagarosamente para dentro de si. Um odor a cortiça e erva perfuma-me, debato-me com violência e medos, perante tamanho acontecimento tão brutal como natural, esporádico atentado, que merece terna reacção, à qual me entrego sem recusas. Num ápice paro de pensar, de me debater. Caio no chão, aturdido. Ela olha-me lá de cima impávida, e com um sorriso malandro de ramo a ramo agita os braços pendentes, dos quais caiem inúmeras folhas amarelecidas e cálidas, que me roçam a face e me cobrem o corpo qual carícias gratuitas num momento de carências.
Mas o melhor é avançar pois tarda e o tempo urge…
Corro ansioso e veloz, entre alamedas douradas, numa estrada feita de cores de carvalhos e latadas.
O Sol esse vaidoso vai p'la frente, que emoção, nesta terra de conquistas, já me dói o coração.
P’ra traz deixei uma mágoa, uma ténue emoção um grito, um adeus, um ai, emoções de ocasião.
A noite envolve-me célere num abraço já esquecido. O caminho p’la frente vai-se esfumando e é estreito. Um véu imenso translúcido abre-se no meio do nada, qual porta ferrugenta de negro ferro pesado, levando na sua beira pedras, latas e muitas cascas… Abertas de par em par, sou recebido à entrada por três arautos da desgraça, que me convidam a entrar, com vestes de cores berrantes, de negro couro partido, correntes fortes e roxas pendem-lhes do corpo envelhecido. Tocam trompas grandes e roucas, de música fétida e pesada, reconheço algum rock sinfónico com muito resíduo metálico. Anunciam-me fomes e medos, doenças, desilusão, pois são arautos do degredo fãns da eterna solidão.
O regressar é penoso no filme que se vai rodar. Só uma malga de sopa E um cigarro p’ra me enganar.
O sono, esse medroso, não vislumbro há muito tempo, na masmorra que me encerra até chorar nem me lembro…
Malafaia 2010-02-28
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