
CÂNTICO AFROBRASILEIRO (*)
Data 20/11/2009 10:18:24 | Tópico: Poemas
| "Tambor está velho de gritar ó velho deus dos homens deixa-me ser tambor corpo e alma só tambor só tambor gritando na noite quente dos trópicos."
- José Craveirinha, poeta moçambicano -
"Negro é o coração quando em desamor reparem Deus jamais discriminou."
- Hermínio Bello de Carvalho e Pixinguinha, compositores brasileiros, no samba Protesto, Meu Amor -
Maria de Nazaré e Maria de Angola marcaram encontro no mesmo altar. Amém! Axé! Saravá!
Uma é judia, a outra negra: comem e bebem na mesma cuia. Amém! Axé! Saravá! Aleluia
Tantos calvários, ai tantas cruzes, neste meu país! Quantos Palmares, quantos Zumbis!
E lá vem o padre com seu filá, com sua estola cheia de cores. E lá vem o babá de orixá com suas contas e água-de-cheiro, convidar Cristo e seus amigos para uma festa lá no terreiro.
Toca sino, bate tambor. Toca sino, bate tambor.
É fé, é graça. É pão, é vinho. É angu e cachaça.
Amém! Axé! Saravá! Aleluia!
Salve Marias, cheias de raça!
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Hoje, 20 de novembro, é feriado nacional no Brasil. Comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra. A data coincide com a morte de Zumbi, herói dos Palmares. Palmares, no estado de Alagoas, foi um quilombo, símbolo da luta contra a escravidão negra. Zumbi seu maior herói. Este poema foi escrito já há alguns anos, para a dissertação de mestrado da hoje professora doutora Rosangela F.C. Borges (PUC, São Paulo - Universidade de Coimbra). O poema é feito em cima de uma celebração, permitida pela Santa Sé, que junta o rito católico com elementos da cultura africana. Teologicamente, dá-se a esta cerimônica o nome de inculturação. Sacerdotes católicos e de cultos africanos (babá de orixá) sobem juntos ao altar, para celebração da eucaristia. Os sacerdotes católicos usam paramentos litúrgicos coloridos, à moda dos africanos, e dançam e cantam ao som de palmas e atabaques (um tipo de tambor), sem que o texto da missa romana convencional seja alterado. Geralmente são sacerdotes afrodescendentes. É algo mais ou menos semelhante ao que fez São João de Brito nas Índias,no século XVI, que trocou o hábito jesuíta pelas vestimentas locais, com a finalidade de se fazer compreender melhor. ________________
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