Rendenção
.
Redenção
queima-me
quando eu for gelo
fura-me
quando eu for pedra
e...
dilacera-me
com o pecado
quando eu não for
tentação
- perdão...
LSJ, 061020140114
Eclipse do Cometa
Cometa de cauda rubra
perde-se no infinito profundo.
Na sua passagem se vislumbra
sensíveis mudanças neste mundo.
Causa de sutis e radicais impactos,
sua presença única e reluzente,
pactua contra todos os pactos
e segue seu rumo sem precedente.
De súbito seu eclipse aconteceu,
agora brilha em outro planeta,
arrastando todos até seu apogeu.
Como impacto da tal mudança,
o que fica na lembrança da memória
é o luminoso rastro de sua trajetória.
Homenagem ao cometa Rita Lee.
Inspirado na música “Eclipse do Cometa”, do álbum “Atrás do Porto Tem uma Cidade”.
Poema Despido
Dominas-me voraz
Sem que entenda o sentido
Dos versos que trazes
Na boca que beija
Em carícias longas
O brilho do sol.
Sou apêndice sôfrego
De um poema.
Pacifico-me na tua voz
Que embala o desejo
De ser letra do teu corpo,
E rasgo a folha imerecida
Que te sustém,
Com a fúria decomposta
Da improbabilidade
De te possuir.
Contempla-me
Na prateleira exposta
No extremo do segmento.
Sou matéria invisível
Dos teus propósitos.
Saudades
O tempo passa
como uma brisa
que nos afaga o rosto
entre o ermo e a ladeira
entre o abismo e a clareira
O tempo passa
como uma profetisa
que nos traz alegria
e sempre eterno desgosto
entre o efémero e a frieira
entre o aforismo e a regaleira
O tempo passa
como uma poetiza
que nos molda a gosto
entre o deísmo e a lazeira
entre o daltonismo e a
imensa cegueira
O tempo... passa...
Poema e Poesia
Poema e Poesia
by Betha M. Costa
Acabou a poesia que me sustinha a fé nos dias, e corria bicho solto pelas campinas do meu querer. Aquele que rolava em novelos de prazer pelas ladeiras dos sentimentos, bolhas d’água e sabão, delicadezas a explodirem em festas no ar.
Triste ver um poema espalhado pela casa, mãos perdidas dos dedos pelos cômodos, sem poder na pena e tinta tomar vida.
E um grito canta da sala à varanda, uma música cai do piano, uma lágrima alimenta o aquário e a alegria sai pela porta da frente. Na soleira um sorriso sem viço sobre o tapete de boas vindas.
Tudo por causa daquele nome retido na boca, que feito um livro guardou as palavras, e, levou consigo os meus versos. Sem ele não existe poesia que valha um poema.
*Imagem Google
Ciclo
O candeeiro suavemente se apaga,
enquanto na janela o sol aguarda
a intensa fuligem dissipar-se no ar,
para o provável alvorecer recomeçar.
Discretamente o amanhecer desponta,
colorindo campos, matas e encantos.
Enquanto a incerteza nos confronta,
a esperança banha antigos prantos.
Desenvolvendo lustroso resplandecer,
o dia extrapola em matizes de cores,
até perder-se em lento esvanecer.
Surgem languidas manchas escarlates,
envolvendo o intenso azul-celeste,
como manto roto, verdade inconteste!
Este poema completa o ciclo aberto com o soneto “Idílico e lúgubre”.
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este poema não existe
este poema não existe
nem sabe o que lhe calhará por sorte
mas insiste, numas palavras mais
pode até falar de morte,
ou dos sonhos que iluminam
o quarto, se me achar ignorante
deixo-o a falar sozinho
e parto...
sussurra-me ao ouvido
que é fugaz minha inspiração
que sou ave extraviada, mal amada,
e é capaz de ter razão!
agora, o poema ferve-me na memória
é grito que me chama do vazio
é lágrima seca sem história,
é vida em escassas linhas
desejos, e saudades tão minhas,
poema que ninguém sabe da existência
poema que é toda a minha essência.
natalia nuno
rosafogo
do pouco que resta
memórias transparecem
e deixam o poema a chorar,
onde houve fogo e calor
há escuridão,
e saudade a marear
fecho a alma e o coração
e se o amor quiser entrar
cuidaremos desse amor
que no dia de ontem esmoreceu,
sem doçura, nem desejo,
na lembrança, tudo o que se perdeu
sustenho a saudade do olhar teu
pedaços de recordações me seguem
agora, sem luz meu horizonte é
caminho indeciso, perdido o sorriso,
nostalgia do pouco que resta
o esquecimento já me sombreia,
a longevidade não é uma festa!
há sempre um nada, que me aguarda,
um curto pensamento, como o rumor
do vento, que o medo semeia.
natalia nuno
rosafogo
Falece este poema
Este poema respira agónico
nas mãos mortiças da doce poesia
os pontos e as vírgulas são pranto,
que alagam a alma do poeta,
deste poeta
para quem as palavras
são,
pedaços da alma
fragmentada
vertendo em sílabas
pinceladas de desalento e cansaço,
fixam-se ao escrito
ávido de brava poesia
Nas construções vislumbram-se
desconexos alinhamentos
visuais críticos
e nas metáforas berram-se
o desencanto fugaz
de uma inspiração perdida
algures no caminho do poeta
desiludido.
Falece este poema
mas não se sente só
porque
ao seu lado permanecerá
sempre
a doce poesia
Escrito a 23/01/10
Sou-te pela encruzilhada
Sou-te pela encruzilhada que se apodera de nossos poros,
Gotas de suor numa escada infinita que sobe.
Pé ante pé, me descalço,
Desmancho meus fios de cabelo
E me desperdiço de ti
A cada verso, que vá perdê-lo!
De que serve viver-te por aqui,
Se a cada respirar meu, passo em falso,
És tudo o que já foste,
e o voltarás a sê-lo.
Horizonte de loucuras imaginárias,
Calçada subida, tortura temida.
Por dentre respirações entre-cortadas,
Ouve-te dentre as cantadas
Que velhas carcaças ousam cantar...
Por onde andas, fim de linha?
Quase que diria que ouvi o meu nome,
Naquela tua voz doce, distante.
Quanto horizonte, quanto renome
Tu te vestes, Ó Destino.
Seja insano, sem lógica.
Que tudo se transforme numa poça,
Dentre esses passos que sobem a escada.
Por onde caminharás tu,
Diante desta encruzilhada?