
ESPIRAL DE SONETOS DESILUSÃO
Data 12/03/2010 18:46:52 | Tópico: Poemas
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ESPIRAL DE SONETOS
13 SONETOS BÁSICOS
DESILUSÃO
1 Pudesse ser a noiva dos teus sonhos E ter tua alegria junto a mim, O tempo não traduz nem traz assim Momentos que desejo mais risonhos.
Vivesse novamente em luzes tantas Durante as minhas idas por aí E tudo que deveras conheci Jamais demonstraria quanto encantas
E sei que não podendo ter nas mãos A sublime ventura de assim ser Buscando a qualquer custo algum prazer A vida repetindo velhos nãos.
Aonde te encontrar, querido meu Se a estrela que me guia se escondeu
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Se a estrela que me guia se escondeu Depois de tantos anos sem ninguém Somente a fantasia ainda vem E nela tão somente imenso breu.
Vasculho dentro em mim e nem sinais Dos dias que pensara poder ter E sem saber sequer o que é viver Os dias transcorrendo sempre iguais.
Vencida sem batalhas simplesmente Morrendo sem saber felicidade No olhar toda a tristeza que degrade A vida a cada passo mais me mente.
E o gosto de um momento mais feliz, Realidade chega e contradiz...
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Realidade chega e contradiz. Não deixa sobrar pedra sobre pedra O coração deveras já se medra Enquanto sou decerto uma infeliz.
Vestindo esta ilusão que não me cabe No olhar lacrimejada negação, E o tempo sonegando outro verão, Aguardo que este sonho em vão desabe
E todo o meu caminho outrora belo, Espinhos, pedregulhos são constantes, Momentos de prazer tão deslumbrantes Apenas nos meus sonhos eu revelo,
E quando acordo, nada me fascina, Voltando para a triste e vã rotina...
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Voltando para a triste e vã rotina Apenas o cansaço me entretém Quisera nesta vida ter alguém, Somente a solidão inda domina
E muda a direção da minha vida, Transforma toda luz, escuridão. E sei que na verdade não virão Momentos onde a sorte é decidida.
Saber do nada ter e prosseguir, Buscando algum momento pelo menos Alçando tão somente tais venenos, Aonde se buscava um elixir.
Eu vejo este futuro em frio e treva, Diverso do que uma alma tola, ceva...
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Diverso do que uma alma tola, ceva O mundo se propôs em aridez Enquanto a fantasia se desfez A sorte que buscara ser longeva
Agora se esvaindo pouco a pouco, E amante da ilusão nada me resta, Viver se traduzindo em voz funesta, Sem ter sequer encanto me treslouco
E vago, solitária em noite imensa, Tentando ser feliz. Oh! Quem me dera, Amortalhada enfim, a primavera Nem mesmo a fantasia recompensa
Quem tanto se entregou e nada vindo Pensou num louco amor, superno e infindo...
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Pensou num louco amor, superno e infindo Até chegar à dura realidade Por mais que a fantasia ainda brade, Verdade pouco a pouco já deslindo
E vejo que talvez pudesse ainda Viver algum momento de ventura, Mas quando vejo inútil tal procura Uma esperança aos poucos sei que finda.
E beijo o teu retrato amarelado, Amado que se foi e não voltou, Levando a melhor parte só deixou Um rosto pelo tempo amargurado,
Um dia há de voltar quem tanto espero, O amor, meu derradeiro e mais sincero...
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O amor, meu derradeiro e mais sincero Jogada pelas ruas, abandono, E quando me percebo em tom profano, Nos braços de outro alguém me desespero.
Vencer os meus anseios e poder Seguir tranquilamente a minha vida. Depois de uma esperança já perdida, Não posso e nem pretendo mais saber
Do amor que dominando me escraviza E tanto me seduz, mas me maltrata, Não faço do meu verso uma bravata, Tampouco necessito desta brisa,
Apenas quero ser feliz um dia, Bem mais do que a verdade propicia...
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Bem mais do que a verdade propicia O mundo se propõe num desafeto, Não tendo mais sequer algo concreto Restando tão somente a fantasia,
Navego por um mar desconhecido Buscando o marinheiro que partiu Num sonho tão cruel, amargo e viu, E nunca mais voltou. Aborrecido?
Não sei e nem pretendo solução, Apenas quero ter felicidade, E rompo do passado a velha grade Procuro novos dias que virão...
Mas quando adormecendo solitária, A vida se repete. Temerária...
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A vida se repete temerária E nada do que quis ainda trago, Viver sem teu carinho, sem teu afago É como ser na vida uma alimária.
Os sonhos não consigo mais vivê-los Realidade aos poucos me consome, Na noite a solidão, terrível fome Transborda nos terríveis pesadelos
E vendo que amanhece e é tudo igual, Repete-se esta vida rotineira, O amor que imaginara já se esgueira E a seca vai tomando o meu quintal,
Pudesse ter ao menos uma chance... Quem tanto espera, eu sei, nunca descanse...
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Quem tanto espera, eu sei, nunca descanse, Mas teima e tenta ver a claridade, E mesmo quando a treva adentra e invade Do Amor pretendo ter algum relance.
E nada se apresenta e me atormento, A insânia vai tomando minha mente, O amor que tanto quis forte e envolvente Já não me abandonando o pensamento
Domina cada fato, a cada dia E não me deixa mais pensar em nada, Viver eternamente apaixonada? Procuro alguma carta de alforria
E nela a liberdade que desejo, Porém tanto procuro e nada vejo...
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Porém tanto procuro e nada vejo E sei que talvez haja um novo alguém, E enquanto o amor maior inda não vem Dos sonhos tão somente algum lampejo.
Vivesse a maravilha de poder Ter sob o olhar o brilho fascinante Então eu poderia num instante No amor maior em vida mesmo crer...
Sabendo ser apenas ilusão Vencida após batalhas que travei, Sozinha não procuro reino e rei, As horas mais benditas não virão.
E quando me entranhasse em noite escura, Sabendo que esta dor, vaga, perdura...
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Sabendo que esta dor, vaga, perdura Já não conseguirei outro caminho E quando em ilusões teimosa, aninho É como se buscasse inútil cura.
Escrava da emoção, a liberdade Ausente da senzala feita em vida, E quanto mais se teima, mais se acida E o medo tão somente inda me invade.
Estando solitária e nada vendo Senão este vazio que eterniza, Buscando em tempestades pela brisa, Felicidade nunca é dividendo
Pra quem se fez em dívida co’a sorte, Sem ter amor que ainda me conforte...
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Sem ter amor que ainda me conforte Vagando pelas noites: solidão Ainda que procure a direção O barco já se fez sem rumo ou norte,
E quando me pergunto onde tu andas Estrelas e cometas, nada vejo. Somente alguma imagem, num lampejo De luas enfeitando estas varandas.
Medonhas madrugadas, dias frios, Saudade dominando o pensamento Olhando para o enorme firmamento, Os olhos sem ninguém morrem vazios.
E aonde te encontrar; meu bem amado, Apenas se eu mirar o meu passado...
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Apenas se eu mirar o meu passado Consigo vislumbrar alguma luz, E nela teu reflexo não reluz, O sonho a tanto tempo anunciado
Jamais resistiria ao medo imenso Da solitária noite que adivinho, Na falta de ternura e de carinho No amor que já se foi agora eu penso
E tudo se transforma em dor e pranto, Tristeza dominando o dia a dia, A dor se renovando, e esta agonia, Servindo de mortalha, frio manto.
Quem dera reviver o meu jardim E ter tua alegria junto a mim,
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E ter tua alegria junto a mim Seria o que melhor pudesse ver, Somente me restando o desprazer, O mundo se tornando um mal sem fim
Anseios são deveras quais açoites E cortam minha pele a cada instante O amor que desejara deslumbrante Se traduz em terríveis, frias noites
Mergulho no silêncio e nada ouvindo Somente o vento bate na janela E assim a solidão já se revela E o medo de viver se torna infindo.
O vento é o companheiro que inda vem Depois de tantos anos sem ninguém.
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Depois de tantos anos sem ninguém Vasculho dentro em mim e nada encontro, Somente tanto medo e desencontro O coração sofrido inda contém.
