Advento
Antecipo-me à morte anunciada
Num advento omisso de natais
É só o reflexo da minha fé cansada
De blasfémias de tantos carnavais
É farto o perú de tantos recheios
Na consoada rica e enfeitada
Lá fora uns olhos comem cheiros
que exalam da chaminé dos telhados
E há muita fome enquanto reza a missa
E o galo canta as 24 badaladas
O olhar triste da freira clarissa
A contrastar com a igreja engalanada
Não há menino num berço de palha
Mas há meus senhores...
Muita pobreza envergonhada!
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
Uma moedinha por favor
Dê-ma uma moedinha, senhora
por favor
mendiga o olhar entristecido
dos negros olhos de um petiz
Nas mãos enchentes de nada
a imundície da vida transparece
da vida cruel que o perfilhou
No corpo as marcas selváticas
do adulto bestializado.
veste-se o rosto infeliz
de desalentada submissão
Dê-ma uma moedinha
por favor
repete a voz desfalecida
num esgar de contradição
Vai trabalhar pedinte
e não me chateeis,
desaparece catraio
da minha suprema visão
Escrito a 21/01/10
...O vento levou...
Brancos. Amarelos. Pardos pretos...
Todos vivendo no submundo chamado
(Mi) séria. Na vastidão da desilusão
Subordinado ao ápice da humilhação
Sem opção na escravidão - flagelado
Vida de cão sem direção ora nas cinzas
Ora no olho do furacão pele e osso uma
Comoção crianças adultos na mesma situação.
Sem esperança veem o horizonte azul vazio
Sem início, meio e fim não dá para entender
O que passa por seu pensamento sua visão já
Não alcança a amplidão do firmamento cinzento.
Embaçado o negro (verde) olhar, distorcido, vertigens.
Agonia nas noites sombrias gélidas nos dias cálidos
Perdeu seu sorriso, o vento levou. Arrepios ao escutar
O piado da coruja só agouro para os dias vindouros...
Num monturo. Divagando, suas roupas sujas.
Sua companhia são os ratos meio aos trapos
Farrapos humano com medo dos urubus
Que por ali rondam afim de se alimentarem.
A mais negra miséria está na pobreza
Espiritual na falta de amor!
Mary Jun
04/04/2017
Imagem Google
http://gruposolidario.org/backend/ckf ... /Erradicar-la-pobreza.jpg
Os dias em que vivemos
Tanta falta de apoio social
Nas classes envelhecidas
Por vezes não têm o essencial
Para manter as suas vidas
Cada vez há mais pobreza
E famílias desempregadas
Com o pão, a faltar na mesa
Sem apoio,desamparadas
São os mesmos sacrificados
Empobrecidos cada vez mais
Não podemos ficar calados
Já não suportamos mais
Uns a esbanjar de fartura
E muitos vivem em aflição
Com uma vida tão dura
Mereciam mais atenção
José Matos - 14.01.14
Reforma agrária
Eu venho dos campos, me encontro nas filas.
Venho de fazendas estou morando em favelas.
Venho do Nordeste e me encontro nas vilas,
Sem nenhum saneamento, estou vivendo nelas.
Há no país centenas de latifúndios improdutivos
E poucas pessoas possuem milhões de hectares,
Sem objetivo social que é a função da terra
E se expulsa do campo milhões de lavradores.
Quem nunca foi pobre pode ser contra esta tese.
Só para quem não está incluso é que isto serve,
Mas quem está muito bem, em reformas nem fala.
Este mundo é mesmo assim, cada um pensa em si,
Com isto a criminalidade aumenta cada vez mais.
Sem enfrentar o problema, cava-se enorme vala.
Maringá, 13.03.08
O PORTEIRO DO MEU PRÉDIO
O PORTEIRO DO MEU PRÉDIO
Viajou no improviso
No impulso sem esteio
Impelido pela saturação
Queimado pelo desespero
O fez sem um puto no bolso
Sem juízo ou endosso de alguém...
Primeiro deslizou pelas canoas,
Depois brigou por comida
Por fim desfilou de pau-de-arara
Em direção à essa patifaria
(Ilusão por tantos bem-falada)
Das riquezas do sul maravilha
Passou fome e sede
Dormia por exaustão
Acostado numa rede,
Deitado em papelão
Ao relento, no calçada
No contrapiso das marquises
Em construção
Mastigou farinha de mandioca
Só ela, seca
Sem o dente do siso
Sem o dente canino
Sem os incisivos
Sem dente nenhum
Isso e muito mais...
