
ESPIRAL DE SONETOS DESILUSÃO PARTE FINAL
Data 12/03/2010 18:50:14 | Tópico: Poemas
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E não me deixa mais pensar em nada O anseio de um momento aonde eu possa Ressurgir da terrível, funda fossa Há tanto pela vida demonstrada.
Endosso os meus caminhos com ternura, Mas nada disso traz felicidade, Morrendo solitária, na saudade O fim de uma esperança. A dor perdura.
O peso desta vida me vergando, O corte se aprofunda em vaga escara Chagásica ilusão já se escancara, Enquanto os dias turvos se mostrando.
O corpo segue lasso nesta grei Vencida após batalhas que travei.
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Vencida após batalhas que travei Não posso imaginar outro momento, Tomada pelo imenso sofrimento, Diverso do prazer que imaginei,
Espero qualquer dia mais tranqüilo E nele as emoções serão maiores, Porém sem ter nas mãos dias melhores Sozinha em noite amarga e vã; desfilo.
O passo se retém quando se vê Alguma luz embora mais sombria, E quando vejo ao fundo a estrela guia Procuro pelos raios. Mas cadê?
E nada da alegria ainda avisa Senão este vazio que eterniza.
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Senão este vazio que eterniza Propaga-se entre as trevas mais ferozes, E quando se procuram tuas vozes, A sorte vai levando em fria brisa.
O quadro se deslinda sempre assim, Caricaturas ditam o não ser, E tendo a cada passo o desprazer A história com certeza não tem fim.
E quando me imagino mais feliz, Na lábia de outro alguém que me fascina Esgota-se em vazio nova mina, E o tempo todo o sonho contradiz...
Olhando neste espelho me atormento, Saudade dominando o pensamento.
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Saudade dominando o pensamento De quem se desejou feliz, há tempos E agora ao enfrentar tais contratempos Percebe tão somente este tormento.
Mesquinhos os caminhos de um amor Que se promete tanto e não diz nada, Ainda posso crer numa alvorada Perfeita em raro brilho, em mais fulgor?
Sementes abortadas, ledo chão, O gosto desta boca não percebo, E tudo o que deveras inda bebo Transmite a mais dorida sensação,
Pudesse nesta noite me perder Buscando a qualquer custo algum prazer...
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Buscando a qualquer custo algum prazer Não vejo mais saída e me inebrio, O coração se expondo qual vadio Amortalhado sonho passo a ter.
Entrego-me sem ter qualquer pergunta, E nesta sensação de tolo gozo, O mundo se mostrando desairoso E sobre este vazio não assunta.
Ocaso tão somente e nada mais, Assim eu me sentindo sempre usada, Na lama do viver já mergulhada, Momentos na verdade tão banais
Trazendo invés de luz, felicidade, No olhar toda a tristeza que degrade.
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No olhar toda a tristeza que degrade Expondo a realidade mais cruel, Aonde amor traduz delírio e fel, Jamais se conheceu tranqüilidade.
A par dos desenganos a menina Não vê mais esperança de outro dia. E quando a cada passo fantasia, Apenas a verdade inda domina
E nela os meus olhos lacrimados Traduzem o vazio do não ter E nele refletido o desprazer Os sonhos sei que estão abandonados.
Quisera, pelo menos por instantes Momentos de prazer tão deslumbrantes...
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Momentos de prazer tão deslumbrantes Ainda que possíveis, não mais vejo. E quando se transforma em vão desejo, Os dias que virão são torturantes.
Acordo e não consigo vislumbrar O sol que tantas vezes desejei, Brumosa e tão etérea a minha grei, Também não reconhece mais luar.
A sorte se atocaia, vil serpente E neste bote traz o meu final. Aonde se quisera bem, o mal É tudo o que deveras já se sente
Distante dos meus dias mais serenos Alçando tão somente tais venenos.
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Alçando tão somente tais venenos Que tanto destilaste; bem amado. O gosto do prazer e do pecado Transforma em temporais ares amenos.