Pudesse ser feliz ao menos isso, Vivendo um grande amor em plenitude, Porém por mais que o vento ainda mude Diverso do que quero e até cobiço,
O mundo se transcorre em treva e medo, Ainda que talvez haja esperança Ao longe meu olhar vazio lança E quando uma alegria eu me concedo
O olhar da solidão, que tanto medra Não deixa sobrar pedra sobre pedra.
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Não deixa sobrar pedra sobre pedra O desencanto toma este cenário E amor que sei sublime e necessário Esvai-se e meu caminho então se medra
O beijo que recebo, falso brilho E nele nada tendo só promessa Enquanto uma ilusão vã recomeça Realidade chega e nela trilho.
Amante de mim mesma e nada mais, Vazios entre tantos pensamentos, Aonde poderia ter alentos Diverso dos meus sonhos, não há cais.
E quando me percebo sem ninguém. Apenas o cansaço me entretém
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Apenas o cansaço me entretém E quando teço um sonho nada vejo Prazer que imaginara tão sobejo, A vida transcorrendo muito aquém.
A moça que pensava ser princesa, Depois sem ter castelos, hoje é só Do rei sequer sobrou poeira e pó, O vento derrubando a fortaleza
E o solo aonde um dia cultivara Já não produz senão estas daninhas, Belezas que julgara serem minhas, A sorte se propaga em fria escara,
E quando a poesia se desfez O mundo se propôs em aridez.
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O mundo se propôs em aridez A quem se poderia crer no amor Aquém do paraíso vejo a dor E nela minha amarga insensatez.
Beijando boca a boca, não sacia A sede de um anseio mais dileto, E quando noutro braço me completo, Somente algum lampejo em fantasia.
Vivenciando assim a triste sorte, Morrendo sem ter nada que me ajude, Há tanto já distante juventude Deixando se perder sem ter aporte.
Caminho quando o sonho ainda invade Até chegar à dura realidade.
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Até chegar à dura realidade Vagando por diversas fantasias E nelas com certeza não me guias, Distante dos meus olhos, na verdade.
Nos bares entre festas e baladas, As danças e os delírios mentirosos, Momentos que bem sei são caprichosos Percorro sem sentido, tais estradas,
Menina já se foi faz tanto tempo Agora só restando uma amargura E nada, nem a festa inda me cura, Somente algum terrível passatempo
A esperança, mal chega a mim o sono Jogada pelas ruas, abandono.
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Jogada pelas ruas, abandono Os sonhos que talvez pudesse ter E neles tão distante do prazer Vivendo em mais completo desabono.
Às vezes me pergunto por que Deus Deixou em mim a marca tão cruel E ainda que perceba sigo ao léu Somente preparada para o adeus.
Risonhas maravilhas? Vou distante, Quem tenta e não consegue e assim desiste Condena-se à verdade dura e triste Por mais que um falso brilho se agigante
Ausente deste amor, não me completo O mundo se propõe num desafeto.
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O mundo se propõe num desafeto E quem ainda crê numa esperança Somente no vazio já se lança Aonde te encontrar, amor dileto?
Não pude perceber tua presença Nem mesmo nestes raios de luar E quando me encontrava à preamar A dor me transtornava, mais intensa.
Ausente do que possa uma alegria, Queria pelo menos num momento, Distante do terror e do tormento, Uma alma sem ninguém só fantasia
Realidade nega algum afago E nada do que quis ainda trago.
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E nada do que quis ainda trago Nem mesmo algum lampejo do que outrora Se fez em alegria e me devora, Causando tão somente dor e estrago.
Assisto aos meus momentos derradeiros E neles a menina não está Há tanto se perdeu e desde já A seca destroçando os meus canteiros
Jamais imaginei jardim e rosa, Somente em vãos espinhos fez-se a ceva E a noite se embrenhando em dura treva Aonde se queria maviosa.
Um coração em medo já se invade Mas teima e tenta ver a claridade.
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Mas teima e tenta ver a claridade Quem tanto se acostuma: escuridão E quando se entregando à tentação Por mais que a vida atroz tudo degrade
A fútil sonhadora não descansa E teima contra tudo e contra todos, Mesmo que enfrente apenas os engodos, Procura a fantasia calma e mansa.
Se a vida em turbulências já se fez E nisso posso ver o meu retrato, O mundo é tão feroz, cruel e ingrato E nele se perdendo a lucidez
Mas teimo e uma esperança sempre vem E sei que talvez haja um novo alguém.
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E sei que talvez haja um novo alguém Portanto não me canso de esperar E bebo cada raio do luar E nele uma alegria que convém
A quem se fez em sonho e em vã promessa, A sorte desvendando o meu segredo, E quando a tempestade vem não cedo E a senda novamente recomeça
Usando da esperança, frágil arma Lutando pela glória que não veio, No olhar incontestável devaneio, Porém realidade me desarma,
E quando nela faço pouso e ninho, Já não conseguirei outro caminho.
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Já não conseguirei outro caminho E teimo contra a força da maré, Ainda resta em mim imensa fé E nela com certeza ora me aninho.
Açoda-me a vontade de te ter E junto a ti na mesma caminhada Seguindo com ternura nossa estrada Rumando para a glória de um prazer.
Eu sei quanto me dói tal esperança E nela a dor invade e toma tento, Insisto e novamente quero e tento Enquanto a vida em vão dorida avança
E em meio à turbulência e escuridão Vagando pelas noites: solidão
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Vagando pelas noites: solidão Medonha face vejo da verdade, Quem teve uma ilusão, felicidade, Já sabe quanto a luta é sempre em vão.
Percebo nos teus olhos, meu amado Distância insuperável que dói tanto E apenas coletando o desencanto Vivendo novamente o meu passado
Aonde a luz se fez tão parca e fria Negando uma esperança e sem aporte Somente me restando a dor do corte Qual trágica e sem ritmo melodia
Quem dera ter florido o meu jardim; O tempo não traduz nem traz assim.
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O tempo não traduz nem traz assim As marcas de um amor que poderia Calar com mais vigor tal agonia Sombria fantasia dentro em mim.
Vergastas me açoitando em noite imensa, Meu corpo se tomando, corte e chaga, Apenas ilusão ainda afaga E nela posso ver a recompensa.
E quando procurando sem destino O encanto de um menino que me queira, A solidão é minha companheira E nesta busca inútil me alucino
Gritando tolamente por alguém, Somente a fantasia ainda vem.
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Somente a fantasia ainda vem Depois dos temporais, vaga bonança E nela o coração jamais alcança Prazeres e se encontra muito aquém
Viver tal emoção? Ah!Quem me dera, O tempo não consegue confirmar As ânsias de quem tanto quis amar Matando qualquer flor e a primavera.
Inútil caminhada contra o vento, Esmagam-se as vontades, nada resta, E a vida continua e em cada aresta Aumenta sempre o enorme sofrimento.
Na estrada feita em urze, medo e pedra O coração deveras já se medra
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O coração deveras já se medra E nada poderia ser diverso, Aonde se fizera triste verso, No peito apenas vejo fria pedra,
Ansiosamente busco alguma fuga E nada se apresenta, tão somente O gélido momento em que se sente Na face renascendo a cada ruga
Temor de solidão eterna e crua, Uma alma sem destino segue assim E nada se aproxima, vejo o fim, As nuvens escondendo ao longe a lua
Enquanto o nada ser já me contém Quisera nesta vida ter alguém.
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Quisera nesta vida ter alguém Que ao menos me trouxesse uma esperança, Mas quando no vazio já se lança A voz e na verdade nada vem,
Retorno à mesma ermida aonde tanto Lutara inutilmente pela sorte, Sem ter quem me acarinhe e me conforte, Só resta tão somente o desencanto.
E aonde se pensara em alegria O mundo renegando cada passo, O sonho pouco a pouco já desfaço Somente uma ilusão inda me guia
E vejo, se aproxima a insensatez Enquanto a fantasia se desfez.
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Enquanto a fantasia se desfez Em dores e terríveis temporais, O amor que tanto quis não vejo mais Aonde se espalhara uma aridez.
Medonhos os momentos solitários E neles uma emoção se mostra algoz, Ninguém escutaria a minha voz, Os rios não conhecem estuários...
