Poemas, frases e mensagens sobre sofrimento

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares sobre sofrimento

preçario dos dias

 
de todas as vezes em que a noite
despida se deita no escuro
bem agarrada mim
numa pressão de quem tem
medo e ternura

choro,gemido

de coração insepulto
no balaçar saco lacrimal
drenagem escura lama
mortalha de terra e clorofila
afloram a dor do rasgão da descida
pela desmesurada acidez

choro, gemido

nada mais consigo fazer
talvez ler " manual da tirania "
infectar.me de dacriocistite
afogar meu choro, gemido

porque só há choro, gemido do mundo
choro, gemido abafado
de tanto sofrer
de tanta guerra sem sentido
tanta discordia parasita
tanta vida perdida gratuita
tanta decadência
tanta mentira
tanta...
tanta...
tanta...

trespassam meu choro, gemido

é preço a pagar

HC
 
preçario dos dias

NOVO ALENTO

 
NOVO ALENTO
 
Lendo os versos teus...
Algo forte aconteceu!
Há muito tempo eu tinha
vontade de me libertar.
Eu estava matando os meus sonhos...
Então chorei:
Lágrimas incontidas rolaram
em minha face.
Quando é uma mulher
que sabe o quer,
ela chora muito
e se levanta.
Chegou o tempo
de curar as feridas
da minha alma e cantar!
Foi-se o sangrar
do meu coração.
Arranquei as feridas
dessa vida sofrida,
de um mundo onde o amor
quase não se vê.
Do lixo que então restou,
uma fogueira eu armei;
Queimei todo o meu tormento
as cinzas que restaram recolhi
joguei além do horizonte
logo se dissiparam.
Reacendi assim meus
mais íntimos desejos,
minha alma sofrida
ganhou então novo alento.

Mary Jun - 20/09/2012

Imagem Google:
http://www.siirsanati.com/v2011/image ... -28-09-ateS-ile-barut.gif
 
NOVO ALENTO

Correio da morte

 
Sinto-me só, destruí a minha vida, perdi os amigos
E por um tempo o meu efémero destino
Os pensamentos mortificam a minha mente
Capturada nesta cela longínqua, choro
Minha alma enegrece, tudo é insano, penoso
Onde estás liberdade? Porque fui tão néscia?
Porque quis demais?
Recordo o passado presente
O estômago contrai-se dorido, alvoroçando meu ser
O produto fatal permanece nas minhas entranhas
Meu coração bate no compasso do medo da overdose.
Se rompesse… se diluísse, no meu corpo pleno de pânico
Não controlo meus pensamentos.
Os minutos duram uma eternidade
Voo, olho pela janela o azul límpido do céu
O brilho incandescente do sol
E em mim, tudo é negro…
De repente alguém grita, alguém como eu… morre
Jovem cheio de sonhos que se perderam
Meu Deus onde estás? Porque o deixaste morrer?
Por favor controla minhas entranhas, não me deixes falecer.
O avião retorna ao ponto de partida
Alguém me espera e eu entrego-me sem saída
Aparentemente resignada, mas minha alma grita
Aqui estou, sem liberdade, inspecciono-me tarde de mais
Lá fora os agiotas perduram.
Transformados em estátuas de pedra, frios
Permanecem com a rotina de sempre
A usar e abusar de seres humanos como eu
Sedentos de melhores condições de vida
Sem punição, exigem mais e mais
Há sempre alguém como eu e como o outro que morreu.
Sinto-me só, minha alma chora, …. dolente
Valeu a pena? Pergunto-me eu.

Escrito a 09/02/08
 
Correio da morte

Lágrimas!

 
Lágrimas!
 
Os olhos lacrimejam;
Lacrimejam por causa do sol,
Vejo lágrimas a encher o mar,
Mar que reflecte, um ser enroscado no lençol.

Que ocorrência,
Que acontecimento indistinto,
Que Paralisia de dia,
Deixas-te o mar tinto.

Promessas mal decifradas,
Leva a polémicas sem fundamento,
Foi abstractamente arte plásticas,
Que contraditório, momento.

Se assim têm que ser,
Mais vale, mudares de via,
Antes que o dia possa escurecer,
Porque amanhã já será outro dia.

Agora épocas sem adormecer,
Que tira o sonhar,
Precisas de outro amanhecer,
Mas por favor pára de chorar!

