
sobre o amor
Data 22/02/2010 22:07:18 | Tópico: Poemas
| Que me ceguem as tardes Que me roubem a alegria ao subir da estrada Ou que todos os bichos me visitem quando estiver a fazer amor Se esse amor não tiver contornos de uma rosa
Eu amo uma mulher Uma epopeia de ventos e sóis Uma árvore que cresce no sentido dos meus pulmões
Pergunto: Tenho a janela aberta, será que dói? Quem tem gramática para compreender o implacável silêncio?
Aqui estou de frente ao tempo invisível A dar-lhe palha por uma fechadura Multiplicando abelhas para sermos muitos mais que um Desejo
Que a minha loucura seja tabaco de enrolar Que a solidão seja o espelho em que me olho e não veja porra nenhuma! Amo as coisas que se formam no precipício da carne Os azuis tão inocentes de um nada A claridade que bate e perfura o mais íntimo de nós
Eu digo: a minha cabeça é um rebanho de ovelhas O meu corpo: o pastor que se perdeu no pasto Pena é que a lucidez não se beba por um copo Nem que a verdade aceite fiado O amor é aqui e agora: pele contra pele E não sequer pensar que futuro é Para a semana que vem
Amo sem nunca ter assinado contrato Sem nunca ter ido a uma biblioteca Ou escutado a dor em greve de fome Crio o vazio e nele creio Como creio na libertação das minhas mãos No barro que moldo as manhãs primordiais
Amo o analfabetismo do meu sangue Amo os insectos que me esperam no caminho Amo o cansaço com que me deito Amo e sou feliz nessa contradição
Posso até ser a morte viva Um lápis à espera de ser aparado Mas amo! Amo! Amo e canto a serenata no hall do silêncio e faço sexo com o meu nariz!
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