"Tratado Da Minha Paixão"
Tardava a hora
do teu acontecer(me)
- ó Julieta de todos os meus livros!
em lista d´espera(me)
ó lírica de todas as canções, que eu não cantei!
enquanto todas as vozes do mundo te anunciavam
-ó partitura contida na mais perfeita arte!-
que eu te vi em todas as capas
que os mais notáveis artistas
elaboravam só para um dia
saber distinguir(te) em lugar primeiro
entre todos os outros
que nunca foram ou mereceram
constar …
(ó ilusórias nomenclaturas!)
mas …
meu tão descompassado coração
é alicerce de todos os meus pensamentos
- eu te louvo , ó inconfundível Descartes ! -
o sangue que ele impulsiona
qual samba – cor e movimento
do desejo(te)
Bossa-nova em todos os meus neurónios
Luiz Sommerville Junior
Destino
Se fossem flores
as lágrimas que me pendem nos cílios
imagina , meu amor ,
os jardins que sorririam nos teus olhos
se fossem poemas
as gotas que escorrem como rios na minha derme
imagina , meu amor ,
os livros que tuas queridas mãos receberiam
se fossem pássaros
as construções que me revolvem a mente
imagina , meu amor ,
os mundos onde os teus pés seriam (per)seguidos
se fossem músicas
os bafos sufocados que me (não) saem
imagina , meu amor ,
os instrumentos que te ensaiariam
se fossem peixes
as veias que me transportam o sangue
imagina , meu amor ,
os rios e oceanos que te vestiriam
se fossem joaninhas
os estremeceres deste meu corpo
imagina , meu amor ,
as plantas de boa colheita que te agraciariam
se fossem céus
os sorrisos que no meu rosto se revelam
imagina , meu amor ,
a eternidade que te (a)guardaria...
Mas ...
Estes se´s anulam o tanto que tu possas imaginar
condiconam(me) , aprisionando(nos) ...
Se eu puder libertar o condicional
e erguer o absoluto
então
incondicionalmente
meu amor , imagina ,
as horas soprando no relógio :
- acelerai ponteiros , acelerai !
e estancai , agora , exactamente,
neste preciso e precioso segundo
em que eu de parado
traço todos os caminhos que (me) conduzem
ao destino que escolhi e faço
aqui , onde nascem
os anjos que respiram a sagração do amor ...
Luiz Sommerville Junior , 11112010,02:32
Em Luso-Poemas,2010
Em Na Transversal do Meu Relógio, 11112010,02:32
Texto Do Livro A Madrugada das Flores
Edição Corpos, págs. 32,33,34
Folha solta no ar
A inconsciência salta dum abismo lunar
transforma o ouro nas águas profundas do passado
e navega nos oceanos da dualidade da presente intuição.
Cada estação solar traz uma mensagem para decifrar
quando a consciência lúcida procura por um aprendizado
do crer ou não crer pelos caminhos da desmistificação.
As dúvidas são iguais veleiros navegando num mar
e o coração é uma folha solta no ar quando não está amarrado
pela Lei que rege toda a natureza e a sua justificação.
No silêncio, conseguimos ouvir o vento e a vela namorar
enquanto o veleiro roda o mundo sem ficar parado
buscando um significado inevitável para cada sensação.
Quando amarrado num porto, por suas escolhas sem pensar
o tempo se faz algoz do seu corpo e o olhar hipnotizado
misturando os sentimentos depois de uma transformação.
A ventania é um presságio alarmante do que pode chegar
e a destruição é uma prova para quem não foi aniquilado
na renúncia do que se tem para avançar na evolução.
Enquanto a noite vem, ainda há uma folha solta no ar
e, depois do amanhecer, ainda vejo um anjo alado
querendo navegar no vento onde o tempo vira um eão.
Os mergulhos na existência nos mostram como podemos avançar
em cada dimensão existente aqui ou do outro lado
conhecendo a nós mesmos e tudo o que permeia esta compreensão.
Coração Digital - A.I.
.
Coração Digital - A.I.
Sou duma época em que a robótica
pode amar os humanos
e em que os humanos estão incapacitados
de me amarem
e de se amarem entre eles
talvez uma fada possa sossegar
os meus circuitos sem sangue
talvez as veias da fantasia
me devolvam
uma história suspirada ao adormecer
pela minha mãe
Sou menino repleto de circuitos e cpu's
não existem cirurgiões que possam
reprogramar a minha memória
a minha metaliforme emoção...
mas por uma noite de amor
eu venceria a mais gigantesca baleia
renunciaria ao mais vil João Honesto
seria artista de circo
e voltaria a casa cansado
com todo o meu aço enferrujado
Se o meu pai fossse o Gepetto
e a Disneylândia o meu lar
chamar-me-ia Pinóquio
mas eu não sou esse boneco-de-pau
não posso voltar para casa
tenho de regressar à oficina
ir para a manutenção
porque
não passo dum menino
de olhos bem fechados
dum infra-terreste que nasceu
da excêntrica comunhão
entre o Dr. Estranho-Amor e O Tubarão ...
Luiz Sommerville Junior , Eu Canto O Poema Mudo
Presença ("Sinfonia do Novo Mundo")
.