By- Ana Carina Osório Relvas /acor

(Poema Antigo)
(Desenho de Vista 2009)
 
Lágrimas!

Além das nuvens

 
Além das nuvens
 
Deixe-me soltar um
grito!...
Que possa ecoar no
infinito,
um grito de liberdade;
de um coração
aflito...
Nas asas do vento,
além das nuvens
adentro...
Rasgando o céu até
encontrar alento!...
E o Senhor Jesus ouvir
meu lamento.
Estou como moça num convento!...
Amargo peito do outro lado
das grades na solidão.
Já me foge os pensamentos,
a voz se perde no firmamento!...

Mary Jun
 
Além das nuvens

A dor da morte

 
No seu corpo franzido transpira
O suor do dia a dia sombrio
Mas o seu coração ainda vibra
Quando pensa no passado sadio

Na luz radiante do seu sorriso
No esplendor do seu doce amor
Que o céu um dia lho roubou
E um vazio no seu corpo deixou

No seu olhar de sofrimento
Mil perguntas transparecem
Mas dos seus pálidos lábios
Só esgares de dor permanecem

Sua alma grita de revolta
Por tanto já ter sofrido
Que vida tão cruel e nefasta
Que te martiriza sem sentido

Tanto tempo a apelar
Alivio para tamanha dor
Mas tu vida meretriz
Olvidas esse pobre sofredor.

Que sofre, sofre sem gritar
A dor do declínio ao chegar
O fim desta vida terrena
E do corpo decadente abdicar

O descanso torna-se abençoado
Para tamanho final sofrido
Ora, pedindo ao seu anjo amigo,
O reencontro do seu amor perdido.

Suavemente encerra os olhos
Numa dança corporal serena
O coração pára docemente
Abandonando esta vida terrena

E eu com o coração apertado
O rosto sombrio e entristecido
Rezo uma prece apressada
Sob o seu velho corpo jazido

Poema reeditado mas sempre actual
 
A dor da morte

Dentista

 
Dentista
 
Fui ao dentista
Abri a boca
E falei o que sentia

Fui ao dentista
Anestesiei os lábios
Ferido na parte inferior

Fui ao dentista
Cortou minha gengiva
Decepou minha esperança

Fui ao dentista
Obturei a carie
Arranquei sentimentos

Fui ao dentista
Ganhei um pirulito
Mas o canal estava feito

Fui ao dentista
E o motorzinho me assustou
Mas foi o olhar que me enganou

Não vou mais ao dentista, prefiro perder todos os dentes da boca e continuar são.
Não vou mais ao dentista, prefiro morrer de dor de dente, do que pelo doce toque de suas mãos.
Nunca mais quero ir ao dentista, Eu nunca mais quero ver a máscara que cobre teu sorriso e que me trazia alivio.
Dentista, só se for sem medo e assim obturar meu coração, pois o sorriso nada mais é do que esmalte e feijão.
Dentista, um dia quem sabe, pode ser na clinica ou até na garagem, se estiver tudo limpo e sem nenhuma carie.
Dentista, amanhã talvez!
 
Dentista

TENTANDO VIRAR A PÁGINA

 
TENTANDO VIRAR A PÁGINA
 
Tentando virar a página

Pareço um bêbado buscando algo na rua,
Respirando fundo meu oxigênio solto no ar,
Os pensamentos vão e voltam nesta inquietude,
Queria fugir! Se esconder e não chorar,

As horas desaceleram meu universo,
Preciso controlar o pulsar do coração,
Estou a voar flutuando nos dilemas,
É como pisar e não sentir os pés no chão.

Nesta agonia uma canção escuto e durmo,
Em instante avisto anjos a celebrar,
Entre o real e o imaginário sofro confuso,
Quando desperto nada mudou em meu lugar.

Tentando virar a página bastante rabiscada,
Busco um espaço para um novo desabafar,
Não encontrando entro em um bar tomo uma pinga,
A noite passa, o dia amanhece, vou trabalhar.
 
TENTANDO VIRAR A PÁGINA

Dentro do sofrimento

 
Dentro do sofrimento
 
Vivo dentro do sofrimento.
Vejo as drogas
substituírem o alimento.

Vejo pessoas tirando
seus sustentos do lixo.
Vejo gente vivendo
que nem bicho.

