
O AMOR HOMENAGEANDO VICTOR HUGO
Data 22/03/2010 20:41:17 | Tópico: Poemas
| O Amor de Victor Hugo Pois que a beber me deste em taça transbordante, E a fronte no teu colo eu tenho reclinado, E respirei da tu’alma o hálito inebriante, - Misterioso perfume à sombra derramado; Visto que te escutei tanto segredo, tanto! Que vem do coração, dos íntimos refolhos, E tive o teu sorriso e enxuguei o teu pranto, - A boca em minha boca e os olhos nos meus olhos; Pois que um raio senti do teu astro, querida, Dissipar-me da fronte as densas brumas frias, Desde que vi cair na onda da minha vida A pétala de rosa arrancada aos teus dias… Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores: - Não envelheço, não! podeis correr, sem calma, Levando na torrente as vossas murchas flores Ninguém há de colher a flor que eu tenho n’alma! Podeis com a asa bater, tentando, sem efeito, A taça derramar em que me dessedento: Do que cinzas em vós há mais fogo em meu peito; E, em mim, há mais amor que em vós esquecimento! (Tradução: Álvaro Reis) 1
“E, em mim há mais amor que em vós esquecimento, E vosso sendo assim, jamais eu poderia Viver sem ter no olhar a imensa fantasia E dela com certeza eu tenho o meu sustento.
O amor que em vós nasceu e em mim se fez alento Enfrenta, destemido, a noite atroz e fria E sabe desfrutar de toda esta alegria, E tendo-vos senhora, em vós meu pensamento.
Sabe do quão divino é nosso amor, querida Encontro em vossa luz, decerto o meu abrigo Viver-vos com ternura aonde em paz prossigo
É como se pudesse entregar minha vida A quem tanto redime e mostra este caminho Aonde em paz jamais eu seguirei sozinho...
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“Do que cinzas em vós há mais fogo em meu peito;” E sinto que talvez ainda em fogaréus Eu poderei saber da Terra tantos Céus E tendo neste amor além de simples pleito
Certeza de um caminho em luzes sendo feito Cobrindo-me esta paz em claros, mansos véus, Os dias do passado, outrora tão incréus Agora em tanto amor deveras me deleito.
Servir-vos sem pensar em qualquer recompensa Podendo caminhar em meio aos temporais, Sabendo quanto brilho em mim vós derramais,
Minha alma enamorada, em vós somente pensa E tem esta certeza, embora tão fugaz Do quanto amor é belo e nele imersa a paz.
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“A taça derramar em que me dessedento:” Vivendo a plenitude em vós glorificada Singrando um mar imenso em noite enluarada Bebendo da alegria expressa em manso vento. Eu quero em vós a fonte aonde o meu alento Encontra esta certeza em paz abençoada Percorrendo universo adentrando a alvorada E ter além de tudo o amor como provento.
Espessas ilusões escassas nuvens vejo, O sol tomando a cena, um ar nobre e sobejo, Entranha-se no olhar beleza iridescente Prismática emoção, delírio triunfal, Ensandecido gozo, amor tão magistral Manhã tão soberana, agora se pressente...
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“Podeis com a asa bater, tentando, sem efeito,” Alçar um infinito e ver além do mar, Mas saiba que talvez ao sonho se entregar Desejo que vos toma, enfim já satisfeito. O amor não tem razões, e segue tendo em pleito Apenas o carinho e nele ao se tocar Tereis sem perceber, a terra, o céu, luar Tocando mansamente, em ânsias vosso leito.
Escuto a vossa voz clamando por quem tanto Deseja vosso amor e quando também canto Pensando em vosso beijo, o mundo se transforma,
Amor já não respeita enfim qualquer espaço, E quando em luz intensa o rumo eu quero e faço, Descumpro sem pensar, deveras qualquer norma...
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“Ninguém há de colher a flor que tenho n’alma” Tampouco poderá negar a primavera Após se perceber terrível dura espera Apenas o saber do amor ora me acalma
E tenho ainda em mim bem vivo o velho trauma Do quanto doloroso enfrentar a quimera Da solidão cruel imensa e fria fera, Porém quando vos vejo encontro enfim a calma.
Nefastos dias, tive, e neles o terror De não poder jamais viver um grande amor, E agora que vos tenho eu sei quanto é divino
O bem maior que existe e nada o calará, O sol que agora sinto, eterno brilhará E nele com certeza, em paz eu me alucino...
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“Levando na torrente as vossas murchas flores” Depois da primavera aonde me entreguei A seca dominando então a bela grei Diversa do que outrora anunciara albores.