Mas quando me dou conta e só percebo Irônica figura junto a mim, O mundo se tomando pelo fim, O olhar intolerante de um mancebo
Beijando minha pele em arrogância, Qual fosse alguma forma de dizer Que caridosamente deu prazer, Num ato de total deselegância
E vejo neste olhar de tosca fera Amortalhada enfim, a primavera.
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Amortalhada enfim, a primavera Jamais proporciona em mim algum verão E todos os meus dias mostrarão A dor aonde a sorte destempera.
Peçonhas espalhadas dominando Cenário que pensara benfazejo, E quando o meu final, ora prevejo, Sabendo desde sempre como e quando,
Vergastas vão lanhando a minha pele, E o tempo se tornando contra mim, Ainda teimo mesmo vendo o fim, Abismo sem limites me compele.
E quem nos meus caminhos me mostrou Levando a melhor parte; só. Deixou...
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Levando a melhor parte só deixou Resquícios e os escombros que carrego, O passo sempre trôpego vai cego Dizendo na verdade o que ora sou.
Medonha garatuja; sobrevivo Depois de temporais e noites vãs Sem ter a perspectiva de amanhãs Ainda tendo olhar bem mais altivo.
Esgoto-me em bebidas e mentiras, Nefasta realidade me desdenha Do amor sem saber códigos nem senha, Restando do passado simples tiras,
Enquanto a vida marca e me maltrata Não faço do meu verso uma bravata...
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Não faço do meu verso uma bravata Tampouco vou me expor inutilmente A imensa tempestade se pressente Em noite tão vazia quanto ingrata.
Semeio nos canteiros a esperança, Mas sei que não colhi sequer um pouco Do tanto que quisera e me treslouco Enquanto este vazio em nós se lança,
Mostrando a minha face mais audaz, E nela se tempera uma ilusão Diversa do que versos mostrarão Traçando o que deveras satisfaz
Audaz não temo mais qualquer verdade E rompo do passado a velha grade.
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E rompo do passado a velha grade Depois de não viver tranquilamente E quando este futuro se desmente Desencanto onde se a sorte se degrade
Mesquinhos caminhares traduzidos Em tolas emoções e nada mais Do que diversos dias tão banais Expostos aos delírios das libidos
Medonha fantasia caricata E nele retratado este vazio Por onde a cada passo, não desfio Gerando desde sempre o que maltrata
Aonde se fizera uma porteira O amor que imaginara já se esgueira.
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O amor que imaginara já se esgueira Por entre tantas luzes de neon E o mundo modifica o velho tom Falsária sensação tão corriqueira
E teimo pelas ruas sem guarida, Perpetuando o medo que me entranha, Pudesse com a sorte em tal barganha Saber o quanto o gozo ainda acida
Quem tanto se fizera quase louca E agora ao discernir um novo rumo, Os erros cometidos eu assumo Certeza pouco a pouco já treslouca,
E como poderia em torpe estrada Viver eternamente apaixonada?
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Viver eternamente apaixonada? Cansei de ter em mim o brilho falso Que me trará no fim o cadafalso, Depois de tanto crer, sobrando o nada.
Apenas nos meus olhos, lassidão, E tudo vai passando sem sequer Saber de uma alegria, e se puder, Ainda poderia ver verão.
Mas tudo se repete em luz sombria, O passo retardando o caminhar, Amar e novamente tanto amar? A casa pouco a pouco já ruía.
E assim de tanta dor que eu encontrei Sozinha não procuro reino e rei.
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Sozinha não procuro reino e rei Vestindo esta ilusão não caberia Sequer pensar num tempo de alegria Se tudo o que pensara, não herdei.
Acordos destruídos, falsos sonhos, Momentos mais cruéis, somente enganos, Aonde se pudesse crer em planos Os dias são vorazes e tristonhos.
Perdendo a direção, sem um remanso A timoneira afasta-se do cais E sabe que somente em vendavais O porto que desejo não alcanço.
Viver sem ter ar que suaviza Buscando em tempestades pela brisa.
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Buscando em tempestades pela brisa, Não poderia mesmo ter a chance De ter além do quanto o olhar avance Saudade maltratando, traumatiza.
E o peso do passado ainda trago, E nele não consigo perceber O quanto ainda tenho de prazer, Se jamais encontrei em ti afago.
