
PESOA AMADA
Data 09/07/2007 14:24:16 | Tópico: Poemas
| A PESSOA AMADA
Fernando Pessoa, Instrumentoterreo da sonata dos meus ais Um guizo flutua entre o céu e a terra, Um barulinho bom, uma harpa A cortejar meu coração. Aceitei os seus encantos Porque eras minha vida viciada Porque eras minha luta embriagada Por és um Zeus de Deus Um formidável companheiro nas noites quietas Uma companhia que não se faz presente E que me deu a mão como um arrimo Que escrevestes a mim cartas de amor, Amor de de amar, amor de irmão. Pai foste o meu, mais demorado E eu irmão de tuas mãos que afinam o lápis Primo de teus encantados sermões das montanhas Que te multiplicastes, um milagre do pão, Da fome, da miséria alheia, que te torturava. Aprendi contigo, pessoa do meu rebanho, A andar perto e distante dos outros, perigosos Visto que o ataque do coração, eu reagia, Como se sabe, dando mil pulos mortais. Amo a pessoa de Pessoa bom, e lindo em tudo Na composta e combinada farda preta Que se via a tarde, quando regressavas, Não se sabia de onde, de um velório de outro, Ou de tua própria morte, exausto De fazer milagres. Acompanhado de perto e de longe dos fariseus, Que te acomodavam no leito da estrada Quando seguias bêbedo, de amor, de sonho, E como se não bastasse o que deixastes impresso Nas almas dos outros, Ainda recitavas por onde caminhavas, Até à beira dos rios, numa nostalgia Fácil de se sentir, em ti, Fernando. E nós, zelosos por essas tuas filhas, Fomos nos casando, cada um com uma, Ah, a bigamia, aos teus olhos seriam, Incisivamente perdoável, Porque amastes a muitos, amastes aos muitos, Todos, até o dia em que nos deixastes. Amo toda gente que são pessoas assim.
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