Bonequinhas
A sociedade a costura
Como uma bonequinha de pano
A enrola em suas teias
A fura com suas agulhas
Escolhe as suas meias...
Mais uma menininha bonitinha
Fazendo propaganda dos seus sapatos
Enrolada nas linhas da moda
Perdida entre o mundo dos ratos.
A sociedade a tece como uma boneca
Pinta o seu cabelo “liso”
Lhe costura um vestido rosa
Lhe borda um sorriso.
Como uma bonequinha de pano
Incapaz de enxergar a própria desgraça
Sem vida numa prateleira
Segue enfeitando a praça
A criaram para conquistar meninos
Julgar as vidas alheias
E rir das meninas...
Que não usam as mesmas meias...
O Menino Sem Guelras
O menino-louco, profeta das borboletas
Ensina filosofia às minhocas da sua cabeça
E cospe latentes-poesias em tintas de canetas
Até que a própria insanidade enlouqueça.
As nuvens anestesiam a dor dos cotovelos
Do menino que não acredita na lei da gravidade
Por isso a chuva continua a fazer seus novelos
Na maré dos olhos em tempestade.
O menino-machucado que pensa que tem asas
Sempre se assusta com o som do trovão
Nada, nada, nada... mas se afoga em águas rasas
Não consegue lhe dar guelras, a imaginação...
O menino-poeta, vive em constante aflição
Entre o mar da chuva que tanto lhe atormenta
Enquanto cresce em devaneio o jardim da desilusão
Onde se cultiva flores-de-lágrima cinzenta.
Mas se distrai nas idéias o menino-solitário
Com suas célebres frases de porta de banheiro
E se rala nos cacos desse mundo imaginário
Pelas farpas dos sonhos em nevoeiro...
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[03/01/11]
Passarinhos Verdes
Entre os grãos das ampulhetas
Estive pensando esses dias...
Nos “peixes-borboletas”
Nas essências das alquimias...
Gosto quando as coisas se misturam
Como os cavalos-marinhos
Ou as estrelas-do-mar
Os cata-ventos, os rodamoinhos.
A roda-gigante no seu girar.
Esses dias eu andei meio tonta
Sob a essência do azul claro
No pântano escuro vi gira-sóis
E me deparei com um momento raro...
Vaga-lumes grudam nas minhas paredes
Iluminam o meu quarto e a vida fica amena
Escuto até uns passarinhos verdes
E a rebeldia torna-se serena.
14/11/09
Em noites de Chuva
Às vezes em noite de chuva
Me deparo com flamingos de penas pretas
Encalhados entre ruas alagadas
No chão onde se afogam as borboletas.
Os passarinhos bóiam nos aquários
Os elefantes correm para os formigueiros
Os peixes enjaulados nas gaiolas
Se debatem como prisioneiros.
Os homens viram cobras canibais
As abelhas se enroscam em teias de aranha
As lesmas entram nos potes de sal
Enquanto a tristeza se entranha.
A menina se corta no crepúsculo espinhado
Os besouros pegam o néctar das flores mortas
O céu se cobre com o véu do luto
E o coração vai trancando as portas.
As corujas têm esquizofrenias
Quando os vaga-lumes apagam a luz...
Os covardes desesperados
Se escondem nos buracos dos tatus
A viúva-negra costura a boca da noite
E tece a teia da morte para ser viúva
Já as tarântulas sempre assustam...
Nessas noites de chuva.
Humanos-Frutos
O dinossauro balança a pança
Com seu all star da moda
Rodopiando na roda
Vira escravo dessa nova dança.
Estamos na era da globalização
A estatística é numérica
Vivemos numa psicodélica
Multidão.
Somos frutos de qual decadência?
Moda, ritmo estilo, aparência?
Humanos corroídos pela bactéria
E o tédio pulsa na artéria...
Somos frutos de qual pacificação?
Conformismo, preguiça, mediocridade, televisão?
Unhas roídas, na mão armas
A face revela meninos soldados
Que carregam seus carmas
Por sonhos desconcertados
Somos frutos de qual idiotice?
Status, orgulho, burrice?
O homem, o ser racional
com sua pólvora, louco ou inventor
Frágil animal
Caça e caçador.
Somos fruto de que?
Medo, covardia ou poder?
Fomos criados
Ou somos criadores
Somos gados
Ou somos pastores?
Homens da santificação
Fumam seus cachimbos de hipocrisia
Que dão o odor da missa
Que cheira a carniça
E apodrecem a filosofia.
Somos frutos de qual regressão?
Criação, cultura, religião?
Zeus
Ganha um novo nome
Uma nova historia
Vira outro Deus.
Somos frutos de qual doença?
Cegueira, ignorância, crença?
“Eu existo por que penso”
Sou fruto de qual evolução?
Espécie, raça ou mutação...
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“Penso, logo existo” René Descartes, adoro filosofia e que Papai Platão nos abençoe. (rsrs)
Penitenciária das Classes
Querem roubar a esperança da face juvenil
A vida real da periferia virou bang-bang
Assim nascem as novas vítimas do Brasil
Sob barulhento berço do sangue.