Vejo idosos "se virando"
para continuarem vivendo,
e políticos se aposentando
depois de poucos mandatos
e muitos "bons tratos"...

Como posso me calar,
vendo todos estes atos?
Minha poesia tem que falar,
tem que brigar...
Tem que relatar os fatos.

A.J. Cardiais
21.06.2011
imagem: google
 
Dentro do sofrimento

Michael Jackson

 
Michael Jackson alegrou muita gente
Neste mundo frio e tão pouco nobre
Foi um pecador e também inocente
E tentou ajudar o povo mais pobre

Frágil por traumas vividos na infância
Despreparado para enfrentar esta vida
Sofreu pressões de todas as estâncias
E um turbilhão de fofocas na mídia.

Para então suportar este duro calvário
E os horrores para seguir seu fadário
Com opiários acalmava as suas dores

Viveu alegrando a gente deste mundo
A sua morte foi um golpe profundo
Agora só resta sepultá-lo com flores.

jmd/Maringá, 30.06.09
 
Michael Jackson

Soneto da Inconfidência

 
Soneto da Inconfidência
 
Não me firas com as esporas da animosidade
Nem me digas que sou eu quem me rejeito
É acutilante o embuste onde me deito
Feito de lâminas afiadas da tua leviandade

Há um desfibrilhador de maus momentos
Um choque rude que me traz à realidade
Toda uma dor que me invade os pensamentos
Prefiro a ignorância a enfrentar a verdade

Sou de mim um simples arrasto paulatino
Senhora e dona da minha pusilanimidade
Já me rendi àquilo a que chamam de destino
Nada me ajuda, tão pouco o passar da idade

Decretei à minha pobre alma a alforria
Nasço de novo para a vida e para poesia

Maria Fernanda Reis Esteves
51 anos
natural: Setúbal
 
Soneto da Inconfidência

MADRE TERESA DE CALCUTÁ

 
A dor é injusta, indigna de recompensa
quando a ela... ofereceste esperança,
aos famintos da miséria do amor e da doença.
Abdicaste o que os homens não negam
o medo contagiante, que o corpo não usa nem sente
a vaidade a prepotência materialista.

(Vestiste o teu hábito “sári”...a tua beleza raiada
de pureza...)

Madre, Missionária da Caridade
cala-nos!

Esta avareza de sentirmos,
o que não sofremos, o que queremos e já temos,
o que somos e não sabemos,
o que se pode fazer com tudo sem ter nada...

Ensinaste-nos
a sorrir na ”santa escuridão”, e se ninguém nos ouvir
o silêncio prevalecerá o seu caminho...

Conceição Bernardino
 
MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Analfabetos do saber

 
Analfabetos do saber
 
Imagem retirada do Google

A Madrugada aproxima-se
Lentamente despede-se a noite
Desbotam-se as luzes artificiais
O silêncio segreda-me de ti
Recordação idílica em mim

Na quietude da noite fria
Corações doloridos dormitam
A noite alonga-se aqui…
Onde meu corpo cansado permanece
Alerta, vigilante, velando por ti
Gente … simplesmente gente
Corpos imperfeitos, falências vitais
Em urgências primordiais
Protegendo a vida da vida efémera de nós

Sonhos desfeitos, reflexões necessárias
Desejos castrados no tempo que se perdeu
Esperanças renascidas, olhares agradecidos
Vozes tremulas, carências ausentes
Peito doloroso, ardente por ti

O sol nasce soalheiro do universo
O dia amanhece e com ele o futuro presente
Joguetes em um puzzle inventado pela vida
Pré destinado em ti, em mim, em nós
Visíveis nas forças cósmicas
Esboçados no livro grosso da vida
Com tinta imperceptível
E reescrito por nós
Analfabetos do saber

Escrito a 3/01/09
 
Analfabetos do saber

O Farsante

 
Durante muito tempo vens jogando tuas palavras ao vento.
Sendo o causador do presente sofrimento.
Por tantas vezes, por medo, escondeste teus verdadeiros sentimentos.
Com destreza e astúcia; omitia a verdade dramatizando com potes cheios de elogios que não condiziam com a realidade.

