
.............................o terceiro elemento
Data 15/07/2007 21:56:26 | Tópico: Prosas Poéticas
| amanhece exactamente na manhã…
…Joana enrosca-se na cama, sob os cobertores, enquanto a mãe grita na cozinha menina, são horas! está farta daquelas palavras .dos mesmos gritos. tenta não pensar em nada .tapa a cabeça
mas as imagens voltam e revoltam, como se ainda as vivesse Joana ,vais perder o autocarro! sempre a mesma lenga-lenga ,pensa ,enquanto abre as janelas ,meio a dormir o sol bate-lhe de chapa no rosto
mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse não .não havia sol no dia em que conhecera o Manuel Maria convidara-a para uma bica nas Docas .primeiro ,olharam-se estenderam a mão e os dedos iniciaram a dança era pesado o ar .os dedos continuaram o jogo .as mãos seguiram o ritual depois ,levantaram-se e souberam .o beijo … sabia a rio o silêncio .o silêncio dos apaixonados .amou-o. era tarde…
entardece exactamente na tarde…
…Manuel Maria arranca .apetece-lhe conduzir apenas não venha tarde para jantar ,pedira-lhe a mãe hoje a tia Inês e o marido vêm jantar a nossa casa que chatice .aturar os cotas .estava farto do beijo ,emproado ,com que a tia o cumprimentava e do ar circunspecto do almirante .o marido acelera tenta não pensar em nada .levanta a capota do carro
mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse Manuel Maria ,não se esqueça .o pai gosta de jantar às oito sempre a mesma lenga-lenga pensa ,enquanto acelera .baixa a pala do automóvel o sol bate-lhe de chapa no rosto
mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse não .no dia em que beijara a Teresa não havia sol passara semanas à espera ,sentado ,frente à Faculdade .a Teresa saía e ria .ria alto .fingia não o conhecer .irritava-o aquele ar de menina senhora de seu nariz .a Teresa ria .apanhava o autocarro e ria .ria e provocava-o ,atirando-lhe um beijo pela janela .todos os dias o mesmo ritual Manuel Maria não hesitou à saída de Penal ,agarrou-a .Teresa não resistiu nesse dia não apanhou o autocarro .não riu alto sorriu e retribuiu o beijo .quente .envolvente entrou no carro .amou-o .era noite …
anoitece exactamente na noite…
… Teresa enrosca-se .o telemóvel continua ligado em cima do sofá .não ouve as palavras da Joana esta ligara-lhe posso ir a tua casa? – chora. – não aguento mais desculpa as horas ,mas ,palavra ,não aguento mas ,o que se passa?! estás bem? não .estou péssima … lembras-te do Manuel Maria? o silêncio .de novo o silêncio .o vazio
… Manuel Maria acelera tenta não pensar em nada mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse acelera a fundo Joana … Teresa … a mãe … os tios … o jantar esquecido
chega tarde a casa .não ouve as palavras da mãe está cansado .farto .não aguenta .rebenta Manuel Maria ,onde é que o menino esteve? sabe ,afinal o seu pai também não veio jantar teve uma reunião .à última hora .no Banco .a Matilde estava para vir com os pais .perguntaram por si .lembra-se dela?, dos vossos Verões em Moledo?, os meninos não namor … que horror ,mãe .namoro?! ... isso era no seu tempo atira-se para cima da cama .fecha os olhos nas mãos ,o rio .na boca ,o beijo um corpo … o pai … … Matilde.
|
|