Vazia e sem sequer expectativa Percorro os descaminhos, dor e mágoa, A solidão em mim chega e deságua, Mas tento me mostrar audaz e altiva,
Não sei mais discernir felicidade, Por mais que a fantasia ainda brade.
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Por mais que a fantasia ainda brade Reluto e não consigo perceber Ao fim da tarde algum mero prazer, Vivendo esta cruel realidade.
Mergulho então em pleno desvario E saio sem destino por aí, Há tanto que o caminho já perdi Da chuva não restou sequer rocio.
E entrego-me ao primeiro que encontrar, Sem ter sequer amor ou mesmo afeto, Sabendo que em tal ânsia não repleto O coração cansado de esperar,
Na noite solitária já me dano E quando me percebo; em tom profano.
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E quando me percebo; em tom profano Vagando bar em bar, uma vadia, A sorte sem destino não me guia E a cada novo passo, novo engano.
Mesquinhos os desejos masculinos, E se os satisfaço fico aquém, Eu sei que este caminho não convém, Mas nele pelo menos desatinos.
Viver tão solitária não permite Que eu possa ter escolha, meu amigo. Buscando algum prazer, tanto persigo E não sei mais se existe algum limite.
Meu mundo sem ninguém é incompleto Não tendo mais sequer algo concreto.
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Não tendo mais sequer algo concreto A vida vai cobrando cada toque E mesmo quando o tempo não retoque Procuro inutilmente colo e teto.
Sarjetas que freqüento, botequins, Os tempos são bem árduos, disto eu sei, Amante que se dá em qualquer grei, Motéis, vilas e bares, e capins
Os homens são chupins e nada dão Somente a sensação deste abandono, E quando volto a casa já sem sono, O cheiro que se emana: podridão
Porém o que me causa mais estrago: Viver sem teu carinho, sem afago
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Viver sem teu carinho, sem afago É como me perder na multidão, Sabendo ter comigo a solidão Diversa da que em sonho ainda trago,
Vencida pelas ânsias costumeiras De quem se fez amante e não sabia Que ainda tendo aqui tanta agonia As dores se fizeram as bandeiras
Às quais infelizmente inda me algemo, Embora tanto lute contra e creia Que a lua nascerá de novo cheia, E sei que este vazio enorme, eu temo.
Teimando vejo tento a claridade E mesmo quando a treva adentra e invade.
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E mesmo quando a treva adentra e invade Eu posso tentar crer noutro momento Lutar contra a maré, amado eu tento, Fugindo do que seja realidade.
Teimosamente a vida diz o não Repete novamente a mesma história A lua nascerá mais merencória Brumosas madrugadas mostrarão
O quanto foi inútil cada sonho, O mundo desabando dentro em mim Retrata este vazio de onde vim Na imagem de um amor tosco e bisonho
Eu vago sem destino e sem ninguém E enquanto o amor maior inda não vem.
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E enquanto o amor maior inda não vem Cansada desta velha ladainha, Vivendo cada noite tão sozinha, A solidão eu sei, conheço bem
Bebendo cada gota da aguardente Que a vida preparou em dor e medo, Lutando contra a sorte logo eu cedo E o nada se aproxima calmamente.
Espreito e tento ver a claridade Diversa do que vejo: escuridão. Os dias mais felizes de verão Morreram sem sequer tranqüilidade.
Só sou feliz quietinha no meu ninho E quando em ilusões teimosa, aninho.
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E quando em ilusões teimosa, aninho Depois de tantas vezes procurar E nada nem ninguém eu encontrar Deixando solitário o meu caminho
Em sendas bem mais claras, pensamento Vagando pela noite em lua cheia, O sonho pouco a pouco me incendeia, E nele com certeza enfim me alento...
Mas sei que é fantasia e nada mais, Os dias se repetem bem ou mal, O quanto se deseja triunfal Perdendo sem saber se existe cais,
Naufrágio vai tomando a embarcação Ainda que procure a direção.
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Ainda que procure a direção Em meio aos temporais eu nada vejo Sequer a simples sombra de um desejo Somente neste olhar, a ingratidão.
Arranco dos meus dias esta luz E bebo desta sombra que me ronda, Buscando inutilmente tola sonda Caminho que deveras não conduz
Esbarro nas mentiras e tramóias Comuns de quem tentando ser feliz Invés de realidade contradiz Tirando desta náufraga, tais bóias
E assim transforma em fardos tão medonhos Momentos que desejo mais risonhos.
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Momentos que desejo mais risonhos. Apenas são falácias, nada mais, O amor se transformando em vendavais E neles nem sequem restam meus sonhos.
Pudesse pelo menos ter no olhar O brilho de quem tanto quer e teima, Mas quando na ilusão tudo se queima Não resta nem escombros, perco o ar.
Antigas emoções não mais sustentam, Os dias são iguais. Monotonia... Uma alma solitária fantasia Enquanto no horizonte olhares tentam
Ver o sol, mas a noite em mim se deu E nela tão somente imenso breu.
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- E nela tão somente imenso breu Assim eu vejo a vida e nada faço, O medo demarcando este compasso, O dia sem o sol escureceu.
E tudo o que pensara fosse ter Há tanto que não vejo e nem pressinto, O amor em forma bela estando extinto Levando junto a si todo o prazer
Não deixa sequer sombras dentro em mim, E morta em plena vida, sigo amarga, A voz quando te chama já se embarga Sentindo vem chegando agora o fim,
O teu sorriso em festas tudo diz Enquanto sou decerto uma infeliz.
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Enquanto sou decerto uma infeliz Sem rumo nem destino por aí, O amor eu mal toquei e conheci Destino cada vez me contradiz
Deixando tão somente esta ferida E nela se retrata uma amargura, Levando sem remédios à loucura História no vazio decidida.
Aonde quis um reino, ou simples lar A sorte desbotando a cada dia Matando alguma luz, sem fantasia Ir contra a correnteza e navegar.
Mas quando de um amor procuro a mina Somente a solidão inda domina.
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Somente a solidão inda domina A vida desta eterna sonhadora, Suprema fantasia tentadora Enquanto a realidade desatina.
Pudesse em versos nobres te dizer Amado, sou feliz... Mas o que faço Se há queda a cada novo e tolo passo Deixando tão somente este sofrer
Herança de quem tanto desejara E nada tendo além da solidão Mergulha no vazio da amplidão Bebendo desta fonte tão amara
A morte pouco a pouco muda em treva A sorte que buscara ser longeva.
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A sorte que buscara ser longeva, Aos poucos vai morrendo em minhas mãos, Aonde os dias seguem sendo vãos, Não tendo quem em sonhos já se atreva
E bebo o nada ter como se fosse Um néctar costumeiro e fabuloso, O coração deveras andrajoso Aguarda um novo dia bem mais doce.
Porém em tenebrosa tempestade A vida não permite outro caminho, E sinto cada toque mais daninho Na fúria deste vento que degrade
Do sonho que pensara outrora lindo Verdade pouco a pouco já deslindo.
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Verdade pouco a pouco já deslindo E deixo a fantasia para trás O amor que nunca veio é bem capaz De transformar um sonho quase infindo
Num pesadelo enorme e nada além Do riso desdenhoso da quimera Trazendo neste olhar a fria espera Sabendo que a tocaia sempre vem…
O caos vai se gerando no meu peito E a fonte ora salobra me entorpece, Aonde poderia reza e prece O sonho há muito tempo está desfeito;
Não tendo nada além de um dia fero Nos braços de outro alguém me desespero.
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Nos braços de outro alguém me desespero Após ter procurado inutilmente O amor que tanto agrade e me apascente Momento pelo menos mais austero,
Viver e ter certeza deste sonho E nele cada frase se completa, Mas sei que a vida trama em nova meta Um dia tão cruel, frio e tristonho.
Melancolia toma cada espaço E tento prosseguir e vou assim Sabendo que ao final morrendo em mim Esta esperança tola que hoje traço
O mundo toda a sorte destruía Restando tão somente a fantasia.
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Restando tão somente a fantasia A quem se deu inteira e nada teve O amor quando distante se reteve E a solidão adentra a poesia
No infausto de uma vida em dores feita Ausência de um carinho me transtorna, Não quero a realidade assim tão morna Tampouco com o pouco se deleita
Uma alma sonhadora e caprichosa, Cevando uma esperança mais audaz, Não quero ter ermida como paz, Canteiro que plantei não tendo rosa,
Viver sem a paixão tão temerária É como ser na vida uma alimária.