Pergunto por talvez quem possa dar Notícias de quem foi pra nunca mais, Os dias que sonhei fenomenais, Eu sinto tão distantes deste olhar
E assim procuro ainda algum alento Olhando para o enorme firmamento.
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Olhando para o enorme firmamento Não vejo mais o brilho deste sol, Brumosa realidade no arrebol, E a cada amanhecer outro tormento.
Vivesse pelo menos a alegria De ter nos meus momentos mais felizes Além de simples cortes, cicatrizes, E neles outro tempo então veria.
Acasos dominando a minha história Perguntas sem respostas, sigo em frente. O amor que na verdade sempre ausente Só torna a fantasia merencória.
Invés de me trazer sobejos grãos, A vida repetindo velhos nãos.
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A vida repetindo velhos nãos Jamais me trouxe a luz que necessito E o dia que pensara mais bonito, Demonstra tantos sonhos cegos, vãos.
E neles o retrato desta que Depois de tanto tempo não sabia O quanto se perdera em agonia Buscando a sua sombra, mas cadê?
O que me resta é simples: mesmo nada Do qual se gera a morte a cada passo, Nos braços de um qualquer já me desfaço E vejo a noite em fúria deslavada.
Tomando o caminhar desta demente A vida a cada passo mais me mente.
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A vida a cada passo mais me mente E assim vou caminhando contra o vento, Bebendo tão somente o sofrimento Qual fora simplesmente uma descrente.
Atéia sem destino em noite escura, Vivenciando apenas solidão, Distante dos meus dias de verão, Vazio dentro da alma me tortura...
Pusesse noutro mar o meu saveiro, Vagando com a bússola do sonho, Talvez o meu destino mais risonho Além deste terror já corriqueiro
Porém este caminho mais singelo Apenas nos meus sonhos eu revelo.
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Apenas nos meus sonhos eu revelo O quanto me entregara ao teu carinho, E agora no vazio em que me aninho Ausente de meus olhos o castelo
Que tanto desenhei na mocidade, Vencendo os meus temores e pudores Seguia qual caminho aonde fores, A vida tal desejo já degrade.
E o pêndulo oscilando sorte e dor, Mesquinhas emoções, proporciona E quando a realidade volta à tona Somente se percebe este terror
Doente, sem remédio, prosseguir Aonde se buscava um elixir.
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Aonde se buscava um elixir Apenas ilusão que ainda trago E nela se percebe tal estrago Que tanto se mostrando faz sentir
O medo do caminho mais audaz, E tendo esta visão conservadora, Diversa do que outrora sempre fora, Dos sonhos já não sou sequer capaz.
E tendo esta certeza do não ter E vendo a cada dia desabar A casa que pensei edificar Nas ânsias dolorosas do prazer.
E a dor ora me inunda e tão imensa, Nem mesmo a fantasia recompensa.
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Nem mesmo a fantasia recompensa, O amargo caminhar de uma mulher Que tanto necessita quanto quer A glória de um amor, sobeja e intensa.
Vestindo solitária alegoria O medo se disfarça com palavras E quando outra senzala ainda lavras O peso em minhas costas se recria.
Amordaçada voz de uma esperança Mesclando cardo e dor em dura senda, O sonho na verdade não desvenda Realidade tosca em que se lança
Mostrando num desenho destroçado Um rosto pelo tempo amargurado.
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Um rosto pelo tempo amargurado Expõe a face amarga da pantera Que tanto se perdeu em tola espera Vivendo tão somente do passado.
Pudesse pelo menos ver na face Retrato de um momento mais feliz, Diverso do que tanto em vão eu quis Realidade fútil inda embace.
Tornando a caminhada quase espúria E nela tropeçando, sigo em frente, Por mais que a tempestade se apascente Restando tal figura de uma incúria.
Já não desejo enfim quem suaviza Tampouco necessito desta brisa.
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Tampouco necessito desta brisa Que falsamente espalhas por meu ar E nela poderia te encontrar Se a vida de outra sanha não me avisa.