Que hoje deságuam em rios, pois se antes fossem em lagos (parados!); tantas mentiras ainda estariam me causando calafrios com enorme intensidade.
E o teu abraço jamais me aqueceria naquelas noites frias em que aparentemente estávamos em sintonia, prisioneiros da própria ingenuidade.
 
O Farsante

A dor do declínio

 
No seu corpo franzido transpira
O suor do dia a dia sombrio
Mas o seu coração ainda vibra
Quando pensa no passado sadio

Na luz radiante do seu sorriso
No esplendor do seu doce amor
Que o céu um dia lho roubou
E um vazio no seu corpo deixou

No seu olhar de sofrimento
Mil perguntas transparecem
Mas dos seus pálidos lábios
Só esgares de dor permanecem

Sua alma grita de revolta
Por tanto já ter sofrido
Que vida tão cruel e nefasta
Que te martiriza sem sentido

Tanto tempo a apelar
Alivio para tamanha dor
Mas tu vida meretriz
Olvidas esse pobre sofredor.

Que sofre, sofre sem gritar
A dor do declínio ao chegar
O fim desta vida terrena
E do corpo decadente abdicar

O descanso torna-se abençoado
Para tamanho final sofrido
Ora, pedindo ao seu anjo amigo,
O reencontro do seu amor perdido.

Suavemente encerra os olhos
Numa dança corporal serena
O coração pára docemente
Abandonando esta vida terrena

E eu com o coração apertado
O rosto sombrio e entristecido
Rezo uma prece apressada
Sob o seu velho corpo jazido

Escrito a 30/11/07
 
      A dor do declínio

Prisioneira de mim

 
Prisioneira de mim
 
Sente este silêncio que grita em mim...

Há palavras sepultadas na minha voz!

O meu corpo é uma masmorra de palavras

onde lutam silenciosamente pela libertação.

Por vezes, sinto o meu corpo quase rendido,

mas venço ao derramar as palavras no papel!

Nas palavras eu me entrego abertamente a ti,

mas como vês estou escondida dentro de mim!

Desculpa, não consigo confessar-te o que sinto!

E assim carrego este peso...que é a minha penitência !

@Olga Silva
 
Prisioneira de mim

Se Deus quisesse...,

 
Se Deus quisesse...,
 
Uma nau flutuante singrando...
Longe de um porto, um cais.
Marulhar de espumas... mais,
alvas que as nuvens, um bando...

de gaivotas adejando sobre as águas.
Um infinito azul, um mar de solidão;
Tal qual a nau solitária cheia de mágoas.
Uma realidade sua especialização!

Naufrago -, seu mundo uma ilha
perdida com monstros e feras
de uma vida que nada mais espera.
Navegando sozinho milhas e milhas...

Ondas gigantescas são arremessadas contra a nau um (mar)...
de tempestade, chuvas torrenciais a banhar
... sua face lânguida munida de tristeza...
Tão profunda como o abismo dos mares, e sua grandeza.

Frente a horrores de um mundo tirano, para afugentar...
seus medos segregados n'alma
chorando profusamente para acalmar.
Pois seus sonhos sempre eram cortados trazendo traumas.

Uma vaga humana em seus
Conflitos pensares afogando-se
nas águas de um oceano de tudo que sofreu
Mas entre seus anseios tem talvez? - Se Deus quisesse...,

Mary Jun
2/4/2019
 
Se Deus quisesse...,

PRISIONEIRA DE MIM

 
PRISIONEIRA DE MIM
 
Prisioneira de Mim

De baixo do meu silêncio
Carrego o coração em pedacinhos
Cansado de lutar ele vencido
Num corpo em desalinhos
Sofre calado o amor escondido
Se os joelhos sangrados
Fossem pensados pelas lágrimas
Talvez um pouco de ar voltasse a fluir
Neste peito doído e sozinho
Num mundo sem cores e vazio
Ofertasse uma réstia de alegria
Poderia talvez essa tristeza ruir.
E assim mesmo em pernas bambas
Poderia eu seguir qualquer caminho
Que levasse ao teu mar de ondas tantas
E me afogasse em ti
Num único mergulho transloucado
Libertasse-me dos meus grilhões e
Cruéis algozes da razão e me tirasse
Dessa agonia de ser metade
De ser o desenho inacabado,
De ser somente solidão...
 
PRISIONEIRA DE MIM

Como uma pastilha!