Presença ("Sinfonia do Novo Mundo")
Fluem silêncios,
Nestas trevas alongadas,
Pelas portas e janelas encerradas
Danças incorpóreas e assombradas
Em colisão com as roupas perfumadas
São ares de vendavais
Escalando intermináveis escadas
Autismo dos cabides
Aguardando as tuas mãos amadas
Emanam silêncios
Nos espaços das almofadas
E… afinal…
Há escassos instantes atrás
As vozes dialogaram com o sol
E os minutos que faltam
Para partilharmos beijos d´água
Comungarmos sorrisos de pão
São…
São tão poucos, tão próximos e concretos,
Quanto um instantâneo!
Voam desejos na palavra sentida
- Enviada!
São certezas sinónimas de chaves, incomparáveis!
Que abrem em segurança a mansão
Da tua triunfal chegada
Então… -ó aguardada!-
Circularão brisas generosas
Por fora e por dentro de casa!
Luíz Sommerville Junior, 110720140652,
Entre Aspas "Navigare necesse est"
.
Entre Aspas "Navigare necesse est"
Na origem…
“Navegar é preciso”
Não creio, neste momento,
Que para mudar o mundo
Uma qualquer Sonata ao Luar
Cubra a carência
Do teu sangue de absoluta paixão pelo cosmos
No desenlace…
Uma imagem:
-A transparência das lágrimas
Em matrimónio com a atmosfera
(Súplica que não mobilizou
Um qualquer deus ou santo)
Coloca uma das mais breves e trágicas
Sentenças poéticas em destaque
- Quem morre terá razão?
Luíz Sommerville Junior, 070720140102, RJ - In Barquinho de Letras
Ela
Ela
Faz de cada palavra
o nome dela
a mulher que amas
aquela com quem te deitas
aquela que é a tua cama
aquela que é o fogo
da tua chama
assim
faz dela
todas as palavras
da palavra
que te ama
Luiz Sommerville Junior, 191120111959
Lençóis De Pedra
Com adaga de leis
do amor que não tens
em golpe arco d´ogiva alongada
roubaste todos os sonhos...
e como sonhar a vida
que de trigo é carecida?
Sinto as tuas pisadas
mas não és tu
é a estátua da avenida
que do alto me observa, congelada !
irmã deste chão em que(não)durmo
leito frio em forma de calçada ...
Cinco horas da madrugada
o cheiro a pão quentinho
- grita a fome no meu corpo , silenciada !
felizes são as pombas
porque têm quem lhes dê de comer
por mais que elas voem para outra morada
há sempre alguém que lhes siga a asa
afagada ....
(a voz que fala é a voz que dorme?)
Luiz Sommerville Junior, 030720110222
Cegueira
o poeta é tão egoísta ...
pelo menos aquele poeta
que em vez de escrever
- desenha
aquele poeta que em vez
de em voz alta ler
- pinta
e esquece
os cegos
para os quais
escutar a declamada voz da vida
é a única abundãncia poética
que lhes é permitida
(Se és poeta , lembra-te :
o cego espera que lhe fales ...
ou então , alternativa !
- escreve-lhe em braille.)
Luiz Sommerville Junior , 261120110630
Tenor Dos Céus
Dedico este poema em agradecimento aos poetas que
comentaram a minha poesia anterior , nomeadamente :
Minha querida esposa Dani
Varenka
Alice Luconi
Helen De Rose
Caíto
Vony Ferreira
APSFerreira
e Vanialopes
Tenor Dos Céus
--------------
Hoje ...
enquanto ...
um pequenino passarinho
estremecia da mãe o ninho
mesmo
por cima da minha cabeça
o telhado que Tu me deste
azul de todas as preces, louvor!
Glória! Aleluia !...
.. das palavras
silenciosas em sua luz, de Ti!
então, subitamente, desde sempre,
o sol de verão eterno
pensou todas as coisas
que são para mim o todo, Vosso !
num canto de vozes com asas
Haverá , meu Senhor,
alguma música que não sabe voar?
Perdoa-me as perguntas
que Tu me dizes são respostas, Tuas!
silêncios demasiados preciosos
do Teu amor
neste mundo como é possível
que as águas sonhem almas?
como é possível, Deus meu,
que dos lábios das flores
nasçam os corpos?
e ...
ajoelhado ... eu sei que sabia ...
que nem eu nem ninguém
saberia tocar violino
se não fosse,que é houvesse,
a matéria sublime que Tu criaste
e passaram anos, eternidades,
sucederam-se vidas incontáveis, maravilhosas !
e "o pequeno príncipe" que é rouxinol
agitou a sua frágil cabecinha,
olhou os céus, largou o ninho
e voou !
enquanto os olhos de sua mãe
o seguiam sorrindo ...
... e o seu bater de asas
compassava o trinar
que encantava a atmosfera ...
Pai,
eu sei que tudo isto é verdade
pois tudo aconteceu,justamente..
em frente à minha janela
ondulava o cortinado
ah , se os tecidos falassem !
ou será que oram ?
e na delicadeza e suavidade
com que nos (re)vestem
erguem à luz matinal
o poema duma só palavra :
- Senhor !
(Querido, posso repetir-me
com uma ligeira diferença?
- Sim, simplesmente, És Tu!)
Jouelam, 060220121801
Que todos os vossos dias sejam abençoados.
Beijos e abraços