Som do Vento
Som do Vento
by Betha M. Costa
O som profano e barulhento do vento,
O meu silencio e dor não consome,
Castelos nas nuvens eu invento,
Para o amado Homem sem nome.
Ainda que nos braços outro me tome,
E a mim seja ele tão santo e atento,
O som profano e barulhento do vento,
O meu silencio e dor não consome...
Saudade é um sentimento cinzento,
Que ao coração causa grande fome,
Na paleta das cores é um elemento,
Incapaz de alegrar a quem ame,
O som profano e barulhento do vento...
A abrir o som das palavras.
Quando nos braços ternos desta primavera, acendo a luz do dia que se perpetua, chegas como a primeira madrugada, e o silêncio é como o respirar do teu jardim perfumado.
Há dias que são como o sol que se ergue no seu esplendor, assim, esplendorosos, como a Luz que nos veste e aquece por dentro, a fecundar o âmago na transcendência de tudo o que nos toca.
E és-me assim como um céu de tulipas brancas, sem que um grão de areia sequer, deixe espaço entre mim e ti, na unicidade de tudo o que somos.
Depois do cântico que ecoa na voz do vento, sinto a melodia do nosso abraço, perfumar-nos a alma, como se o Outono se desnudasse ao ver-nos ali e numa paleta outonal, pintasse as sílabas de todas as palavras por dizer, ali, assim, a evocar a voz num tom suave, a desenhar no olhar a candura do bailado dos nossos olhos.
Cada expressão a desabotoar todo o sossego, na nítida impressão do tempo que naquele momento deixa a sobriedade tocar a paz que se insurge, assim, tão precisa e espontânea.
A vida corre, como correm os cavalos na pradaria, o pensamento embala-me na quietude da transparência e esta sensação que trago por dentro, esta vontade intensa de escutar o som quase impercetível do coração neste batuque suave, levanta os meus olhos e numa sensação absolutamente sóbria, faz-me sentir ali inteira, como se vestisse a comunhão por dentro em plenitude.
És como o som do silêncio, sinto o movimento das tuas mãos nas minhas como uma voz que não se cala, a abrir o som das palavras.
Alice Vaz de Barros
Talvez um templo no alto da montanha guarde o silêncio dos meus dias
O dia declina, a noite toca o rosto das tardes desenhadas nas planícies, a minha respiração sobe e desce assim como a Luz dos sorrisos que habitam em mim.
Talvez, talvez os dias plantados no asfalto quente da noite sucumbam ao frescor dos meus olhos e o dia repleto de nuances de delicadeza tatue na minha pele os aromas doces e suaves do verão e eu aceite de olhos fechados em reverência uma oferenda ao Deus do amor.
Talvez eu ainda acredite em utopias e o amor não seja um embaraço nem uma farsa que demore para ser descoberta, e o som da mímica dos teus olhos se deixe perfumar pelo aroma dos meus.
Talvez um templo no alto da montanha guarde o silêncio dos meus dias e faça espargir o som acetinado da minha voz suavemente e se escute o murmúrio dos ciprestes a desvendarem o mistério da delicadeza do amor, numa prece ao céu erguida.
Talvez se salvem os grãos das sementeiras da esperança e as mãos estejam ávidas para as lançarem à terra numa dança lenta a ressuscitar os sonhos em cada rebento a despontar no solo árido da vida.
Quem sabe ainda aprenda a aceitar que a humanidade está em crise e o amor continua a ser amor e eu continue a acreditar na verticalidade dos gestos dentro dos dias.
O dia está prestes a sucumbir nos braços da noite, será que ainda me posso abandonar a este momento e esperar que a lucidez me esconda a vergonha de ainda acreditar?
Tanto céu de utopia a mergulhar a esperança dentro do desalento, uma vontade férrea de calar a voz que soluça no peito para acordar a sensibilidade e deixar o amor ser amor.
Rasgo o véu da misericórdia, que a minha voz se levante em justiça e em verdade e perante toda a insensatez das palavras pronunciadas que o meu ventre seja como uma gestante que espera o fruto abençoado e a bondade seja como o perdão no colo do amor...
Alice Vaz de Barros
Pedi à voz
Pedi à voz que fosse engano,
Um murmúrio passageiro do meu coração.
Pedi que boatos fossem descrenças,
Pelo ruído provido da audição.
Pedi que o sofrimento fosse mentira,
E que o mundo não fosse conspiração.
Pedi à voz o cessar da nostalgia,
Aonde os sons impedem-me de abdicação.
Supliquei que não houvesse diferença,
Entre a realidade e a ilusão.
Pedi que os corpos fossem ausentes,
E que as almas se aliassem por oração.
Pedi à voz que entendesse meu desejo,
Em tablatura simples, de fácil repercussão.
Supliquei a cura a este mundo doente,
Que carece de uma canção.
Pedi à voz o carinho,
Que tanto vagueia sem uma mão.
Pedi que falasse-me baixinho,
Poesias tolas sem explicação.
Pedi à voz tanta coisa,
Tanto sonho, tanta ilusão,
Que após ouvir sua resposta,
Pedi à voz que encerrasse o som,
Da batida em dó, vinda sem ré,
De ti, em meu coração.
O problema visa brincar com a voz, e não com o pronome vós.
Poema zen
Este poema existe, porque eu o criei.
Talvez ele passe despercebido...
Talvez nem seja reconhecido,
assim como uma grande parte da população,
também não é.