Descasos são comuns em quem não sabe Do amor que tantas vezes se aprofunda E tendo uma alma sórdida circunda Vagando mesmo quando mais cabe
A solidão entranha-me deveras E tendo a tempestade costumeira Por mais que na verdade ainda queira Exposta à vilania destas feras
Olhando para longe, na amplidão Procuro novos dias que virão...
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Procuro novos dias que virão, Tentando acreditar no amanhecer, E tanto acostumada ao nada ter Somente vejo a mesma negação.
E parto rumo ao vago no horizonte Buscando cordilheiras e não tendo, Momento aonde um sonha ora estupendo, Porém realidade desaponte
Aquela que se fez inteira e tanto Queria pelo menos ter a paz, E quando nada chega e satisfaz Sobrando para mim o desencanto
Estio se transforma em ritual E a seca vai tomando o meu quintal.
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E a seca vai tomando o meu quintal Depois de procurar uma invernada, E agora que não resta quase nada, O dia sem ternura, é sempre igual.
A face desdenhosa da saudade Tomando este cenário não permite Que tenho sob o olhar outro limite Senão tal demarcado pela grade.
Enquanto a fantasia se cerceia, Apenas o terror chega e me engano Vivendo este momento mais profano, Bebendo da ilusão torpe, mas cheia
E sem ter quem sequer ainda guia Procuro alguma carta de alforria
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Procuro alguma carta de alforria Embora saiba o quanto isto me custa, A vida que queria mais augusta Transcorre sem ternura em agonia.
Expondo em cada verso o que desejo Apenas um momento de ternura, Cansada de encontrar em vã procura Somente vez em quando algum lampejo
Do todo necessário para quem Adentra os seus castelos, falsos sonhos Que mesmo sendo às vezes mais risonhos Traduzem o que espera e nunca vem.
E assim sem ter caminho ou direção As horas mais benditas não virão.
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As horas mais benditas não virão E assim o tempo passa amargamente, O sonho a cada dia mais desmente, E nele tão somente a negação;
Pudesse ter no olhar esta alegria Que tanto desejou a sonhadora, E quando mais distante ainda fora O mundo sem calor, noite sombria.
E tendo em cada olhar um brilho insano, Vivendo da ilusão que não sacio, O sonho se mostrando então vazio Mudando a direção de cada plano
Pra quem se fez mulher e em tudo crendo Felicidade nunca é dividendo.
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Felicidade nunca é dividendo Somente maltrapilho coração Espera sem caminho na amplidão E os dias sem ninguém, vou percorrendo...
E o canto da esperança não escuto, O Amor jamais se deu em luz intensa, Sem ter sequer quem mesmo me convença O olhar da fantasia sendo astuto
Transforma em desencanto o que em verdade Maltrata muito além do nada ser. E beijo com ternura o desprazer Por mais que tanta dor já me degrade
Os olhos sem ninguém morrem vazios Perdendo esta noção em frágeis fios.
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Perdendo esta noção em frágeis fios O quanto desejara ainda trago, Por mais que ainda cause algum estrago Não posso suportar tais desafios.
E o gosto tão amargo da vingança Jamais combinaria com meu sonho E quando novo dia em ti componho A sorte sobre a mesa enfim se lança.
E todos os momentos são terríveis, Ausente de teus braços; não sou nada Pudesse reviver a caminhada Levando aos mais supernos, altos níveis.
Depois que minha vida se perdeu Aonde te encontrar, querido meu?
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Aonde te encontrar, querido meu? Ausente dos teus braços; nada sou Meu mundo no vazio mergulhou Felicidade há muito se esqueceu
E quando me recordo de outro tempo Vivendo com total fascinação, Eternizando em nós claro verão, Ausente dos meus passos, contratempo.
Porém a vida trama novas sendas E nelas minhas sanhas se denigrem Distantes ilusões por onde migrem Sequer tu me confessas ou desvendas
Lembrança do que outrora sempre quis E o gosto de um momento mais feliz.
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E o gosto de um momento mais feliz Ainda saboreio em noite clara, Vivendo a fantasia que me aclara, Mesmo se a realidade contradiz.