E sei que em vossas mãos, os dias sofredores Traçando em tosca luz o que tanto sonhei, Secando então tal mar, aonde eu mergulhei Deixando no lugar um lamaçal de dores.
Esgarça-se a esperança e nada mais me resta, A vida sem amor, deveras tão funesta E a solidão transtorna andejo coração
E sei que depois disso, a noite não termina, O amor quando se acaba, extingue a velha mina E a seca então destrói a imensa plantação...
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“- Não envelheço, não! podeis correr, sem calma,” Dizia assim ao vento um tolo coração, Espelho sonegando e dando outra visão, Deixando tão somente, a face escusa da alma
Em transparente ocaso, o fim já se aproxima E nele nada tendo, apenas o vazio, Deveras este inverno aplaca algum estio E assim morrendo logo o que se fez estima.
Não posso caminhar em meio aos temporais E tendo-vos querida, o olvido, sonegais Mas sei o quanto é duro, o espelho, nunca nega
E tendo esta certeza, o tempo se escorrendo, Apenas cada ruga, imenso dividendo E o timoneiro teima e em duro mar navega.
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“Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores:” Jamais o temeria, e sei quanto é capaz De ter felicidade uma alma mais audaz E nele ainda creio em dias, sóis e flores.
Não posso me negar a crer nos redentores Caminhos que percebo ao trafegar em paz Vencendo o meu temor, por vezes tão mordaz E ter após a chuva, estrelas multicores.
O céu que tanto quero em plenilúnio imenso, Em vós tanta alegria, eu sei desejo e penso Traçando a cada dia um raro amanhecer
Vivendo a poesia e nela me entregando Sabendo quão divino um ar sobejo e brando Envolto pelo brilho enorme de um prazer...
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“A pétala de rosa arrancada aos teus dias” Deveras poderá quem sabe te trazer Alguma novidade em raro amanhecer Diversa do que outrora ainda mais querias.
Servindo como posso à tua fantasia Quem dera se pudesse em mim vivo poder De ter em minhas mãos, o quanto te querer E nele traduzir a luz que se irradia
Tocando em teu olhar o brilho deste sol, Reinando soberano em todo este arrebol, Traçando uma esperança em plena solidão.
Da pétala arrancada eu sinto que talvez Refaça-se o perfume embora já não vês Primaveras em paz, transbordando em verão.
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“Desde que vi cair na onda da minha vida” A imensa maravilha em luzes tão sutis Deveras me fazendo, então bem mais feliz Traçando de repente, enfim uma saída.
A sorte que pensara outrora já perdida Agora se permite em cores menos gris Trazer mais soberano amor que sempre quis Deixando no passado a sorte dolorida
De quem se fez tão só, buscando a claridade E tendo em meu caminho, amor que é de verdade A força sem igual decerto me movendo,
Negando a palidez do medo que se estampa Moldando uma esperança, invés de fria campa Na glória de um prazer, fantástico e estupendo...
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“Dissipar-me da fronte as densas brumas frias,” Gerando com certeza o amor que mais desejo Sabendo a cada instante além deste lampejo O quanto é necessário as várias alegrias.
Tomando o coração divinas poesias E nelas o melhor, do todo que prevejo Traduz felicidade, além do quanto almejo, Sonhando em farta luz, belas alegorias.
Não vejo outro caminho a não ser o do amor E quando nele imerso eu penso em vos propor Além de um simples passo em rumo à eternidade
A sorte mais audaz de um infinito sonho, Deixando adormecido o mundo tão tristonho, Bebendo desta fonte, amor, que nos invade...
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“Pois que um raio senti do teu astro, querida,”* E dele se percebe a intensa claridade Trazendo ao meu olhar sublime liberdade Mudando num repente a direção da vida.
O quanto eu te desejo e sonho a cada instante Mergulho em teu abraço e bebo da saliva Deliciosamente em ti, a noite é viva E a lua sobre nós, deveras deslumbrante.
Quisera ter agora o quanto necessito Do amor que tu me deste e nele se moldar Além da soberana estrela constelar O gosto sem igual, intenso do infinito.
E amar-te é muito além de simples poesia, É ter em minhas mãos, total soberania!
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“A boca em minha boca e os olhos nos meus olhos” Assim eu poderia enfim saber da glória Do amor que tanto tenho e nele esta vitória Cevando cada flor, matando então abrolhos.
Viver a fantasia e nela perceber O quão maravilhoso é ter bem junto a mim, Aquela que domina, em luzes meu jardim Na fonte delicada, em gozos me embeber.
Pudesse ter no olhar apenas a lembrança Da rara poesia aonde amor se deu, O mundo na verdade eu sei, seria meu, E a sorte mais ausente, a mente agora alcança
Vivendo esta beleza em face deslumbrante, No amor que com certeza, aos poucos me agigante!