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É como ser na vida uma alimária Viver sem este sonho tão profundo, E quando em solidão de medo inundo A vida se transforma; dura e vária.
Vencer os meus pudores e poder Reconhecer as ânsias mais audazes, E ter nas mãos os riscos que me trazes, Pois neles talvez veja algum prazer,
E ser mais agressiva com a sorte, Não ficar tão passiva como sou, Se o tempo no vazio mergulhou Preciso pelo menos de um suporte
E quando na loucura enfim me lance, Do Amor pretendo ter algum relance.
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Do Amor pretendo ter algum relance Que possa permitir um novo brilho Aonde com ternura maravilho E bebo esta emoção que inda me alcance;
Vencida pelos medos do passado Andando em noite frágil, pois escura, Insanamente tento em vã procura O amor há tanto tempo desejado.
E creio ser possível, mas bem sei Que tudo não passando de promessa A vida a cada noite recomeça E neste grande abismo mergulhei,
Procuro pelas ruas e não vejo Dos sonhos tão somente algum lampejo
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Dos sonhos tão somente algum lampejo Já bastaria a quem não tendo nada Há tanto se permite tão cansada, Porém este vazio eu não almejo.
Assisto aos meus momentos derradeiros Ferida pela dor de uma saudade A cada novo dia mais degrade Deixando para trás os mensageiros
Que em formato de sonhos conheci E agora me abandonam totalmente, O próprio dia a dia não desmente, O encanto se perdendo por aí
E ter nas mãos somente esta procura É como se buscasse inútil cura.
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É como se buscasse inútil cura Sabendo quanto a vida nos maltrata E sendo a cada dia mais ingrata A sorte que minha alma em vão procura,
Anseio por momentos mais felizes E neles embaraço-me em teus braços Vivendo esta ternura feita em laços, Esqueço dos tropeços e deslizes,
A moça em sonhos feita renascendo Vestígios do passado, não mais vejo E tudo o que deveras inda almejo Traduz um dia lúdico e estupendo...
Mas quando acordo sem quem conforte O barco já se fez sem rumo ou norte.
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O barco já se fez sem rumo ou norte E aquela timoneira do passado, Sem ter quem tanto quis sempre ao seu lado, Vislumbra da esperança, medo e morte.
Pudesse acreditar em novo dia E ter tua presença junto a mim, O amor que tantas vezes dita o fim A sorte desairosa não mais via,
Mas quando se aproxima a noite imensa E nela sem o brilho do luar, Sonhando com teu corpo a me tocar, Sem ter sequer alguma recompensa.
Tivesse a maravilha em que me encantas Vivesse novamente em luzes tantas.
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Vivesse novamente em luzes tantas Quem sabia inda teria alguma chance, Mas quando ao mesmo vão o amor se lance Usando tais mortalhas como mantas,
Eu tenho este crepúsculo brumoso Numa alma tão cativa e sonhadora, Por mais que em sonhos tolos sempre fora Diversa do que agora em tom jocoso
A vida perpetua em voz terrível E enquanto ainda fosse cristalino Caminho que deveras não domino, Restando este espinheiro mais temível.
Buscando pelos rastros dos cristais Vasculho dentro em mim e nem sinais.
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Vasculho dentro em mim e nem sinais Do todo que pensei pudesse ter Na ausência tão funesta do prazer, Aonde poderia ter um cais?
Vencida pela mesma insanidade Que tanto me maltrata ultimamente, O amor intempestivo não desmente Enquanto a cada dia se degrade,
Sem louros de vitória, sem troféus Sequiosa nada tendo busco a fonte, Aonde o coração ainda aponte, Embrenho meu delírio em falsos céus,
Ainda que este mundo vão desabe, Vestindo esta ilusão que não me cabe.
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Vestindo esta ilusão que não me cabe Procuro calmamente algum lugar Aonde o sonho venha devagar Vivendo todo o encanto que se sabe,
E adentro fantasias; juventude, E bebo cada gota deste nada Penando sem destino, madrugada Enquanto a realidade não transmude
E torne o meu viver insuportável, Sangrantes emoções, vagos lugares, Por mais que tantos brilhos procurares O amor jamais seria tão potável
A sorte tão somente nos acida E muda a direção da minha vida.
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E muda a direção da minha vida A sorte desairosa em que me meto, E ainda tendo a voz do meu soneto, Usado vez em quando qual guarida,
Por mais que tantas vezes siga vã Não quero transformar em tempestade O vento tão inútil que me invade E não permitirá nova manhã.
Assim caminho contra os meus anseios, Vestígios do que fora, nem conheço; Somente percebendo este tropeço Em dias que julgara mais alheios,
E o sonho de um amor imenso se louco Agora se esvaindo pouco a pouco.
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Agora se esvaindo pouco a pouco O mundo pelo qual tanto lutara, A sorte muitas vezes mais amara, Enquanto em vão caminho, eu me treslouco.
Amenas emoções são falsas luzes, Serenas estruturas desabando, E o quanto mergulhara em lago brando Diversas ondas fortes reproduzes,
E o beijo prometido não me ilude Senzalas não traduzem um amor, Quisera mais que um templo em que louvor Roubasse o que me resta em juventude.
Adentro neste vão que se deslinda E vejo que talvez pudesse; ainda...
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E vejo que talvez pudesse ainda Depois do nada tendo ver a fonte Aonde o coração em luz se aponte Promessa de manhã brilhante e linda.
Mas quando me percebo em trevas tantas Diverso que o sonho me traçasse. O amor em tal caminho, ledo impasse Enquanto com palavras desencantas.
Vestindo esta ilusão já não suporto Beber da mais pálida inocência, Não quero um só minuto de clemência O verso alentador, calando, aborto
Quisera sem poder ter teu prazer Vencer os meus anseios. E poder...
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Vencer os meus anseios e poder Saber dos meus direitos de mulher, Por mais que a tempestade inda vier A calmaria eu busco conhecer,
Esboço reações e teimo tanto, Lutando contra as dores e meus medos, Conheço na verdade tais segredos, Por isso é que iludida ainda canto,
E sinto alvorecer uma esperança Aonde não podia nem pensar Trazendo um belo raio do luar E nele o meu olhar, sobejo lança
O coração deveras destemido, Navego por um mar desconhecido.
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Navego por um mar desconhecido E enfrentando borrascas e procelas Enquanto o desamor tu me revelas Legando esta paixão ao vil olvido,
Quisera desfrutar a maravilha De um dia mais feliz. Ah quem me dera... Não tendo sequer flor ou primavera Vazio este caminho que alma trilha
Levando ao mundo vão do esquecimento, E nele tão somente a escuridão Nos dias mais doridos que virão Não adivinho nem restos do alento
Imersa nos terríveis pesadelos, Os sonhos; não consigo mais vivê-los...
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Os sonhos; não consigo mais vivê-los Tampouco imaginar o amanhecer Sem ter esta alegria e receber Somente dos vazios, seus novelos.
Mesquinhas ilusões? Não acredito O tempo muitas vezes não responde Sequer se existe um gozo, e nem sei onde Talvez se tenha um dia mais bonito,
Vagando por estradas sem destino Durante madrugadas de abandono, O tempo se percebe ledo e insano E sem ter teu amor já me alucino.
Chamando inutilmente grito ao vento E nada se apresenta e me atormento.
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E nada se apresenta e me atormento Depois de vagar tanto em solidão, Momentos mais ferozes mostrarão Que inútil foi deveras sofrimento;
Audaciosamente busco ainda Quem possa me trazer felicidade, E mesmo que mais alto ainda brade Nem mesmo a fantasia se deslinda
E bebo a ingratidão, terrível fera Afetando o meu dia, ser medonho, E quando novo tempo recomponho, Aonde me esconder sem primavera?
Sem ter onde pudesse algum prazer Vivesse a maravilha de poder.
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Vivesse a maravilha de poder Sentir o teu respiro junto ao meu, O sonho em desespero se perdeu E nada tendo em triste alvorecer
Escuto a voz de um vento na janela Chamando para as brumas, tão somente, E quando a fantasia se desmente A podre realidade se revela,
Esgoto minha força e sigo só, Vencida pela dor desta ilusão Somente novos dias mostrarão Resquícios deste frio e duro pó.
