PELA VIDA INTEIRA
PELA VIDA INTEIRA
Nasci como todos...
Brandamente equivocado,
Sem destino, meta
Ou fim anunciado
Estou
Bela e pujantemente
Perdido
E muito melhor,
Pleno e sabedor
Disto...
Admito
Há nisto,
Um prazer
Um sabor
Iludido...
Flutuo,
Um revoar desenfreado
Pelas baias
Douradas
Do tempo
Que marcha determinado
A madurar artérias
A cada badalar
Equivocado
De meu coração
Ansiado
Estou convicto
De que nada,
Nem ninguém
Poderá subtrair-me
Desta augusta certeza:
A de saber-me,
Sem eira, nem beira,
Ao solo movediço
De uma esteira
A ser bovinamente empurrado
Por este rio comprido
Que viaja com destino
Ao mar
Porém
Sem nunca,
Jamais desaguar
Ao seu primordial
E genuíno
Elemento
Por uma vida inteira...
era preciso este vazio
era preciso este vazio
eu tive que morrer
para voltar a viver
voltei por outra porta
ainda não me reconheço
ainda não sei quem sou
apenas sei que aqui estou
mesmo que não exista
já na outra vida
e aqui estou
à espera de morrer de novo…
vá, chamem por mim….
- mas com cuidado para vir devagar
eu não sei se vim pelo mal
Você
Você é minha inspiração
Motivação de meu viver
Raio de luz à resplandecer
Todo sentimento e, iluminação.
O dia sorridente
Faz o viver envolvente
Voy al cielo
La luna con celos.
Tú el aire que respiro
La rosa encarnada
Eu...bem amada
Tú el último suspiro!
Nereida
A vida é curta
Para curtir egoísmos
Nereida
Sem pudor, sem amor, sem crime
Sem pudor, sem amor, sem crime
é certo
que não me conheço
nunca
me esqueço tampouco
dou-me um amplexo
no avesso
beijo a língua do ser desdobrado
copulo-me em prazer
autofágico
perigosamente grávido,
aborto
na espiral dum olho-mágico
em plena praça pública
num ato político, sepulcral,
premeditado
a coerência me prende...
a liberdade me oprime...
a indecência me redime
vou praticá-la
mesmo namorando
a dor
sem pudor,
sem amor,
sem crime
PARADAS CARDÍACAS
PARADAS CARDÍACAS
Coração metropolitano
Batendo britadeira
Nas esquinas poluídas
Dos tantos momentos
Cimentados
Coordena descompassado
O não-fluir
Não-estático
Do trânsito
Congestionado
Rege
Uma chuva sistólica
Em compasso lento,
Engarrafado
Esfria estados
Engaveta sentimentos
Agora mesmo
Enquanto versejo,
O incansável
Músculo trabalhador,
Acidentado,
Fraqueja
Neste exato momento
Enfarta
Super-rápido
Seu último ato
Antes de estagnar o peito...
Liberta-se
Das feridas do dia-a-dia
Da vida não sentida
De seus neuróticos efeitos
Logo em seguida
Chama um táxi
Numa paulista avenida
Para levá-lo
Sem desvelo
Entre
Tropas de choque
E paradas cardíacas
Avança
Ignorante, sem receio
Sobre todos
Faróis vermelhos
Que porventura encontra
Nessas esnobes ruas compridas...
Debochado,
Definitivamente pára
Ainda fibrilando
Paga a corrida e
Salta do auto
Numa praça desconhecida
Desguarnecido da lembrança
De tudo e todos
Que já o fizeram palpitar
Só então,
Finalmente
Oficialmente
Ex-coração
Salvo desse batecum
Insano, agitado,
Em desvairado falsete
Pode aproveitar a noite
: Como antes nunca o fez
Ou sentiu
E se embriaga de chopp
E caipirinha
Num fastuoso Happy-Hour
Desses cheios de comidas
Gordurosas
Lá pelas tantas
No meio das putas
E das travecas
Glamurosas
Ainda tem forças
Para gargalhar
Incontida alegria
Ao lembrar
Que amanhã, de manhã
Não haverá mais um dia
De bateria, de covardia
Porque quando se morre
É quando mais se celebra
A vida
Nesta simpática fábrica
De zumbis
Escrevo este poema porque
Escrevo este poema porque
Estou com um livro na mão
Passei o dia a ler
notícias
e a pensar
Tenho passado
metade da vida a ler
notícias
e outra metade a olhar
para o mundo
que não pára
de me surpreender
Escrevo este poema
porque
o tempo que não sobrou
passei-o
a viver
se é que isso importa
e se não importa
escusado será dizer.