 
Sentei-me enquanto via a chuva cair,
Acendo o cigarro e depois de ver o fumo a desaparecer no meio da chuva
Olho para o chão perco-me nas poças e comparo-me a uma pastilha que ali estava perdida

Vinda de origens de baixo
Colorida por cores diversas
Comida por todos…
Por vontade
Ou se por necessidade
Para matar saudade
Apagar um sabor
Substituir um odor
Mastigada discretamente
Para largar o vicio
Torna-se viciante
Algumas perdem o sabor num instante
Outras, duram até ser saturante
Companheira de viagem
De espera

De um lado para o outro
As voltas a rodopiar
Perdidas em todas as bocas
Movidas por todas as linguas..……..
Quem já não se sentiu igual a uma pastilhas?!
 
Como uma pastilha!

INESPERADA VISITA

 
INESPERADA VISITA

Se bem penso, nem só para o amor, o eufórico, o lúdico, o humorístico, o sensual mais ou menos ousado, existe este site. Também nele há ou deve haver lugar, assim julgo para a alusão – já que de canto não é fácil nele honra-lo – para o profundamente sofrido, já que a dor é inerente à humana condição. Por isso que ninguém se escandalize por uma curta viagem pelo patético da vida.
O tema que nesta hora acorda em mim mexe com o mais profundo da raiz humana, rasgando em lúgubre transversal toda a sua natureza, enraizando no corpo e volatilizando-se no espírito. È patético - repetimo-lo - o tema, mas ao mesmo tempo arrebatador, na medida em que interfere, integral, nas profundas do nosso ser. Há um certo pudor, não sei bem se medo, um certo respeito – não sei se é o termo correcto - por o leitor. Mas uma réstia de coragem ou ousadia, ou despudor, desafia-me a abrir e com determinação a porta e a entrar com desassombro na matéria que hoje – não sei se por estar um dia de acentuada intempérie me sinto desafiado a abordar.
Sem me considerar poeta, ouso defender que considero o assunto rotundamente susceptível de ser tocado, porventura cantado.
Era um imenso e aparente relvado com árvores que até davam fruto, de premeio. Ao centro uma pequena colina da qual se dominava o verde prado. Fomos para ali conduzidos num anúncio de surpresa da guia do grupo já que identificar a visita poderia ser desestimulador para alguns. Uma vez postados na colina, espraiado o olhar pela distância como quem busca apetitosa novidade, os nossos olhos vão-se aproximando das imediações da colina e é então que se apercebem da natureza do lugar. Aqui e além, mas como por inusitada magia cada vez mais próximas, uma e outra e depois outra e, afinal, um sem fim de cruzes a salpicarem o relvado. Aqui, além e mais além, uma simples flor. Está desfeito o mistério. É um cemitério, não à maneira dos nossos.
Ali tudo era simples, igual, não havia distinção de classes. Os que ali repousavam tinham a mesma idade, mais ano menos ano (dezanove a vinte e um anos) e para ali foram levados numa mesma época, a da brutal segunda grande guerra. Eram militares alemães os que ali jaziam, aqueles cujos corpos jovens foram entregues há cerca de sessenta anos às leis implacáveis da terra-mãe. Sim por estranho que possa parecer e explicação não nos foi dada e também não a descortino, eram militares alemães. Isto em terras da Normandia, terras da nação Francesa, naturais inimigos da nação Alemã. Perpassou por mim e decerto por outros, um acolhedor sentir, quase ternurento. Surpreendeu-me que fosse dada aquela dignidade a jovens militares da grande nação inimiga. Não tive lágrimas. Estas imaginei-as nos olhos daqueles que foram pais desta juventude brutalmente sacrificada na flor da idade. Neste instante escutei distante – tive essa ilusão, eu sei – uma melodia que me é profundamente cara e que me toca a alma em determinados momentos. É uma canção de Marléne Dietrich que de algum modo canta a tragédia desta guerra e lhe é contemporânea. Então os meus olhos, eles mesmos vertem lágrimas que me fazem sentir no mais esconso da alma que existe uma resposta para este drama. Os sentimentos que remanesceram em mim remeteram-me durante algum tempo a um silêncio que me fez viajar por um inexplicável mundo caldeado na dor, na violência desfeita em humanidade, numa estranha paz interior, na saudade.

Antonius
 
INESPERADA VISITA