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“E tive o teu sorriso e enxuguei o teu pranto,”* Deveras tanto amor jamais imaginara A vida sempre fora, atroz e sendo amara Trouxera tão somente a dor e o desencanto.
Agora quando eu vejo o olhar ensandecido O tempo que se foi, na ausência de um carinho Mergulho em tal abismo e sigo então sozinho, Vivendo do passado aonde encontro olvido?
O quanto se perdeu e tudo fora em vão Somente em meu olhar a dor me consumindo, O mundo que pensara outrora ser infindo As dores do viver, em trevas mostrarão
O rumo em descaminho em mim eu sei se esconde E amor por onde estás? Responda. Diga aonde...
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“Que vem do coração, dos íntimos refolhos,” E neles falsidade encontro invés de paz, Apenas o vazio, imenso e duro antraz Penetra duramente invadindo os meus olhos.
Recebo tão somente a voz da ingratidão E nela não encontro além deste vazio Que em verso triste agora, aos poucos eu desfio, Negando desde sempre a força de um verão.
Pudesse transformar a lágrima em sorriso, Vivendo plenamente o amor que tanto quis, Seria finalmente, então bem mais feliz, Quem sabe assim veria, enfim o Paraíso?
Mas quando eu te percebo; ausente e tão alheia, A solidão, somente, aos poucos me rodeia...
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“Visto que te escutei tanto segredo, tanto!” E agora não podendo enfim seguir meu rumo, Os erros que cometo, engodos que eu assumo, Traçando em meu caminho um turvo e negro manto.
Acordo e quando vejo o leito solitário Percebo que jamais terei o teu amor, Sem ele com certeza, a vida perde a cor, E o tempo se tornando, então duro corsário
Levando o meu tesouro, o barco perde o cais, E sem ancoradouro, aonde poderei Viver se não consigo encontrar noutra grei Momentos que bem sei já foram magistrais,
Recebo a tempestade e nela tanto medo, E embora inda relute, afinal, eu já cedo...
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“Misterioso perfume à sombra derramado” Deixando para trás o que pensara vida, E assim sem perceber se tenho uma saída, Vivendo do que fora à luz do meu passado,
Escarpas que enfrentei, montanhas, cordilheiras A sorte destroçada, o tempo todo em vão O corte preparado, as dores que virão A noite solitária, estrelas derradeiras
Mergulho neste abismo e vejo o nada ser Tocando mansamente a pele em carne viva, O gozo desejado, a solidão me priva E tendo tão somente agora o desprazer
Mortalha que carrego um luto eterno insano, Dizendo deste amor, envolto em desengano...
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“E respirei da tu’alma o hálito inebriante,” Tocando a tua pele em rara maravilha O amor que tanto quero e sei o quanto brilha Qual fora desta vida, incrível diamante
Trazendo em todo verso, insuperável sonho E quando nele imerso eu bebo a claridade E dela enfim traduzo a luz da liberdade Que agora com carinho, em sonetos componho.
Viver eternidade a cada poesia E dela transformar o mundo em plena paz, Deixando o sofrimento agora para trás Tocado pela glória aonde se irradia
Beleza sem igual ternura fabulosa Cevando em ti querida, a bela e rara rosa!
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“E a fronte no teu colo eu tenho reclinado,” Sabendo quão divino o amor que me conduz Ao braço redentor e nele tanta luz Diversa do que outrora eu vira em meu passado,
Singrando em ti o mar aonde um cais divino Pudesse me trazer a fonte de um desejo Que a cada amanhecer em ti sempre prevejo E dele todo o brilho aonde me alucino.
Em ti encontro enfim a paz que tanto quero, No amor mais desejado, o sonho enternecido A glória de saber: a vida faz sentido, Tocado pelo encanto o mais puro e sincero.
Amar e ser amado: intensa maravilha É como imenso sol eterno que ora brilha.
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“Pois que a beber me deste em taça transbordante,” E dela me sacio um pouco a cada dia, Vibrando com prazer, amor ora me guia E leva ao mais perfeito e raro diamante.
Eu quero estar convosco e ter em vossas mãos A glória de saber o quão maravilhoso Caminho que percorro em luz e pleno gozo Deixando no passado os dias frios, vãos.
E sendo-vos senhora, agora mais fiel Encontro finalmente a luz que tanto quis Podendo então dizer: agora sou feliz E tenho esta visão sublime deste céu
Aonde a estrela guia eleva-me deveras Trazendo para a vida eternas primaveras!
VALMAR LOUMANN
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