monotype corsiva
cobre-me com teu céu amorenado de chuvas
carregadas de pecados
massageia-me com letras
libertinas, pecaminosas,
nuas, oleadas
e indecorosas
acaricias-me com as penas
de aves pagãs
roça-me
dedilha-me
aquece-me
engravida-me de versos
lânguidos
pervertidos
e ousados
escreve-me no corpo
um poema ascendente/descendente
de um jeito rimado
melódico
cadenciado
ondulante na fonte monotype corsiva
em arabescos pervertidos
pra em tua boca serem
quentes recitados
Coração de algodão doce!
Fiz uma infinidade de algodão doce
E atirei-o para o céu para ficares doce,
Voei até lá e fiz um coração gigante,
Nem entendeste que fui eu,
mas ficaste radiante.
Este poema quero rimar a olhar para ti,
Sem tirar os olhos de ti;
Apreciando, o teu incómodo pestanejar
E dizer-te tanto com um olhar.
Vamos ter uma linda conversa,
jogar um jogo para ver quem diz menos
até a alma ficar imersa.
Quero ficar assim cega de amores,
Para nunca curar todas as minhas dores.
Secreta olhando-te, eternamente
Moldando o coração com a mente.
O coração que moldei era uma imensidão,
Que as mariposas ficaram alienadas de emoção;
Ficou próximo do exemplar,
o que revelei por momentos,
Mas voltaram os pesadelos obscurecidos,
Para despedaça–lo num só acordar.
Ana Carina Osório Relvas/acor
https://acor13.blogspot.com/2021/11/coracao-de-algodao-doce.html
Casas comigo?
Casas comigo?
Fecho os olhos o silencio acomoda-se
deslizando suavemente como uma lava
pesando nas pálpebras flácidas, esqueço
o domínio e vontade que o tempo traça.
Vejo o mar quieto verde e belo, espumoso
uma moça sereia dele emerge, assustadora
o corpo brilhante, olhar penetrante, agreste
os olhos vítreos sem pestanas e provocadora.
Agarra-me, fico inerte, sem força, paralisado.
Seus cabelos longos são límos, dentes de peixe
corpo escamoso, que arrepia, frio e molhado.
Sabia que estava a correr um enorme perigo
queria sumir-me e só ouvia aquele louco pedido
acordo e com horror oiço ainda, casas comigoooo?
Vólena
Selvagem
Selvagem
Tantos segredos
escondem teus olhos
que caçam
na noite de lua.
Febris
que me olham
e me marcam
como
eu já fosse tua.
Estrelas que brilham distantes
parecem antever
toda
a minha angustia
meus lábios vermelhos inchados
sou toda
veneno de sabor
adocicado.
Desvairado
é este ato de amor
um êxtase
um frenesi de gozo
e dor
inconsistentes trama de bocas
tresloucada.
Lascivas e enleios de sublime amor.
SorrisodeRosas
NO COLO DA LUA
No colo da lua
Aconchegada no colo da lua
Ouvindo cantigas de ninar
Parecia que eu era filha sua
Comigo ficava a embalar
As estrelas fiquei admirando
Refletiam mil cores ao luar
Emolduravam a noite enfeitando
Um belo quadro com seu cintilar
La na rua um poeta versejava
Para encantar a sua namorada
Na janela a mocinha suspirava
Feliz o escutava apaixonada
O sereno escorregou pelo meu rosto
Na madrugada querendo me beijar
Para mim tinha o mesmo gosto
Do beijo com o qual vivo a sonhar.
Carol Carolina
Portal da imortalidade
Há uma imunidade nos sonhos
Uma liberdade amorfa e casta
Uma esperança no inatingível
Toda uma veleidade intrínseca
Um indelével mundo surrealista
Na trôpega profusão das imagens
O mar pode ser um rio
O rio pode ser um lago
O lago o sal duma lágrima
E eu navego ao luar na fantasia
Na barca que me embala e alumia
Na vaga âncora da minha alma
Ao longe o céu serve de manta
À paz que engasgo na garganta
À emoção que me acomete
Sempre que o sono me remete
Para o portal da imortalidade
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos natural: Setúbal
Cansei
Cansei de lutas, de ideais
Do meu ar certinho, responsável
De tudo o que esperam de mim
Quero ser o que não sou
E pensar um pouco em mim
Quero rir sem ser por nada
Soltar uma gargalhada
Sem me sentir observada
Talvez vista algo diferente
Mais ousado ou sensual
Quem sabe sair à rua
E gozar o Carnaval
Cansei de tanta tarefa!
Não aguento mais pressões!
Este ano vai ser diferente,
Vou viver sem restrições!
Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
DISPO-ME DE MIM
Acariciado pelo sol
Deixo a pele no estendal do vento
Para que as mãos aragem
A bafejem de sentimento…
Solto o coração às vagas
Deixo-o ser canoa de vela içada
Para que os lábios sódio
O insuflem de esperança…
Esparjo a carne no alecrim
Deixo-a marinar de odores
Para que a língua arbusto
A sacuda de amores…
Trago nas mãos a praia deserta
Onde me dispo de mim
Lanço-me na espuma que mareia
Junto à pueril areia
Do meu mar sem fim!
No cimo de um grão de argila
Iço o estandarte
De um beijo molhado
De espuma cálida.
Que poeta seria
Se despisse a fantasia
Como dispo o corpo
Desprovido de alma…!
António Casado
3 Fevereiro 2010
Um dia chuvoso
Um dia chuvoso
A música é doce e bela ao piano tocada
por mãos de magistral e virtuoso pianista,
oiço-a sentindo uma harmonia interior. Paz.
Uma lágrima desliza, e não estava prevista!
Levei a mão à face quase instantaneamente
mas não consegui detê-la, ela se precipitara
e no solo a pequenina gota, estranhamente
parecia uma pérola que no céu se iluminara.
E desfez-se em água pura aquele pingo dúctil.
Dirigi-me a uma janela o dia estava chuvoso
choraria também o céu desta maneira subtil
A sonata continua a sua linda e suave melodia
imaginei então, que havia um certo paralelismo
chuva, gotas, lágrimas, musica doce e fantasia!
Beijos de cristal
Teus beijos...
ângulos rectos
em pleno fulgor,
sabor a alma,
preseverança e
afecto.
Teus beijos...
diversos aspectos,
rejúbilo de amor,
sensação calma,
bonança singela
após vendaval.
Teus beijos...
circunspectos,
dócil louvor
que leva a palma,
herança de ouro
de novo projecto.
Teus beijos...
supremos, directos,
de grande valor...
safira, salma,
topázio e granada
colossal.
Teus beijos
correctos,
frenéticos, suaves,
alvor, soneto,
romances arquitectos,
portas sem chaves,
talismã, amuleto,
epogeu em altos tectos.
Teus beijos
guardados,
mesmo dissimulados,
de paixão eventual,
sempre resguardados,
são peças de cristal!