
Homeostase
Data 06/12/2009 03:30:49 | Tópico: Poemas
| É receitável Tal recitabilidade. Em tal recinto É mui bem-vinda Presta habilidade.
Sempre cri que a Vida é um único verso branco interminável Que a verbalidade é a libido do sol que em cada um habita Que a imensa profusão da profundidade imensurável do Ser é real Que falar tem gosto de salada bem temperada Que ouvir tem cheiro de pipoca estalando Que cantar é espasmo vagalumínico Que dançar é contato metassanguíneo Que as frutas nas copas são as estrelas na lembrança Numeravelmente O vento sopra calor As raízes das plantas enterradas nas calçadas Os ódios e pavores de desconhecidos me atravessando com a chuva das ondas de rádio e tevê Meu queixo rechonchudo Tudo infinitamente o mesmo.
Um zilhão de instantes o mesmo Um zilhão de infinitudes a mesma. Esta mesma Vida toda Girando sobre si Através de si Do zero ao um E depois de novo e de novo Todos os erros infinitamente repetidos Todos os vacilos, todas as lições, toda concórdia e honra e pálida deliquência! Toda lastimosa conformidade Chegando na muralha no fim da eternidade Começando de novo do zero E sendo igualzinha A existência infinitas vezes se repetindo sobre si mesma E sempre a mesma Sempre esta exatamente Contundente Intransigente Resplandecente.
Deus exclamando: "Déjà vécu!"
E o relógio digital próximo da meia-noite As pernas em lótus firmes fortes As plantas dos pés bem apoiadas sobre o timo Meus vícios como vícios Minha juventude como um esquecimento e um frenesi de amnésia Minha poderosa marreta enferrujando Sonoplastia demais me atravessando Tanto cinema estronchíssimo, cabalmente violento O vento quase inerte Meus ossos quase flexíveis Minha imaginação quase domesticável...
E agir parece um nada, um vazio Pensar parece um dispêndio dispéptico imponderável As máquinas recebendo mais carinho das pessoas que as pessoas Aquele ondular dos gramados e campos Às marés das correntes soprantes Meu pranto que não deixo escorrer palpitante Minha alegria digerindo O pânico uma injeção de adrenalina em overdose de cocaína A frustração uma musa incomparável masculinizada A paixão um sexo que é pura subjetivação As coceiras e as sujeiras e o que mais tranborde do coração um pedido de socorro Clamando por cachoeiras, rios e lagos translúcidos Céus virgens, dias purpúreos Batizados Fogueiras em que se não assem pecadores Clareiras em que se não fixem pregadores Cumes instigantes Descansos despreocupantes.
Utopia que me renova Que me faz envelhecer Humanidade Definibilidade.
9 de Setembro de 2006 orgasmagia.blogspot.com
|
|