Sem governo a lei é do mais forte
O cachorro mais fraco é o que morre primeiro
Na luta pelo osso não se conta só com sorte
O malandro sabe esse verso por inteiro.
A juventude da favela também tem virtude
Não importa que o plenário diga o contrário
O sistema falho é que exige atitude
Nem todo moleque nasceu pra operário.
A policia sabe o morro fazendo a roleta russa
E assim aumenta a nossa "bela" estatística
Quando o pulso juvenil não mais pulsa
É ibope pro programa sensacionalista.
A criança da favela já não sabe o que é herói
Mas a classe burguesia não tá nem aí
Enquanto no gueto a realidade dói
O filho da madame tá na loja de gibi.
(Mas o raciocínio não é por aí)
O problema está nos dois lados da moeda
Tanto da classe A, como da classe D
É esse sistema que nos seda
Pra virarmos inimigos sem saber.
A geração da favela e a geração burguesa
Garotos são garotos o que muda é o sobrenome
Cada um com seu problema de pobreza e realeza
A rachadura vem da fome.
Quem morre é vítima pra sociedade
Sistema penitenciário já não exige grade
Quem mata é vitima da sociedade
Esse sistema já começa na maternidade.
O mocinho e o vilão a TV já escolheu
Novela da vida real é audiência
A sua opinião que já se corrompeu
Só fortalece o Brasil Decadência.
Eu fiz esse poema depois que comecei a ouvir rap de periferia.
Minutos de Silêncio
Minutos de Silêncio
Sua mente é um porão escuro
Que guarda as cicatrizes de um Brasil
O seu peito traz o furo
Dessa pátria mãe hostil.
É um poeta meio louco
Como quase todos os bons poetas
Que faz da própria agonia
A tinta da poesia.
Não vim com luvas de pelica
Pra falar das honras que o cobre
A hipocrisia se revela no traço
Da homenagem “nobre”.
É um homem manchado de glória
Com o seu copo de cachaça;
Não estou como palmatória
Cada um sabe o que carrega de desgraça.
Ele é um herói a vagar
Pela terra da pátria amada
A madrasta já lhe mostrou a face
E ele ainda traz a dor da chicotada.
A lágrima permaneceu lá
No peito de quem tanto sofreu
Ele deu o sangue por nós
E parece que o mundo esqueceu.
Ninguém entende esse poeta
A ferida que carrega no corpo
A história escrita na pele
Na lágrima pelo pai morto.
A ditadura está marcada
No olhar de quem a viu
E depois disso há quem bote a mão no peito
Para cantar o hino do Brasil.
Tenha respeito aos mortos,
Tenha respeito aos marcados
Toda vez que ouvirmos esse hino
Que no mínimo fiquemos calados.
[Minutos de Silêncio]
January's River
Escuto ibope
E piro nos palitos
do pirulito pop.
Pinto a língua
de azul
e mastigo Bubbaloo
com absinto.
Vivo a juventude
e fumo Hollywood
com os olhos
Que pingam na chapa
do fast-food.
O outdoor é o mapa
na hora do rush:
- O sorriso é um verniz!
Puxe um beck,
num MC Lanche Feliz.
Viro Barbie,
faço pirraça
e na fumaça
que me abafa,
junto tampas
de garrafa
e coleciono brindes
nos brindes
com Coca-cola.
O consumo
me consola
se a verdade
dói a vista:
E canto jingles,
imito gringos,
viro turista
em Copacabana.
Carioca
com etiqueta
americana.
O Retrato de Uma Juventude
Eu grito e arrebento a noite
Mas os ouvidos estão tapados
Me ajoelho sob o pranto das nuvens
Fazendo sangrar meus joelhos estourados.
Eu sinto a vertigem do caos do mundo
Eu sinto a hipocrisia da igreja
Pudor com gosto de vômito
Na mão de quem apedreja.
Eu vejo os soldados fardados
Vagando perdidos entre noites frias
Meninos sedados
Afogados em mentiras sombrias.
Eu vejo a juventude em vitrines
Um jeans rasgado por estética
Morfina na veia do cérebro
O ideal punk perder a ética.
Os sonhos foram comercializados
Oprimidos ao universo do 'comprar'
A TV-ditadura impõe a moda
Biscoito de isopor, tênis da all star...
Eu me ajoelho sob o pranto das nuvens
Até sangrar meus joelhos estourados
Eu arrebento a noite no grito
Mas não acordo os alienados.
O Rock "Desdroga"
O rock é uma "desdroga"
Comprimida em um "comprimido"
Que me desafoga
De um mundo poluído
Por igrejas, escolas e coca-colas.
O rock é lavagem estomacal, mental...
Dos refrigerantes e dos biscoitos de isopor
O som que trás de volta o racional
Ritmo de louvor.
Aos poucos me desmato
Numa reeducação cerebral
Vivia como um rato
Num universo comercial.
Hoje estou no ópio do rock injetável
Na realidade da injeção
Que revela o verso do sorriso amável
Nas frases de falsa salvação.
O rock é ilícito
No seu acorde de maresia
Bendito vício
Seja a sua melodia
Que sai da fumaça melódica,
Das chaminés ao surgir da indignação
Por uma cidade caótica
Em torno de sua urbanização
Revolução
Ah! doce som!