
Aprendizado
Data 19/12/2009 15:14:07 | Tópico: Poemas
| Tanto se faz, tanto se vê Tudo em nome de uma trilha sonora Em nome de um tom invisível que colabore com nossas inspirações maquiavélicas Tudo em nome de qualquer coisa inominável que nos marque como ferro quente.
Vez ou outra somos violentados por nossos pais. Não raramente Uma brisa singela Se arrasta como que numa câmera lenta inconcebível Em que o tempo espirala sobre si mesmo e os pássaros cantam como se seus hálitos fossem eternos.
E queremos sempre mais Mais gozo, mais impaciência Mais pele, mais pêlo, maior apelo, maior zêlo Quero sempre melhor Melhor sempre mais Mais sempre melhor.
E escorro de olhos cerrados por estas teclas tão tão reais E uma antiga música se me faz tão nova - Tão nova quanto cada banal amanhecer Quanto cada teste que é cada banal crepúsculo E sinto meus dedos prestos como tentáculos agarrando a imensidão da dança E a precisão do ritmo me arremessa ao âmago de mim E respiro um pouco mais sábio Um pouco mais amargo Um pouco mais soberbo.
Sou um novo eu, o espírito, o corpo e o pensamento Sempre um novo eu Eu mais eu melhor eu sempre - E morre-se porquê há de se morrer Com ou sem porquê, se há de...
Mas enquanto isso tantos timbres Sinos bandolins tambores Enquanto isso beijos tímidos e inescápaveis Abraços longos e estranhos Tão longos e tão estranhos que já não se parecem mais com abraços Ficam no ar como uma coisa longeva e bizarra que só pode acontecer entre dois seres demasiado longevos e bizarros.
Como eu e Deus, cá agora Eu e o cosmos todo me ouvindo - Eu falando no tique-taque parasincrônico do teclado digital Gélido como o coração da Vida Nú e de roupas Como um rei sem súditos, rei de mim, ao menos Como um camelo sedento, amante do infinito do dia, aspirante ao proximo oásis, à próxima miragem.
E luto contra a madrugada Como luta o orvalho contra a relva A borboleta contra a negritude do céu sem lua As incontáveis estrelas contra o contrapeso delas sobre elas mesmas Meu coração borbulhando magma controverso contra o id ego superego.
E implodo em clímax inesperado Um zilhão de purpúreos magentas vociferando tranquilos os discursos do medo irracional A delicadeza do sexo O relaxamento estimulante da cura indevida A cadência do tormento alegre de estar-se desperto A voluptuosidade sonolenta da força inexpugnável A sapiência terna paterna da taberna O constranger-se no rodopio do samba O querer querer-se a si se querendo a si O querer querer Querer saber querer.
Domar o leão em pura alienação Temer à picada da abelha, não pela dor, mas pela morte da pequenina...
No fundo deste texto repousa algo Que eu quero desenterrar Que não sei bem o que é, mas que sei estar enterrado clamando ser exumado Talvez uma expiração que notei e indevidamente desconsiderei Ou saber que meu sangue tem gosto de romã Ou que quero ter quarenta e duas esposar e tomar sopa de ventre toda noite no jantar Ou que fazer música é como escovar os dentes na hora certa Ou que conquistar o mundo é como tentar desenterrar qualquer coisa que não se sabe bem o que seja...
Que poderiam importar todas as palavras frente ao vital contrair-se em paixão arrebatora? Que poderia importar toda história de caos, niilismo e pecado frente ao contemplar-se único e natural? Que poderiam importar todas as irrelevâncias e discrepâncias da modernidade frente ao sopro de John Coltrane? Quem poderia se importar com qualquer coisa tão estúpida e ridícula quanto a própria infinitude? Quem leria nestes versos prosados o prazer do que mais prezo? Quem entenderia a fugidia noção de se estar vivo e adormeceria em alívio?
14 de Novembro de 2006, São Paulo. ORGASMAGIA http://orgasmagia.blogspot.com/
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