Noutros tempos
Noutros tempos
Nos meus velhos tempos nada era virtual
tudo cheirava a amor e a zelo de invejar
feito tudo ao natural, por mãos carinhosas.
as casas bem perfumadas e o chão a rebrilhar.
Trabalho laborioso o cuidar bem de seu lar
com arte e mestria, as jarras sempre floridas,
rendas feitas ao serão, eram o tom, o requinte
eram assim as Senhoras naquelas épocas idas!
Tudo feito com zelo, carinho, espontaneidade,
os filhos sempre impecáveis, o orgulho da mamã,
papás de colarinho engomado e bigode perfumado
saiam para o emprego e para a escola, de manhã.
O destinar dos almoços era então elaborado
o peixe, a carne, os legumes, a fruta, combinados
tudo escrito no papel para nada ser esquecido
e a “criada” ia às compras, vinha de braços pesados.
Eram dias de tranquilidade, tudo era ajustado
para um dia equilibrado, lavar, engomar roupinhas,
o tempo dava para tudo, nunca havia correrias.
Brincadeiras, o jantar e o deitar das criancinhas.
Contava-se uma histórinha, que era raro acabar
ao serão havia música ou rádio o êxito inovador!
As peripécias do dia eram ali esplanadas, risadas,
palavras não palavrões, em vez de indiferença amor!
ÍNTIMA REGÊNCIA
Pra onde vais
quando não estás por perto
enquanto os meus riscos sofrem por migalhas?
anjo tutelar, dos poetas a boa mãe.
onde o teu influxo de magia
a quem inspiras
uma palavra e outra?
pobre de mim
sem a tua companhia morro à míngua
nesses dias em que o sol não me raia
estéril meu poema se estraçalha
tenha-me, pelos Céus na grandeza
de teu manto
sob o teu comando, enquanto
o silêncio me ufana
antes que o véu noturno me decaia
arremedo de voos de solitária cotovia
rés do chão
assim, versos rarefeitos não nascidos
em mim nascerão...
distancio-me de tudo o que em mim porfia
pra me evadir desse deserto taciturno
luminosa e sonhada poesia
para o tempo e o ritmo da alma
íntima regência
é o teu canto que procuro!...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)
Tive Sorte
É o meu fim,
parecia mau presságio,
não era estrela cadente,
era a anunciação do 2014 UR116 em meu mundo.
Eu seria capaz de salvar o Cantareira só por uma noite,
se durasse mais teria me afogado.
Tive sorte, serviu de spa barato,
Obrigada Abençoado!
Pelo visto só entreguei uma fotocópia(embora autenticada),
O original encontra-se inteiro no peito, batendo um bolão
Agora recuperado do susto passou-me a direção.
Quem me dera ter sempre um trevo de 4 folhas à mão para essas ocasiões!
Lendo poemas de amor
.
.
.
Lendo poemas de amor,
minha alma tonta e torta,
liberta-se de tuas mãos.
Lendo poemas de amor,
ensaio passos na chuva,
desapareço nas pontas
das estrelas de papel.
Separo o sal dos rios
nas cores dos tapetes
comprados em Bagdá
Ouço as palavras
sufocadas na tua
boca.
Meu grito
Um grito na escuridão.
Mas ninguém ouve,
Ninguém soube,
Que era o grito de meu coração.
Em minha solidão permanente,
Meu eu, somente eu.
Sei que a voz correu,
Muito longe e tristemente.
A voz segue abafado.
As palavras querem voar,
Livremente pelo ar.
Como um canto eternizado.
Nereida
Amar é mudar a alma da casa.
Mario Quintana.
Carta aberta
Onde anda o amor?
Onde andam os casamentos de prata e os de ouro, tão presentes no tempo do arroz de quinze, aqueles cujo lema era:
-" até que a morte os separe."
É sabido por todos nós que o casamento está em crise, as estatísticas são prova segura que casar já não é tradição, agora é mais tradicional a separação e consequentemente o ajuntamento de duas pessoas que se amam, pelo menos durante um mês.
Até eu, que pensei que tinha um casamento para toda a vida,com juras de amor eterno, entrei à socapa nessas estatísticas do INE, vou lá saber por que carga d'água fui bafejada com tamanha sorte.