Perdendo, sem ternura em dura grade, Escrava da emoção, a liberdade.
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Escrava da emoção, a liberdade Não deixa que se pense no futuro, O céu deveras negro, tosco e escuro Apenas ilusão que se degrade
Falseio pelas ruas, sem destino, Vendida pelas mesmas sensações Que quando em realidade tu me expões Provocam tão somente o desatino
Somente tenho alguma luz à noite Nas sendas traiçoeiras do prazer, E tendo em minhas mãos o nada ser Verdade carcomendo como açoite.
O gozo passo a ter em vis demandas E quando me pergunto onde tu andas.
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E quando me pergunto onde tu andas Depois de tanta dor em vaga ausência O mundo se desnuda em impotência E vivo o meu destino noutras bandas.
Ao ver já retratado este vazio Que foi meu companheiro a vida inteira, A sorte pelos cantos já se esgueira E apenas o não ser vejo e recrio.
Astuciosamente o tempo diz O verso mais audaz e tão cruel, Aonde quis ternura tenho o meu, E assim prossigo amarga ou infeliz.
Apenas a tristeza eu conheci Durante as minhas idas por aí.
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Durante as minhas idas por aí Ao enfrentar diversos temporais, Sonhando com momentos magistrais O rumo desta história eu já perdi.
Anseio por teus braços meu amado, Carinho que jamais poder me dar, E tendo esta esperança a mergulhar Num prédio há tanto tempo abandonado,
O mar que desejara ter em mim Na areia movediça se espalhando, E a fúria me transtorna desde quando Inútil meu lutar começo ao fim;
E posso tão somente a sombra ver Dos dias que pensara poder ter.
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Dos dias que pensara poder ter Carinho de quem tanto se fez fúria, A sorte se desfaz e quem procure-a Jamais o seu olhar vai conhecer
Espreito atocaiando alguma luz Em trevas ardentias não se vêm E o medo de viver sem ter ninguém Imagem tão medonha reproduz.
Pedaços do que fui, meros resquícios Da sonhadora fútil do passado, E o beijo inutilmente tão sonhado, Beirando a cada passo precipícios.
Os dias tão somente mostrarão No olhar; lacrimejada negação...
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No olhar; lacrimejada negação Redunda-se do quase que não veio; E tendo vilãmente este receio O beijo muda a rota e a direção;
Mas cardo ou espinheiro que eu perceba Durante a minha amara caminhada, Expõe toda a verdade desta estrada Por mais que nova senda inda conceba
O coração se faz aventureiro E teima contra a força das marés, O amor atando firme noutros pés Sonega qualquer flor neste canteiro
Realidade crua e em tempo vão Transforma toda luz, escuridão.
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Transforma toda luz, escuridão. A fria realidade e nela vejo Bem mais do que talvez mero desejo Dispersando de vez a tentação.
Aos pés de quem desejo amado meu, Não posso controlar quando me invade Matando qualquer sonho e claridade, Mergulho no vazio feito em breu
Quisera pelo menos um momento Aonde a sorte em paz se mostraria, Mas vejo-me enredada em agonia Bebendo deste imenso sofrimento
Durante a minha vida quis a festa E amante da ilusão nada me resta.
71
E amante da ilusão nada me resta Somente o gosto amargo de um passado Há tanto sem destino abandonado Nem mesmo a lua adentra em fina fresta
E o jeito é caminhar sem ter um porto E nesta noite imersa no vazio, O amor que tanto quero em vão desfio E o sonho se transforma em mero aborto.
Menina acostumada à fantasia Castelos desenhados, são ruínas, E quando vez ou outra me dominas, A sorte noutra senda não me guia.
Pudesse em noite triste e tão escura Viver algum momento de ventura.
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Viver algum momento de ventura Depois de não ter mais qualquer caminho Na ausência do alento de um carinho A sorte que pensara não perdura.
Apenas ilusão e nada mais, O tempo destroçando esta alegria, Deixando tão somente uma agonia Expressa nos terríveis temporais.
E o caos tomando toda esta existência Que um dia se pensou bem mais tranqüila, Verdade a cada passo mais destila A dor gerando incômoda inclemência
Pudesse em plena luz embevecida Seguir tranquilamente a minha vida.
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Seguir tranquilamente a minha vida Sem ter que perguntar aonde e quando O mundo noutro rumo bandeando Deixando para trás qualquer ermida,
A boca que me beija falsifica O sonho e me promete o que não dá, Sentindo esta impotência desde já O amor já não me traz caminho ou dica
E beijo mesmo assim pensando além, Vivendo este momento sem prazer, O encanto no passado eu pude ver, Porém mera saudade inda contém,
E a vida transcorrendo em ar sutil Buscando o marinheiro que partiu.
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Buscando o marinheiro que partiu Durante um temporal e não voltou, Levando tudo aquilo que inda sou, O sol depois de tudo não se viu.
Esqueço a minha luz em nova estrada E sei o quanto estúpido lutar Por mais que ainda creia no luar, Escura e solitária a madrugada,
Descrevo no vazio o meu caminho E teimo em emboscadas tão escusas Bem sei que nos seus olhos outras musas Transbordam no desejo de um carinho.
Enquanto a noite chega e o brilho some Realidade aos poucos me consome.
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Realidade aos poucos me consome E nada do que outrora desejara Ainda que se torne bem mais rara A sorte que deveras não se dome
Permite uma emoção mesmo que falsa E teimo caminhando contra o vento, Apenas noutros braços eu me alento, Enquanto a fantasia, o meu sonho alça
Esgares desta sorte sem guarida São fatos e retratos do que fui, E o todo num momento não influi Por mais que ainda a luz invada a vida
E sendo muita vez incoerente A insânia vai tomando minha mente.
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A insânia vai tomando minha mente E não deixa sequer a lucidez Viver além do quanto se desfez Em sorte o coração de uma demente
O beijo se transforma em faca, adaga, O tempo transcorrendo solitário Amar e ter no olhar tão visionário Caminho aonde o gozo não afaga
Persisto em ter nas mãos esta promessa Sabendo que talvez o nada venha, Amor desconhecendo qualquer senha, E enquanto a tempestade recomeça
Querendo em fantasia tola neste instante Ter sob o olhar o brilho fascinante.
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Ter sob o olhar o brilho fascinante E ser além de tudo mais feliz, Enquanto a minha vida contradiz Por mais que a realidade se agigante
Medonhas ilusões fazem de mim Estúpida quimera se aproxima, E nela se transforma a mera estima Em rara florescência num jardim
Percebo ainda viva a primavera Depois de tanto inverno desfrutado O beijo noutro beijo anunciado, Ainda me seduz e me tempera
A fantasia invade a velha ermida Ausente da senzala feita em vida.
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Ausente da senzala feita em vida Esqueço dos momentos mais cruéis E vejo renascidos gozos, méis E neles a saudade em despedida.
Assumo o meu delírio e teimo ainda Vencendo os mais constantes dissabores Buscando nos canteiros minhas flores, Em tarde insuperável, rara e linda...
Astuciosamente a sorte atocaiada Expressa uma ilusão onde talvez A sorte que a verdade já desfez Permita alguma luz nesta alvorada.
Mas quando a realidade diz desejo Estrelas e cometas? Nada vejo...
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Estrelas e cometas? Nada vejo, Somente escuridão tomando a noite, O vento maltratando duro açoite, Ao longe do luar algum lampejo
O amor se transformando em heresia, Medonha tempestade em turbulência, A sorte com terrível penitência Somente o medo imenso se procria,
O gosto do não ser tomando a vida, E o tempo sem ternura nada traz O beijo que queria mais audaz Distante dos meus olhos, tudo acida.
Só trago em mim o medo do que vi E tudo que deveras conheci.
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E tudo que deveras conheci Apresentando o nada mais constante Por mais que a fantasia se adiante O rumo deste sonho já perdi.
E o quadro se tecendo em tanta dor, Ausente dos meus olhos a esperança Deveras tão somente o medo alcança E trama a solidão, cruel louvor,
Assisto à derrocada deste sonho E bebo este vazio que me dás, Não posso perceber sequer a paz, O olhar se torna amargo e tão medonho
Assim prossigo ausente do prazer E sem saber sequer o que é viver.
