ainda é meu tempo de viver...
parti por não ter chão onde semear sonhos, cerro as palavras na boca, deixo-as na terra adormecida do meu âmago, talvez que as sementes germinem mais tarde em horas de saudade e, docilmente se entreguem em versos chorosos que embaciem os olhos, ou suspendam a tristeza e o vazio do tempo, e venham dourar o verde onde a minha esperança cresce... é verão, mas, estranhamente o dia é de penumbra a memória apaga-se lentamente e eu fico de morte ferida, mas ainda vivo, ainda é meu tempo de viver...exausta parti de mãos vazias, levo os desencantos, vou palmilhando o chão e levo por companhia a solidão, voltarei quando fôr lua cheia, se ainda fôr capaz de aprender a primavera, e as folhas em mim caídas voltem a reverdecer em meus sonhos, eu possa moldar de novo as palavras a meu jeito, e nada impeça que me tragam a promessa de ser gaivota na planície...com olhos de madrugada.
natalianuno
Decifra-me
Que importa meu rosto
Se é nas palavras
Que me encontras?
Que importa meu corpo
Se é nos versos
Que me revelo?
Decifra-me num Poema
E encontra-me por aí...
No fim
e se o tempo puxar o zíper para me renunciar
e se nada mais
nos meus olhos
se refletir
o silencio será meu mundo
mas minhas palavras permanecerão no teu
naquela janela
naquele cais
naquela tarde amarela
naqueles rios
naqueles ais
naquela renda de crochê
naqueles poemas que te
escrevi
sem que soubesses que eram por ti
sem muito sentido
sem muita verdade
que de verdade
foram escritos
num tempo de
muita saudade.
encenação
tem dias
quando pego o caminho
me deparo com a multidão
indo
e vindo
dispo-me dos
meus sentimentos
ficando a observar
somente
e me pego a pensar
o que se passa
em cada mente.
conforme as expressões
faciais mais evidentes
acolho no pensamento
para levar ao
palco dos inventos
assim nasce
alguns dos poemas
em penas
apenas
...
durante a encenação
sempre existe um ledor
interessante
por me deixar sorrindo
ao me confundir com
o personagem
e acaba por escrever
um oposto
como réplica da mensagem.
fico sempre a imaginar:
o que escreveu é de verdade
ou inventou por
pura maldade?
*Palavras de Poeta*
“O poeta, de facto, só é uma pessoa como as outras na fisiologia. Et quand même…, Antoinin Artaud já nos preveniu de que poderia, até mesmo aí, ser diferente”
De O Livro de Cesário Verde, Posfácio, António Barahona
São tantas as palavras que o vento albergou,
Das flores que ainda se fazem criar,
Por entre os campos caiou,
Pedaços de pétalas de mar,
Que o tempo vincou nas brochuras com o salivar…
Nas montanhas assolou um único contemplar,
Que as flores lhe matou,
No jardim que ainda estava a formar,
As palavras que com as boninas partilhou,
Avassaladas pela corrente que inalava no ar…
São tantas as palavras que o vento albergou,
Levadas pela morte que insiste em amar,
Um poeta que ganhou asas e voou,
Para lá das vistas do meu olhar,
Onde enterrou todos as farpas que conseguia trovar…
Marlene
Read more: http://ghostofpoetry.blogspot.com
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Inspirei-me em Cesário Verde, grande poeta que tanto admiro.
Abraços e Felicidades.
escrevo à sorte
tenta-me o impossível
correr atrás das constelações
quando começo a sonhar,
cruzam-se clarões no pensamento
desfraldam-se as palavras
há música no ar...
vivo então a perfeição das horas
ouço o estrondo do trovão
o som da dança das folhagens
o fervor da alma e do coração
e pelos meus olhos passam mil imagens
bom saber que nunca estou só
apesar da solidão me atingir forte,
mergulho nas palavras, enlaço-me,
dou um nó e,
no papel nevado escrevo à sorte...
natalia nuno
rosafogo
Bailam-me as palavras
BAILAM-ME AS PALAVRAS
Bailam-me palavras na mente
Bailam como que embriagadas
São como água que corre contente
Fluída e fresca nas madrugadas.
E assim, por aí as vou deixando
Sigo confiante!
A tristeza elas me vão quebrando
À felicidade de tê-las, nada é semelhante.
Minhas palavras não têm fronteiras
São torrente de rio caudaloso
São meu grito, minhas companheiras
Tristes, ou alegres do meu eu saudoso.
Não calam a emoção
Deste meu pensamento livre
Nas asas trazem a ilusão
Da andorinha que em mim vive.
Minhas palavras saem em procissão
Vêm em andores de alegria ou tristeza
Palavras que me dão a mão
Têm aroma de rosmaninho, dele a beleza
Rezo-as na ermida
São labaredas da candeia acesa
Da infância perdida.
Saem do coração delirantes
Diamantes por lapidar
Às vezes gritantes
Com desejo de rimar
Trazem a raiva
O amor,a força e a serenidade
Não querem que ninguém saiba
Que estou morrendo de saudade.
rosafogo
Palavras cuidadas
Com elas tecem-se sonhos
Exprimem-se sentimentos
Alimentam-se egos
Rezam-se orações
que chegam a Deus
pela força da fé
Com elas criam-se inimigos
Inventam-se mentiras
piedosamente inócuas
Sepultam-se as verdades
que magoam a alma
Com elas fantasia-se a vida
No palco da leviandade
Apontam-se armas
Pontiagudas de maldade
Com elas és dono do Universo
E só depende de ti
Plantares amor ou ódio
Em cada palavra, em cada verso.
Maria Fernanda Reis Esteves
49 anos
Natural: Setúbal
AI DE MIM
AI DE MIM
Fico a olhar o poente
Enquanto o tempo vai passando
Sem raiva nem ressentimento
Num rio de memórias me vou afundando.
Nesta página saudosa lembro de mim
Agora neste tempo me consumo
Tocam os sinos sem fim
Já vou perdendo meu rumo.
Envelhecem as palavras e eu também
Murmuro-as em forma de queixa
Já dizia minha mãe
Deixa flha, deixa!
Verás, quando chegares à minha idade
Que mais um dia de vida é milagre!
Assim hoje é mais um dia que em mim morre
Mais uma perda que me dá saudade
E neste manto de palavras que aqui corre
Digo tal como tu mãe, hoje foi mais um milagre.
E agora depois de ter anoitecido
Guardo um segredo que não confesso
Hoje, passou mais um dia, dia perdido
Diria que não o soube amar!?
Mas a Deus mais um dia peço.
rosafogo
"Porque não??" - Soneto
"Porque não??" - Soneto
Percorro o indicador, contorno teu semblante
Decoro cada ponto, caminhos a desbravar
Vejo nos traços linhas de uma historia errante
Imperceptíveis marcas, um cansado caminhar
Então nos teus versos vou procurar a essência
Verdades implícitas, nas entrelinhas escondidas
Espio entre elas, nas brechas da tua vivência
Bebo as tuas lágrimas, te sigo nas ruas perdidas
Olho teu rosto tão serio, dentro de mim te emolduro
Os ecos das minhas palavras tento entender, me torturo
Isso que nem sei o nome, sem que eu queira, me tomando
Nossos versos se casam, me chama pro teu peito
Sem ser de outro jeito, vou, me despindo e te olhando
Beijo teu rosto na tela, e vou pra cama sonhando.
Gloria Salles
30 outubro 2008
21h29min