
Portabandeira
Data 29/12/2009 18:37:42 | Tópico: Poemas -> Surrealistas
| Estou em vias de enlouquecimento descalço de pés molhados na sacada atrás de grades. estou pronto pra escrever o texto mais importante da minha vida estabilizando delicadamente a fornalha onde cozinho minha insanidade. sei que hoje é um grande dia porquê me subiu goela acima aquele engasgo que é a tristeza de uma imensa alegria - e estive com medo recentemente com medo de meu hálito estar cheirando a vômito de ter abandonado à fé que me acalentou à esperança em meus dias mais incautos.
só que eu não abandonei meu corpo e por isso tão somente não pude abandonar àquilo que me é crucial à ascenção e então flutuo translúcido enxergando uma incomparável canção valsar ao ar metais madeiras pelugens plásticos uma estrela invisível sincopando-se a si na cintilância do disco que a carrega e me é nítido: o peso do corpo os solados dos pés a maneira com que ombros e calcanhares contrapensam-se eliminando a sensação de impotência da saúde quando saúda aflita e incerta à melodia das estranhas o vento meu hálito estar ereto e focado em mim, alerta alertíssimamente brincalhão belo pagão ungido vão antiplatão um piratão os sonhos e as formas e as cores do universo todo em volta em movimento metassincrônico um zilhão de sendas de luz miltintencionadas o tempo em sua magnitude transparente nos provendo de intermissões e intromissões, de musas e furacões um helicóptero por sobre a coroa carros na avenida logoali as telhas por sobre a garagem a árvorezinha de flores brancas em nossa calçada lilás as carangas dos vizinhos um carro ligado logaqui estorvando o sutil e delicado estéreo em supremo ato de amor severas interrupções acelerando à paixão três sujeitos cruzando a rua os cachorros latindo nosso bairro em guerra uma carta virtual instantânea em redesemfio uma gata e outra o vizinho da frente entrando a pala incandescente aos lábios a doçura da perfeição o salgado da translação lembrar que cortei mais um pouco meus cabelos hoje em busca do rijo mastro e então enfim me lembrar de que tudo é real e que o universo está logo aqui mesmo, bem aqui, lá no fundo do fundo do inencontrável impontuável indefinível inalienável o começo e o fim como a faca quente e a manteiga os sonhos o trovão que habita o sangue a saliva degustando à morte em cada infinitesimal reverberação de Deus o interminável fluxo por entre portais de momento a respiração e a força da lâmina dágua nas íris um par de fogos de artíficio prenunciando o fimdomundo ogoldotimão carregamentodomorro ou só pipôco mêmo e do brabo us mâno tudo na pegada o trote da sequestrada prédios cheinhos de gente, atolada, milhões bilhões despreocupada, Babilônia desesperada em sua imodéstia em seu musgo em sua infantilidade desilibida o fantasma da carapaça, chame-o como chamar, o desenho perfeito de todo fluxo energético pelos corpos cabos aços concretos a complexiação da documentação da reverberação de dúvidas e vinganças pelas linhas nos postes mileuma damas de luz pairando corpofechado em derredor no místico do propositado do coraçãobatente batendobatendo batendobatendo batendobatendobatendobatendobtendobatendobtaendo batendobatendobanteod banteodnbanteodbantendobantendobanteodbatendobatendobatenodbatendobantedobatendobatendobatendobatendobatendoabatendobatendobantendobatendobatendotbateendobanteobatendobatendobatendoabtebatendobatendobadentobatendobabatendobatendobabatendobtendbatendobatendobatendobatendobatendobatendobatendhobatendobatendoobatenobatendobatendobatendobatendobatendobatendobatendobatendodeolhos fechadosbatendotebatendobatendobatendobatendobbatendobatendobatendobatendobatendobatendobanbaendobatendobatendbobatendobatendobatendobaendobatendobatendbbotrapaceeisorritropeceidesiludimeinconsternado entendendo o profundo da palavra do ato do sopro quintessencial de John Coltrane a Morte tão simples como uma força em contraponto ensinando a entrega à colossal assinatura genética a gratidão longeva e sua vingança a fúria benevolente e sua elegância possibilidades nomináveis ao fim dos infindáveis ciclos do Halo e tantas quantas impossibilidades também até que o universo terminasse só que não tenho todo esse tempo honestamente e então o poema livre como um filhote de crocodilo eu aqui na sacada atrás de grades o mundo a correr a loucura constatada a alegria da mais funesta constatação um aprumar-se rebelde e irreverente a crença profunda na relativização a resposta imunda da meditação nosso Amor pulsando na brisa ditirambos bacantes em marés de milicores em plasma que veleja às tranças solares na velocidade do zerabsoluto o segredo orar ser corajoso ser audaz ser leal ser atonal respirar em meio à loucura da verderva maculada ciente do xamãnismo e do maracatu saber o sabor de Iemanjá e ter ginga no capoêrar cá pôêêêêrááárrcá pôêêêêrááááácapoê êêrááácapôeeeeÊÊÊÊrahhhh vai musquitim dôido vai musquitim doidão pega na minha mão vê se senta pra Lição sem alardação pouca falação o troar do sino na capela de Cião um resmungão o vizinho gorduchão o lixêro pedindo pras donas a caixinha da Páscoa o Lar saber que tesão é quantizável e infelizmente não infinitamente renovável alguma porcaria de equipamento em curtocircuito ou mais probábel o secador de cabelos da perdida que passou pra lá de quarenta e dois minutos com o jato empiriquitador só hoje mas que horror esse zunido devia ser proibido, pior que o helicóptero que ao menos dava sugestão cinematógrafa ou qualquer confusão monstruosamente lubrificada mas enfim pelobenditonome o zunidonãopára!, a mulher vai ficar careca, coitada, fazer o quê, e esse zunido na sacada no meio bemnomeio do poema até se fazendo de esperto através do baixo acústico peça magnâmima seus praládecemcentímetros imponentes sendo atacados em estacatos e rubatos em formatos recatados por um longo arco de pêlo do mais nobre gato e então ainda o zunido e o solo de piano e o saxofone de novo em adimensionalização mas o poema nem acaba nem desgraça só pelo zunido cá estamos de novo em berço esplêndido cá dentro debaixo de teto no escritório sonar lá fora o luar o cão pentelho arranhando a porta querendo entrar pra malcheirar ao carpete que maistarde hei de lavar uma amiga em gozar uma vida a passar e a destreza divina de ironizar qualquer construção autoafirmativa fundamentada nalguma inconsequência orgânica subliminarmente transviada de moral suprema.
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