Saudades
O tempo passa
como uma brisa
que nos afaga o rosto
entre o ermo e a ladeira
entre o abismo e a clareira
O tempo passa
como uma profetisa
que nos traz alegria
e sempre eterno desgosto
entre o efémero e a frieira
entre o aforismo e a regaleira
O tempo passa
como uma poetiza
que nos molda a gosto
entre o deísmo e a lazeira
entre o daltonismo e a
imensa cegueira
O tempo... passa...
Ouves-me?
Sinto-te
nesse desespero que te consome
nos trilhos das noites ensombradas
pelas memórias resguardadas
no mísero grito do tempo
Queima no meu peito
a tua impotente ânsia
de renascer nas asas do infinito
onde o horizonte acalma
o olhar que fenece
no orvalho das fontes
Rompe as algemas
que te acorrentam
aos fantasmas do passado
perdido na porta entreaberta do tempo
Solta-te dos escombros arcaicos
que asfixia a plenitude de seres
como te quero contemplar
à luz das gastas velas,
que perpetuam
nas janelas da minha alma
Penetra no íntimo inexplorado,
sente os pulsares virgens
do renascer da dor que te pariu
e que te fez ser
Agarra o tempo, que o tempo te dá
e respira a paz do meu anjo
que permanece em mim,
no etéreo de ti
num tempo sem fim
Ouves-me?…
Escrito a 16/08/09
ESCOMBROS QUE O TEMPO NOS TRAZ
ESCOMBROS QUE O TEMPO NOS TRAZ
nem mais me lembro
por que eu disse não,
então,
não posso também
entender do teu sim.
outrossim,
um meu não
pudesse falar
d’um talvez,
assim,
d'um lampejo
de ternura
que, ao final,
não se desfez
ou um teu sim
talvez dissesse
jamais
feito um amor
que tempo algum
resolve ou refaz
portanto, sigamos...
sem o pranto
do que à frente vem.
sem requentar
o que ficou por detrás.
esqueçamo-nos
a dissolvermo-nos
como, em água, os sais...
sem sins,
sem nãos
sem mais.
Quero só viver
QUERO SÓ VIVER
Já não corro atrás da Vida
Anda ela atrás de mim a correr
Se ela não me tráz esquecida?!
Sou eu que a quero esquecer.
Não tenho pulmões para gritar
Nem pernas para correr
Trago o coração a falhar
Gasto por tanto bater.
O que abarca meu coração
São recordações do passado
Silvas cobrindo meu chão
Também meu sonho quebrado
Intensamente na memória
Me fazem rir e chorar
Não me envergonho, é minha história
Lágrimas o tempo há-de secar.
Aquietam-se lembranças dentro de mim
Num sossego enganador
Chega um aviso é o fim
Sobressalta no peito a dor
.
Fico de coração aberto
Fecho os olhos a recordar
Ainda o sonho está por perto
É sempre o destino a ditar.
Nada em mim morreu
Só a idade avança aumenta o passo
O melhor que a Vida me deu?!
Minhas filhas,
Que adormeci em meu regaço.
A Deus obrigada eu digo
Por tudo me dar até dom de versejar
E se mereço castigo
Não me tire a luz do olhar.
rosafogo
Imagine
Madrugada, altas horas;
Tento inserir na memória
Reminiscência de outrora
Na poesia uma história!
Mas não consigo copiar no papel
A página continuará em branco
Só Deus pode ler o doce e o fel
Que está escrito no âmago em branco.
Falar de você imagine;
Deixei-me aqui, com minha companhia.
Aonde ouço ele na parede, minha vitrine.
Não falo nada, mas seu tic-tac é teimosia.
Parece-me querer soletrar
Histórias que não irei vomitar
Guardo na alma nem pensar
Escolhi me amar por amar. Apesar...!
Mary Jun
CONTRA-MÃO DOS OLHOS
Contra-mão dos olhos
...e essa contra-mão
dos meus olhos
a buscar
passagens à nuca?
o apego das palavras
as palavras dizem das dores
e das lágrimas a correr,
olho o passado e o futuro,
e vejo tudo a escurecer!
as palavras dizem da ameixeira
que floriu,
do canto do pássaro que p'la manhã
se ouviu,
do desassossego das negras cotovias
no ramo,
da celebração da vida
falam das pessoas que amo
e, como vai ser dura a despedida
as palavras dizem do sombrio dos anos,
da velhice que submerge nos olhos
da menina da saia aos folhos,
dos sonhos sublimes da flor
dizem as palavras que tudo que se foi
- e do que resta d' amor!
as palavras
- pedem-me para conter,
as lágrimas a correr!
elevam-se naquela esperança
de não me perder.
natalia nuno
Pulsando o tinteiro...
Porque não posso viver sem saudade negocio com o presente o passado e pareio os dois lado a lado.
Para o futuro quero presente um pouco desse hoje!
Porque sinto saudade da saudade de todos os tempos...
honey.int.sp.15/07/2017
Imagem retirada do Google.
Passado...
Vou deixando aos poucos
Ao longo da estrada
Olhares quase loucos
Cheios de nada...
Da vida presente
Da vida passada,
Sou restos de gente
Vestìgios de nada...
O mais é saudade
Que é o mais forte,
Que marca e que anda
Com sabor a morte...
MariaDeCarvalho
Marcas
Desnudo-me por inteiro
Ao olhar-me no espelho
Contraditoriamente o tempo...
Não corre num corpo já velho.
Reflete minha alma clara.
Corpo conservado pele morena
Como num papel uma pena
A escrever uma poesia rara.
Ainda vejo – me assim:
Como um vinho bom
Inda na minha alma existe
Odre novo cheio de frisson.
Mas em voo do tempo...
A matéria não se eternizará
Mesmo num bailado suave
Como folha ao vento quiçá.
O coração fala das emoções...
Às vezes passa desapercebido,
Mas n’alma têm páginas de um livro
Triste com traça pelo tempo vivido.
Mary Jun,
Guarulhos
12/11/2017
Às 16:35hrs
Imagem Google