Ele não tem coração,
assim como muita gente não tem,
mas não faz mal a ninguém.
Este é um poema Zen...
Basta fazer este som,
para você ficar bem:
Ommmmmmm...
Ommmmmmm...
A.J. Cardiais
02.04.2010
imagem: Google
Dos andarilhos
Em meio ao desespero, continuamos...
Na estrada dos andarilhos em júbilo
Pelos corredores obscuros e vazios do caminho
Atravessando faixas de luz e ósculos
Que teimam em ressurgir por encostas.
E os latentes ventos do Sul
Ganharam força demasiada
Ao longínquo avistam-se os seus afluentes
Corriqueiros andarilhos em júbilo
Que percorrem trilhas em aberto
De sutilezas humildes da gratidão
Perfazem o perfil das multidões.
E em meio ao desespero, continuamos.
E continuaremos...
Ao som da orquestra dos mecanismos.
E ainda assim continuaremos
Na estrada dos andarilhos em júbilo.
26/07/07
Rio Branco.
Caravela dos sonhos
Uma garrafa
bem cheia desse líquido alucinante;
um cigarro
bem forte e dolorosamente consumível;
ao longe ... suspiros ...
amantes natos e, música!
um mundo imaginário,
flutuante,
onde as águas sobrevoam o céu
e as plantas mostram as suas raízes,
em céu aberto, coberto de sol e água...
um mundo onde os astros
beijam o chão que os cobre,
e o homem sente, na pele,
o sangue que lhe falta no corpo;
um salto de cavalo de crinas de prata
e um berço mundo de homens moribundos...
e na garrafa a caravela dos sonhos;
e no fumo do cigarro a alma que se espaira!
... e os suspiros ... tu e eu ... adormecidos!
... tu e eu adormecidos um do outro
embebidos na bebida que nos absorve,
queimados lentamente até às cinzas,
e a lua, cinzeiro de pó, candeeiro em fogo
que se consome, por si, em nada!
enquanto nós, tu e eu ...
... amantes natos ao som deste som ...
... ... ... ... ... ... ... ... hum!
cdjsp
Na praia da vida
Somos olhos bem abertos
Com fome de utopia.
Seremos lenda viva,
Símbolos alcançados
Na mão do sonho real,
Sempre leais à lenda que somos.
Voando sobre mares e praias,
Colhendo nas areias o suave toque
Do tempo que desfez a sensação,
Sentimos na tua força
E nos teus olhos a coragem
De seguir mais um dia,
Cavaleiros da vida sem fim.
Viver assim
Na imortalidade
É desejo de viver para sempre
No momento curto que fomos,
No equilíbrio que procurámos
Entre acordes de esperança
E gomos de realidade.
Deixámos o som soar,
Tal como as tentações
De desesperar por uma pausa.
A pausa eterna do tempo quieto,
Anulado pela nossa força,
Manipulado pelos nossos fracos braços
A nadar para o infinito.
Ouvir o som da alma
E ignorar o que foi dito.
Ignorar a palavra corrompida,
Nesta praia que somos nós
E é realmente a da nossa vida.
O som da harpa imortal
Não te emociono com as minhas palavras e frases de amor,gestos e demais atos.Te emociono pelo fato de ser a unica pessoa que te trata como você merece.E de estar sempre presente,nenhum lugar do mundo,por mais longa que seja a distância,um dia irá ser capaz de nos separar.É um amor imortal.
Não há água que apague essa chama,calor que seque essa flor,e impurezas que destruam as leis da física e natureza.Se você chorar,é porque percebeu...
Que eu estou aqui,forte e moral com as realidades.Cheguei ao ponto certo,risquei o melhor traço,desenhei pra ti a mas bela forma.Porque eu não te amo,eu te respeito e te dou valor.
Em primeiro lugar imponho o que eu preciso,e você,sabe que eu sou apenas um poeta,não apaixonado,e sim recaído por um sentimento imortal.Um anjo não pode me flechar,antes disso,uma harpa começou a tocar,não definiu isso como amor.
E sim um som que veio do infinito,provocando a IMORTALIDADE.
Thábata Piccolo
Curitiba,Verão 2010.
Valsa sepulcral
Esfuziantes, em trapos rotos de sedas antigas,
bailavam céleres ao sabor da brisa noturna,
sobre vetustas lousas, cruzes e lápides amigas,
ao som de sinos azinavrados, melodia soturna.
Como um casal qualquer, ali rodopiando o par,
a quebrar o silêncio, sons de ossos a intrusar.
Deslizam os dois compartilhando segredos,
conjurando um amor que resistiu à morte;
ossadas alvacentas levantadas dos lajedos
como se ignorassem o que lhes deu a sorte.
Trocando palavras sobre os tempos de outrora,
havia encantos, mas não dançavam como agora
A bailar, tão branca dupla solitária deslizava;
à dama seu cavalheiro cortês, mesuras cometia;
os crânios descarnados amiúde o par colava,
cúmplice olhar emanava chão da orbita vazia.
Executavam a antiga valsa com muito regalo,
embevecidos ambos, até que cantasse o galo
Se noctívago passante mirou por indiscrição,
pelo portal da necrópole através da fresta,
vendo ossos silenciosamente mal tocando o chão,
fixos os olhos arregalados, ante visão funesta.
Arrepio teve, terror mirando tão dançante o casal,
ossos insepultos a bailarem alegres, a valsa sepulcral