Pusesse meu saveiro em mar mais calmo, Teria ancoradouro nos teus braços, Mas quando se perderam nossos laços Minha alma sem perdão em tolo salmo
Vagando pela noite, escuridão, Toando esta canção que desalenta, A sorte se transforma em violenta Mudando com certeza a direção.
História feita em paz já desatina E quando acordo, nada me fascina.
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E quando acordo, nada me fascina Apenas o terror domina a cena, O amor que desejava e que serena Secara com certeza antiga mina.
Delírio que pensara feito em gozo, Tormenta se espalhando pela casa, O medo do futuro ora me abrasa O dia se promete pavoroso
Nefasta realidade sonegando O que uma fantasia procurava De ti querido amante quase escrava, E o temporal ressurge destroçando.
Uma esperança atroz e nesta ceva Eu vejo este futuro em frio e treva.
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Eu vejo este futuro em frio e treva E nada me permite outro caminho O coração cigano vai sozinho E em plena tempestade ainda neva
Esgotam-se estas chances no vazio E o todo se desfaz em triste campo, Nos sonhos muitas vezes eu acampo E um tempo mais tranqüilo ainda crio.
Mesquinha realidade me consome E deixa para trás a fantasia. Enquanto um novo mundo amor urdia, No olhar de quem ficara, medo e fome
Assim em temporais ora deslindo Quem tanto se entregou e nada vindo...
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Quem tanto se entregou e nada vindo Jamais imaginara outro momento Além do que se fez em tal tormento Medonho que percebo ser infindo.
Vestindo esta emoção ainda creio Num último segundo feito em festa, Mas quando o tempo chega e nada resta Aumenta a cada dia meu receio.
E o pranto se espalhando em olhos tristes Estorvos tão comuns no desamor, Ainda trago em mim a antiga flor, Porquanto no meu peito ainda existes
E assim mesmo que seja um sonho fero, Um dia há de voltar quem tanto espero.
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Um dia há de voltar quem tanto espero. Após o sofrimento que se emana De uma ilusão feroz e soberana Morrendo deste modo tão austero.
Sincera, muitas vezes inda quis Teimar contra a verdade mais atroz, E ainda que se ouvisse a minha voz Somente expressaria cicatriz
Que tanto me tortura e me faz mal, Deixando o coração em polvorosa Jardim que imaginara, sem a rosa, Abrolho se espalhando no quintal.
Embora passageira da agonia Apenas quero ser feliz um dia.
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Apenas quero ser feliz um dia Podendo num sorriso perceber Maravilhosos sonhos em prazer, Deixando para trás vida sombria.
O quanto se deseja e nada vindo Permite ao coração somente o pranto E neste mundo amargo em desencanto, Dor traduz pesadelo quase infindo
Ocasionando em mim tal cataclismo E nele sem saída, volto ao pó, Caminho sem ninguém, meu mundo é só, Vagando em noite frágil, louca eu cismo.
A multidão em volta imensa e vária Mas quando adormecendo; solitária...
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Mas quando adormecendo; solitária, Depois de ter nos sonhos a alegria, É como se esta estrela que me guia Levasse à solidão tão temerária.
Aos olhos de quem amo, nada sou, E sinto que talvez ainda possa Erguer-me da terrível, fria fossa Aonde o desamor me mergulhou.
Vacante coração procura alguém Que possa me trazer felicidade, Mas quando o mundo chega e a dor invade Somente este vazio ainda vem
O olhar tão pensativo em vão se lance: Pudesse ter ao menos uma chance...
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Pudesse ter ao menos uma chance Quem sabe encontraria enfim a luz E quando à imensa treva me conduz O que pensara outrora ser romance Nuances do passado rebrilhando Tocando a minha pele, em dura chaga Apenas o terror ainda afaga O rosto que quisera bem mais brando.
E o beijo que recebo de um falsário Avança sem destino e perde o rumo, Os erros cometidos eu assumo, Jamais me trancaria num armário.
A luz de um novo tempo enfim prevejo E nela a liberdade que desejo.
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E nela a liberdade que desejo, Na sorte que desmente o dia a dia, Pudesse ter no olhar a poesia, E nela saciado o meu desejo.
