Escrevo à viva força que as palavras não me obedecem e sem eu querer por vezes florescem bem mais do que confio que frutos dessem
O poema acaba sempre por ser o que não quero uma verdade mas que não me agrada uma palavra que para desespero se atravessa e quebra a toada
O poema fica sempre fora de mim a fazer-me sentir prisioneiro da própria liberdade o mundo não é lugar recomendável para quem sonha
Há inquietação até na alegria como se não houvesse inocência nem nos sacrifícios para deixar de ser atormentado pelo mundo demónio e carne
Quando me abandonaram senti que estava finalmente livre mas não supus nem imaginei sequer por um momento que estivesse só com o silêncio dos meus passos numa visão irreversível do mundo vazio sem ti.
Põe-se o sol mas não é noite ainda A tarde vai levando o dia pela mão Vaidosa se vestiu de dourado, linda! Deixou meu olhar lembrando com emoção.
Nos derradeiros momentos deste olhar Que sorveu tanta luz, o tempo parar. Na moldura do sol posto Lembrar, um sonho chamado infãncia Os traços do rosto, Agora esbatidos na distãncia Ainda o verde terra nos olhos surgindo E raios de Sol ainda a espreitar. Na noite que vem vindo?! Um sonho, um outro ainda sonhar.
Aconchegar-se às estrelas Empoleirar-se em segredo, na noite escura. De palavras singelas, o sonho afrontar de alma pura. Rever-se ainda nesta moldura.
Porque o coração jamais olvida!? Que a meninice o olhar guarde. Para que não seja esquecida, Os dez réis de gente. Estrela perdida. E a recorde sempre No encanto d'outra tarde.
rosafogo
Dez réis de gente, me chamava com ternura minha avó.
As lembranças Tomaram-me de assalto... Quis fugir. Quis negar. Quis calar o coração. Que descompassado quase saia do peito. Porem, refém da lembrança. E da presença tão palpável. Me permiti sonhar. Da luz do luar me banhei. Fiz-me dona das estrelas... Voei na serenidade da noite Que se alongou lasciva E abandonou-se sobre mim E o inevitável aconteceu... Borboletas voando na barriga...
sem ser semeado o dia dessanguentado pelas mãos da noite deâmbula vos será dado bálsamo da melhor oração quando houverdes o alecrim dourado não será pelo vento mutilado.
Minha Inspiração - a qual eu chamo de “Anjo! – Soprou docemente nos meus ouvidos: - Amada minha, cadê a Musa Divina que faria desabrochar um novo poema a cada novo dia?
Respondi: - Divina Inspiração, andei curando Almas que não sabiam mais sonhar. Agora, estou a me curar de tanto Pranto minha alma a estraçalhar...
- Mas, te prometo, Anjo meu: Que a Musa voltará e cantará, novamente, só para Ti, Um novo Poema a cada novo dia.
- Uma nova Flor Para cada novo Amanhecer.
Saleti Hartmann Professora/Pedagoga e Poeta Cândido Godói-RS
Ardo nesta cama como numa poça de fogo Me queira possuir Mas tu não estás aqui Vejo o teu olhar quente que me encendeia Nos lençois que parece que pegam fogo É só uma noite quente de verão 3 da manha sem conseguir dormir Este calor que se entranha e a tua pele se faz minha Sim esta noite não dormes sozinha
Noite de verão quente como te queria para todo o sempre Noite de verão quente e tu pareces tão presente
Eis que ela aparece como que por encanto saltitando Para a festa que se avizinha Acendo a luz e o teu foco Que me ilumina já não está aqui Como uma predadora na escuridão Os teus cabelos vermelhos são o fogo que me está a queimar
E a tua pele bronzeada que me faz sonhar Esse tom de pele e esse ar sensual que me faz delirar E essa boca desenhada que eu quero beijar
E ao pensar em ti eu sei o que é viver Como duas almas caminhando lado a lado Tenho ansias de ti estou ansioso para te ver e gritar te estou aqui Beber o tal panaché com uns caracóis Embebedar me com o teu cheiro viciante Fazer castelos na areia Afagar o fogo nos teus cabelos vermelhos Tenho sede desse lábios E da tua secreta alegria
passo por aqui de relance para ler tua poesia mas constato que pouco tens sonhado aqui neste cantinho onde me deleito com tuas palavras melódicas apenas quero ler-te ler-te mais um pouquinho adormecer nas tuas palavras acordar-te no meu sonho imaginar-me nos teus olhos sentir o aroma da tua sublime inspiração sentir as batidas do meu coração. na leveza das tuas palavras sentir o beijo em doce lentidão quero ler-te,ler-te até que os olhos se fechem no sonho desejado.