Desanimo
DESANIMO
Pedi com fé!
Roguei com esperança
Pedi a Deus me escutasse
Na minha alma luz deixasse
O visse nas palavras que escrevo,
pobres e sem sabedoria,
O porquê do meu anoitecer cedo?!
Quando ainda procuro significado p'ra meu dia.
Olho o Céu e pergunto a razão
A razão para viver?!
E ninguém me responde não?!
Onde andas meu Deus?!
Onde?
Que não te consigo ver?!
rosafogo
DESCANSOS EM TI
DESCANSOS DE TI
Sentimentos?
Pendurei-me em todos
O melhor do passado
Foi depois cerzi-los
Em poemas circunscritos
Pelas ilhas-veredas
Do meu peito-leito
Agora
Eles embalam o meu dormir
Na maciez das ondas
De dois travesseiros
Que arfam...
Dos versos?
Embora poucos,
Já houve tantos...
O suficiente
Para sabê-los insuficientes...
Deles, esqueci os melhores
Nos recantos mansos
Dos descansos em ti
(Versos estancos que não pari)
Pedi-os tanto de volta a mim,
Mais que à força atávica deles mesmos
Acho que é por isso
Que escrevo tão pequeno
O que me era grande,
Ganhei. Amei. Depois perdi.
Restou esse traço
Que agora me traduz
(De luz, um quase fiapo)
: Uma forma estabanada de sorrir.
Milagre!
Nascemos todos os dias,
Em contrapartida morremos
Todos os dias, para cada dia vivido,
Menos um no decorrer da vida.
Ao adormecer, não saberemos
Se tornaremos de uma noite
De descanso, ou se partiremos
Para um descanso eterno!
E quantos partem nas manhãs e tardes.
Jamais saberemos do amanhã...
Dessa forma façamos por merecer
Cada dia vivido, não desperdiçando;
Ao contrário ame-o, mesmo que haja
Espinhos no caminho, se sangrar?
Logo estancará,- não vereda pelo mesmo
Caminho, não se iguale aos espinhos...
Olhe para vida, como olhas uma rosa
Às vezes você ao admirá-la, segura
De qualquer jeito e ela te machuca,
Mas, mesmo assim. Você consegue ver
Sua beleza, sentir seu perfume...
Nunca adormeça sem entregar sua
Vida nas mãos de Deus, Ele é o dono
Da vida e da morte. Imagine você ir dormir
Cheio de ódio e rancor, faça as pazes antes...
Porque não saberemos se acontecerá uma
Nova oportunidade nas manhãs, tardes ou noites!
Mary Jun
15/02/2017
Barreiros,Pe
Que coisa mais maluca
ah,que coisa mais maluca
esta vontade de sair por aí
procurar os aromas do jardim
beber sonhos das fontes
que ainda restam em mim
porque um dia hei-de cansar-me
cansar-me do nada
cansar-me de tudo
esta vontade de acordar o corpo
voar com a alma
gritar o amor
escrever o amor
viver o amor
esta vontade d'um tudo
que em nada existe
mas nem sei que caminho tomar
se dos verdes campos
ou do azul do mar
aprender a gostar do tempo
do relógio que me escraviza
sem ter tempo para amar
ah,que coisa mais maluca
esta vontade lancinante de viver
sem tempo a perder
um dia hei-de cansar-me
sem nada por fazer
sem nada por dizer.
ana silvestre