Último acto
Não há cura para a dor
Só nos resta a esperança
De renascer, outra vez, amor
Em busca da mudança.
O orgulho não vale nada
Neste mundo tão ingrato
E nossa fé foi abandonada
Para um último acto.
O sangue que nos deu vida
É o nosso passaporte
Por isso, minha querida
Te encontrarei depois da morte…
José Coimbra
Vestida de Sol
Numa busca desesperançosa
Pelo mais sombrio pântano
Foi com surpresa e espanto
Que eu percebi a aurora
Entre as copas da vegetação
Entre as mais vis feras
Você me lembrou como era
Valiosa a iluminação
Na escuridão do lamaçal, um farol
Guiava-me como uma estrela
Atraindo e salvando pela beleza
Encontrei você vestida de Sol
Poema em homenagem a uma amiga inteligente e espirituosa que conheci.
O rio continua
O rio continua a sua jornada
Entre as montanhas do esquecimento,
No silêncio frio da alvorada
E no nevoeiro do discernimento.
O pacto mortal foi assinado
Entre os nossos corações decadentes,
Mas princesa continuas ao meu lado
Contra os obstáculos imponentes
A vida nunca foi fácil para nós os dois
Mas nosso amor sempre foi forte
E sem nunca sabermos o que viria depois
Lutamos incansavelmente contra a má sorte.
Passo os dedos pelos teus cabelos compridos
E damos um demorado beijo de despedida
Pois nossos sonhos foram destruídos
E os anjos nunca choram, não é querida?
Apesar, da vida ter sido injusta e efémera,
Guardaremos as nossas emoções
Pois a morte está à nossa espera
Para libertar os nossos corações…
José Coimbra
A Fórmula do Mundo
Com luvas na mão se escreve a fórmula do mundo.
Bata branca, assepsia, num laboratório de números e frascos,
Números vazios e frascos; números vazios e frascos vazios.
Com luvas na mão se escreve que a vida cabe numa equação.
Fazer reagir o A com o B, meter muito A para que se não limite o B,
Para que surja muito C nos frascos, frascos vazios,
Frascos vazios numerados; frascos vazios e números vazios.
Com luvas na mão se condensa a química do Universo numa linha.
Hidrogénio, hélio, reagente, inerte, quente, frio, humano, esquisito.
Óculos de protecção contra a radiação dos frascos,
Frascos vazios com números; números vazios em frascos vazios.
Nós somos o vazio nos frascos, o vazio em frascos vazios
E o vazio é sempre igual.
Nós somos o vazio.
Somos o vazio.
O vazio.
Vazio.
.
Sem dúvida, este texto ganha toda a sua vida (para mim), no vídeo dedicado a ele, aí no topo.
http://www.youtube.com/watch?v=OwhJSp3AaH0
Monica
Tantalizado martírio, rastejante absorvo cinzas do turíbulo onde são desfeitos restos de ascendência degenerada,
Ínnfimas lembranças vagas da Pátria Lusa,onde tu habitas,
No longo hausto de flébil paixão,cultuada tão distante,
Lágrimas de incontida torva,febril amor.
Gostaria de transpor esses limite de mar profano,
Embora apenas em contemplar-te dedicando minha alma,considere empíreo sortilégio,
Absorvendo a odílica influência da lua em sensibilidade acurada,
Feito talentos funestos e sensuais que detens com maestria.
Minha fronte ebúrnea desmanchada no espelho Cercado pela luzes acesas nas ruínas
Acalentam as sombras que movem-se na solidão,messe de infortúnios e traumas recorrentes,
Estes que apagam-se quando o desejo consome últimas forças e tombado tal Anelliese possuída Busco refúgio no chão onde atiro sangue em profundas pancadas,
Desejando apenas estar ao seu lado antes de finalmente cessar a pulsação desta latejante dor percorrendo braços cansados,
Em veias e artérias desfiguradas na magreza cruamente exposta em penumbra de mortalha erguida.
Diafaneidade fantasmagórica caminha trôpega,
Até o quarto onde o retrato santificado traz alento e deslumbre,
Repousando em tua beleza ímpar,na intemerata singularidade etérea,
Afrodite de cinzentos nuances abençoa-me com atenção de modesta sinceridade quando curvo-me reverente,
diante do amor que floresce,graças a ti rosa sombria de doces palavras,
Posso fugir do abismo colossal,patológico,diagnosticado em voz impessoal,
De surras,anseios decompostos e humilhações
esvaindo-se feito pó de túmulos violados
Quando o Paraíso feito delicado anjo sombrio,Musa gótica de negro vestido,escreve,admirando-me.
Sonho com beijos que jamais terei em tons delineados com volúpia soturna,
Inerente a toda aquela que porta qualidades únicas
concedendo motivos de veneração,
Em edênicos momentos que valeriam por cada minuto,
transcedendo a eternidade e qualquer outra dádiva,nada pode mesmo comparar-se,
Penso que teus braços aconchegantes e carinho tornariam suaves os prantos de minhas tantas chagas,em miríades de romances transmutados na colossal dedicação e afeto,
no mais idealizado e real,intenso sentimento,amo-te!
Quando a última chama sumir nas trevas de depressão e agonia,
Lembre-se de mim como aquele que sacrificaria infinita existência
para estar próximo, ainda que por parcos momentos
sorvendo graças e felicidade irreprimível em teus lábios,
Glorioso feito ascensão de Satan reconquistador abatendo arcanjos covardes,
E declarando esta paixão a maior das virtudes.