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E sem saber sequer o que é viver Vasculho os meus guardados, dor e festa, E quando à fantasia amor se presta Depois de certo tempo; desprazer.
Encontro nos baús, velha lembrança Do tempo aonde a sorte se dizia Em tanto brilho e bebo da alegria Aonde o coração audaz se lança.
Mas quando se tornou cruel outono O frio se tornando mais freqüente, Apenas meu inverno se pressente E nele esta impressão, vago abandono
Somente medos tantos nascerão E o tempo sonegando outro verão.
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E o tempo sonegando outro verão Matando as minhas últimas vontades E nelas com terror ainda brades Deixando para trás a sedução
Esgotam-se esperanças benfazejas E quando nada vejo não percebo Se amor é meramente algum placebo Diverso do que tanto inda desejas,
Passando pelos olhos, um cometa Que tanto se perdeu em noite escura, Após a minha vida em tal procura Ao nada novamente se arremeta
Estrelas perdem rumo e direção E sei que na verdade não virão.
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E sei que na verdade não virão Os dias que talvez pudesse ver Ao entranhar em mim tal desprazer, O medo transtornando leva ao chão
Os sonhos de um momento feito em paz Depois de inúteis passos por aí E tudo o que deveras concebi Transforma-se em delírio tão mordaz.
A morte se aproxima dos meus olhos E nela talvez tenha um lenitivo, Cansada de penar, só sobrevivo Andando em tais caminhos, mil abrolhos.
Agora o que em verdade ainda resta? Viver se traduzindo em voz funesta.
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Viver se traduzindo em voz funesta E tendo em meu olhar este vazio Enquanto algum prazer eu propicio A sorte me desdenha e me detesta.
Eflúvios tão diversos, riso farto Em ritos nababescos, bacanais. Os dias tão monótonos e iguais, O encanto a cada tempo mais descarto.
Vagando por aí sem rumo ou nexo, Noctívaga falena se perdendo, Não tendo nem sequer um dividendo, Não posso me entregar ao vago sexo.
Buscando a claridade em noite escura, Mas quando vejo: inútil tal procura...
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Mas quando vejo: inútil tal procura, Não tendo escapatória, sigo triste. O amor quando demais ainda insiste, E mesmo contra tudo, já perdura.
O quadro se emoldura em fartas luzes, Embora sejam falsas, de neon, Ao ver este caminho audaz e bom Por onde caminhando tu reluzes,
Espero pelo menos uma chance E nela com certeza ora mergulho Além deste espinheiro e pedregulho, Que a sorte pelo menos inda alcance
E mude a direção de minha vida Depois de uma esperança já perdida.
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Depois de uma esperança já perdida Descubro alguma chance de alegria E enquanto outro caminho assim se urdia A noite não teria amanhecido.
Espinhos são comuns nesta senda, Canteiros não produzem tantas flores E quando se nublando os meus albores Nem mesmo uma emoção amor desvenda.
Apreço se transforma em dor e pranto, Delírios costumeiros? Nada disso. O beijo que deveras mais cobiço Morrendo num completo desencanto
Qual cega num desejo torpe e vil Num sonho tão cruel, amargo e; viu...
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Num sonho tão cruel, amargo e viu Caminhos mais diversos; se fez cega No mar tempestuoso não navega Teimando neste encanto mais gentil.
Assisto à derrocada do que outrora Pensara solução, mas nada vindo, O amor que imaginara ser infindo Somente no vazio se demora.
E o bêbado desejo segue fútil, O passo não traduz felicidade, Por mais que uma emoção ainda brade O tempo de viver se fez inútil.
E quando uma ilusão ainda dome Na noite a solidão, terrível fome...
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Na noite a solidão, terrível fome Escuto apenas vento e nada mais, Assim ao enfrentar os vendavais O Amor não se aproxima e logo some,
Vencer as minhas urzes e seguir Por mais que talvez possa imaginar Momento mais gostoso, num luar, A noite se eterniza no porvir.
E o passo quase trôpego traduz A queda inevitável da esperança E mesmo contra tudo ainda avança Buscando a claridade que seduz
E ainda insanamente se pressente O amor que tanto quis forte e envolvente.
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O amor que tanto quis forte e envolvente Não pode me trazer senão a dor, E o gosto se traduz em amargor No encanto que deveras já se ausente...
Persisto no caminho que escolhi, Vagando sem destino em noite fria, Pudesse ter a luz do amor que guia Talvez me conduzisse então a ti.
Peçonhas são comuns em armadilhas, Tocaias costumeiras me entranhando, O mundo que pensara claro e bando Diverso do que agora sei que trilhas
Porém um mundo raro e deslumbrante Então eu poderia; num instante...
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Então eu poderia; num instante Saber dos meus momentos mais felizes, E quando se cultivam cicatrizes O mundo se tornando terebrante
Escuto a voz do encanto que não veio E beijo a solidão, velha quimera, Depois de tanto tempo em fria espera, Apenas neste olhar um devaneio.
Augustas emoções são raridades E tantas ilusões me amortalhando, O sonho num instante desabando E a cada novo não bem mais degrades
Assim vou persistindo em tola vida E quanto mais se teima, mais se acida.
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E quanto mais se teima, mais se acida Embora possa crer num novo tempo, Mergulhando num vago contratempo A história se fazendo em despedida,
A porta se trancando e nada tendo Aprendo a me fazer calada então, Mesquinhas madrugadas não trarão Saciedade alguma em dividendo
A par do que não sou e nem seria, O amor já não conhece mais limite, E mesmo que esperança inda palpite Aporta-se distante a fantasia
Do sonho que buscara e que desejo Somente alguma imagem, num lampejo.
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Somente alguma imagem, num lampejo Retrata um coração enamorado, E quando se escutando um manso brado O mundo mais feliz, tola, prevejo.
Assim ao caminhar entre tempestas Vestindo esta terrível ilusão, Atalhos desairosos mostrarão Apenas as entranhas mais funestas
Dos meus anseios tolos e vulgares, Arcando com enganos mais constantes Pudesse pelo menos por instantes Saber o que tu queres, teus altares,
Porém toda a verdade entre outras tantas Jamais demonstraria quanto encantas.
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Jamais demonstraria quanto encantas Momento em que se mostre o verdadeiro Retrato de um sutil, vil jardineiro Aguando com malícia suas plantas.
Esgueiro-me entre as flores do jardim E sinto o seu aroma quase inerte E toda esta ilusão já se converte No imenso e transbordante, tolo fim.
Aonde quis um dia mais sereno Vestido de poesia, feito em paz, Somente o nada ser ainda traz, E neste abandonar eu me enveneno
Invés de belos ritos magistrais, Os dias transcorrendo sempre iguais.
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Os dias transcorrendo sempre iguais Devoram o que fora fantasia, E o amor se transcorrendo em voz vazia Mesquinhos os desejos mais banais.
Eu tinha esta esperança de outros tempos Melhores, mas bem sei foi um segundo Aonde no não ser eu me aprofundo Bebendo tão somente contratempos.
E a casa construída em base frágil Não resistindo ao vento mais feroz, O rio se perdendo desta foz, O amor se torna arisco e bem mais ágil.
Vivendo tudo aquilo que se sabe Aguardo que este sonho em vão desabe.
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Aguardo que este sonho em vão desabe, E assim quando em ruínas já se fez O amor que se pensara insensatez, Bem antes do prazer assim se acabe,
Nefastas as verdades que me dizes, E sinto dolorido o peito em fúria, O quanto desta vida em vil penúria Somente deixará mais cicatrizes
No peito de uma tola sonhadora, Bem mais do que qualquer doce ilusão, Meu barco sem caminho ou direção Distante do que sempre quis e fora
Aguarda tão somente em torpe vida Momentos onde a sorte é decidida.
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Momentos onde a sorte é decidida Depois de tanta busca em vão, percebo O amor como se fosse algum mancebo Distante de meu sonho e teimo ermida.
A porta não se abrindo e esta ventana Perpetuamente em travas se guarnece, E tento pelo menos ter a messe Que o tempo sempre nega e agora adia.
Eu penso ser possível ter nas mãos A luz de intensa e rara claridade, Mas quando escuridão de novo invade, Percebo novamente os mesmos nãos.
