
Sedução
Data 04/11/2009 14:04:54 | Tópico: Poemas
| Principia morna Tão imperceptível geralmente que é quase por normal não se aperceber dela até fase avançada Principia morna Tênue e sucinta A infância que quando se tem sorte não é destroçada pela violência da pobreza Principia morna e pouco a pouco alcança ebulição Carameliza o sumo do ser pouco a pouco Enrijece-se - Principia morna e estúpida Quase insignificante Não fossem as infinitas improbabilidades geradas por cada parto Principia morna e desprezível E por vezes vive-se décadas sem nunca confrontá-la assim lúcida lúdica e demonstradamente À presença de si mesmo.
Principia morna E depois quando ebole Rapaduriza-se e novamente se desmancha Ficando das raízes da memória senão fantasmas Que deixamos de ser as células que já fomos certo dia Completamente Deixamos de ser o bicho propriamente dito que éramos quando crianças Mas algo restou Costuma restar Como uma confluência de sonhos nos instigando a tal ou qual técnica de entretenimento Como pequenas cenas inesquecíveis e também inelutavelmente esquecidas Resta como um arrepio brotado do ventre coluna acima Regelando a paixão Como uma tosse insensível e ao mesmo tempo absolutamente programada que arremessa o pensamento no mais linear silêncio.
Principia morna A bastarda Coitada Principia inútil e em geral continua assim até o fim Salvo as ressalvas - E mesmo sabendo da inutilidade não calunio o resplandescer do inevitável Não praguejo irresoluto me convencendo de superioridades ascetas insondáveis E depois de matar a sede no regato sagrado Depois de acalmar as feras e fundir as esferas Depois de me resumir a uma ânsia por silêncio e à prestidigitação esclarecida do silêncio Depois de me perguntar de novo e de novo sobre como foi que cheguei à conclusão de que esta coisa a que chamo de sofrimento é exatamente sofrimento E porquê mereça enfim lamento Depois de prantear por dádiva à minha própria malícia Serestar às Vênus e Órions distantes Depois de fartar-me de figos e caquis espinhentos rutilosos num oásis perdido no maior deserto Depois de tudo isto de muito menos ou de muito mais Depois de alguns bons lances galgados na jogatina do amor Arde então uma alma.
Arde e se relembra E despreza-se a si pra que a lembrança não tenha mais valor que o momento presente.
Arde e sonha e escancara pálpebras pra fazer da realidade o sonho Arde e vive e se sacia e deseja sempre mais Ddeia e distingue sempre mais Arde e se se contrai Pode tornar à mornidão Mas já não à mornidão original Que o passado é pedra irremovível - Arde e se se torna novamente morna Pode resfriar-se Pode até mesmo congelar-se O Mistério Da Pedra - Arde e se se congela Se grita o grande grito do silêncio da pedra Então se torna gravidade Se torna sol e sistema solar.
Então vive dentre a gentama estranhamente Como um demônio E trinca e rejubila como palhaço irresistível Cócegas na alma Só de deixar-se estar assim assim sorrindorrindo natural.
Que o relaxamento é um sorriso O relaxamento em eixo.
Experimente Aprume-se Firme Mantendo o diagrama Trabalhando o diafragma Tudo sempre em frente Espie os quatro cantos Relaxe aprumado nariz virado pra frente Queixo e umbigo e tudo mais alinhado - Sorri-se Que o gesto sorri quando relaxado em aprumo É natural a alegria ao organismo E o próprio esforço inteligente fortalece Guia E o riso cedo ou tarde eclode A fascinante letargia do que caminha por sobre pontes sem fim O estupor agradável e mordaz do que desliza por entre eternidades.
29 de Abril de 2008, São Paulo. ORGASMAGIA http://orgasmagia.blogspot.com/
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