O quarto de dormir. Cada lençol Trazendo ainda a marca de quem tanto Perdera com o tempo o raro encanto, Morrendo pouco a pouco o antigo sol.
São turvas as estradas que professo, E delas não encontro mais final. O amor imenso e torpe ritual, Não causa a quem se entrega algum progresso
Prazer traria luz nesta procura E quando me entranhasse em noite escura.
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E quando me entranhasse em noite escura Em plena tempestade eu poderia Viver quem sabe ao menos a alegria Que tanto me sacia enquanto cura.
O beijo de quem amo me faz bem, Mas quando este vazio toma a cena Sem nada nem ninguém que me serena, A vaga solidão já me contém
E tudo o que pensara ser verdade Morrendo pouco a pouco, nada deixa, Queria ser a fêmea, deusa e gueixa, Delírio que deveras alto brade
E nisso uma emoção deveras forte Pra quem se fez em dívida co’a sorte.
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Pra quem se fez em dívida co’a sorte O tempo desafia e não permite Que tudo ultrapassando algum limite Mudando com certeza rumo e Norte,
Estranhas ilusões são costumeiras E quando perpetuam trazem dor, Aonde se pudesse ter calor, Diverso deste sonho em que queiras
Viver o que desejo sem perguntas, Mas sei ser impossível sonho, então Os dias mais sombrios mostrarão Almas que jamais andaram juntas.
Pudesse ter nos olhos belo prado E aonde te encontrar; meu bem amado.
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E aonde te encontrar; meu bem amado Num céu feito em neblinas mais cerradas, Vasculho nos caminhos, nas estradas Montanhas, vales, planos, no cerrado
E nada de encontrar quem tanto quero Amante que se fez em perfeição, Meus olhos sem destino não verão O amor que desejei farto e sincero.
Saber da solidão que agora invade A casa e toma conta disto tudo, Ainda que em verdade enfim me iludo, Já sei do meu final: ansiedade.
E como me furtar ao grande breu Se a estrela que me guia se escondeu.
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Se a estrela que me guia se escondeu Não tenho outra saída: escuridão! Ainda quando em mim houver verão Descrente coração venal e ateu
Mudando a direção do pensamento Vagando sem destino por aí, O encanto que bebera outrora em ti Agora se transforma em vil tormento.
Os passos pela casa, noite afora, O teu perfume invade esta janela, E quando uma verdade se revela, Somente a fantasia me devora.
Aonde imaginara ser feliz Realidade chega e contradiz...
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Realidade chega e contradiz O todo se transforma em nada ter, Apenas nos meus olhos desprazer E o coração inútil aprendiz.
Vivesse pelo menos a esperança E dela não sorvesse tanto medo, Além deste carinho em que me enredo O amor neste nuance então se lança
E vejo algum sorriso prazeroso E dele sinto vir suave brisa, O cheiro deste corpo suaviza Promessa delicada de algum gozo.
Porém quando a verdade descortina Voltando para a triste e vã rotina...
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Voltando para a triste e vã rotina Retornando ao vazio que me deste Caminho em pedregulhos tão agreste, Somente a solidão inda domina
O medo de seguir impede o passo E quando me encontrara mais feliz O mundo sonegando e a cicatriz Traduz o pesadelo aonde eu traço
As minhas ilusões cruéis e fúteis, Sangrando inutilmente e sem ninguém, O amor que tanto quero e nunca vem Transforma dias calmos em inúteis.
Encontro tão somente frio e treva Diverso do que uma alma tola, ceva...
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Diverso do que uma alma tola, ceva O mundo se traduz em crueldade E quanto mais ao longo o sonho brade Vislumbra a realidade feita em treva.
Aonde se encontrasse algum prazer Não tendo mais sequer outro momento, Nas ondas deste mar eu me atormento E o cais e ancoradouro; não sei ver.
Restando para mim o descompasso Marcando cada dia desta vida, Imagem que ora vejo tão sofrida, Caminho aonde o mundo já desfaço.
Matando quem num dia claro e lindo Pensou num louco amor, superno e infindo...
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Pensou num louco amor, superno e infindo Quem tanto desejara reviver Um dia feito em glória. Ao me perder O mundo em minhas mãos se destruindo...