O brilho sendo opaco e o gozo pouco, Sem ter sequer encanto me treslouco.
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Sem ter sequer encanto me treslouco Na busca por mim mesma e nada vindo, O amor que desejara raro e lindo, Estacionando o tempo sei que é pouco.
Apreço de quem tanto necessito Se mostra, quando muito de amizade, Por mais que o coração teimando brade, Repete-se deveras tosco rito.
Medonhas ilusões são companheiras Daquela que se deu em dor imensa, No quanto em nosso amor, já não se pensa Enquanto noutros rumo tu te inteiras;
E assim ausente em nós a noite linda, Uma esperança aos poucos sei que finda.
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Uma esperança aos poucos sei que finda, Não deixa sequer sombras pelo chão, O beijo que se fez embora vão, Vivendo no meu peito expõe ainda
Um raro amanhecer em luz constante, Quimera que traduz tal vilania, E o quanto se pudesse e não faria Por mais que uma esperança se adiante
O mundo não permite tal viagem, E nela se perdendo o meu destino, Quisera novamente este menino Que agora se transforma em vã miragem,
E quando sonho em raro amanhecer Não posso e nem pretendo mais saber.
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Não posso e nem pretendo mais saber Daquele moço belo que talvez Ainda me causando insensatez Mergulha num terrível desprazer.
O beijo num momento feito em glória Agora não traduz felicidade, Aguardo outro tormento que degrade Deixando a minha lua merencória
Vestida de ilusão? Jamais. Entranho Dentro em mim tormento que se faz Deveras tenebroso e tão mordaz, Falando deste sonho vil de antanho.
O Amor partiu deveras desvalido E nunca mais voltou. Aborrecido?
100
E nunca mais voltou, aborrecido Depois de tantos dias em que pude Notar tanta inconstância em atitude Somente nos guiando uma libido,
Esbarro no vazio do não ter E quando me desnudo não te vejo, Percebo bem distante do que almejo Um tempo tão mesquinho em desprazer.
Assisto ao derrotar-se da ilusão Quimera me tomando em noite fria, Aonde se escondeu a estrela guia Que apenas tempestades se trarão
O mundo feito em dores e desvelos Transborda nos terríveis pesadelos.
101
Transborda nos terríveis pesadelos A imensa solidão que me domina, Aonde houvesse sonho, doce mina, Momentos de prazer? Jamais vivê-los.
Sentindo a dor de quem se deu demais E não se percebendo mais feliz, A sorte a cada dia contradiz A paz imersa em fúrias, temporais.
E o quando se tornasse mais palpável O medo desabando sobre nós, Amor ao mesmo tempo bom e atroz Um dia mais distante ou improvável
E assim este terrível sofrimento Já não me abandonando o pensamento.
102
Já não me abandonando o pensamento, Vontade de te ter bem junto a mim, Aonde houvesse flor, paz e jardim Ali encontraria algum alento.
Mas tudo não passando de falácia, O gosto de um prazer se torna ausente, Por mais que a fantasia se freqüente E nela com certeza alguma audácia,
O mundo me prepara para o não E dele não consigo liberdade E quando esta vontade ainda invade Somente dores tantas mostrarão
Quão impossível neste desprazer No amor maior em vida mesmo crer...
103
No amor maior em vida mesmo crer Sabendo desfrutar tanta alegria, A vida sem perguntas fantasia Promete um belo e manso alvorecer.
Mas quando me percebo solitária Andando pelas ruas, sem destino, No quanto nada posso me alucino A sorte me transforma numa pária;
Esqueço os meus momentos mais felizes E teimo nesta incrível emoção Vivendo sem limites e perdão,
O tempo sonegando a claridade E o medo tão somente inda me invade.
104
E o medo tão somente inda me invade Fazendo desta vida um triste inverno E quando noutros sonhos eu me interno Distante dos meus olhos, realidade...
Estúpida manhã vaga e brumosa, Nefastas ilusões em tosco bando, E o todo que desejo sonegando Amor que a cada dia mais se glosa.
Perpetuando a dor do não saber Sequer se existe luz após a chuva, No leito tão sofrido de viúva, Apenas muito me do e desprazer,
Saudade que acompanha em outras bandas, De luas enfeitando estas varandas.
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De luas enfeitando estas varandas Há tempos quando eu via neste espelho O olhar que agora sinto mais vermelho Sem saber meu amor por onde é que andas.
Vivesse pelo menos para ver De novo um sol imenso na manhã, A sorte muitas vezes tão malsã Não deixa qualquer rastro de prazer.
Assumo os meus engodos, porém devo Pagar eternamente meus pecados? Os dias são deveras malfadados O sofrimento é duro e mais longevo
É como poder crer em bentos grãos E sei que não podendo ter nas mãos...
106
E sei que não podendo ter nas mãos O encanto de um amor que me suprisse. Premissa de ilusão que se desdisse Em dias e momentos todos vãos.
Escura furna diz da tua ausência, Amado que se foi pra nunca mais Deixando dias frios e invernais Qual fosse para mim a penitência.
Descrevo este abandono com ternura E sei que talvez ouça a minha voz, A morte se tornando mais feroz, Enquanto a solução não se procura
Quem segue tão entregue já se sente Vencida sem batalhas simplesmente.
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Vencida sem batalhas simplesmente Encontro o desconforto de pensar Que ainda poderia relutar E ter nas mãos uma semente
E dela se cevando com carinho Poder acreditar no renascer Da vida que cansada de perder, Traduz o coração tolo e sozinho.
Mas quando me imagino junto a ti, Ausente dos meus olhos a alegria, Apenas o temor inda me guia Dizendo deste tanto que perdi
Levaste num só golpe meu castelo E todo o meu caminho outrora belo.
108
E todo o meu caminho outrora belo Agora se transforma em dura senda, E quando a realidade se desvenda Destino noutro rumo teimo e selo.
Apenas o passado vive ainda E a fúria se transforma em pesadelo, O quanto poderia revivê-lo É ter uma amargura quase infinda,
Mas louca uma vingança se prepara E dela me alimento sem descanso, Não quero mais saber de algum remanso, Tampouco noite mansa em lua clara
No peito em dor imensa persistir, Saber do nada ter e prosseguir.
109
Saber do nada ter e prosseguir Lutando contra tudo e contra todos, Aonde se pensara em tais engodos, Distante da emoção sem ter porvir
A máscara que usara não ilude Tampouco alguma força me conduz, Ausente do caminho ainda a luz, Perdendo sem prazeres, juventude.
Vergastas sobre mim a cada noite São tantos os momentos de terror, Seguindo teu caminho aonde for, Saudade maltratando, frio açoite.
Sabendo quão distante a recompensa E vago, solitária em noite imensa,
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E vago, solitária em noite imensa Depois de perceber o quão vazia A vida sem ternura ou alegria, E assim sem ter alguém que me convença
Mergulho nesta intensa sordidez, E farta da aguardente mais amarga, A voz titubeante já se embarga E todo o meu castelo se desfez.
Esgarçam-se os resquícios da esperança E o peso desta vida me vergando, O mundo pouco a pouco lacerando Enquanto a realidade dura avança
Sozinha, sem ninguém aqui do lado, E beijo o teu retrato amarelado.
111
E beijo o teu retrato amarelado Sabendo que talvez não voltes mais, Momentos solitários e banais O tempo já se fez abandonado.
E o gosto tão amargo da saudade Reinando sobre mim me aprisiona E quando este prazer retorna à tona A força do vazio mais invade.
Determinada sorte se perdendo E nela o meu caminho se faz vão, Aonde se pensara em direção A fantasia é simples tolo adendo;
E todo sonho chega e ainda avisa Do amor que dominando me escraviza.
112
Do amor que dominando me escraviza Não quero mais saber, mas sigo só E tento desfazer o incrível nó, Nem mesmo algum sorriso suaviza.
E o peso do viver já se agiganta O gozo se tornando mero sonho, O mundo que percebo mais medonho Avilta a minha antiga e frágil manta.
Esboço reações. Mas nada disso Permite um novo tempo ou quem sabe, Ainda que meu todo se desabe Perceba alguma paz que inda cobiço,
Porém ora cansada deste não Não sei e nem pretendo solução.
