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Data 15/01/2010 15:31:45 | Tópico: Poemas
| A noite é madrasta, agora sei É tão fresca e bela, de seguida É um campo aberto sem lei Por onde os delírios encaminhei A noite é madrasta, ressentida
Conduz-me ao limite Da existência, quem sou eu Sou mendigo, sou pedinte Sou filha do nada, com requinte De rainha fechada em mausoléu
A noite é a minha confidente Com ela converso horas a fio
Responde noite, quem sou eu De onde me saem os versos, enviesados Porquê os meus medos viram apogeu Na roda que o trigo já moeu Porque escrevo versos, como dardos
Porque a terra me sai pelas pupilas Dilatadas pelo sol escaldante As palavras são as minhas fantasias São meus filhos e agonias Porque o Alentejo é meu amante
Responde noite, quem sou eu Sinto-me um nada em tudo Caminho como quem perdeu Outras vezes como quem venceu Uma batalha, num velho mundo
Ah… noite estás surda! Ou estou louca, eu Falo, falo e tu muda Agonizo, o dia que me acuda Acabei de escrever o que ninguém leu
Noite assim te foste O dia já raiou em flor Talvez o sol goste Dos meus versos e me mostre Que és madrasta, sim, mas abafas a minha dor
Antónia Ruivo
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