Pudesse ter no olhar ainda vivo O belo sentimento ao qual me dei, Nos braços do meu homem mergulhei, Momento de prazer tão incisivo.
Agora a moça espreita na janela Nem nada nem ninguém presta atenção Naquela que se fez em ilusão E ao que passou ainda em vão se atrela,
Pudesse ter de novo o que mais quero O amor, meu derradeiro e mais sincero...
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O amor, meu derradeiro e mais sincero Seria como um último suspiro E quando no vazio inda me atiro Reflito este momento que venero
Do tempo mais feliz de minha vida, Reflete dentro da alma esta esperança E quanto mais audaz o tempo avança Revejo esta lembrança tão doída.
Assim quem sabe um dia enfim pudesse Ter toda esta alegria que inda busco, A madrugada adentra e o lusco fusco Impede que este brilho enfim regresse
Apenas resta em mim vã fantasia Bem mais do que a verdade propicia...
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Bem mais do que a verdade propicia O sonho traduzindo o que deveras Ainda provocando vãs esperas Pudesse transformar tanta agonia.
A sorte não se faz tão benfazeja Tampouco vejo a luz que inda procuro, O chão aonde piso, árido e duro Felicidade em mim já não bafeza.
Medíocres emoções, restos do que Pensara e não sabia aonde existe, A caminheira amarga, agora triste Buscando um bom momento e nada vê
E assim como se fosse uma adversária A vida se repete. Temerária...
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A vida se repete temerária E nada do que eu quis se realiza O amor como se fosse mera brisa A solidão se mostra vil corsária
E tudo se esvaindo na fumaça Ao menos um sorriso; mas cadê? O olhar enternecido não mais vê E a vida sem prazeres, triste, passa.
Bebendo desta dor que é costumeira, Ainda que perceba algum momento Sem ter aonde um dia veja alento Jamais se viu aberta esta porteira
Permite a realidade este nuance Quem tanto espera, eu sei, nunca descanse...
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Quem tanto espera, eu sei, nunca descanse Depois de ter na vida os temporais E não saber se existem magistrais Momentos tão sublimes num romance.
Ao menos; meu caminho ainda creio Ser feito em luzes pálidas. Mas quando Percebo todo o sonho desabando Restando novamente este receio,
Esquivas alegrias não consigo E o peso do passado em minhas costas Diverso da esperança, não apostas, Pois vês no meu olhar o desabrigo.
Buscando ter nas mãos o meu desejo Porém tanto procuro e nada vejo...
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Porém tanto procuro e nada vejo E sinto ser assim a minha vida, Prepara-se com fúria a despedida Deixando para trás sonho sobejo.
O gosto do não ser me mortifica E o beijo que não veio, ainda guardo. Caminho feito em pedra, medo e cardo, Não tendo da alegria alguma dica.
Cravado dentro em mim esta presença Da chaga que jamais cicatrizasse, E quando vejo apenas tal impasse Angústia se tornando tão imensa
E como poderia ter ternura Sabendo que esta dor, vaga, perdura?
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Sabendo que esta dor, vaga, perdura; Caminho pelas trevas nada além, E quando inda percebo e ninguém vem Não posso merecer carinho e cura.
O corte se aprofunda dentro da alma E o gozo que pensara ser possível, Agora numa voz quase inaudível Impede finalmente paz e calma.
O quanto desejara e nada veio Somente a ingratidão, medo feroz, Espalho sem sentido a minha voz E o coração não sente e fica alheio
E como poderia ter um Norte Sem ter amor que ainda me conforte?
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Sem ter amor que ainda me conforte, Termino este cantar em amargura, Aonde se pensara em sonho e cura, Vislumbro no final, a minha morte.
E tudo já perdido, o que me resta? Somente a solidão incrível fera. Se jamais pude crer na primavera O sol não adentrando pela fresta
Aberta do meu peito sonhador, Mesquinha realidade me domina, Secando sempre a fonte, cadê mina? Olhando para frente, vejo a dor
Se eu quero algum momento abençoado Apenas se eu mirar o meu passado...
VALMAR LOUMANN
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