113
Não sei e nem pretendo solução Tampouco qualquer luz que inda clareie, E mesmo que meu mundo devaneie Galgando um novo rumo ou direção
Acendo esta ilusão que me permite Viver sem ter talvez medo ou terror, E nesta imensidão quem sabe amor Ainda se perceba sem limite.
Calcando o meu viver nesta esperança Desnudo-me das dores e prossigo Buscando algum sentido, algum abrigo Aonde o coração firme se lança
A vida se repete em ritual, E vendo que amanhece e é tudo igual.
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E vendo que amanhece e é tudo igual Não posso mais calar a dor que sinto, O amor ao se mostrar em puro instinto Desfila um ar deveras sensual,
Mas nada disso eu quero para mim, Romântica, pretendo um companheiro Que sendo mais leal e verdadeiro Ajude a cultivar este jardim.
Porém quando percebo, o que se vê É mera falsidade em tosco guizo, Diverso do que sonho ou mais preciso, Encontro tão somente e sem por que
Imagem que ilusão já fantasia Domina cada fato, a cada dia.
115
Domina cada fato, a cada dia O amor que não se deu e nem dará Encanto que preciso desde já Verdade, sem remédio, sempre adia.
O beijo muitas vezes significa Bem mais do que um carinho, ou vontade, Mas quando me percebo em realidade Distante deste tanto que edifica
Eu vejo se arruinando um belo sonho Matando o que pudera ser feliz, Diverso deste amor que tanto quis, Traduz momento frio, ora medonho.
E aonde posso crer na solução Sabendo ser apenas ilusão?
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Sabendo ser apenas ilusão O encanto que pensara mais constante, Ainda vejo a luz onde adiante A sombra de uma nova dimensão
Ausente desta luta na inconstância Capaz de destroçar qualquer paragem, Mirando tal mutável paisagem O amor se fez cruel em discrepância.
E o passo rumo ao nada é bem mais forte Do tanto se transforma em mera luz, Estrela tão distante não reluz, Nem mesmo sei quem tanto me conforte.
Felicidade eu sei, um tolo adendo Estando solitária e nada vendo.
117
Estando solitária e nada vendo Pergunto ao sol e à lua aonde vejo O Amor que inutilmente ainda almejo, Diverso desta dor que ora desvendo.
Percebo tais vazios no meu peito E nada se criando deste vão Apenas os tormentos voltarão E o mundo se passando insatisfeito.
Usando do meu verso como uma arma Pretendo ver o brilho mais tranqüilo Do sol que se mostrando noutro estilo, A minha fantasia já desarma.
Mas quando me percebo sem estios, Medonhas madrugadas, dias frios.
118
Medonhas madrugadas, dias frios E tanto te procuro inutilmente, A sorte a cada vez que mais se ausente Prepara estes terríveis desafios,
E o vento na janela me chamando Trazendo alguma paz vira tormenta, Nem mesmo uma esperança me apascenta O amor se fez ausente em duro bando.
As mesmas ilusões do meu passado, O caos me transtornando, nada sei. Vazia dolorida a minha grei, Sem ter o nosso amor, abençoado.
Sonhar é tão somente conceber A sublime ventura de assim ser.
119
A sublime ventura de assim ser Eterna sonhadora; já traria Quem sabe algum momento de alegria Além do que podia conceber...
A par dos meus anseios tu persistes E noutras aventuras me abandonas, E quando do meu sonho ora te adonas Deixando os meus olhares bem mais tristes
Não vês o quão dorido é ser assim, Ausente de teus braços e carinhos, Os dias transcorrendo tão sozinhos A dor que tanto sinto não tem fim.
Olhando para a amarga realidade: Morrendo sem saber felicidade.
120
Morrendo sem saber felicidade Não poderei seguir contra a maré, O amor por ser somente assim já é Motivo de ternura em dura grade.
Partindo sem saber se existe rumo, O beijo sonegado ou mentiroso, Caminho muitas vezes tão danoso Em medo e desespero me consumo.
Acasos entre ocasos, noites vãs Tecendo este vazio que ora adentro, Na luz que ainda toca me concentro, Promessas de quem sabe outras manhãs.
Mas como se em caminhos discrepantes Espinhos, pedregulhos são constantes.
121
Espinhos, pedregulhos são constantes Na vida de uma tola caminheira, E quando esta paixão é verdadeira O mundo se perdendo por instantes.
Do todo que talvez pudesse ter Ao menos um vestígio poderia, Mas quando vejo em mim tanta agonia, A morte passo então a conceber.
Esqueço das mentiras que disseste, E teimo contra toda esta falácia, O passo se transcorre com audácia Diversa da que tanto propuseste.
Ainda creio em dias mais serenos Buscando algum momento pelo menos.
122
Buscando algum momento pelo menos Aonde desvendar este segredo E nele todo amor que te concedo Traçando outros caminhos mais amenos.
Assim talvez pudesse ver em mim O florescer da paz que necessito, Um dia com certeza mais bonito Tomando com riqueza o meu jardim,
Alucinadamente o nada vem E a carga deste sonho pesa tanto, Percebe finalmente o desencanto Traçado pelo rumo sem ninguém.
Assim eu já perdi a primavera Tentando ser feliz. Oh! Quem me dera...
123
Tentando ser feliz (Oh! Quem me dera) Andando pelas noites mais escuras, Rondando pela rua onde procuras Quem tanto tu desejas, louca espera.
Assim não poderia ser feliz, E ter ao mesmo tempo esta alegria, Enquanto se percebe a poesia Ainda o coração teimando diz
Do todo que imagino ser plausível, A farsa, esta conheço muito bem, E nela só meu medo ainda vem, Tornando o meu viver quase impossível.
A causa deste nada quer ora sou: Amado que se foi e não voltou.
124
Amado que se foi e não voltou Tornando a minha vida um vago inferno, Nas ânsias mais doridas eu me inverno E bebo tão somente o que restou.
Vasculho dentro em mim qualquer sinal Aonde se pudesse traduzir Momento mais airoso no porvir, Sorriso que se mostre triunfal.
Assim sem ter destino em noite amara, O beijo mentiroso da quimera Trazendo sempre à tona a mesma fera Na qual a solidão já se declara
Pudesse ter a luz que ora arrebata E tanto me seduz, mas me maltrata...
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E tanto me seduz, mas me maltrata, A força incontestável deste amor, E nele com firmeza e com vigor Talvez vida não fosse mais ingrata.
Assisto à derrocada deste sonho, Menina que deveras se tornou Amarga criatura. Aonde vou Retrato este porvir triste e medonho.
Acordos destruídos, medos tantos, E neles o retrato mais fiel De quem ao procurar na terra o céu Somente descobrira desencantos.
Sozinha atrás do medo, fria grade Apenas quero ter felicidade...
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Apenas quero ter felicidade E ver algum momento aonde um cais Depois destas borrascas, vendavais, Traria a mansidão que tanto agrade.
Mas sei ser impossível. Porém tento E quando mais audaz maior a queda, A vida vai cobrando em vil moeda Tomando com terror cada momento.
E assim após tentar somente o todo, Não tendo nem pedaço, sigo só. Atrás não se percebe nem o pó, Somente lama, barro, frio e lodo.
E a cada noite vaga e corriqueira Repete-se esta vida rotineira.
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Repete-se esta vida rotineira E nela sem disfarces eu mergulho, Cevando cada espinho e pedregulho Quem dera se pudesse jardineira
De um solo bem mais fértil. Aridez Tomando cada ponto nada vem E vivo tão distante e sempre aquém Do amor que na verdade já não vês.
Esqueço de mim mesma e quando vejo A solidão se torna bem maior, Caminhos para a dor eu sei de cor. Distante desta paz morto o desejo
A sorte se apresenta destroçada E não me deixa mais pensar em nada.
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E não me deixa mais pensar em nada O anseio de um momento aonde eu possa Ressurgir da terrível, funda fossa Há tanto pela vida demonstrada.
Endosso os meus caminhos com ternura, Mas nada disso traz felicidade, Morrendo solitária, na saudade O fim de uma esperança. A dor perdura.
O peso desta vida me vergando, O corte se aprofunda em vaga escara Chagásica ilusão já se escancara, Enquanto os dias turvos se mostrando.
VALMAR LOUMANN
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