Manhã de agosto
Miríades de vórtices vertiginosos despertam-me,
Feito estrelas tombadas pela tempestada na praia
Com gosto de sangue tranbordante na boca
Meus olhos acostumam-se com o sol filtrado pela janela.
Pontos luminosos tateam na penumbra vaga e cinza da manhã de agosto,
A esperança de ontem sumiu feito qualquer dia abortado,vejo-me no espelho gradativamente sumindo,translúcido,
A manhã de funeral saúda seu Rei apodrecido.
Paredes parecem mover-se para esmagar,
Feito calabouço o teto alto desaba,
Despejo vômito sulfuroso pela garganta atravessada,
Feito grito apelativo de socorro abafado em soluço convulsivo,
Levanto corajoso fraquejando caio,
Machucado e confuso partido feito osso de vidro,
Não desejo mesmo agora voltar.
Longas escadas levam ao mausoléu,
Plantas parasitas enroscam-se nas lápides em anjos espirais,
É cedo,nenhuma voz é escutada, nenhum passo,
Embora sua presença seja sentida como opressão maligna.
Manhã de agosto, manhã de funeral,
Meu cadáver desgostoso medita em Umbral sereno,
E até que a noite proteja-me ocultando certos pensamentos,
A dor se fará constante tolhendo minha alma.
Malditas Lentes
As lentes!As malditas lentes
As lentes,por elas
Não vejo as nervuras dos olhos
Os lapidados sulcos puxados
De seus olhos.
As lentes!As malditas lentes!
As lentes, que me impedem de viver
A experiência completa
De teu penetrante e forte
Olhar.
As lentes!As malditas FUCKING lentes!
Que não deixa que meu olho
Chegue nu, em seu olhar
Seu Doce, meigo e voluptuoso
Olhar
As Armações! As malditas armações
Armações que cercam as lentes
E me impede de furar com os cacos
Seus olhos, seus lindos e inquietos
Olhos.
2017
Poema que fiz para conquistar a garota que eu gostei(até que deu certo).
Morto
Palavras frias em relatórios invisíveis e pesadelos quando acordado,
Sangue no café da manhã, um desmaio antes do entardecer e outro para não dormir até que a madrugada recomece,
Viaje na minha espiral de ódio sem lamentar ou mostrar outro caminho,desconhecido,
Não desejo saber de sua felicidade ou de garotos aleijados e sorridentes,
Desprezo tua religião e manuais de auto ajuda,apenas o fim interessa.
Tantas formas de tristeza como estrelas mortas que deixam de brilhar,
Tombando esmagando crianças no campo ,
Tal como olhos mortiços daqueles que partem cedo ou doentes,
Torci a realidade para me esconder e fui encontrado pelo medo.
Quando a febre ceder lugar ao rigor mortis
e braços deformados como galhos secos deixarem de estalar na janela do quarto,
Então minha alma estará livre para juntar-se a legião infernal
Atirando-se para sempre no abismo do entorpecimento completo.
Sinfonia da Morte (Teu túmulo,meu abrigo)
Guslas incessantes atraem pássaros negros,
A sinfonia da Morte iniciada no ocaso dos campos terrenos,
Na latesecênca de tua pele diáfana um verme rasteja tranquilo,
Restam ossos e tristeza para o guardião adormecido.
Saltérios, clarins diabólicos em harmonia com a noite amortalhada,
Obscurecem olhos fundos abertos vítreos desapegos da alma partida,
Meu lamento completa a canção entoando flamívoma fúria de desilusão amarga,
Na cratera escavada por longos dedos anelados de vampiro.
Atro recanto de áspides ocultas,triclínios de cavaleiros decompostos, vazios,
Cubro-me com choro compungido e martírio,este ergástulo interior de acabado abrigo,
Da existência findada precocemente,permaneço feito túmulo dantesco,morbidamente erigido,
Na eternidade severa de infeliz paixão interrompida,ao lado da falecida que amo.
O Poço
O vento soprou os dias, as folhas da ilusão, as flores da paixão
Com elas, a alegria da juventude, a esperança e tantos desejos
Tantos sonhos bordados de carinho, quantos sorrisos também
Fruto de incompreensões onde deter a razão precede ser feliz
Onde terá ido a verdade que se mostrava tão singela nos olhos
Terá ido com as marés, trocada pelos meandros de tecnologias
O vento trouxe alterações na personalidade, trouxe o desamor
Vieram meias palavras e inverdades, vimos repetir apenas o não
A dor que não vejo em seus olhos ecoa bruta em meus ouvidos
Não entendes o que digo ou não queres, entender é compromisso
A luz se dissipa entre as grades desta prisão que cala e cerceia
Onde é a alma que se queda prisioneira, no silêncio devastador
A solidão é uma fera a rugir na noite que chega e seus temores
Quando ficares à beira do poço sentirás falta desta dedicação
Recordarás minha pele em tua pele a te acariciar infinitamente
A distância entre elas te doerá, no entanto não te autoflageles
Pois foi tua imperícia em deixar-se ser amada que assim decidiu
Somos mesmo um quebra-cabeças de sombras e peças nebulosas
Tantas vezes definimos conduzir nosso trem firme numa estrada
Que esquecemos que a viagem só importa quando há passageiro
O qual continuou solitário, entre lagrimas, na penúltima estação
O mais evidente é que, mesmo assim, te amo e peço que ignores
Toda a dor que cabe nestes versos à sombra destes hemisférios
Pousa tuas mãos mim, mas saiba que também não sei o percurso
Apenas sei, enfim, que nosso caminho segue pela mesma estrada