
Pela Janela
Data 27/01/2010 00:49:07 | Tópico: Poemas
| Olá papel branco e neutro Perdoa a intransigência o despeito Hoje lembrei que minha mãe vai morrer Tive medo de criança quis abraçá-la beijá-la lhe agradecer Mas ah loucura ela me agrediu por causa de minha barba por fazer.
Sempre soube disfarçar Talvez uma inteligência me ajudou a mascarar Sentimento a me rasgar Eu queria uma família que gostasse muito de cantar!
Ai Pai do silêncio Ai ouvido sem senso Se tem mesmo algo aí do outro lado Que recebe as preces dum sonho alado Peço-te meus irmãos perdidos Que reanime os elos esquecidos - (de subito uma borboleta entra-lhe pela janela) - Ó coincidência sublime! Ai ceticismo que retrai! Ai frutacor que tanto atrai! Serei cena dalgum filme? (a borboleta pousa bem em frente ao caderno onde ele escreve - ele deixa a caneta cair e começa a falar em voz) Que tens pequenina que queres? Que pode um solitário azedo ofereceres? Ai borboleta serão minhas lágrimas que desejas? Será o rio desaguante de angústias que almejas? Mas ah de repente entendo-te Repousa moribunda e eu pensando entreter-te Ouço já agora tua suprema afirmação Por Tupã creio que sinto tua lição! (ele muito vagarosa e delicadamente encosta na borboleta, que despenca inanimada assim que é tocada - ele a acaricia e chora, e volta a escrever mudo) Do caos da lama brotamos Lótus psicodélicas vamos que vamos Deserto da glória afora Rogo por um fresco regato sem demora. (ele pára - olha novamente a borboleta - amassa o papel e atira-o longe, de súbito muito tenso, internamente tenso - grita repetidamente em pulmões cheios: "Conformidade lastimosa!!! Conformidade lastimosa!!! Conformidade lastimosa!!!" (virando a mesa, chutando o cesto de lixo cheio de poemas amassados, e então se estira na cama desconsolado abraçando o travesseiro; se ajeita, olha pro nada e suspira: "Isso?... foi real?... uau..."
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