Sorte e azar ao mesmo tempo, sorte porque as peúgas, o vinco bem feito nas calças,a comida a horas já não sou eu que a dou, nem a cama feita a modos, mas azar porque tenho que me arranjar sozinha, mandar arranjar o portão eléctrico que avariou, ou a bomba da água que está em greve, ou até mesmo a torneira que pinga, enfim, para não falar em emoções mais fortes.
Mas o que faz falta aos homens e mulheres que saem de casa e começam tudo de novo?
Filhos mais novos, afirmação de quê, quando sabemos que no fundo, a rotina virá mais cedo ou mais tarde, a falta de dinheiro irá surgir, os problemas laborais irão fazer parte do quotidiano...
É triste, mas vivemos numa sociedade tão acelerada, que nem nos damos conta que cada vez estamos mais sozinhos, mais cheios de problemas emocionais e transmitimos ao nossos filhos uma herança emocional tão pesada, com a qual não saberão viver e colocarão o casamento na borda do prato.
Será que o juntar dos trapinhos vingará na conquista da felicidade!
Luso-poemas e sua gente
Vós que ausentais do luso-poemas,
Em que estais a pensar?
O quê dos fogosos abraços,
Que só vós sabeis dar
Na hora dos encantos
Da poesia que encanta a almas?
Vindes, não ficai-vos no vazio da esquina,
Vindes alegrar esse cantinho,
Que chora vossa ausência.
Vindes e tragam sacolas de poesia,
Pra alegrar a língua que nos une
Sob bandeiras que falam português.
Vindes, meus amores,
Vindes calar essa mágoa,
Que afronta o luso-poemas.
Vindes… vossa penúria é nossa dor.
Vindes, vindes partilhar o mundo emotivo
Que habita no fundo do coração de cada um de vós.
Vindes, vindes caros poetas,
O luso-poemas adora ouvir e sentir
Os encantos dos vossos encantadores poemas.
Vindes dar vida a esse cantinho dos amores.
Adelino Gomes-nhaca
Olhei-me
Olhei-me
Fiquei de olhos nos meus olhos fitei-os no espelho e sorri,
que admiração são esverdeados e sempre os conheci assim,
estavam bem vivos e aquelas duas estrelinhas ainda brilham
brejeiras e tolinhas como se eu não me conhecesse a mim.
Os anos podem contar na idade, postura, rugas aparecendo
nas nuances do tempo, temporais violentos firme aguentar
partem e deitam abaixo os ramos floridos sempre amados
mas os canteiros estão viçosos há que ter coragem e cuidar.
Mas como não lembrar com entusiasmo outras vivências
que nos enchem de orgulho, que criamos e são um valor,
baloiçámos nos braços, beijámos e abraçámos pelos êxitos!
Pois tudo vale a pena, graças a Deus que conforta e dá amor.
Conversar, um passatempo quando temos e somos ouvidores
interessados quando nos damos e recebemos em troca, saber.
Podemos falar sem toleima, educação e há os contadores
divertidos, gracejadores irónicos que gosto e me dão prazer.
E se os olhos são o espelho das nossas almas, ali está a minha
a de uma criança tonta que envelheceu e não deu por nada,
acho que é um privilégio negado a muitos e eu estou grata,
adoro fazer as minhas traquinices e dar uma boa gargalhada!
Sem palco
Presa a este casulo
Tão só:- Me anulo
Como se não existisse
Nada, ninguém à exibir-se.
Uma existência pacífica
Inócua, raquítica
Em um mundo egoísta
Cada personagem é um artista.
Sem palco ou picadeiro
Tudo é irreal embusteiro
O universo girando aflito
Ao longe ouve o eco de meu grito.
Nereida
Em dias aflitivos e incertos,
Aos vivos e aos mortos, há mundo deserto.
Deixe
Deixe que eu pise a areia morna e, fofa.
Molhar os pés na espuma branca das águas do mar.
Como uma gaivota voando livre em seu voo de liberdade sobre as águas salinas.
Deixe que eu mergulhe no mar profundo e purifique meus males.
Deixe que nessas profundezas encontre o poema da minha triste existência.
Eu não existo... persisto!
Nereida