ana silvestre
DEFRONTE AO POÇO DOS DESEJOS INCABÍVEIS, IMPERDÍVEIS E LOUCOS
DEFRONTE AO POÇO DOS DESEJOS INCABÍVEIS, IMPERDÍVEIS E LOUCOS
deitado tal gato fosse no tapete fofo capto (num close) o tempo escorrendo, maroto, fazendo pose de bom moço no silêncio azougue do "flash" do meu calabouço...
cuspo um miolo de caroço, sem medir dose e rôo mole esse duro osso do tempo que, por ora, não mais me destrói...
durmo (profundo) com um barulho vagamundo desses...
[bem no antro do sonho remoço umas alvas asas, e me espraio risonho, feito um incasto anjo que acabou de roubar um beijo de língua da fada defronte à boca do poço dos desejos incabíveis, imperdíveis e loucos]
Dissolve da razão o impossível codinome da flor... Apenas sossega as ondas no carinho de teu dedo E afaga o botão, em segredo, na comoção d'um gesto Manifesto à lisa seda carmesim das delgadas pétalas...
Põe dependurada toda dor em tom cinabre... Larga-as lá, suspendidas à ponta do espinho A suspirarem a beleza de tua carne tenra e grave, Ao ar, feito flechas à pele; a errarem...
A flor misteriosa soprará tua vida, infinda, tão tua... Essa flor robusta, brotada em tua terna acolhida Enfim se abrirá, magnífica, garrida, desimpedida Pelos caminhos claros e evanescentes da lua...
E a canção multisuave dum amor, desta flor, saltará ao coração Galopando à montaria d’um alazão nas estrelas de prata... Pousará manso, em sorrisos, ao prado da tua imaginação Só para buscar-te, só para mostrar-te, num indelével improviso Quão fantástico é o jardim onde nascem os teus sonhos
No solstício da vida, Embebido de mais um cálice de solidão, Os castiçais acesos de tristeza, Uma lágrima que cai no fim da noite, lamentações de paixões ...
Amores perdidos em meio a um vendaval de mentiras, Segue a sina em meio de pétalas e espinhos, caminhos tortos...
Mas no quadro que ela pinta a imagem dele está , e no espaço de seu interior faz sua galeria particular, Em que ela pinta todas as cores, e as fotos de seu amado estão por toda parte,
Seu eu profundo é seu retiro, que nos fins de noites frias ela se reserva e vive seus sonhos, sonhos estes alguns já vividos, e outros tão cobiçados...
Ela com seu pincel faz mais um quadro bonito, de uma nova vida, em meios aos campos, em flores, em uma casinha simples de sapê, e ela pertence somente a ele...
Ela desenhou dois corações, colados num elo de amor sincero, desinteressado, eterno...
Ah, em seu mundo, ela vive seus sonhos, ela sonha com noites nunca mais solitárias, sem boêmia, onde reina um amor puro e sem maldade, ela desenha um lugar calmo, belo e aconchegante, para entregar-se ao seu amado todas as noites ...
A noite acaba e seus sonhos também, e ela acorda ... !