
Analgesia
Data 27/10/2009 13:50:59 | Tópico: Poemas
| Tão logo a morfina se faça entender, saturado, o meu amor há de declarar-se em cinzas; restos que arderam com a urgência do breve e que não sofrerão o existir da história. O coração sedado há de provar o tédio; a dimensão funesta da analgesia; as sombras que isolam-no do calendário; ilhado entre o ventre e o discernimento. A manhã se fará maquiada e fútil e o sol não será senão uma pedra barata que brilha, falsa, no dedo do dia. Ao vasculhar a memória à procura de um sorriso hei de deflagrar uma constelação de ontens, massas sem pertinência ou antagonismo que a mim prometerão outra finitude. Terei composto uma maré de água morta por cuja torrente me deixarei levar desenganada de quaisquer cicatrizes. Tão logo a morfina se faça entender.
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