Agora, depois de
Engolir o pão amassado
Pelo próprio satã
E agradecer aos céus
Por poder comer
Virou porteiro
Aqui do meu prédio...
Ele diz que hoje
Finalmente tem dinheiro
(Pouco, mas tem)
Para comprar seu alimento
Jogar sua sinuca, seu truco
(Que aprendeu aqui no sul)
Tomar sua cerveja gelada...
Conta que, para ele,
Que nunca teve nada
"Nem uma panela furada"
- frase dele -
E do jeito
Que a coisa anda
Está muito bom...
Reafirma sempre
Com olhos vidrados,
Escuros,
Sofridos
(Mas ternos...)
Que é feliz com a mulher...
Agora estampa um sorriso largo
De dentes alvíssimos e retos
Sorriso que comprou
Em dez vezes
(Essa é uma alegria dele)
Ele ama conversar e rir
E mostrar que tem boca
(Nunca o vi reclamar
De nada, nada
Apesar das dores, das marcas
Que não são poucas)
Pois é... Esse é o
Porteiro do meu prédio,
Seu Esteves...
Ele é a real gente
De carne e osso (e dentes),
e sonhos, quantos sonhos
Desse meu país, Brasil
Seu Esteves é negro,
Nordestino, banguela, coxo, pobre
Tudo o que os poderosos daqui
Abominam ver, sentir, perceber
E ele é, sim,
(Estranho paradoxo) feliz...
Mas sou eu,
Que ele acha burguês,
Que aprendo com ele
A jamais prejulgar alguém...
MASTURBAR A VIDA
Porque será
Que neste Mundo
Que deveria de ser
Para todos igual,
Há o proveito
Absurdo e imundo
Neste deserto
Onde o rei
É o chacal.
Outros labutam
E não encontram nada
Por mais que lutem
Vivem no marasmo
Passando o tempo
A masturbar a vida
Mas esta para eles
Nunca tem orgasmo.
A. da fonseca
PORTUGAL - O REINO CORRUPTO!
Tudo começou com a denúncia publica de corrupção de algumas grandes empresas, clubes de futebol, autarquias, ministérios... Nessa altura tudo parecia possível de controlar, parecendo excepção. Hoje Portugal é um país onde a corrupção é uma prática corrente, estamos perante o maior problema português. O actual governo patrocina tal fenómeno, entrando em negociatas e submetendo-se ao poderio económico e financeiro dos grandes grupos.
Os empresários beneficiam dum sistema de capitalismo selvagem com apoios visíveis do actual governo, tornando a precaridade e liberalização da exploração do trabalho, algo normal. A pobreza e o desemprego na sua expressão principal aumentam diáriamente. Portugal está a ser governado por um grupo de falsários, adoptando políticas neo-liberais com consequências piores do que o fascismo.
A actual ditadura do governo ps, obriga a utilizar formas de luta típicas das utilizadas para derrubar ditaduras. O que deveria ser um Estado de Direito Democrático, faliu. Portugal é uma ditadura legitimada por um processo eleitoral.
Barão de Campos
http://portugaljornal.blogspot.com
Bordados.
Bordados
Lembro-me, ainda, quando eu era bem pequeno,
Minha mãe fazendo alguns bordados em tecido,
Com antigos moldes desenhados e papel carbono
Já desgastado pelos anos, rasgado e descolorido.
Usava um lápis antigo ou uma ponta de madeira
Que passava sobre os moldes de papel amarelado.
As vezes, o risco não saía nítido, na vez primeira,
Então, pela minha mãe, era novamente retocado.
Eu não sei quanto tempo minha mãe fez bordados
Mas sei que sempre fez daquela mesma maneira,
Parecendo ter usado um só carbono a vida inteira.
Hoje quando recordo destes momentos passados,
Penso como a vida antigamente era uma pedreira,
Em vista da nossa precária situação financeira.
Maringá, 25.01.08
ESTAS CRIANÇAS SÓ PEDEM AMOR
ESTA HISTÓRIA É VERDADEIRA
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Era terça feira.
A neve caía
E nessa rua fria
Eu caminhei.
Num passeio deitados
Cobertos com cartões
Estavam dois corações
A quem a mão eu dei.
Eram duas crianças
Ao frio, abandonadas
Com as roupas molhadas
De frio tiritando.
Levei-os ao café
Onde sofregamente
Os dois pobres entes
O estômago aqueceram
E o calor adorando
Eram duas crianças
Pelos pais abandonados
Sozinhos e escorraçados
Por uma sociédade sem calor.
Mas para quando
Veremos esta miséria
Banida como bactéria
Nociva para a vida.
Estas crianças, só pedem amor.
A. da fonseca