
A ESTAÇÃO ABSOLUTA
Data 01/11/2009 11:48:20 | Tópico: Poemas -> Alegria
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A espera teve seu cobro, Porque os matizes da rarefação Habitam-me a mente E copulam o meu corpo.
Tenho a leda, refrigerante e vívida sensação De que posso flutuar qual uma pena: Floresço como filho da ubiquidade Pois me transmudo no hialino corcel negro Que cavalga pelas enigmáticas e copiosas Alamedas da esconsa face do firmamento, Onde ascendo ao trono de escudeiro da onipresença. Ah, ao assumir a forma do vento, Incorporo a sua mais etérea essência!
Creio olhar as paisagens da consciência Com plástica, total mas também sóbria clareza: Impressiona-me como a sensibilidade, Livre das amarras da ferina indulgência, Faz-nos mirar, fixamente, Nos furtivos olhos da malevolência.
No entanto, este ainda não é o crepúsculo Da minha odisseia: Ao ter o ensejo de prospectar O fundo dos olhos da sádica Quimera, Penetro-lhe no âmago da caverna, Lugar no qual contemplo a fronte da hipocrisia: Imagem abjeta! Abjeta! Ojeriza!
Afinal, sinto-me em paz comigo mesmo. Entretanto a paz com o mundo É uma atroz miragem que reina Além das nossas humildes e impotentes vistas, Confinadas, eternamente, No éden dos desterros; Uma imensurável chaga aberta Pelos prisioneiros da inesgotável Síndrome da cobiça, da indomada ambição, Do maléfico e insidioso desejo!
Ah, todavia, sou O amálgama do correr Do guepardo e da gazela: Apesar das intempéries de tristeza, Que me lancinam e me laceram a mentosfera, Durmo sereno, ao menos hoje, Por estar sob o aconchego Da plácida nave da Primavera.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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